Requisitos para capacitação de subempreiteiros na construção civil



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Transcrição:

Requisitos para capacitação de subempreiteiros na construção civil Giancarlo Azevedo de Filippi (EPUSP) giancarlo@poli.usp.br Francisco Ferreira Cardoso (EPUSP) francisco.cardoso@poli.usp.br Resumo Este trabalho aborda a importância do processo de capacitação de subempreiteiros na construção civil, com vistas a melhorar a capacidade competitiva do setor. Com base no estudo de um programa de capacitação real implantado em dezesseis empresas na cidade de São Paulo / SP, identificam-se requisitos de capacitação mínimos a serem atendidos pelos subempreiteiros, que devem fazer parte de programas específicos com esta finalidade. Visando a sua inserção em programas de capacitação, propõe-se que os subempreiteiros sejam classificados em três níveis: básico ou estrutural; intermediário ou processual; avançado ou gestão. Os requisitos são assim apresentados por nível. Palavras chave: Capacitação, Subempreiteiros, Competitividade. 1. Introdução As mudanças macroeconômicas que vêm ocorrendo no Brasil e no setor da construção apontam para um consumidor mais exigente e para um mercado cada vez mais competitivo, demandando estratégias empresariais que considerem a qualidade dos produtos, dos processos e das organizações. É vital ao setor da construção civil adequar-se a este novo cenário. Neste contexto, observa-se hoje que as empresas construtoras passam por um processo de transformação organizacional e de gestão, que afetam diretamente os demais agentes presentes ao longo do processo de produção, como seus fornecedores, especificamente de serviços, como os subempreiteiros. Os subempreiteiros possuem características comuns às empresas de micro e pequeno porte, e algumas que lhes são mais peculiares, como o baixo nível organizacional, a falta de formação gerencial de seus líderes, o desconhecimento das últimas tecnologias e o tradicionalismo quanto à maneira de construir, etc. Tendo em vista em particular a estrutura interna destas empresas prestadoras de serviço e suas condições de trabalho, verifica-se o surgimento de uma demanda para sua capacitação. No entanto, confronta-se com um problema setorial: a quase ausência de programas específicos para tanto, sobretudo que trate de aspectos voltados à organização empresarial (estratégia, gestão interna, planejamento, recursos humanos, etc.). Entende-se capacitação como o processo de desenvolvimento de novas habilidades e/ou conhecimentos relacionados à área de atuação ou vivência pessoal de um indivíduo ou grupo, que serão úteis em suas atividades e em qualquer local de trabalho, pois trarão novas competências aos beneficiados por este processo (FILIPPI, 2003). Neste contexto, os programas de capacitação existentes não estão adequadamente estruturados e as iniciativas atuais para suprir tal carência baseiam-se nos modelos ISO 9000, que nem sempre são aderentes à realidade dos diversos tipos de subempreiteiros existentes no setor. Para o desenvolvimento de um programa de capacitação de subempreiteiros efetivo é importante a identificação e a análise das principais demandas existentes. Esse artigo discute tais demandas com base na bibliografia e analisa como as mesmas foram ENEGEP 2003 ABEPRO 1

integradas em programa de capacitação implantado em dezesseis empresas subempreiteiras na cidade de São Paulo / SP. Ele mostra a necessidade de se classificar os subempreiteiros pelo nível de organização em que se encontram e conclui propondo os requisitos de capacitação mínimos a serem atendidos pelos subempreiteiros, a cada nível. Os mesmos devem fazer parte de programas específicos com esta finalidade. Ele parte da dissertação de mestrado do autor principal (FILIPPI, 2003), assim como se baseia em informações de tese de doutoramento que teve como estudo de caso o mesmo programa de capacitação (LORDSLEEM JÚNIOR, 2002). 