Termômetro Tributário Brasileiro - Agosto/2011

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Transcrição:

1 Nota Técnica 30/09/2011 Termômetro Tributário Brasileiro - Agosto/2011 José Roberto R.Afonso Marcia Monteiro Matos RESUMO: A carga tributária brasileira, que mede a relação entre a arrecadação de tributos e a produção econômica do País, deve bater recorde em 2011, superando o melhor ano anterior que tinha sido o de 2008. A conclusão decorre de um acompanhamento mensal da evolução das principais receitas coletadas no Brasil (85% do total), que considera o acumulado nos últimos 12 meses e projeta apenas algumas variáveis para o último mês. Tal levantamento é chamado de termômetro, por expressar de forma mais rápida a temperatura dessa carga tributária. Em série iniciada em 1991, o termômetro ultrapassou pela primeira vez a marca de 30% do PIB desde junho último e fechou agosto em 30,54% do PIB (a melhor marca anterior era de 29,95% do PIB em abril de 2008, antes da crise e ainda computando boa parte da receita remanescente da CPMF). O desempenho em 2011 pode ser considerado surpreendente e tem sido liderado pela receita administrada federal informação efetiva. No caso do ICMS estadual, como foi preciso projetar o arrecadado em meses mais recentes (a partir do realizado em São Paulo), se optou por hipótese conservadora, de modo que a carga estadual anualizada até recuou suavemente. Ou seja, não foi a parcela projetada do termômetro que explica o forte aumento de sua temperatura em 2011. Extrapolando que a relação entre o volume do termômetro e a carga global seja a mesma observada ao final de 2010, é possível supor que a mesma carga que compreende todos os tributos deve ultrapassar com folga a marca de 36% do PIB, até o fechamento do ano de 2011. Se a tendência observada até agosto for mantida até dezembro, o aumento da carga brasileira pode ser de 1,4 pontos do produto e a carga fechar em 36.5% do PIB, um ponto do produto acima do recorde de 2008. A melhoria da carga tem sido decisiva para o ajuste fiscal em 2011, mas, se não precisasse cobrir a expansão de gastos, os resultados surpreendentes poderiam estar abrindo oportunidades para iniciar uma reforma tributária que melhorasse a qualidade do atual sistema, ao reestruturar a forma de cobrar tributos no País..

2 Introdução A forma mais comum de avaliar o desempenho da receita tributária no País é apurar e analisar o indicador da carga tributária que expressa a razão entre a arrecadação e o produto interno bruto (PIB). Tal indicador é apurado geralmente para o período de um exercício financeiro. Além disso, o cálculo da carga compreende algumas diferenças metodológicas de uma para outra fonte (desde as contas nacionais, divulgadas pelo IBGE, geralmente com dois anos de defasagem, até uma apuração do Ministério da Fazenda, que não trata todas as formas de cobranças compulsórias como se tributos fossem). Se uma economia emergente apresenta oscilações temporais em variáveis macro mais fortes que em uma economia avançada, em tempos de entrada e saída de crise se torna ainda mais premente acompanhar de perto a política fiscal e isso demanda, dentre outras tarefas, que o índice da carga tributária fosse medido e analisado com uma periocidade mais curta do que a anual. Nesse sentido, aqui é proposto resgatar e atualizar um índice que já foi divulgado pelo BNDES até 2002 e era chamado de Termômetro Tributário, que permite acompanhar mensalmente a arrecadação dos principais componentes da carga tributária, uma vez que as fazendas federais e estaduais divulgam todo mês o montante que foi arrecadado no mês anterior (no segundo caso, as vezes com algum atraso mas que pode ser compensado por extrapolar a receita a partir da obtida nas maiores unidades federadas). Entre 1990 e 2010 (período da série a ser aqui analisado), o termômetro equivale, em média, a 85% da carga tributária global escaparam ao indicador alguns tributos federais atípicos (como royalties), menores receitas estaduais (como imposto sobre herança e taxas) e toda a arrecadação tributária municipal esta última sem informação mensal consistente. De qualquer forma, o termômetro permite antecipar e avaliar a tendência da carga anual. 1 1 Chama-se a atenção que a metodologia aqui adotada para a carga global difere da adotada pelo Ministério da Fazenda. Um ponto a ser observado é que a Receita Federal não computa muitos tributos compulsoriamente cobrados da economia como se fosse carga: por exemplo, participações governamentais na extração de petróleo, gás, enérgia elétrica e mineração não são classificados como tributos no cálculo oficial do Ministério da Fazenda; o mesmo vale para receitas de multas, juros de mora e dívida ativa. Porém, na contabilidade da União, as mesmas receitas estão computadas como receitas de contribuições, que tem a mesma classificação da CIDE, esta que é contada na carga pela Receita Federal. Já na apuração aqui seguida, são computadas todas essas outras receitas compulsórias não clássicas, como previsto na metodologia internacional (OECD, FMI, Contas Nacionais).

