Avaliação Manométrica Anal Pré e Pós Tratamento da Fissura Anal Crônica com Nifedipina Tópica 0,2%



Documentos relacionados
Avaliação do tratamento de fissura anal crônica com isossorbida tópica a 1%

Pesquisa recente mostra uma maior predominância do sexo masculino para hemorróidas. (1)

NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE RESUMOS PARA A VI JORNADA CIENTÍFICA DO HOSPITAL DE DOENÇAS TROPICAIS HDT/HAA

CIRURGIA DO NARIZ (RINOPLASTIA)

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL

Fissura Anal. José Américo Bacchi Hora

A Meta-Analytic Review of Psychosocial Interventions for Substance Use Disorders

TRIBUNA LIVRE: COMO EU FAÇO

SOCIEDADE BRASILEIRA DE COLOPROCTOLOGIA (SBCP) COMISSÃO DE ENSINO E APERFEIÇOAMENTO MÉDICO

TRATAMENTO CLÍNICO CONSERVADOR E CIRÚRGICO DA FISSURA ANAL

Radiology: Volume 274: Number 2 February Amélia Estevão

RELATÓRIO PARA A. SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS

Os efeitos do controle farmacológico no comportamento futuro de pacientes menores de três anos no consultório odontológico

EDITAL DE CONVOCAÇÃO DO EXAME DE SUFICIÊNCIA PARA OBTENÇÃO DE CERTIFICADO DE ÁREA DE ATUAÇÃO EM DOR PEDIATRAS

Controle da bexiga e do intestino após dano na medula espinhal.

TEMA: Octreotida LAR no tratamento de tumor neuroendócrino

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Diagnóstico do Anismus Através dos Exames de Fisiologia Anal

A INTERVENÇÃO RIME COMO RECURSO PARA O BEM-ESTAR DE PACIENTES COM OSTOMIA EM PÓS- OPERATÓRIO MEDIATO

Retalhos de Avanço no Tratamento da Fissura Anal Crônica - Experiência Inicial

Abordagem da reestenosee. Renato Sanchez Antonio

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Fissura Anal: Manejo. Projeto Diretrizes. Autoria: Sociedade Brasileira de Coloproctologia Colégio Brasileiro de Cirurgiões

Curso de Graduação em Enfermagem da FCMSCSP. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

CURSOS PRÉ-CONGRESSO MÓDULO I - MOTILIDADE DIGESTIVA BAIXA Hotel Serra Azul, Gramado, 24 de Setembro de 2008

INSTRUÇÕES NORMATIVAS DA XVI JORNADA CIENTÍFICA CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO ATENÇÃO: INSCRIÇÃO DE TRABALHOS O PRAZO PARA INSCRIÇÃO DE TRABALHOS

ANEXO II PROCEDIMENTOS PARA ELABORAÇÃO DA MONOGRAFIA

SUMÁRIO. Sobre o curso Pág. 3. Etapas do Processo Seletivo Pág. 6. Cronograma de Aulas Pág. 9. Coordenação Programa e metodologia; Investimento

NORMAS DE PUBLICAÇÃO DA REVISTA FIMCA

Caracterização dos doentes toxicodependentes observados pela equipa de Psiquiatria de Ligação - análise comparativa dos anos de 1997 e 2004

HIDRO-OZONIOTERAPIA: UMA REVOLUÇÃO NO TRATAMENTO DE ÚLCERAS DIABETICAS, E UM POSSÍVEL AVANÇO NO COMPANHAMENTO AOS PORTADORES DE PSORÍASE

CIRURGIA DE OTOPLASTIA (PLÁSTICA DE ORELHAS) Termo de ciência e consentimento livre e esclarecido

Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Banco de Tecidos Salvador Arena