2. Os subempreiteiros da construção civil e a necessidade de sua capacitação Cardoso (1997) identifica a terceirização ou subcontratação como parte integrante de praticamente todas as novas formas de racionalização da produção no setor da construção civil. Entende-se por nova forma de racionalização da produção como uma estratégia que a empresa construtora define e põe em prática de modo a tornar mais competitiva; tal estratégia envolve não somente departamentos da própria empresa como agentes externos da cadeia produtiva, como os subempreiteiros; ela deve ser efetivamente implementada e envolver a função produção, a estrutura organizacional da empresa e os mecanismos de gestão de tomada de decisão que põe em prática (CARDOSO, 1996). Este processo de subcontratação representa fonte de flexibilidade, englobando aspectos de qualidade, produtividade e diversificação. Serra (2001) confirma esse papel de destaque. Para a autora, os subempreiteiros possuem um papel fundamental para o sucesso dos empreendimentos da indústria da construção civil. Segundo ela, o crescimento e o desenvolvimento destas empresas pode ser considerado como um dos fatores de retomada do crescimento do setor. No entanto, Sözen; Küçük (1999) estabelecem que, apesar de várias pesquisas terem reconhecido a importância dos subempreiteiros, não se visualiza a forma como os problemas encontrados pelo emprego de fornecedores deste tipo têm sido resolvidos. As características dos subempreiteiros e do processo de subcontratação são similares em várias partes do mundo e, segundo os autores, a prática compartilhada dos problemas e resultados poderia proporcionar soluções para os mesmos. Pereira (2003) apresenta diversos problemas no relacionamento construtora subempreiteiros e aponta solução para minimizá-los, incluindo a necessidade de capacitação. Cardoso (1996) afirma que a construção civil brasileira está muito aquém daquela dos países desenvolvidos quando se refere ao grau de especialização e capacitação dos fornecedores de serviços. O que foi dito já há alguns anos pelo autor é verdadeiro até hoje. Segundo o mesmo, a competitividade das empresas subcontratantes pode ser influenciada de forma negativa pela incapacidade de seus subcontratados em adaptarem-se, rápida e adequadamente a mudanças técnicas e organizacionais. Mais ainda, as empresas subempreiteiras têm uma baixa propensão em investir em recursos humanos e numa relação mais estável de trabalho. Assim, existe uma grande distância entre a capacitação mínima requerida pelas empresas construtoras brasileiras (exigências de qualidade, racionalização e redução de custos) e o perfil dos subempreiteiros presentes hoje no setor, diminuindo o potencial de desempenho da subcontratação. Sinais de mudança de comportamento já podem ser encontrados no mercado. Serra (2001) identifica que, pelo aumento das responsabilidades dos subempreiteiros nas atividades determinantes para a qualidade do empreendimento, algumas construtoras começam a sentir a necessidade de praticar a cultura da valorização desses agentes, e, dentre diversas práticas inseridas nesta cultura, uma das principais é a capacitação dos mesmos. No entanto, as principais deficiências da mão-de-obra subcontratada, presente na maior parte ENEGEP 2003 ABEPRO 2

dos serviços da construção civil, vem do fato da não existência de uma metodologia de capacitação eficaz, dificultando assim o aumento do seu potencial de desempenho. Nesse processo de desenvolvimento setorial, começam a surgir propostas mais bem estruturadas para a capacitação de subempreiteiros. As primeiras propostas que surgiram estão baseadas nos modelo ISO 9000. No entanto, a adequação deste tipo de sistema para a realidade dos subempreiteiros é bastante questionável. O modelo ISO 9000 tem como características a padronização dos processos da empresa e a implementação de melhorias a longo prazo, sendo que muitos subempreiteiros, como a maioria das micro e pequenas empresas, necessitam ser flexíveis e resolver seus problemas de maneira imediata. As evoluções que têm ocorrido e as novas exigências do mercado fazem com que não somente o futuro, mas igualmente o presente dessas empresas esteja correndo perigo. A maioria delas luta pela sobrevivência a curtíssimo prazo. Mais ainda, as características de um programa de capacitação devem estar relacionadas com as necessidades das construtoras que subcontratam, pois são estas que lhes impõe as condições de trabalho. 3. Estudo do Programa de Capacitação do CTE Uma das poucas iniciativas setoriais específicas para a capacitação de subempreiteiros de que se tem notícia corresponde ao programa do Centro de Tecnologia de Edificações - CTE. Esta empresa privada de consultoria, com sede em São Paulo e atuação nacional, desenvolve um programa de capacitação de subempreiteiros bastante aderente às necessidades deste tipo de fornecedor de serviço. Tal programa foi implementado pela primeira vez entre 1999 e 2000. Desde o final de 2002, o programa, apesar de manter suas características básicas, vem sendo remodelado de modo a atender ainda mais às necessidades dos interessados. 