3 Metodologia A denominação termômetro visa associar o indicador ao mesmo instrumento básico usado na saúde para mensurar a temperatura de uma pessoa. A ideia é ter uma medida rápida, razoavelmente bem informada (embora não seja 100% precisa), que permita antecipar e avaliar os rumos da carga tributária bruta nacional - se estável, ou se tende a decrescer ou crescer. Mais importante do que sua dimensão (como em uma fotografia), é a evolução (como em um filme) que o termômetro mais retrata em seus índices. Portanto, a proposta deste trabalho, é atualizar as séries mensais da arrecadação com vista a avaliar os rumos do comportamento recente da tributação no país. Foram adotadas como fontes primárias as estatísticas divulgadas mensalmente pela Receita Federal 2, Ministério da Previdência 3 e CONFAZ 4, para arrecadação, e ainda BACEN 5, no caso do PIB. Até o final do mês seguinte são divulgados os dados da receita coletada em um mês, com um atraso apenas no caso do CONFAZ (que também por vezes deixa de divulgar dados para algum estado), mas neste caso foi extrapolada a arrecadação nacional a partir da realizada no estado de São Paulo, a maior unidade federada, e cuja informação é conhecida também para o último mês (agosto). 6 Foram projetados os impostos estaduais e também o montante do PIB apenas no último mês, suposta a mesma variação nominal entre o último mês e igual mês do ano anterior constatada nas correspondentes estatísticas oficiais. O termômetro é construído com receitas mensais, porém, esta análise opta por tomar apenas o resultado acumulado nos últimos doze meses: tanto porque as análises tradicionais da carga tributária 2 São incluídos os dados referentes ao Imposto sobre Importação, IPI, IR, IOF, ITR, CPMF, COFINS, PIS/PASEP, CSLL, CIDE, Contribuições para o FUNDAP e Outras Receitas Administradas - http://bit.ly/cbazqb 3 São incluídos os dados referentes à Arrecadação Bancária e Arrecadação SIMPLES - http://bit.ly/jukw3q Destaca-se que, depois da fusão das máquinas fazendárias da Receita e do INSS, apesar da RFB ter passado a divulgar em seu boletim mensal a arrecadação da contribuição previdenciária, se optou aqui por utilizar a arrecadação reportada pelo MPAS, em seu boletim igualmente mensal, para manter a mesma fonte que foi usada nos anos anteriores à criação da RFB (além de incluir as contribuições para o Sistema S). 4 São incluídos os dados referentes ao ICMS e IPVA - http://bit.ly/hxh1x3 5 Dados do Bacen - http://bit.ly/f8botz 6 No caso da arrecadação bancária da previdência social aqui adotada, enquanto não for divulgada pelo MPAS (próximo do final do mês seguinte), se supõe que a variação no último mês seja igual a registrada na respectiva receita na nota divulgada pela RFB em torno do dia 20 do mês seguinte.

4 compreendem o período de um ano, quanto porque ao cobrir um maior período de referência se evita sazonalidades e o citado indicador tornase mais estável (o indicador do termômetro mensal mostra uma forte oscilação que muitas vezes reflete apenas fatos sazonais - como, por exemplo, pagamentos do 13º salário, ajuste de declaração de IR ou safras agrícolas). A série histórica do termômetro tributário foi iniciada em 1990 e, nesta última posição, atualizada até agosto de 2011. De qualquer forma, ao se trabalhar com o indicador que acumula os fluxos desde maio de 2010, fica diluído tal estimativa porque alcança apenas um entre doze variáveis contadas. Tendência de Longo Prazo O gráfico a seguir mostra as três grandes receitas acumuladas (a antiga e conhecida receita administrada federal, a arrecadação bancária da previdência social e os impostos estaduais do ICMS e IPVA), com os fluxos anualizados a cada mês, desde 1991 até agosto de 2011. No longo prazo, há uma clara tendência expansionista. No curtíssimo prazo, em meados deste ano, a receita acumulada volta ao patamar recorde observado no início de 2008.

5 No agregado, conforme a tabela a seguir (que retrata a totalização do gráfico anterior), o termômetro tributário apresentou uma expansão contínua a partir de 2003 (o termômetro de 28.2% do PIB em 2002 foi atípico devido à receita federal extraordinária decorrente de acordo com os fundos de pensão) até bater o recorde em meados de 2008, quando ficou acima de 29.9% do produto. Coincidindo com a eclosão da crise global, a temperatura retrocedeu aos poucos desde outubro de 2008, de modo que atingiu seu ponto mais baixo no último mês de 2009: 28.8% do PIB. O início de 2010 marcou uma lenta mas contínua recuperação do termômetro, que chega a sua temperatura mais alta em dezembro, com 29.2% do produto, e acelera o avanço em 2011, até bater 30.12% em junho de 2011, e um novo recorde de 30,54% agosto. Chama-se a atenção que em agosto foi o melhor resultado acumulado da arrecadação na série histórica, iniciada em 1991 (quando se fez mais plena a implantação do sistema tributário da Constituição de 1988). Foi ultrapassada a melhor marca anterior, de 29.95% do PIB na receita anualizada até abril de 2008 (ainda com efeito parcial da CPMF em seu somatório) além da marca de junho de 2011.

