PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO PRISIONAL

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Transcrição:

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO PRISIONAL Regina Wrubel (Monografia de final de curso de Especialização em Saúde Mental e Intervenção Psicológica, Departamento de Psicologia, UEM, Maringá-Paraná, Brasil), Psicóloga; Sheila Regina de Camargo Martins*, Departamento de Psicologia - professora aposentada, UEM, Maringá-Paraná, Brasil. contato: srcmartins@uem.br Palavras-chave: Lei de Execução Penal (LEP). Exame criminológico. Psicologia. Introdução: O trabalho discute as alterações na Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) após a promulgação da Lei nº 10.792/2003 em face do trabalho do psicólogo e das requisições judiciais de exames criminológicos para subsidiar decisões judiciais sobre progressão de pena e concessão de benefícios. Foi realizada uma pesquisa qualitativa bibliográfica nas áreas de psicologia e de criminologia e em publicações e documentos oficiais do Conselho Federal de Psicologia e em legislações sobre o tema. A seleção do material considerou sua pertinência para a discussão dessa questão a partir da década de 2000. Resultados: Entre as principais modificações contidas na Lei de Execução Penal (LEP) de 2003 relativas às atribuições da Comissão Técnica de Classificação (CTC), da qual o Psicólogo é membro, em conjunto com o assistente social e o médico psiquiatra (artigo 7º da LEP) encontra-se a exclusão da exigência de parecer da CTC e do exame criminológico para subsidiar decisão judicial para a concessão de benefícios e de progressão de regime. Mas, apesar do exame não ser mais obrigatório por lei, continua a ser realizado em todo o território nacional com base na Súmula Vinculante nº 26 do Supremo Tribunal Federal de 2009, a qual permite ao juízo de execução penal determinar a realização de exame criminológico através de pedido fundamentado. As práticas dos profissionais de saúde que atuam nas prisões estiveram por muito tempo subsidiadas por teorias conservadoras sobre a gênese do crime. Apenas nas últimas décadas, com o surgimento da criminologia crítica e de uma nova visão de criminalidade, que o fenômeno passou então a ser considerado como multifatorial, e, portanto atinente a diferentes campos do saber. Esses temas foram objeto de análise de importantes pensadores como Michel Foucault. Segundo o autor a prisão teve diferentes funções e nem sempre foi usada como a principal prática punitiva, já que as formas de punição sempre estiveram ligadas ao modelo político-econômico vigente em cada época. Data do fim do século XVIII e princípio do século XIX a passagem de um modelo de punição relacionado ao corpo para um

modelo de penalidade relacionado à alma, através da detenção (Foucault, 2008). Nos dois séculos seguintes são criadas leis para punir aqueles que não trabalham e manter assim, sob controle, a mão de obra disponível. A mendicância passa a ser vista como perigosa, formada por uma classe sem regras, sem religião, sem leis e autoridade, para a qual se destinam as casas de trabalho, de detenção e o internamento em hospitais (Foucault, 2008). Aos poucos vai surgindo um novo modo de exercício do poder de punir e com ele um novo tipo de subjetividade, a personalidade criminosa, ao redor da qual se construirá um novo saber pautado no conhecimento médico-psicológico. A disciplina, nova forma de gerir o poder, é colocada em prática não só nas prisões, mas em escolas, conventos, fábricas, hospitais e quartéis (Kolker, 2011). Em conjunto com a pena privativa de liberdade surge a personalidade delinquente. O delinquente, diferente do infrator - alguém que infringiu uma lei - se caracteriza mais pelo seu caráter, que pelo seu ato criminoso. Trata-se de uma ideia que faz existir o criminoso antes do crime, alguém que não é apenas o autor de um delito, mas que está ligado a este por uma complexidade de fatores de personalidade. (Foucault, 2008). Contexto em que a doutrina positivista constrói um novo saber, uma criminologia que tem como foco não o delito, mas o delinquente. A partir de então, o juiz não julga mais sozinho, passa a dividir responsabilidades com a medicina mental, que é chamada para responder sobre a suposta periculosidade do criminoso. Outras áreas de conhecimento, como a psicologia e a assistência social, são então chamadas para avaliar o efeito da pena sobre o sujeito e se este reúne méritos para ser posto em liberdade. Surgem os diagnósticos e os prognósticos, a classificação do criminoso e a individualização das penas (Kolker, 2011). Trata-se, segundo Foucault (2008), do saber-poder das ciências humanas (psicologia, psiquiatria e sociologia). Na escola clássica de criminologia, a finalidade da pena era eliminar o perigo social do delito que ficasse impune, isto é, tinha a função de desmotivar a prática do crime. Já no positivismo, a pena enquanto meio de defesa da sociedade em relação aos sujeitos anormais e degenerados, pretende intervir sobre a subjetividade do criminoso reeducando-o e neutralizando-o (Kolker, 2011). Sá (2011) propõe três modelos de criminologia clínica. O Modelo de primeira geração: médico-psicológico e o Modelo de segunda geração: psicossocial, nos quais o foco de atenção é a análise da conduta criminosa do indivíduo, sua realidade orgânica e psicológica, de onde se originariam as motivações para a conduta antissocial. O objetivo do trabalho técnico seria,