3.1. Caracterização do Programa O Programa surgiu a partir da identificação de uma necessidade de mercado apontada por duas construtoras da cidade de São Paulo, que passavam por um processo de implantação de sistemas de gestão da qualidade baseados na norma ISO 9001, quanto à capacitação dos subempreiteiros com os quais trabalhavam. Este Programa deveria facilitar a compreensão dos fornecedores do processo pelo qual passavam estas construtoras, sensibilizando-os a colaborarem da melhor forma possível. Foi assim desenvolvido com base nas exigências das construtoras, que podem ser resumidas nos seguintes objetivos: conscientização e sensibilização dos subempreiteiros em relação às exigências dos sistemas de gestão da qualidade que vinham sendo implantados; identificação dos principais aspectos administrativos e fiscais envolvidos no processo de subcontratação dos serviços por estas construtoras; capacitação dos subempreiteiros participantes para o atendimento às exigências administrativas e fiscais identificadas; capacitação dos subempreiteiros para a implementação de procedimentos de execução e inspeção necessários para a gestão da qualidade dos serviços de obra. Para que fossem alcançados estes objetivos, o CTE apud Lordsleem Júnior (2002) identificou um conjunto de atividades que deveriam ser adequadamente definidas e executadas pelos subempreiteiros, de maneira a atender às exigências das construtoras. Tais atividades são: venda do serviço; elaboração da proposta; negociação da proposta; elaboração do contrato; recebimento da ordem de serviço da construtora; emissão e distribuição de crachás; compra de materiais, equipamentos e ferramentas; elaboração do Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO); solicitação do Certificado de Registro do Fabricante (CRF) dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI); verificação do Certificado de Aprovação (CA) ENEGEP 2003 ABEPRO 3

dos EPIs; programação do serviço; controle de manutenção, localização e entrega dos equipamentos de produção, medição e de proteção individual; treinamento; entrega da relação e registros dos funcionários na obra da construtora; execução do serviço; controle de recebimento de materiais; controle da qualidade do serviço; medição do serviço; emissão de nota fiscal; preenchimento da guia do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e entrega para a construtora; recolhimento do Imposto Sobre Serviço (ISS) e entrega de cópia autenticada para a construtora; recebimento do pagamento; recebimento da caução; prestação de serviço de assistência técnica. Apesar do grande benefício que as construtoras poderiam alcançar, as mesmas não financiaram os custos para os participantes. Realizaram um trabalho de incentivo e disponibilizaram a infra-estrutura necessária para a realização de algumas das atividades, como os locais de treinamento, por exemplo. Para atender aos objetivos propostos foi desenvolvida pelo CTE uma metodologia baseada em quatro tópicos principais que abordavam as atividades acima citadas: Seminários: atividades realizadas nas próprias obras das construtoras subcontratantes, em grupo, compostas de palestras para repasse do conteúdo do Programa, dinâmicas de grupo para fixação dos conceitos e treinamento prático para determinados processos específicos de maior importância identificados pelas construtoras. Em cada seminário também foi fornecido todo o material para a implementação das medidas organizacionais propostas. Visitas técnicas: consultoria técnica individualizada para cada subempreiteiro participante, em sua sede ou no próprio local de trabalho do mesmo, visando orientá-lo na estruturação de seus processos internos, no desenvolvimento e implantação de seus procedimentos e demais documentos necessários, além do esclarecimento de dúvidas específicas de cada um deles. Manual do Subempreiteiro: desenvolvimento de um documento com todos os processos e sistemáticas tratadas nos seminários, adaptado para a realidade de cada subempreiteiro. O Manual foi elaborado pelos próprios participantes e analisado também nas visitas técnicas. Certificado: ao final do Programa, fornecimento de um certificado de participação, identificando as atividades desenvolvidas. Os subempreiteiros que participaram do Programa representavam os mais variados ramos de atuação do mercado. Pode-se dividir as empresas participantes pela principal atividade que realizam: cinco subempreiteiros de alvenaria e revestimentos argamassados; dois subempreiteiros de revestimento cerâmico; dois subempreiteiros de instalações (elétricas, ar condicionado, etc.); dois subempreiteiros de impermeabilização; um subempreiteiro de execução de forro e revestimento de gesso; um subempreiteiro de instalação de esquadrias de alumínio; um subempreiteiro de Colocação de batentes e assoalhos de madeira; um subempreiteiro de marcenaria; um subempreiteiro de alambrados industriais e quadras poliesportivas. 