6 Expansão Recente (Pós-Crise) A mesma evolução do termômetro agregado pode ser vislumbrado no gráfico a seguir que apresenta no eixo vertical cada mês do ano e, no seu corpo, a evolução do termômetro com cada curva dedicada a um ano entre 2001 e 2011. A melhor curva anual era de 2008, mas desde o início de 2011 a curva do termômetro deste ano mostrava uma tendência ascendente, até ultrapassar e alcançar o maior ponto desde junho último. Como tais curvas compreendem a arrecadação acumulada em doze meses e não apresentam oscilações mais bruscas, é possível dizer que, para o resto de 2011, no mínimo, tal curva ficará estabilizada acima dos outros anos isto em uma avaliação conservadora. O mais provável é que ela até mantenha alguma trajetória expansionista porque se foi pessimista na projeção do ICMS estadual e não há indícios de recuo da arrecadação federal, ao menos nos próximos meses, e em que pese a desaceleração da economia.

7 Vale pontuar melhor essas oscilações de temperatura. A evolução recente da tributação no País foi marcada por uma mudança institucional importante e por uma forte oscilação na economia, refletindo os efeitos da chamada crise financeira global. A tabela a seguir detalha a composição do termômetro e respalda esta breve análise de sua evolução recente. A CPMF não foi renovada e deixou de ser cobrada a partir de 2008 embora, ainda tenha influenciado a receita acumulada ao longo daquele ano, de forma decrescente. A crise mergulhou a economia brasileira em uma profunda mas rápida recessão entre o final de 2008 e o início de 2009, tendo os maiores impactos sob a arrecadação sido sentidos ao longo desse último ano. Houve uma rápida e acentuada recuperação desde o final de 2009 e ao longo de 2010, porém, mais uma vez os efeitos, agora positivos, foram sentido com algum retardo na arrecadação. Esse ciclo, portanto, é que marca o período mais recente da tributação no Brasil. De certa forma, é possível até dizer que o nível de tributação atual já ultrapassou o experimentado antes da crise porque, na temperatura de 29.95% do PIB medida em abril de 2008, estava sendo contado cerca de nove meses de arrecadação cheia da CPMF, anteriores a sua extinção. Estrutura por Principais Tributos A evolução dos componentes da carga tributária, porém, foram razoavelmente diferenciados, conforme a tabela a seguir, que retrata o termômetro ao final de cada ano e, também, a carga bruta global (incluindo os outros tributos cuja receita não se consegue capturar mensalmente pelo termômetro). O maior impacto da crise foi sentido na receita administrada federal.

8 TERMÔMETRO TRIBUTÁRIO AGREGADO Acumulado nos 12 meses: % do PIB ANO ARRECADAÇÃO AGREGADA (UNIÃO + EST.) RECEITA PREVIDÊNCIA SOMA ICMS IPVA SOMA FEDERAL CARGA RESIDUAL CARGA GLOBAL BRUTA (método amplo) 1991 21,26% 9,22% 5,09% 14,31% 6,79% 0,15% 6,94% 3,98% 25,24% 1992 22,80% 10,09% 6,10% 16,19% 6,48% 0,14% 6,61% 2,21% 25,01% 1993 23,57% 11,17% 6,14% 17,31% 6,12% 0,13% 6,25% 2,21% 25,78% 1994 26,40% 12,88% 5,94% 18,82% 7,41% 0,17% 7,58% 3,35% 29,75% 1995 23,47% 11,17% 5,20% 16,37% 6,76% 0,35% 7,10% 3,46% 26,93% 1996 23,26% 10,56% 5,65% 16,21% 6,68% 0,37% 7,05% 3,58% 26,85% 1997 23,01% 11,13% 5,13% 16,26% 6,34% 0,41% 6,75% 4,39% 27,41% 1998 23,55% 11,77% 5,10% 16,88% 6,22% 0,46% 6,68% 4,12% 27,67% 1999 24,84% 13,09% 4,95% 18,04% 6,37% 0,42% 6,79% 4,16% 29,00% 2000 26,31% 13,78% 5,10% 18,88% 6,98% 0,45% 7,43% 4,84% 31,15% 2001 27,12% 14,21% 5,19% 19,40% 7,24% 0,48% 7,73% 5,20% 32,33% 2002 28,20% 15,45% 5,15% 20,60% 7,13% 0,47% 7,61% 5,16% 33,37% 2003 27,57% 15,01% 5,09% 20,10% 7,02% 0,46% 7,47% 5,25% 32,82% 2004 28,25% 15,48% 5,21% 20,69% 7,10% 0,46% 7,56% 5,44% 33,69% 2005 29,09% 15,48% 5,21% 20,69% 7,10% 0,46% 7,56% 5,85% 34,95% 2006 29,09% 15,71% 5,61% 21,32% 7,25% 0,52% 7,77% 5,70% 34,79% 2007 29,58% 16,21% 5,78% 21,98% 7,05% 0,55% 7,60% 5,67% 35,25% 2008 29,68% 15,82% 5,93% 21,75% 7,36% 0,57% 7,93% 5,82% 35,50% 2009 28,87% 14,79% 6,30% 21,08% 7,15% 0,63% 7,79% 5,81% 34,68% 2010 29,16% 14,84% 6,35% 21,19% 7,36% 0,61% 7,97% 6,00% 35,16% 2011/AGO. 30,54% 16,18% 6,49% 22,66% 7,29% 0,59% 7,88% 6,00% 36,54% Var. 2011-1995 Var.2011-2008 Var.2011-2010 UNIÃO - ARRECADAÇÃO (+) ESTADOS- ARRECADAÇÃO (+) 7,07% 5,00% 1,29% 6,29% 0,53% 0,24% 0,78% 2,54% 9,61% 0,86% 0,35% 0,56% 0,91% -0,07% 0,02% -0,05% 0,18% 1,04% 1,38% 1,34% 0,13% 1,47% -0,07% -0,02% -0,09% 0,00% 1,38% Elaboração própria. Fontes primária: Receita Federal, STN, MPAS, CEF, CONFAZ, Secretarias Estaduais de Fazenda e BACEN. Termometro: resultado acumulado até dezembro, com exceção de 2011: até agosto. Carga tributária bruta global: metodologia ampla, incluindo FGTS e sistema S, participações governamentais em óleo/energia, dívida ativa, juros e multas. Como já dito, o ano de 2008, apresentou uma arrecadação histórica. O termômetro mediu uma arrecadação de 29,95% do PIB em abril, mês com maior percentual, e em dezembro, mês com o menor percentual, de 29,68% do PIB a desaceleração já reflete o impacto da grave crise financeira mundial nos últimos meses do ano. Mais uma vez, a União foi responsável pela elevação do nível de arrecadação, devido à previdência que mostrou trajetória crescente no período. A previdência acumulou em dezembro 5,93% do PIB, aumento de 0,15% se comparado com dezembro do ano anterior que foi de 5,78% do PIB. A crise afetou o desempenho da carga em 2009: a tendência foi decrescente, chegando ao menor patamar em setembro e dezembro - de 28,87% do PIB. O que ditou a queda da carga foram as receitas administradas da Receita Federal, que se comparado com o mesmo período do ano anterior, apresenta uma redução de 1,37% do PIB. Esse resultado, de queda da arrecadação em 2009, pode ser explicado em parte pela política de incentivos fiscais adotada pelo governo federal, como também pelos prejuízos das empresas, a queda da produção e também a redução da oferta de crédito.