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

NORMAS PARA EDITORAÇÃO E ENVIO DE TRABALHOS TÉCNICOS AO EVENTOS BRASIL 2014

SPDM para o Desenvolvimento da Medicina AssociaÅÇo Paulista PROCTOLOGIA

RESPOSTA RÁPIDA 355/2014 Informações sobre Questran Light

DELIBERAÇÃO CONSEP Nº 368/2002

A EFETIVIDADE DA REABILITAÇÃO VESTIBULAR NA SÍNDROME LABIRÍNTICA PERIFÉRICA IRRITATIVA

Análises estatísticas da incidência de AIDS no Município de Rio Claro. 1 Resumo. 2 Abstract

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

NORMALIZAÇÃO DE. Centro de Ensino e Pesquisa ACSCRG Karen Pureza

Caso clínico Constipação intestinal Sânzio S. Amaral

Normas de regulamentação para a certificação de. atualização profissional de títulos de especialista e certificados de área de atuação.

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

Catalão / GO, 04 de novembro de Resolução CONSUP FACULDADE CESUC 002/2010

Acta Ortopédica Brasileira ISSN versão impressa

CANCER DE COLO DE UTERO FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

MAPEAMENTO ELETROANATOMICO NA ABLAÇÃO. Cristiane Miranda Hospital São Lucas - RJ

REPRODUTIBILIDADE DA MANOMETRIA ANAL EM MULHERES SEM DISTÚRBIOS EVACUATÓRIOS

Gaudencio Barbosa R3 CCP Hospital Universitário Walter Cantídio UFC Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

CIRURGIA DE RINOSSEPTOPLASTIA. Informações sobre a cirurgia

FACULDADE LEÃO SAMPAIO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM IX SEMANA DE ENFERMAGEM. Edital 001/2014

TITULO: TEMPO DE PERMANÊNCIA E MORTALIDADE HOSPITALAR COMPARAÇÃO ENTRE HOSPITAIS PÚBLICOS E PRIVADOS

TÁBUA IBGE 2010 E OS EFEITOS NOS BENEFÍCIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

32º Imagem da Semana: Radiografia de abdome

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

Câmara Municipal de Vereadores

Entenda tudo sobre a Síndrome do Intestino Irritável

Desigualdades em saúde - Mortalidade infantil. Palavras-chave: mortalidade infantil; qualidade de vida; desigualdade.

I. A Rede de Câmaras Alemãs no Brasil Onde nos encontrar 3. II. Identificação de potenciais parceiros Lista de contatos 4

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROF. EDGARD SANTOS- UFBA - HUPES

V Simpósio Internacional de Fisioterapia, Fisiatria e Reabilitação Veterinária

SOCIEDADE BRASILEIRA DE COLOPROCTOLOGIA

SUMÁRIO. Sobre o curso Pág. 3. Etapas do Processo Seletivo Pág. 5. Cronograma de Aulas Pág. 9. Coordenação Programa e metodologia; Investimento

RESOLUÇÃO - RDC Nº 23, DE 4 DE ABRIL DE 2012

MAMOPLASTIA REDUTORA E MASTOPEXIA

Coluna no lugar certo Fisioterapeutas utilizam método que reduz dores nas costas em poucas sessões e induz paciente a fazer exercícios em casa

Briefing. Boletim Epidemiológico 2010

PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL - PCMSO

TUTORIAL DE USO DO BUSINESS INTELLIGENCE (BI) PARA O HÓRUS-ESPECIALIZADO

OUTUBRO. um mes PARA RELEMBRAR A IMPORTANCIA DA. prevencao. COMPARTILHE ESSA IDEIA.

Diretrizes para Apresentação de Dissertações. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Mestrado Acadêmico

RESPOSTA RÁPIDA 43/2014. VACINA HPV em paciente com diagnóstico de HPV+ (neoplasia + intraepitelial grau I)

Azul. Novembro. cosbem. Mergulhe nessa onda! A cor da coragem é azul. Mês de Conscientização, Preveção e Combate ao Câncer De Próstata.