3.2. Avaliação do Programa Com a realização dos seminários de repasse técnico, as empresas subempreiteiras puderam iniciar a implantação das propostas sugeridas pelo Programa de Capacitação para melhoria de sua organização interna. Verificou-se que os subempreiteiros apresentaram grande dificuldade de desenvolverem ENEGEP 2003 ABEPRO 4

sozinhos as tarefas apresentadas nos seminários. Desta forma, as visitas técnicas práticas individuais (realizadas em cada subempreiteiro) foram essenciais para o sucesso do Programa. No entanto, cabe ressaltar que grande parte dos subempreiteiros não conseguiu desenvolver todas as atividades orientadas. Tratavam-se principalmente de subempreiteiros de mão-deobra, principalmente de alvenaria e revestimento argamassado, que dispunham de poucos recursos, tanto humanos, como financeiros. Das dezesseis empresas participantes, cinco delas abandonaram o Programa, antes de seu término. Três destas empresas não possuíam funcionários com conhecimento mínimo de informática (nível de usuário) e nem equipamento (computador) adequado. Mesmo com a disponibilização de um computador, auxílio das construtoras e do CTE para a elaboração dos documentos, os subempreiteiros julgaram as atividades muito complexas e entenderam por bem não continuar com a implantação das medidas discutidas no Programa. As outras duas empresas encerraram suas atividades por falta de obras e seus ex-sócios não se interessaram em continuar no Programa. Lordsleem Júnior (2002), após acompanhar os trabalhos realizados junto aos participantes do Programa, identificou alguns resultados, apresentados resumidamente na tabela 1. Principais pontos positivos Principais pontos negativos Maior envolvimento nos treinamentos em obra (motivação) Elaboração dos procedimentos de execução de serviço Maior abertura de diálogo com as construtoras Aumento da conscientização dos funcionários para a qualidade e segurança Maior conhecimento dos processos internos da empresa Falta de implementação dos procedimentos de controle da qualidade (inspeção) da execução dos serviços Ausência do diagnóstico inicial, antes da implementação das medidas de organização, dificultando avaliar os resultados do Programa Ausência nas empresas subempreiteiras de liderança do processo de implementação das medidas de organização Ausência de uma sistemática de reconhecimento da qualificação pelas construtoras Ausência de investimentos em recursos humanos e nas condições de trabalho Tabela 1 - Pontos positivos e negativos do Programa do CTE (adaptado de Lordsleem Júnior, 2002) Para a verificação de outros resultados alcançados pelos subempreiteiros, algumas empresas participantes foram visitadas 18 meses após o encerramento do Programa. Nestas visitas pôde-se comprovar o que realmente permanecia ou não implantado, além de se identificar os principais resultados, mesmo que qualitativos. Para auxiliar a verificação foi elaborado um questionário com os principais itens a serem analisados junto aos sócios diretores da empresa e outros funcionários indicados por eles, de acordo com cada processo tratado. As empresas a serem visitadas, num total de três, foram escolhidas de acordo com suas características próprias, de modo que representassem diferentes tipos de subempreiteiros, levando-se em conta o seu porte e área de atuação. Como forma de se realizar uma comparação entre os resultados particulares alcançados por cada subempreiteiro, pode-se resumir os principais pontos identificados nos itens da tabela 2. ENEGEP 2003 ABEPRO 5

