Material de Apoio Prof. Fernando Tadeu Marques Apontamentos de Direito Penal

Transcrição

1 DAS PENAS FINALIDADES DA PENA Por que punir? O que é pena? O que se entende por pena justa? Teorias sobre as finalidades da pena: 1) Absolutas: a finalidade da pena é eminentemente retributiva. A pena atua como uma contrapartida pelo mal cometido. Pois quando o agente pratica um ilícito penal, produz um mal (injusto), devendo ser reparado com a inflição de outro (justo). Dessa forma, a sanção deve ser proporcional a gravidade do fato. 2) Relativas ou da Prevenção: encaram a pena como um fator necessário à segurança social. Não se admitindo que a pena possa servir como uma mera retribuição. Pois não se justifica a imposição de um mal tão grave sem que haja uma finalidade superior, qual seja, evitar a ocorrência de novos crimes. As teorias da prevenção subdividem-se em: a) Prevenção Geral: Prevenção Geral Positiva: a pena aplicada é um mecanismo necessário para transmitir a todos uma mensagem, sem a qual a sociedade não funcionará corretamente. Prevenção Geral Negativa: a pena seria uma forma de intimidação dirigida a toda sociedade pela ameaça da existência de uma pena, ou seja, a pena deve fazer com que as pessoas reflitam antes de praticar uma infração penal. b) Prevenção Especial: Prevenção Especial Positiva: trata-se do objetivo de, uma vez imposta a pena, reeducar o condenado e promover sua reinserção social. A LEP em seu art. 1º atribui à pena, na sua fase de cumprimento, um ideal ressocializador. Prevenção Especial Negativa: a pena seria uma forma de intimidação para se evitar a pratica de novos crimes pelo delinquente, seja pela retirada da sociedade pelo encarceramento, seja pelas consequências, após o cumprimento de sua pena.

2 3) Mistas ou Intermediárias: a pena possui tanto um papel de retribuição como de prevenção. O art. 59 caput, parte final do CP, declara que o juiz, ao aplicar a pena, deverá dosá-la conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. CONCEITO: Pena (ao lado da medida de segurança) é uma das sanções aplicadas pelo Estado a quem praticou ilícito penal (como forma de retaliação ao ilícito praticado ou para se evitar novos ilícitos), após o devido processo legal. LIMITES DA PENA De acordo com o art. 1º, III (fundamento da dignidade da pessoa humana) e art. 5º, XLVII da CF, existem alguns limites para imposição das penas, sendo proibidas as penas: - de morte, salvo no caso de guerra declarada; - de caráter perpétuo; - de trabalhos forçados; - de banimento; - cruéis. SISTEMA DE APLICAÇÃO DA PENA E DA MEDIDA DE SEGURANÇA Sistema do DUPLO BINÁRIO ou Dualista: Este sistema faz a previsão da aplicação da pena e da medida de segurança de forma cumulativa e sucessiva para o condenado perigoso. Não é aplicado no Direito Penal. Sistema VICARIANTE ou Unitário: Este sistema prevê a aplicação da pena para o imputável e da medida de segurança para o inimputável. Ou se aplica a pena ou a medida de segurança. É o sistema adotado pelo Direito Penal. PRINCÍPIOS DA SANÇÃO PENAL A pena rege-se pelos seguintes princípios: a) legalidade: a pena, para poder ser aplicada, deve estar prevista em lei; b) anterioridade: a lei que prevê a sanção deve ser anterior à prática da infração; c) humanidade: levando-se em consideração a dignidade do ser humano, não são permitidas as penas: de morte (salvo na eventualidade de guerra declarada), perpétua, de trabalhos forçados, de banimento, assim como quaisquer outras que impliquem a crueldade; d) pessoalidade: a pena não pode passar da pessoa do condenado; e) individualidade: ninguém pode ser punido por conduta alheia, devendo a pena ser individualizada em cada caso;

