Criando valor através de resíduos sólidos. Marcelo Luércio, Sérgio Oliveira e Yuri Santos
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1 Criando valor através de resíduos sólidos Marcelo Luércio, Sérgio Oliveira e Yuri Santos
2 2 Promon Intelligens Promon Intelligens 2013
3 A preocupação com a destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos gerados a partir do descarte de embalagens pós-consumo tomou uma proporção significativa a partir da promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em dezembro de O tema nunca esteve tão evidente nas agendas estratégicas das empresas, das organizações de classe e do setor público. Por sua vez, a sociedade também não está passiva a esta questão, e assume um papel cada vez mais atuante, ao mesmo tempo que reclama por sistemas públicos capazes de realizar a coleta seletiva de forma mais eficiente e abrangente. Na pesquisa anual de 2012, sobre consumo sustentável, promovida pelo Governo Federal, parte significativa da população se mostrou preocupada e engajada na busca de soluções para o correto tratamento aos resíduos sólidos urbanos, como mostra o gráfico a seguir: 47% 86% Quase metade da população brasileira considera o volume de lixo o principal problema ambiental da sua cidade Mais de 80% estariam dispostos a separar os lixos de suas casas, aderindo à coleta seletiva Fonte: Ministério do Meio Ambiente, pesquisa 2012: O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo sustentável Promon Intelligens 3
4 Este breve artigo expõe algumas das principais motivações, oportunidades e desafios com as quais o setor produtivo brasileiro tem se deparado na construção de um futuro mais sustentável do ponto de vista socioambiental, e as possibilidades de geração de valor mediante o aproveitamento e tratamento de resíduos sólidos. A despeito da necessidade de regulamentação específica por parte dos setores e entidades envolvidas, a PNRS, pelo princípio de responsabilidade compartilhada, atribui obrigações ao longo da cadeia produtiva de consumo, deixando evidentes as agendas de atuação de cada participante para a adequada destinação dos resíduos: Geradores Setores Organizados Setor Público Consumidores Elaboração de planos de gerenciamento de resíduos sólidos, com metas e programas de Estruturação da logística reversa, da coleta à destinação adequada dos Fomento à inclusão e capacitação de cooperativas de catadores. Responsabilidade por separar os resíduos em atendimento à coleta seletiva. reciclagem. Programas de redução de uso de materiais nas embalagens e produtos e aumento do grau de reúso e reciclabilidade. resíduos ou rejeitos. Estímulo à confecção de embalagens e produtos com maior grau de reúso e reciclabilidade. Eliminação de lixões e destinação adequada em aterros sanitários, ou seja, apenas o que for rejeito, por parte dos municípios. Elaboração de planos de gestão integrada de resíduos sólidos urbanos por parte dos municípios. Estabelecimento dos acordos setoriais, fiscalização e apoio ao cumprimento da PNRS em todas as suas fases de implantação por parte do Ministério do Meio Ambiente. 4 Promon Intelligens
5 A resposta a estas obrigações por parte do setor privado abrange uma grade de possibilidades, com distintos graus de engajamento, de acordo com as agendas individuais de sustentabilidade das empresas e o impacto da logística reversa no negócio. A figura a seguir ilustra de que forma as empresas podem reagir ao cumprimento da PNRS, de acordo com seu grau de engajamento: Posicionamento Engajamento Proativo Defensivo Foco na ação integrada multissetorial mediante a responsabilidade compartilhada prevista na PNRS Soluções que geram e compartilham valor Empresas altamente comprometidas com sustentabilidade Minimização de custos e mitigação de risco Compartilhamento de custo por meio de representação setorial Empresas geradoras de grande volume e com menor engajamento socioambiental Passivo Aguarda diretrizes de acordo setorial Nível mínimo possível de custos e compliance Empresas com menor volume de geração de resíduos e baixo engajamento socioambiental Promon Intelligens 5
6 Diante destas possibilidades, a aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos pode então ser entendida sob dois ângulos pelo setor privado: Caso 1 como uma obrigação que trata de um passivo ambiental, na qual o foco desta atuação se volta para a minimização ou compartilhamento de custos; Caso 2 como um compromisso multissetorial que traz o foco para a cadeia de valor da reciclagem e suas oportunidades de negócio. Em ambos os casos, há desafios e oportunidades para atores de diversas naturezas ao longo da cadeia de valor: Descarte Suprimentos Reciclagem Aplicação Pós-Consumo Coleta + Triagem Há previsão de aumento da educação ambiental de separação dos resíduos na fonte de geração A geração de resíduos plásticos terá crescimento expressivo até 2020, não só pelo aumento populacional, mas também pelo aumento da renda e melhor distribuição de riqueza Aumento da coleta seletiva nos municípios aumentará a disponibilidade de resíduos A triagem é um gargalo alta informalidade, baixo grau de organização Existe demanda por plástico reciclado não atendida o Brasil tem baixa penetração de uso de materiais recicláveis plásticos, por exemplo, quando comparado à Europa O suprimento de material reciclável é o elo frágil da cadeia e impede que o setor cresça de forma mais expressiva Possibilidade de agregação de valor do material reciclado em diferentes cadeias Upcycling Clientes mais conscientes valorizam produtos mais sustentáveis 6 Promon Intelligens