Empresa Área de atuação N.º de funcion. Resultados alcançados Subempreiteiro A Alvenaria e revestimentos argamassados 100-150 Maior credibilidade frente às construtoras Aumento de novos contratos Diminuição de retrabalho (e custos) Conscientização dos funcionários em relação à segurança do trabalho Subempreiteiro B Revestimento cerâmico 70 Aumento de contratos de grande valor Delegação de responsabilidades Melhor organização das equipes de produção Limpeza após a execução dos serviços Melhor imagem institucional do subempreiteiro Diminuição de custos inesperados Subempreiteiro C Instalações prediais 8 Delegação de responsabilidades Fidelização de clientes Diminuição de retrabalho (e custos) Maior produtividade Conscientização dos funcionários em relação à segurança do trabalho Tabela 2 - Resultados alcançados com o Programa do CTE (FILIPPI, 2003) O Programa mostrou-se inovador e, até por este fato, muito importante para o registro de uma mudança na visão de representantes do empresariado do setor, que por muito tempo mostraram-se passivos em relação à problemática do baixo grau de capacitação dos operários da construção civil. Com base no que foi verificado durante o acompanhamento do Programa (seminários e visitas técnicas), nas visitas após o término do Programa, nos resultados dos questionários realizados com três das empresas participantes da pesquisa de Filippi (2003) e na análise dos resultados de Lordesleem Júnior (2002), pode-se verificar que a aplicabilidade de um programa depende das necessidades de cada tipo de subempreiteiro, conforme descreve o item a seguir. 4. Proposições para a capacitação de subempreiteiros Tendo em vista que a aplicabilidade de um programa se baseia nas necessidades de cada tipo de subempreiteiro, seria bastante apropriada a realização de um diagnóstico inicial do subempreiteiro, de modo a se avaliar suas reais necessidades e conseqüentemente a estrutura de programa mais adequada para atendê-las. Este trabalho, baseado em Filippi (2003), propõe três estruturas básicas para programas de capacitação, de acordo com suas necessidades. Os subempreiteiros seriam dirigidos para um dos três níveis, de acordo com o diagnóstico inicial. Os três níveis propostos são: 1º Nível: subempreiteiros que apresentam problemas básicos estruturais (eles muitas vezes constituem-se em empresas informais) e têm sua permanência no mercado constantemente ameaçada; 2º Nível: subempreiteiros um pouco mais estruturados e regularizados, com conhecimento técnico básico e que apresentam problemas relacionados com a concorrência muito forte e predatória dos subempreiteiros menos estruturados; 3º Nível: subempreiteiros que possuem especialidades técnicas podem desenvolver o projeto junto à construtora, realizam assistência técnica e já estão consolidados no mercado. Precisariam de uma capacitação em gestão interna, de modo a proporcionar a ENEGEP 2003 ABEPRO 6

melhoria contínua de seus resultados, afirmando-se cada vez mais no setor. Para cada nível de subempreiteiro, poder-se estabelecer propostas de programas de capacitação, como identificado na tabela 3. Níveis Problemas enfrentados Necessidade maior 1º Nível Sobrevivência no mercado Organização 2º Nível Concorrência predatória Diferenciação 3º Nível Retrabalhos e atendimentos inadequados Melhoria interna Programam de capacitação Básico ou estrutural Intermediário ou processual Avançado ou de gestão Tabela 3 - Tipos de programa de capacitação por nível do subempreiteiro (FILIPPI, 2003) Em seguida, na tabela 4 pode-se relacionar os requisitos mínimos a serem tratados em cada proposta de programa de capacitação. Programa de capacitação Básico (estrutural) Intermediário (processual) Avançado (gestão) Requisitos mínimos Questões legais (registro de funcionários, contrato social da empresa, cadastro em órgãos e sindicatos específicos, etc.); Questões tributárias (recolhimentos e impostos necessários relacionados à empresa, aos funcionários e aos serviços executados); Organização e responsabilidades (identificação das funções e atividades desempenhadas por funcionário); Rotinas administrativas (contratação, orçamento, pagamentos, cobrança e controle de documentos); Execução dos serviços (treinamento teórico e prático nos serviços relacionados à atividade do subempreiteiro e de seus clientes, com base em critérios de normas técnicas, especificações de clientes específicos e órgãos ou os comumente aceitos no mercado); Segurança do trabalho (atendimento às normas regulamentadoras, de acordo com a atividade do subempreiteiro, e sistemáticas de sensibilização dos funcionários em relação às questões de segurança individual e coletiva). Aperfeiçoamento técnico (estudo de novos métodos de execução tradicionais ou inovadores