Do you know the auxiliary verb do? A variação linguística presente na aula de Língua Inglesa Kaiane Mendel Marine Laísa Matte Rosana Beatriz Ernzen Introdução Este plano de aula é resultado de um trabalho realizado para a disciplina Educação Contemporânea: Currículo, Didática, Planejamento, ministrada pela professora Dra. Luciane Uberti, na Faculdade de Educação da UFRGS. A disciplina se propõe a discutir diferentes teorias acerca de currículo e planejamento, visando uma proposta pedagógica que abarque aspectos comumente silenciados na sala de aula. Para isso, partimos do pressuposto de que as relações que envolvem o currículo escolar estão imersas em questões de poder, saber e identidade (SILVA, 2001). Tratando-se do aprendizado de uma segunda língua, como a inglesa, não é raro que os aprendizes se sintam inferiorizados acerca das suas produções linguísticas perante as dos usuários nativos. Sendo assim, essa situação coloca um grupo como privilegiado, por deter um conhecimento institucionalizado da língua, e outro como menosprezado. A variação linguística, quando abordada em sala de aula, nem sempre recebe o devido destaque, sendo tratada de modo turístico (SANTOMÉ, 1995). Conforme o currículo é organizado, essa prática pode ser desconstruída ou reafirmada; portanto, o que queremos é Planejar para, intencionalmente, antagonizar com o currículo oficial e com o discurso único aprovado (CORAZZA, 1997, p. 122). Plano de aula Warm-up Primeiramente, o professor acolhe os alunos, solicitando que sentem em círculo. A aula inicia a partir dos seguintes questionamentos: paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 5 nº 2 2015 236
- Você gosta de ouvir música? Quais são os seus cantores favoritos? - Você costuma ouvir músicas em inglês? - Você conhece Taylor Swift e os Beatles? Já ouviu alguma música deles? Quais? Onde? Reading Após uma primeira leitura silenciosa das letras das canções, colocam-se as músicas para audição: 1. Bad Blood - Taylor Swift Feat. Kendrick Lamar 1 2. Ticket To Ride - The Beatles 2 As letras das músicas acima apresentam construções frasais com o verbo auxiliar do. De acordo com os conhecimentos prévios dos alunos, eles devem sublinhar os trechos em que tal construção aparece. Grammar in practice A partir desse primeiro contato dos alunos, o professor explica a estrutura de frases interrogativas em língua inglesa de acordo com a norma padrão. Para iniciar a abordagem, parte-se de frases afirmativas, mostrando como se constroem perguntas a partir delas. Pressupõe-se que os alunos já saibam que na terceira pessoa o verbo sofre alterações como o acréscimo de -s. Sistematiza-se, então, a correlação entre o verbo auxiliar (do, does) e a pessoa do discurso, esclarecendo que com a presença do verbo auxiliar o verbo principal não sofre modificações. 1 http://www.vagalume.com.br/taylor-swift/bad-blood-feat-kendricklamar.html#ixzz3d5uezsa9 2 http://letras.mus.br/the-beatles/251/traducao.html paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 5 nº 2 2015 237
Após, passa-se para perguntas que expressam ações no passado. Da mesma forma que ocorre no presente, as estruturas interrogativas do passado são explicadas em comparação com a forma afirmativa. Nesse caso, o verbo auxiliar passa a ser did, carregando marca de passado, independentemente da pessoa referida na pergunta. Oral production Em duplas, os alunos preparam um diálogo utilizando os auxiliary verbs trabalhados (do, does e did), questionando seu par a respeito dos hábitos e atividades favoritas dele, como no exemplo: - Hi! - Hello! Did you see the new movie about cars? - Yes. I loved it. Do you like this kind of movies? - Yeah, they are my favorite ones. Language in use Considerando o caráter vivo da língua, o professor instiga os alunos a perceberem que o uso padrão da língua é uma dentre muitas variedades linguísticas existentes no inglês. A turma é dividida em grupos que serão questionados sobre variação linguística: - Vocês já ouviram falar em variação linguística? - É possível se comunicar sem seguir todas as regras da gramática? - Vocês compreendem uma frase como You play soccer everyday?? Qual a diferença em relação à Do you play soccer everyday?? - Em quais situações é recomendável utilizar a norma padrão? Você percebe diferenças entre a linguagem utilizada entre vocês, colegas, e a linguagem de uma redação escolar? - Será que a língua utilizada em músicas é idêntica a que aprendemos em aula? paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 5 nº 2 2015 238
Retomando as músicas trabalhadas e comparando os usos do verbo auxiliar do, continua-se a discussão. Nesse momento, frisa-se que a norma padrão é uma variedade e que existem outras também aceitáveis; tudo depende do contexto em que são utilizadas. Portanto, a norma padrão é a variante que se busca utilizar em textos escolares, acadêmicos, documentos oficiais, textos jornalísticos e de revistas, além de situações de fala monitorada, como em entrevistas de emprego, conferências, apresentações de trabalho, atos jurídicos e formais. Final production Considerando que os alunos já tenham trabalhado com o gênero post do Facebook em aulas anteriores, e a partir da discussão sobre as diferentes situações de comunicação, a turma é convidada a imaginar que acabou de curtir uma página de fãclube no Facebook sobre Taylor Swift e The Beatles. Assim, os alunos escrevem um post com perguntas que contenham o verbo auxiliar do destinado a outros fãs. Exemplos: - Do you know when Taylor Swift is coming to Brazil? - Does she have new songs? - Did you go to her last concert in Europe? - Do you like The Beatles? - Do you have their CDs? Conclusão Apesar de haver uma constante volta ao uso padrão, o objetivo do presente plano de aula não é reduzir o aprendizado a essa variedade. Pelo contrário, é evidenciar que é possível, sim, construir frases que não sigam padrões, mas que mantêm o nível de compreensão. Desta forma, todos os usos da língua que também veiculam o sentido que se deseja transmitir são legítimos e aceitáveis. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 5 nº 2 2015 239
Referências CORAZZA, S.M. Planejamento de Ensino como estratégia de política cultural. In: MOREIRA, A. F. (org.) Currículo: questões atuais. 5ed. Campinas: Papirus, 1997. p. 103-143. SANTOMÉ, Jurjo Torres. As culturas negadas e silenciadas no currículo. In: Silva, Tomaz Tadeu (org.). Alienígenas na sala de aula. Uma Introdução aos Estudos Culturais em Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. p. 159-177. SILVA, Tomaz Tadeu da. Diferença e identidade: o currículo multiculturalista. P. 85-90 In: Documentos de identidade. Uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 5 nº 2 2015 240
Kaiane Mendel Cursa Licenciatura em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com ênfase nas Línguas Portuguesa e Inglesa. Atua no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID UFRGS/Língua Portuguesa) e realiza pesquisa na área de Linguística Aplicada. Marine Laísa Matte Graduanda do curso de Letras - licenciatura com ênfase nas Línguas Portuguesa e Inglesa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) na área de estudos do léxico. Rosana Beatriz Ernzen Cursa Licenciatura em Letras com ênfase nas Línguas Portuguesa e Inglesa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É bolsista ligada ao Departamento de Línguas Modernas do Instituto de Letras e instrutora de Inglês no Centro de Cultura Anglo-Americana (CCAA). paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 5 nº 2 2015 241