9 O termômetro calculado nos últimos anos mostra que a arrecadação tributária em proporção do PIB cresce no País. A arrecadação das receitas administradas pela Receita Federal e Previdência Social, em grande parte, são os maiores responsáveis pelo crescimento da carga no Brasil. Em 2010, poderia se esperar uma redução da carga, para valores antes da crise financeira mundial, mas os dados mostram uma tendência crescente, principalmente para os primeiros meses de 2011, que apresentam valores significativos, se comparados com os dados de 2008, podemos observar que há um encurtamento da diferença entre os períodos analisados (2008 e 2011). Em junho, pela primeira vez a arrecadação total superou a recorde de 2008, e puxado pela Receita Federal, em agosto, último mês cálculado pelo termômetro, tem que a curva de 2011 ultrapassa a de 2008 e mostra que a carga tributária desse ano, poderá bater um novo recorde. É interessante observar a carga tributária global, medida em bases anualizada e aqui seguindo uma metodologia que computa mais tributos que aqueles mensurados normalmente pela Receita Federal (que não considera royalties e nem muitas outras receitas correntes, como multas e juros de mora). Em 2006, tinhamos uma Carga Tributária Total de 34,79% do PIB, sendo 29,09% da arrecadação total do termômetro, que corresponde a 21,32% da arrecadados da União (receitas administradas mais previdência) e 7,77% dos Estados (ICMS e IPVA), antes da crise. Póscrise, temos em 2010 uma Carga Tributária Total de 35,16% do PIB, onde 29,16% do termômetro é o somatório da arrecadação da União de 21,19% e dos Estados de 7,97%. A arrecadação da Receita Federal apresentou uma redução de cerca de 0,9% PIB, quando comparado agosto de 2010 com o de 2006, fazendo a mesma análise para agosto de 2011, último mês calculado, com o mesmo período de 2006, temos que a receita federal chegou a 0,43% do PIB. Entre 2009 e 2010 7, no meio da crise, a carga do ICMS 7 Pelo que já foi comentado antes, temos que a carga tributária esta crescendo. Pelos dados apresentados pela RFB, a carga teve um ligeiro aumento entre 2009 e 2010, da mesma forma que foi calculado pela metodologia do termômentro, porém, este com um valor superior ao da Receita Federal. Em 2010, a Receita Federal calculou uma carga tributária de 33,56% do PIB e o termômetro de 35,12%, superior a RFB. Já em termos de evolução a variação foi a mesma entre o cálculo da RFB e o termômetro. Assim, o que fica de importante, é que a projeção da carga tributária para 2011 aponta um recorde histórico, como se pode ver nos dados apresentados nos últimos meses, pelo termômetro. Na última análise, a arrecadação total foi de 30,54% do