e dos equipamentos relacionados à atividade do subempreiteiro); Padronização de processos (formalização dos processos administrativos e técnicos, como por exemplo, a elaboração de procedimentos de execução de serviços); Controle da qualidade dos materiais e serviços (recebimento de materiais e inspeção de serviços realizados de acordo com critérios estabelecidos em normas técnicas, especificações de clientes e órgãos ou os comumente aceitos no mercado); Recursos humanos (sistemáticas para verificar a necessidade de capacitação ou treinamento dos funcionários e realizar as ações necessárias para suprir as necessidades); Proposta, programação e medição (elaboração de propostas comerciais detalhadas legalmente e tecnicamente, incluindo a programação das atividades, além da medição e cobrança dos serviços realizados de acordo com o proposto); Marketing (métodos de divulgação da empresa e posturas adequadas em relação ao mercado e cliente). Planejamento (estabelecimento de metas para a empresa, planejamento e controle das atividades ou serviços); ENEGEP 2003 ABEPRO 7

Controle de projetos (desenvolvimento e controle de alterações); Controle de equipamentos (distribuição e manutenção adequada); Controle tecnológico (ensaios necessários para a aprovação dos serviços ou materiais de acordo com critérios estabelecidos em normas técnicas, especificações de clientes e órgãos ou os comumente aceitos no mercado); Melhoria contínua (sistemáticas para análise dos problemas rotineiros da empresa e tomada de ações para solucioná-los); Análise das necessidades e da satisfação de clientes (pesquisa de mercado, monitoramento de reclamações e pesquisas pós entrega dos serviços); Garantia e assistência técnica (estabelecimento de prazos de garantia para os serviços prestados e sistemática para assistência técnica pós entrega). Tabela 4 - Requisitos para capacitação de subempreiteiros por tipo de programa (FILIPPI, 2003) 5. Conclusões O trabalho mostra que o melhor caminho para se chegar a programas de capacitação efetivos é fazer com que esses levem em conta o nível de organização do subempreiteiro e propõe requisitos mínimos que tais programas devem conter. É importante citar que os subempreiteiros podem evoluir como empresa e alcançar níveis superiores. Desta forma, um subempreiteiro que de início lutava por sua sobrevivência, após sua capacitação pode estruturar-se de tal modo que passe a apresentar outras características e outras necessidades, como, por exemplo, sua diferenciação no mercado, caracterizando um segundo nível de capacitação. Pensando-se na sua capacitação, ele deverá assim progredir de nível, conforme tabela 4. Embora o programa relatado tenha tido sucesso, e novas idéias tenham sido propostas por Filippi (2003), muito ainda há de ser feito em termos de capacitação desses fundamentais agentes da cadeia produtiva da construção civil. A capacitação e qualificação dos subempreiteiros ainda constituem um desafio para o setor. Apesar das iniciativas regionais no Brasil, faltam ainda propostas abrangentes e reconhecidas, uma vez que esse tipo de empresa ganha cada vez maior amplitude no mercado. Referências CARDOSO, F.F. Estratégias empresariais e novas formas de racionalização da produção no setor de edificações no Brasil e na França. Parte 1: o ambiente do setor e as estratégias. Estudos Econômicos da Construção, São Paulo, n.2, p. 97-156, 1996.. Estratégias empresariais e novas formas de racionalização da produção no setor de edificações no Brasil e na França. Parte 2: do estratégico ao tático. Estudos Econômicos da Construção, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 119-160, 1997. FILIPPI, G.A. Capacitação e qualificação de subempreiteiros na construção civil. 2003. 128 p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo. LORDSLEEM JR, A.C. Metodologia para capacitação gerencial de empresas subempreiteiras. 2002. 288 p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo. PEREIRA, S.R. Os subempreiteiros, a tecnologia construtiva e a gestão dos recursos humanos nos canteiros de obras e de edifícios. 2003. 279 p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo. SERRA, S.M.B. Diretrizes para gestão dos subempreiteiros. 2001. 360 p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo. SÖZEN, Z.; KÜÇÜK, M. Secondary subcontracting in the Turkish construction industry. Construction Management and Economics, v. 17, n. 2, p. 215-220, Mar. 1999. ENEGEP 2003 ABEPRO 8