Nefrolitotripsia Percutânea

PADRÃO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS ADULTOS NOS PERÍODOS PRÉ E PÓS-CIRURGIA BARIÁTRICA

Afecções Ano Retais. Disciplina de Cirurgia Proctológica. Paulo César

Prevalência, Conhecimento, Tratamento e Controle da Hipertensão em Adultos dos Estados Unidos, 1999 a 2004.

O IMPACTO DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NO AUMENTO DA FLEXIBILIDADE

LEVY & SALOMÃO A D V O G A D O S

Palavras-chave: acidente vascular encefálico, transtornos de deglutição, sabor.

André Salazar e Marcelo Mamede CANCER PATIENTS: CORRELATION WITH PATHOLOGY. Instituto Mário Penna e HC-UFMG. Belo Horizonte-MG, Brasil.

8:00 Horas Sessão de Temas Livres concorrendo a Premiação. 8:30 8:45 INTERVALO VISITA AOS EXPOSITORES E PATROCINADORES.

Sistema de Autorização Unimed

RESPOSTA RÁPIDA 396/2013 Naprix, Vastarel, Lasix, Carvedilol, Atorvastatina, Aspirina

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Parto vaginal após cirurgia cesariana

EXAME DE INGRESSO AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA. Nome:... Data:... Assinatura:...

NORMAS PARA ENVIO DE TRABALHOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Núcleo de Ensino em saúde Escola de Massoterapia APOSTILA DE POMPAGEM. Pompagem

Declaro não haver nenhum conflito de interesse

Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva

Diagnóstico de endometriose

EDITAL DE CONVOCAÇÃO DO EXAME DE SUFICIÊNCIA PARA OBTENÇÃO DO CERTIFICADO DE ÀREA DE ATUAÇÃO EM MEDICINA PALIATIVA

O USO DE MEDICAÇÃO ANTI-HIPERTENSIVA NA GESTAÇÃO

Reforma Política. Pesquisa telefônica realizada pelo IBOPE Inteligência a pedido do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

Transcrição:

Avaliação Manométrica Anal Pré e Pós Tratamento da Fissura Anal Crônica com Nifedipina Tópica 0,2% The Role of Nifedipine 0,2% in Cronic Anal Fissure-Manometric Study Pre and Post Treatment MARIA AUXILIADORA PROLUNGATTI CESAR 1 ; MARIANA RUBEZ JEHÁ 5 ; CARLOS EDUARDO AZEVEDO FERRETTI 5 ; ROSANA PROLUNGATTI CESAR 4 ; PEDRO ROBERTO DE PAULA 2 ; DEOMIR GERMANO BASSI 3 ; MANLIO BASÍLIO SPERANZINI 6 ; JORGE ALBERTO ORTIZ 7 1 Professor Assistente Doutor em Cirurgia do Departamento de Medicina da Universidade de Taubaté. Mestrado e Doutorado pela FCMSCSP; 2 Professor Assistente Doutor em Cirurgia do Departamento de Medicina da Universidade de Taubaté. Mestrado e Doutorado pela EPM; 3 Professor Titular em Cirurgia do Departamento de Medicina da Universidade de Taubaté. Mestrado e Doutorado pela EPM. 4 Médica do Serviço de Endoscopia e Motilidade Digestiva do Hospital Universitário de Taubaté; 5 Ex- Residente de Cirurgia do Hospital Universitário de Taubaté; 6 Professor Titular de Cirurgia do Aparelho Digestivo da Faculdade de Medicina do ABC-SP. Doutorado e Livre Docência pela Universidade de São Paulo; 7 Mestre pela Faculdade de Ciências Médicas da Sta. Casa de S. Paulo - Resp. pelo Ambulatório de Fisiologia Anal da Sta. Casa de S. Paulo. CESAR MAP; JEHÁ MR; FERRETTI CEA; CESAR RP; PAULA PR; BASSI DG; SPERANZINI MB; ORTIZ JA. Avaliação manometrica anal pré e pós tratamento da. Rev bras Coloproct, 2007;27(2): 185-189. RESUMO: No tratamento da fissura anal, novas drogas têm sido utilizadas, dentre elas os bloqueadores de canais de cálcio. O objetivo desta pesquisa foi à avaliação manométrica de pacientes com fissura anal crônica após tratamento com nifedipina tópica 0,2%, correlacionando com a cicatrização e a dor. Trata-se de estudo prospectivo realizado em pacientes atendidos no ambulatório de Coloproctologia do Hospital Universitário de Taubaté. Os pacientes foram submetidos ao exame manométrico antes e após 30 dias da utilização de nifedipina tópica gel 0,2% três vezes ao dia no ânus e margem anal. Para a análise estatística foi utilizado o teste de Mann-Whitney considerando significante, se p<0,05. Os dez pacientes não demonstraram nenhuma alteração manométrica provocada pelo tratamento com nifedipina, mas 50% deles relataram melhora dos sintomas e 40% dos pacientes apresentaram cicatrização da fissura, mostrando que a nifedipina foi efetiva no tratamento da fissura anal e segura do ponto de vista funcional, por não causar lesões esfincterianas. A avaliação manométrica demonstrou não haver alterações nas pressões anais demonstrando, entretanto, melhora da dor em 50% e cicatrização em 40% dos pacientes. Descritores: manometria, fissura, nifedipina, canal anal. INTRODUÇÃO A fissura anal é uma lesão benigna, cujo principal sintoma é a dor anal que se exacerba durante o ato evacuatório, está associada à hipertonia do esfíncter interno do ânus e à redução do fluxo sanguíneo da mucosa (1,2,3). O tratamento deve ser direcionado no intuito de reduzir a pressão do esfíncter interno do canal anal e embora os resultados da esfincterotomia cirúrgica se mostrem favoráveis, é importante o fato de que haverá uma lesão permanente do esfíncter podendo ocorrer incontinência fecal (1,2,3). Na última década, com o intuito de diminuir os defeitos permanentes decorrentes da esfincterotomia cirúrgica, novas drogas têm sido introduzidas com a finalidade de promover relaxamento do esfíncter interno do ânus. Dentre elas, destacam-se a toxina botulínica, os nitratos orgânicos e os bloqueadores de canais de cálcio. São as chamadas Esfincterotomias químicas (1,2,3,4). Essas drogas por diminuírem o tônus de repouso atuariam diminuindo os valores pressóricos de re- Trabalho realizado no Hospital Universitário de Taubaté - Serviço de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário de Taubaté Universidade de Taubaté. Recebido em 31/05/2007 Aceito para publicação em 28/06/2007 185