10 foi o componente do termômetro que mais cresceu (0,20 pontos), voltando ao seu nível de 2008. Já no ano seguinte, entre agosto de 2011 e 2010, o componente que mais aumentou foi a carga da receita administrada pela RFB (1,33 pontos). Fatos como encerramento das desonerações relativas ao IPI incidentes sobre automóveis, móveis e eletrodomésticos em 2010, crescimento da arrecadação da CSLL, IRRF Remessas ao Exterior, IRPJ, COFINS podem explicar o aumento no início de 2011. Nos últimos meses, a expansão da receita administrada federal foi afetada por fatores extraordinários, no sentido de que não devem se repetir no futuro: os recolhimentos excepcionais decorrentes de acertos em parcelamentos de dívidas tributárias (que os contribuintes ganhavam descontos caso quitassem à vista) e, mesmo, de disputas judiciais envolvendo grandes contribuintes. Aliás, tais receitas atípicas continuarão contando no cálculo da carga pelos próximos meses. Os tributos que, em princípio, deveriam ser mais sensíveis a expansão da economia isto é, os tributos indiretos ou incidentes sobre vendas e produção -, não são os motores da recarga tributária. O caso mais notório é o do ICMS estadual: depois de ter resistido bem ao período mais duro da crise global e ter se expandido até o final de 2010, inverteu a tendência em 2011 e sua carga vem caindo suave e gradualmente a receita anualizada em agosto foi projetada em 7.3% do PIB. As projeções de Amir Khair para a carga de 2011 também apontam uma queda do ICMS e, mesmo na crescente receita federal, o incremento que ele espera para o agregado IPI/COFINS/PIS (0.3 pontos do PIB) não chega a metade do aumento que projeta na carga apenas do imposto de renda (0.67 pontos). Por tipo de incidência, a tributação de rendas, lucros e salários é o que mais ditará a forte recarga em 2011 e não a tributação sobre o mercado doméstico. Focando a análise no desempenho da arrecadação federal, que é a locomotiva da atual recarga tributária, vale destacar uma informação que passou a constar recentemente nos boletins mensais da RFB e que nunca mereceram maior atenção por especialistas e mídia. No caso da PIB. A receita federal apresentou um aumento de 1,33% quando comparada com agosto de 2010, já o ICMS reduziu em 0,4% do PIB, que parece confirmar uma ligeira redução nos últimos meses.

11 antiga receita administrada (sem previdenciária), o quadro a seguir 8 aponta os setores que mais contribuíram para o ganho real nos oito primeiros meses do ano, com uma impressionante concentração: dez setores responderam por 72% do incremento total da receita e eles cresceram a excepcional taxa de 26%; enquanto os demais setores, que respondem por 28% do arrecadado e cresceram 8%. Portanto, o crescimento da receita dos setores que reúnem a grande maioria dos contribuintes foi em torno de metade da expansão geral da receita. Ao contrário do que seria de se esperar no caso de um crescimento acelerado da economia e com incremento de arrecadação generalizado e próximo entre os diferentes setores, é constatado que o aumento da arrecadação federal é muito concentrado em poucos segmentos - a ponto de que o setor financeiro sozinho explicou 27,5% do ganho total de receita e que o segundo o setor que mais contribuiu, o de extração mineral, chegou a recolher na primeira metade deste ano o dobro do que fez no início do ano passado sempre em variações reais (deduzido o IPCA). Esse desempenho tão dispare da arrecadação federal refletiria uma economia dual: um lado, cresce em ritmo chinês desde a própria extrativa mineral até o setor financeiro, passando pela automobilística e pelas importações; outro lado, cresce em padrão latino tradicional com taxas mais moderadas e talvez generalizada. 8 O quadro consta da página 4 do boletim mensal de boletim da Análise da Arrecadação das Receitas Federais de agosto de 2011.

12 Aliás, não custa mencionar um contraponto ao ICMS o lado chinês dos grandes pagadores de tributos federais é composto por segmentos que não integram a base do imposto estadual (caso do setor financeiro e das exportações de minerais) ou, quando integram, são beneficiados por tantos incentivos fiscais que pouco impactam na receita (caso da indústria automobilística, a mais beneficiada pela guerra fiscal do ICMS). Já no caso da contribuição previdenciária, que também teve um desempenho excelente no auge da crise global e a carga se encontra estável em 2011, surge outra curiosidade mesmo boletim mensal da Receita Federal 9 e igualmente ignorada. Ela diz respeito ao desempenho diferenciado dos componentes desta fonte. Se nos primeiros oito meses de 2011, a receita previdenciária cresceu 10,3%, a fonte clássica (folha salarial) aumentou apenas 6,1%. Desempenho muito melhor foi constatado no caso das outras fontes: parcelamentos (+17,4%), retenções nas prestações de serviços (+11,6%) e optantes do Simples (+9,8%), ou seja, as fontes heterodoxas de recursos da previdência é que apresentam um desempenho muito melhor que a tradicional massa salarial, esta sim mais sensível ao crescimento econômico. Muito do efeito da formalização do emprego e mesmo a geração de novos postos de trabalho centrada em trabalhadores de menor qualificação e renda significa que os empregadores de menor porte e que integram o regime especial simplificado devem liderar a expansão da contribuição previdenciária. Carga Projetada para 2011 Extrapolando que a relação entre o volume do termômetro e a carga global seja a mesma observada ao final de 2010, é possível supor que a mesma carga que compreende todos os tributos ultrapassará com folga a marca de 36% do PIB, até o fechamento do ano de 2011. Se a tendência observada até agosto for mantida até dezembro, o aumento da carga brasileira pode girar em torno de 1,4 pontos do produto em apenas um ano, o que levaria tal carga a 36.5% do PIB em 2011, exatos 1 ponto acima dos 35.5% registrados em 2008 em ambos os 9 Ver página 9 do citado boletim, ao comentar os resultados acumulados entre janeiro e agosto.