3 f) proporcionalidade: a pena deve ser aplicada sempre de maneira proporcional à infração cometida quanto mais grave o ilícito, mais severa deve ser a pena a ele aplicada; g) inderrogabilidade: a pena não pode deixar de ser aplicada; h) proibição de dupla punição: ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato; i) jurisdicionalidade: somente o Poder Judiciário é competente para impor a sanção penal e executá-la; j) igualdade e ressocialização: fica proibida a discriminação entre pessoas presas e soltas, sendo necessário, sempre, dialogar com aquelas para, dessa forma, readaptá-las ao convívio social. k) princípio da individualização da pena: A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XLVI, prevê a individualização da pena. Para individualizar a pena deve-se observar o art. 59, do CP. Considera-se o critério trifásico, ou seja, primeiro o juiz fixa a pena-base, após irá considerar as circunstâncias agravantes e atenuantes e por último as causas de diminuição e aumento de pena. OBS: Em decorrência do princípio da igualdade, foi publicada em 17 de abril de 2014, a Resolução nº 1/2014 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, estabelecendo os parâmetros de acolhimento de LGBT em privação de liberdade no Brasil. Dentre as previsões constantes, destacam-se: a) A pessoa travesti ou transexual em privação de liberdade, tem o direito de ser chamada pelo seu nome social. b) Às travestis e aos gays presos em unidades prisionais masculinas, considerando a sua segurança e especial vulnerabilidade, deverão ser oferecidos espaços de vivência específicos. c) As pessoas transexuais masculinas e femininas dever ser encaminhadas para as unidades prisionais femininas. d) possibilidade de uso de roupas femininas ou masculinas, conforme o gênero, e a manutenção dos cabelos compridos, garantindo suas características de gênero. e) atenção integral a saúde, inclusive com manutenção do tratamento hormonal. DAS ESPÉCIES DE PENA (ARTS. 32 A 52, CP) São três as espécies de penas previstas no Código Penal: I privativas de liberdade; II restritivas de direitos; III de multa. De acordo com a Constituição Federal existem as seguintes espécies de pena: I- privação ou restrição de liberdade; II- perda de bens; III- multa; IV- prestação social alternativa;

4 V- suspensão ou interdição de direitos. Material de Apoio DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE As penas privativas de liberdade podem ser: - Reclusão - Detenção Quanto aos regimes para o cumprimento das penas privativas de liberdade (chamados de regimes penitenciários), existem três espécies: o fechado, o semiaberto ou o aberto. Pena de reclusão (aplicada a crimes dolosos) deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. Pena de detenção (aplicada tanto a crimes dolosos como a culposos), em regime semiaberto ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. Vale ressaltar que a pena privativa de liberdade nas contravenções penais é chamada de prisão simples. É importante lembrar que, na pena de detenção, não existe regime inicial fechado. Logicamente, a pena de detenção é menos severa que a de reclusão. DOS REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA De acordo com o art. 33, 1º, CP, considera-se: a) Regime Fechado, quando a execução da pena ocorre em estabelecimento de segurança máxima ou média (penitenciárias); b) Regime Semiaberto, quando a execução da pena se dá em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; c) Regime Aberto, quando a execução da pena é realizada em casa de albergado ou em outro estabelecimento adequado. O Código Penal determina que as penas privativas de liberdade deverão ser executadas de forma progressiva. Assim, Para que o juiz estabeleça o regime inicial de cumprimento de pena do condenado, deve-se observar, em cada caso, os seguintes critérios (art. 33, 2º CP): 1) Pena > 8 anos regime fechado; 2) não reincidente com pena > 4 anos e < 8 anos regime semiaberto; 3) não reincidente com pena 4 anos regime aberto. Fixação do regime aberto nas hipóteses de delação premiada, independente da quantidade de pena aplicada na Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98): Se o agente, em

5 virtude da infração penal praticada, bem como pela pena aplicada, estivesse sujeito ao regime fechado, mas realizasse a delação premiada, o julgador pode determinar o cumprimento da pena em regime aberto ou semiaberto. No tocante à aplicação de regime mais severo do que a lei determina, os Tribunais Superiores tem os seguintes posicionamentos: SÚMULA 719 STF A imposição de regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea. SÚMULA 440 STJ Fixada a pena base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito. Por regra especial, a pena de prisão simples, aplicada nas contravenções, só pode ser cumprida em regime semiaberto ou aberto. Impossível, pois, ser fixado para ela o regime fechado. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição. Quer saber mais sobre Direito e Processo Penal? Então acompanhe o! fernandotadeu.marques Prof_Marques Prof_Marques Fernando Tadeu Marques fernandotmarques@hotmail.com