pouso do canal anal, fato que poderia ser comprovado pela manometria anorretal. O objetivo desta pesquisa foi a avaliação manométrica de pacientes com fissura anal crônica, comparando as pressões de repouso, contração e esforço evacuatório, antes e após o tratamento por trinta (30) dias com nifedipina tópica 0,2%, correlacionando com a cicatrização e a dor. MÉTODO Trata-se de um estudo prospectivo realizado em pacientes atendidos no ambulatório de Coloproctologia do Hospital Universitário de Taubaté Serviço de Clínica Cirúrgica, no período de novembro a dezembro de 2005 com o diagnóstico de fissura anal crônica. Foram selecionados pacientes com o diagnóstico de fissura anal com o seguinte critério de inclusão: 1.visualização da lesão fissurária. 2.ausência de cirurgias prévias anorretais; 3.ausência de doença anorretal concomitante. 4.não estar recebendo tratamento clínico com anti-hipertensivo via oral Todas as pacientes eram voluntárias e foram orientadas antes da execução do exame, e um termo de consentimento livre e informado foi assinado previamente. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética Medica (CEM) do Hospital Universitário de Taubaté. O equipamento utilizado foi o Proctosystem PL- 3000 (Viotti associados indústria eletrônica, São Paulo, Brasil). O exame foi realizado por um único examinador, sem preparo intestinal e toque prévios, colocando-se a paciente em decúbito lateral esquerdo. Após esclarecimento da paciente, o balão era introduzido no canal anal até cinco centímetros e realizadas medidas em intervalos de um centímetro no sentido descendente. A cada intervalo eram aguardados 30 segundos para estabilização da pressão de repouso. A cada centímetro do canal anal eram medidas: pressão máxima de repouso, pressão máxima de contração e pressão mínima de evacuação. Os pacientes foram submetidos ao exame imediatamente antes e 30 dias após o tratamento conservador com nifedipina tópica gel 0,2%, que foi aplicada pelo paciente três vezes ao dia em anus e margem anal. Como foram registradas três medidas de pressão a cada centímetro, registraram-se assim 15 valores de pressão para cada indivíduo. Com a analise das variações pressóricas ao longo do canal anal obtiveram-se ainda o comprimento do canal anal (CCA). Com a finalidade de verificar a existência de significância na comparação dos resultados, foi utilizado o teste de Mann-Whitney considerando significante se p<0,05. RESULTADOS Dez pacientes portadores de fissura anal crônica foram analisados no presente estudo, e submetidos ao exame manométrico no pré e pós-tratamento com nifedipina tópica 0.2%. A idade média dos pacientes foi de 26.1 anos, tendo variado entre 22 a 51 anos, nove pacientes eram do sexo feminino e um paciente do sexo masculino Os resultados das pressões de repouso, contração, e evacuação, estão dispostos nas tabelas 1, 2 e 3 respectivamente, sendo que em todas as distâncias da borda anal e em todas as variáveis não existe diferença estatisticamente significante, não demonstrando nenhuma alteração manométrica provocada pelo tratamento com nifedipina. Após análise das variáveis acima citadas pode-se calcular o comprimento do canal anal, obtendo-se resultados estatisticamente não significantes, porém, analisando separadamente os pacientes houve variação no comprimento do canal anal nos pacientes 4 e 6 (Tabela 4). Em relação à localização da fissura anal, em oito pacientes estavam localizadas em linha média posterior, em um paciente na anterior e um paciente na lateral esquerda, estando todos associados a plicoma. A presença de dor no pré-tratamento ocorreu em 100% dos pacientes, associada a queixas de constipação e sangramento anal. Após o tratamento conservador, quatro pacientes relatavam melhora total dos sintomas (1, 2, 6 e 10) ; quatro pacientes não sentiram melhora em relação ao tratamento realizado (4, 5, 7 e 8), sendo que dois foram submetidos ao tratamento cirúrgico após o término da pesquisa, mesmo tendo um deles relatado melhora da dor (3 e 8). Não foram observadas complicações relacionadas ao tratamento com nifedipina ou a realização do exame manométrico. Foi relato unânime apenas de desconforto durante a realização do exame, porém suportável e sem dor. DISCUSSÃO No intuito de procurar por novas alternativas que evitassem lesões definitivas do esfíncter interno após o tratamento cirúrgico da fissura anal, algumas drogas foram introduzidas para o tratamento dessas 186