13 casos, recordes batidos em anos em que não se arrecadou a CPMF (que gerava cerca de 1,4% do PIB). Chama-se a atenção que esta projeção praticamente coincide com a do economista Amir Khair, que aplica uma metodologia própria de apuração da carga nacional (mais próxima a da Receita Federal). Com base nas estatísticas divulgadas até maio, ele projetou que a carga tributária global subiria de 33,55% para 34,87% do PIB entre 2010 e 2011, ou seja, com um incremento de 1,32 pontos. Para Amir, União será o único governo a elevar a carga em 2011 (projeta um crescimento de 1,44 pontos do produto nessa esfera) em contraponto a retração na carga estadual (projeta recuo de 0,15 pontos do produto, puxado pelo ICMS decrescente). Se não há dúvida de que a carga tributária vem crescendo no País e ao que tudo indica pode bater recorde histórico em 2011, por outro lado, cabe levantar algumas dúvidas sobre as razões para esse desempenho e as perspectivas para os próximos anos. Há um grande consenso entre os especialistas que estão diagnosticando o recente e forte aumento de receitas, especialmente no âmbito federal, de que suas razões estariam basicamente no crescimento econômico e a uma suposta elasticidade-produto superior a unidade ou seja, quando a produção acelera, a arrecadação cresceria ainda mais rápido. Certamente, esse é um fator importante ou mesmo decisivo para explicar a chamada recarga tributária recente. Porém, é preciso tomar alguns cuidados na análise. A começar pelo fato de que a economia está desacelerando em 2011, ou seja, cresce neste ano mas a taxas inferiores as observadas em 2010. Isso significa movimento inverso ao observado no caso da carga tributária: uma evolução muito melhor em 2011 do que em 2010. Observações Finais Não deixa de ser paradoxal que exatamente quando se constata que a carga tributária brasileira deve bate recorde histórico se discuta no Congresso a recriação do chamado imposto de cheque, ainda que vinculado à saúde, o que viria a elevar ainda mais aquele indicador. Não custa recordar que, antes de ser rejeitada sua prorrogação, a cobrança da CPMF arrecadava 1,4 pontos do produto.

14 Na eventualidade de ser recriada e coletasse exatamente aquele mesmo volume, a carga nacional saltaria para casa de 38% do PIB, um patamar ainda mais longe da média das economias emergentes e até mesmo das desenvolvidas se aproximando dos níveis mais elevados de tributação praticados nos países nórdicos. Por outro lado, não deixa de ser curioso que, mesmo depois de extinta a CPMF, a carga tributária nacional cresceu, apesar de oscilar na crise financeira global. A projeção é que 2011 feche com uma carga global de 36,5% do PIB, 1,3 pontos acima da obtida no último ano (2007) em que se cobrou a CPMF isto é, o aumento dos demais tributos, em 2,7 pontos, mais do que compensou a sua extinção (os demais cresceram em impressionante 6,6 pontos desde 2000), como melhor visualizado na tabela a seguir. Tudo isso indica que, se as ações antes custeadas pela CPMF (como a saúde) ainda se sentem carentes de recursos, se pode inferir que aspectos relacionadas às prioridades nas decisões governamentais, às realocações de dotações no orçamento e, sobretudo, à gestão dos recursos públicos são mais relevantes do que o financiamento afinal, a carga tributária é maior hoje do que quando se cobrava o chamado imposto de cheque. EVOLUÇÃO DA CARGA TRIBUTÁRIA ANUAL: COM E SEM CPMF em % do PIB Ano Carga Global (-) CPMF Líquida CPMF 2000 31,15% 1,23% 29,92% 2001 32,33% 1,32% 31,01% 2002 33,37% 1,38% 31,99% 2003 32,82% 1,36% 31,47% 2004 33,69% 1,36% 32,33% 2005 34,95% 1,36% 33,58% 2006 34,79% 1,35% 33,44% 2007 35,25% 1,37% 33,88% 2008 35,82% 0,04% 35,78% 2009 34,98% 0,01% 34,97% 2010 35,16% 0,00% 35,16% 2011/Proj 36,54% 0,00% 36,54% 2011-2007 1,29% -1,37% 2,66% 2011-2000 5,39% -1,23% 6,62%

15 A tendência de expansão da carga também está associada a outra, da recentralização da arrecadação. Uma evidência é que o índice da carga global projetada para 2011 será 17% superior ao de 2000, porém, o bloco no termômetro de tributos federais crescerá 20% enquanto o estadual apenas 6%. Especificamente, a carga do ICMS variará apenas 4% contra 17% da receita federal administrada e 27% da receita previdenciária, entre 2000 e 2011. A arrecadação estadual fica cada vez mais para trás da federal e da chamada carga residual. Em conclusão, o que antes era uma hipótese agora se tornou certeza: a carga tributária global crescerá em 2011 e deve bater recorde histórico. Só uma drástica redução de arrecadação nos próximos meses impediria esse resultado e não há menor indício de que possa ocorrer. Mesmo que a economia desacelere, que está ocorrendo, o seu efeito sobre a arrecadação ainda levará alguns meses e o efeito mais provável seja reduzir o ritmo de crescimento ou quando muito estabilizar, mas dificilmente recuo em termos reais.