7 A coleta seletiva de resíduos e sua posterior triagem por meio, prioritariamente, de catadores de resíduos são os maiores desafios ao longo da cadeia de reciclagem. A coleta seletiva tende a ser inflacionária, já que requer sistemas sofisticados e mais caros do que aqueles utilizados na coleta tradicional de resíduo urbano. No longo prazo, a tendência é que a própria sociedade absorva estes custos adicionais, uma vez que os municípios (sobretudo os de pequeno e médio portes, até 100 mil habitantes) não dispõem de recursos financeiros para estes sistemas. E as empresas, por sua vez, não consideram atualmente o custo de logística reversa nas estruturas de custos de seus modelos de negócio, o que certamente elevaria o custo incorrido para duas ou até três vezes do que é praticado atualmente. Por sua vez, a triagem realizada por intermédio de catadores de resíduos (organizados em cooperativas ou não) é ao mesmo tempo um importante fator de engajamento social e um gargalo produtivo na cadeia de valor. Como fator de engajamento, constitui uma saída para o curto e o médio prazos, trazendo para a cadeia produtiva formal um contingente significativo de pessoas que já realizam com seus próprios meios a coleta de materiais recicláveis em grande parte das cidades brasileiras. Entretanto, como canal de suprimentos, é extremamente ineficiente, requerendo ainda investimentos e apoio governamental para se estabelecer como verdadeira central de triagem produtiva, em ambientes de trabalho minimamente organizados e com tratamento adequado dos trabalhadores. Quaisquer que sejam os modelos adotados pelas empresas e o nível de engajamento com que pretendem atuar na cadeia de valor, será necessário avaliar com cuidado os trade-offs entre as três dimensões de sustentabilidade de negócios de impacto social: Econômico-financeira determinação do nível de geração e compartilhamento de valor por meio de negócio integrando a cadeia de valor de reciclagem. Ambiental reintegração dos volumes de material utilizados nas suas cadeias de reciclagem e destinação adequada dos rejeitos e demais resíduos ainda não beneficiados. Social nível de inclusão dos catadores de resíduos por meio de associações ou cooperativas na geração de valor ao longo da cadeia. Promon Intelligens 7
8 Há diversas opções de logística reversa para embalagens pós-consumo, as quais variam em impacto e potencial de geração de valor. A decisão por qual ou quais modelos seguir irá variar de acordo com os trade-offs mencionados. Alguns exemplos de soluções estão ilustrados adiante: Soluções Opcionais para Atendimento da PNRS Solucão Integrada Compra e reciclagem de resíduos sólidos pós-consumo Integração da cadeia de coleta, triagem e reciclagem Foco na geração de valor mediante a criação de um negócio Materiais Recovery Facility (MRF) Separação de materiais utilizando diferentes tecnologias (mecânica, química, magnética etc.), com mínimo índice de rejeito Pode ser processada com coleta seletiva ou resíduo misturado Postos de Entrega Voluntária (PEV) Coleta Porta a Porta Outsourcing de Gestão de Resíduos Modelo de separação e destinação de resíduos recicláveis em pontos de atendimento/recepção Pode ser incentivado ou constituir de ponto de doação apenas Uso de força de campo ou malha logística para coleta de resíduo pós-consumo segregado pelos consumidores Pode ser incentivado por premiação/bônus, serviço pago ou ponto de doação Contratação de empresa de gestão de resíduos fim a fim Solução visa minimizar custo operacional, sem foco na geração de valor (ex.: incineração, trading de materiais) Em resumo, as possibilidades de atuação na cadeia produtiva e de geração de valor mediante a valorização de resíduos sólidos são diversas e cada vez mais atraentes. Cabe ao setor produtivo estabelecer sua forma de atuação e grau de engajamento e assim definir seu papel na construção de soluções que garantam segurança institucional, impacto positivo na sua imagem e a possibilidade de geração de valor financeiro por meio de negócios de impacto social. 8 Promon Intelligens
9 Informações para contato Sérgio Oliveira Diretor +55 (11) Marcelo Luercio Gerente +55 (11) São Paulo Av. Pres. Juscelino Kubitschek,
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