então, o diagnóstico da conduta, suas causas e seu prognóstico. (Sá, 2011). A diferença é que no primeiro modelo (médico-psicológico) buscava-se um diagnóstico da conduta delinquente no próprio indivíduo e em suas condições internas, tendo as condições ambientais importância somente enquanto metabolizadas, por assim dizer, pelo sujeito. No modelo psicossocial o diagnóstico é a expressão de um intercâmbio entre as condições internas e as ambientais, tendo estas últimas um caráter autônomo. Por volta dos anos de 1980, a concepção causalista foi cedendo espaço à concepção multifatorial de criminologia clínica no Brasil, cujas mudanças foram refletidas na LEP de 1984, com a introdução do exame de personalidade e da Comissão Técnica de Classificação. A partir de então, a legislação não reconhece mais o imputável como perigoso, mas somente os inimputáveis e semi-imputáveis, para os quais se exige um exame de cessação de periculosidade, emitido por um médico psiquiatra. Já para os casos de imputáveis reincidentes, aplica-se o exame criminológico (Sá, 2011). Buscando o rompimento dos pressupostos tradicionais, Sá (2011) propõe a adoção do modelo de criminologia clínica de inclusão social, um modelo de terceira geração, no qual a criminalidade é compreendida em toda a sua complexidade, considerando a história do sujeito e incluindo a responsabilidade de todos os envolvidos, como as instâncias de controle e a sociedade. A avaliação no contexto prisional, segundo Sá (2011), deveria ter como foco o interesse do preso e deveria se processar ao longo de toda a execução da pena (Sá, 2011). Em 2003 ocorreram mudanças na LEP que abriram margem para uma discussão do Conselho Federal de Psicologia (CFP) a respeito da atuação do psicólogo no sistema prisional, principalmente quanto à realização do exame criminológico. Tais discussões ganharam visibilidade em diversos eventos realizados pelos Conselhos de Psicologia. Em 2010 o CFP publicou a Resolução nº 009/2010, a primeira sobre o tema. Posteriormente, em 2011 foi publicada uma nova resolução, a nº 012/2011 em vigor até a presente data. Discussão e conclusão: Na visão do CFP, o exame criminológico para subsidiar decisões judiciais, nos moldes como vinha (e vem) sendo feito teria como base a premissa de que os profissionais da CTC deveriam ter a capacidade de prever o comportamento do avaliando, isto é, deveriam ser capazes de dizer se ele iria fugir, cometer outros delitos ou cumprir adequadamente o regime ou benefício pleiteado. Esta seria uma das principais críticas do CFP quanto ao exame criminológico, a impossibilidade de se prever as ações futuras de uma pessoa, bem como auferir sua periculosidade. A ideia de se realizar um prognóstico de

reincidência seria algo inviável e ultrapassado, pois teria como base as teorias criminológicas clássicas do século XIX, um modelo de cunho positivista em que crime é tido como expressão de uma anomalia física ou psíquica, que tem na punição a garantia da defesa social. É importante distinguir o exame criminológico para subsidiar decisões judiciais do exame criminológico inicial para a elaboração de um plano individual de tratamento penal. Buscando uma individualização da pena, a LEP determinou a realização de um exame criminológico inicial, para a elaboração de um plano de tratamento penal adequado às características pessoais de cada preso. Esse exame não foi retirado da LEP nas mudanças de 2003, continua em vigor. A proposta da LEP quanto ao exame inicial era a de que a CTC, enquanto equipe multiprofissional, através do estudo e análise de cada caso, determinasse metas para nortear a forma do cumprimento da pena e que servissem de parâmetro para o acompanhamento do preso durante a execução penal. Isto é, para encaminhar e acompanhar cada preso nos programas oferecidos pela instituição como estudo, lazer, trabalho, cursos segundo os interesses e necessidades de cada pessoa. Pode-se dizer que a mudança na LEP em 2003 também representou uma mudança de paradigma, decorrente da constatação do fracasso da proposta de reeducação, recuperação e ressocialização por meio da prisão. A preocupação não é mais a de ressocializar pessoas, mas sim agir para abrandar os efeitos deletérios do cárcere sobre elas. Esse também é o entendimento do CFP em relação ao psicólogo, que deve atuar na desconstrução do conceito de crime relacionado unicamente à patologia e à história individual, estimulando a autonomia e a expressão da individualidade, disponibilizando recursos e meios que possibilitem à pessoa presa tornar-se a protagonista na execução da pena. Referências Brasil. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. (1984, 11 de julho). Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Recuperado em: novembro de 2011. Brasil. Lei n. 10.792, de 1º de dezembro de 2003. (2003, 1 de dezembro) Altera a Lei n. 7.210, de 11 de junho de 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.792.htm>. Recuperado em: novembro de 2011. Brasil. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 439. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=682&tmp.texto=97101>. Recuperado em: março de 2012.

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