16 ANEXO ESTATÍSTICO TERMÔMETRO DA TRIBUTAÇÃO (ANUALIZADO) - 1990/2011 Acumulado de 12 meses - em % PIB FLUXOS ARRECADAÇÃO UNIÃO - ARRECADAÇÃO (+) ESTADOS- ARRECADAÇÃO (+) ÚLTIM OS TOTAL 12 M ESES (UNIÃO + EST.) RECEITA PREVIDÊNCIA SOMA ICMS IPVA SOMA FEDERAL DEZ 29,58% 16,21% 5,78% 21,98% 7,05% 0,55% 7,60% 2008 JAN 29,84% 16,40% 5,81% 22,21% 7,06% 0,57% 7,63% FEV 29,85% 16,38% 5,82% 22,20% 7,08% 0,58% 7,66% MAR 29,92% 16,38% 5,83% 22,22% 7,12% 0,58% 7,71% ABR 29,95% 16,39% 5,85% 22,24% 7,13% 0,59% 7,72% MAI 29,90% 16,30% 5,86% 22,16% 7,16% 0,59% 7,74% JUN 29,86% 16,23% 5,86% 22,09% 7,18% 0,59% 7,77% JUL 29,86% 16,24% 5,84% 22,08% 7,19% 0,59% 7,78% AGO 29,81% 16,17% 5,83% 22,00% 7,23% 0,59% 7,81% SET 29,77% 16,10% 5,83% 21,94% 7,25% 0,58% 7,83% OUT 29,82% 16,12% 5,82% 21,94% 7,31% 0,58% 7,88% NOV 29,69% 15,97% 5,84% 21,81% 7,32% 0,57% 7,89% DEZ 29,68% 15,82% 5,93% 21,75% 7,36% 0,57% 7,93% 2009 JAN 29,62% 15,73% 5,95% 21,68% 7,34% 0,59% 7,94% FEV 29,52% 15,57% 5,99% 21,56% 7,37% 0,60% 7,96% MAR 29,52% 15,51% 6,03% 21,54% 7,35% 0,62% 7,97% ABR 29,46% 15,40% 6,07% 21,47% 7,36% 0,62% 7,99% MAI 29,41% 15,30% 6,12% 21,42% 7,36% 0,63% 7,98% JUN 29,30% 15,18% 6,16% 21,34% 7,33% 0,63% 7,97% JUL 29,26% 15,09% 6,20% 21,29% 7,34% 0,63% 7,97% AGO 29,12% 14,95% 6,23% 21,18% 7,31% 0,63% 7,94% SET 28,87% 14,74% 6,23% 20,97% 7,27% 0,63% 7,90% OUT 28,98% 14,82% 6,27% 21,10% 7,25% 0,64% 7,88% NOV 29,22% 15,01% 6,33% 21,34% 7,25% 0,64% 7,88% DEZ 28,87% 14,79% 6,30% 21,08% 7,15% 0,63% 7,79% 2010 JAN 29,03% 14,87% 6,30% 21,17% 7,18% 0,68% 7,86% FEV 28,99% 14,86% 6,30% 21,16% 7,16% 0,67% 7,83% MAR 28,92% 14,79% 6,28% 21,07% 7,18% 0,67% 7,85% ABR 29,04% 14,88% 6,27% 21,15% 7,22% 0,66% 7,89% MAI 29,09% 14,91% 6,26% 21,17% 7,26% 0,66% 7,92% JUN 29,03% 14,85% 6,26% 21,11% 7,27% 0,65% 7,92% JUL 29,01% 14,83% 6,26% 21,09% 7,28% 0,64% 7,92% AGO 29,09% 14,85% 6,28% 21,13% 7,33% 0,64% 7,97% SET 29,18% 14,92% 6,30% 21,22% 7,34% 0,63% 7,97% OUT 29,03% 14,80% 6,29% 21,09% 7,31% 0,62% 7,93% NOV 28,72% 14,56% 6,26% 20,81% 7,29% 0,62% 7,91% DEZ 29,16% 14,84% 6,35% 21,19% 7,36% 0,61% 7,97% 2011 JAN 29,43% 15,08% 6,39% 21,47% 7,37% 0,58% 7,96% FEV 29,51% 15,15% 6,40% 21,55% 7,37% 0,59% 7,96% MAR 29,65% 15,28% 6,42% 21,70% 7,36% 0,59% 7,95% ABR 29,77% 15,42% 6,43% 21,85% 7,34% 0,59% 7,93% MAI 29,79% 15,47% 6,43% 21,90% 7,30% 0,59% 7,89% JUN 30,12% 15,78% 6,45% 22,23% 7,30% 0,59% 7,89% JUL 30,46% 16,09% 6,48% 22,57% 7,30% 0,59% 7,89% AGO 30,54% 16,18% 6,49% 22,66% 7,29% 0,59% 7,88% Fontes: Receita Federal, STN, MPAS, CEF, CONFAZ, Secretarias Estaduais de Fazenda e BACEN. Elaboração própria

17 TERMÔMETRO DA TRIBUTAÇÃO (MENSAL) -1990/2011 UNIDADE: Valores Correntes, R$ Mil FLUXOS M ENSAIS ARRECADAÇÃO TOTAL UNIÃO - ARRECADAÇÃO (+) ESTADOS- ARRECADAÇÃO (+) (UNIÃO + EST.) RECEITA PREVIDÊNCIA SOMA ICMS IPVA SOMA FEDERAL 2008 JAN 81.460.936 45.624.466 13.312.529 58.936.996 17.947.709 4.576.231 22.523.940 FEV 66.756.984 33.957.484 13.141.670 47.099.154 16.812.637 2.845.193 19.657.830 MAR 68.914.811 36.649.150 13.363.922 50.013.071 16.643.082 2.258.658 18.901.740 ABR 74.867.478 42.248.430 13.914.187 56.162.617 17.425.747 1.279.114 18.704.861 MAI 68.299.851 35.375.019 13.910.796 49.285.815 17.886.419 1.127.617 19.014.036 JUN 74.218.604 40.251.078 14.238.436 54.489.515 18.648.371 1.080.718 19.729.089 JUL 76.553.949 42.685.071 14.238.436 56.923.508 18.594.433 1.036.008 19.630.441 AGO 72.342.383 37.962.916 14.522.438 52.485.354 19.135.903 721.126 19.857.029 SET 75.183.087 39.487.709 14.830.082 54.317.791 20.123.725 741.571 20.865.296 OUT 82.226.283 45.602.284 14.861.590 60.463.874 21.200.284 562.125 21.762.409 NOV 73.519.463 38.567.700 14.938.114 53.505.814 19.609.168 404.481 20.013.649 DEZ 85.433.515 41.313.455 24.376.722 65.690.177 19.099.047 644.291 19.743.338 2009 JAN 81.593.524 43.883.522 14.402.717 58.286.239 17.951.273 5.356.012 23.307.285 FEV 65.295.925 29.907.375 14.559.096 44.466.471 17.863.390 2.966.064 20.829.454 MAR 72.687.813 36.835.705 15.583.212 52.418.917 17.270.689 2.998.207 20.268.896 ABR 75.113.921 39.888.157 15.545.923 55.434.080 18.198.167 1.481.674 19.679.841 MAI 68.260.090 33.123.407 15.802.702 48.926.109 18.024.419 1.309.562 19.333.981 JUN 72.321.930 37.263.025 15.538.453 52.801.478 18.304.714 1.215.738 19.520.452 JUL 75.467.471 39.932.422 15.766.941 55.699.363 18.708.785 1.059.323 19.768.108 AGO 70.813.502 35.249.832 15.848.035 51.097.867 18.964.434 751.201 19.715.635 SET 70.944.073 34.593.842 15.615.272 50.209.114 19.911.793 823.166 20.734.959 OUT 86.334.693 48.657.491 16.363.081 65.020.572 20.617.314 696.807 21.314.121 NOV 88.289.935 48.006.708 18.315.818 66.322.526 21.375.633 591.776 21.967.409 DEZ 92.374.319 43.680.145 27.171.943 70.852.088 20.624.020 898.211 21.522.231 2010 JAN 97.100.720 51.861.177 16.809.559 68.670.736 21.336.652 7.093.332 28.429.984 FEV 75.002.941 35.224.234 16.816.283 52.040.517 20.001.528 2.960.896 22.962.424 MAR 81.924.596 40.469.614 17.471.805 57.941.419 20.907.094 3.076.083 23.983.177 ABR 90.997.850 48.831.026 17.938.381 66.769.407 22.494.885 1.733.559 24.228.444 MAI 83.268.521 41.050.627 18.224.899 59.275.525 22.522.260 1.470.736 23.992.996 JUN 83.256.350 41.863.977 18.289.697 60.153.674 21.967.419 1.135.257 23.102.676 JUL 87.210.419 45.624.337 18.530.273 64.154.610 22.037.935 1.017.874 23.055.809 AGO 86.138.874 42.213.894 19.060.480 61.274.374 23.934.513 929.986 24.864.499 SET 86.134.651 43.245.429 18.938.931 62.184.359 23.076.182 874.109 23.950.291 OUT 94.937.258 51.615.327 19.326.256 70.941.583 23.308.672 687.003 23.995.675 NOV 89.788.674 45.521.056 19.748.397 65.269.453 23.888.462 630.759 24.519.221 DEZ 115.969.377 57.820.195 32.357.620 90.177.815 24.967.868 823.695 25.791.563 2011 JAN 117.623.360 66.384.658 20.391.777 86.776.435 24.584.101 6.262.824 30.846.925 FEV 89.563.770 43.568.552 19.718.033 63.286.585 22.675.034 3.602.151 26.277.185 MAR 95.712.857 49.903.986 19.926.995 69.830.981 22.771.875 3.110.001 25.881.876 ABR 105.420.438 59.051.000 20.433.644 79.484.644 24.116.885 1.818.910 25.935.795 MAI 95.718.965 49.064.167 20.979.131 70.043.298 23.914.215 1.761.452 25.675.667 JUN 107.294.041 59.580.000 21.620.211 81.200.211 24.579.777 1.514.053 26.093.830 JUL 110.670.997 63.144.000 21.759.432 84.903.432 24.508.297 1.259.267 25.767.564 AGO 100.078.044 51.400.000 21.532.624 72.932.624 26.053.967 1.091.453 27.145.420 Fontes Primárias: Receita Federal, STN, MPAS, CEF, CONFAZ, Secretarias Estaduais de Fazenda. Elaboração própria.