Tabela 1 - Resultados manométricos Pressão de Repouso. PRESSÃO DE REPOUSO (cm H 2 1 6 6 15 8 40 40 90 55 78 57 2 5 5 10 11 56 55 98 90 96 91 3 12 8 53 31 67 50 67 60 72 69 4 25 47 35 31 54 44 72 68 77 105 5 7 4 7 20 38 24 43 31 68 61 6 4 4 11 20 90 40 43 68 74 70 7 10 5 36 28 68 41 86 37 113 55 8 10 11 36 12 42 27 37 41 45 40 9 4 4 10 8 15 14 45 30 45 37 10 4 4 13 15 42 41 75 69 81 61 P = 0,51* P = 0,48 P = 0,09 P = 0,27 P = 0,28 lesões, promovendo o relaxamento do esfíncter interno do ânus, destacando-se a toxina botulínica, nitratos orgânicos e os bloqueadores de canais de cálcio (1,2). Em nossa pesquisa não houve diferença estatística significante na pressões estudadas durante a manometria anal, porém 50% dos pacientes relataram melhora importante dos sintomas não necessitando de ato cirúrgico, sugerindo que a ação da nifedipina não seria exatamente relaxando o esfíncter interno do ânus, como sugerido por alguns autores já citados anteriormente, e novas pesquisas se fazem necessárias com o objetivo de encontrar o real mecanismo de ação. O resultado clínico obtido, em que 50% dos pacientes relataram melhora dos sintomas e 40% dos pacientes apresentaram cicatrização da fissura, nos mostra que a nifedipina foi efetiva no tratamento da fissura anal e segura do ponto de vista funcional, por não causarem lesões esfincterianas. Tabela 2 - Resultados manométricos Pressão de Contração. PRESSÃO DE CONTRAÇÃO (cm H 2 1 6 15 38 41 80 59 153 128 144 150 2 6 20 40 45 88 83 115 111 189 150 3 42 30 115 90 192 150 205 151 320 171 4 52 60 145 62 162 108 170 135 250 147 5 17 13 37 41 62 44 82 87 189 126 6 4 10 49 58 112 102 68 105 132 124 7 23 13 66 29 106 44 159 86 181 90 8 23 22 109 39 136 140 141 134 183 170 9 43 6 45 50 109 99 189 145 220 168 10 17 20 44 40 57 45 99 90 128 100 P = 0,74 P = 0,45* P = 0,23 P = 0,22 P = 0,02* 187

Tabela 3 - Resultados manométricos pré e pos nifedipina 0,2% Pressão de Evacuação. PRESSÃO DE EVACUAÇÃO (cm H 2 1 27 23 35 46 61 68 46 20 28 16 2 18 20 43 45 50 47 50 42 41 38 3 52 40 24 25 39 30 60 31 38 28 4 51 72 58 59 55 73 35 61 42 60 5 35 29 56 38 40 32 44 24 4 18 6 18 28 56 60 127 68 59 78 31 72 7 63 17 100 27 79 25 86 39 67 47 8 54 50 56 34 65 48 47 39 19 18 9 22 41 28 35 28 23 18 21 9 6 10 32 30 56 56 34 21 44 24 12 7 P = 0,77 P = 0,28 P = 0,22 P = 0,19 P = 0,84 CONCLUSÃO A avaliação manométrica no pré e pós tratamento de pacientes portadores de fissura anal crônica com nifedipina gel 0,2% tópico demonstrou não haver alterações significativas nas pressões e no comprimento do canal anal, demonstrando, entretanto, melhora da dor em 50 % e cicatrização em 40% dos pacientes. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Luis Fernando Costa Nascimento pela orientação da análise estatística desta pesquisa e ao Dr Jorge Alberto Ortiz pelo constante incentivo na área de fisiologia anal. Tabela 4 - Resultados manométricos Canal Anal. CANAL ANAL (cm) Paciente PRÉ PÓS 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 3 2 5 3 3 6 3 2 7 3 3 8 4 4 9 2 2 10 3 3 P = 0,81 ABSTRACT: In the treatment of the anal fissure, calcium channel blockers are among the new drugs which have been used. The objective of this research was the manometric evaluation of patients with chronic anal fissure after topic treatment with 0.2% nifedipine and correlation with the healing and pain. This is a prospective study of patients from Coloproctology Clinic of the University of Taubaté Hospital. The patients had been submitted to a manometric examination before and after 30 days of the use of topic 0.2% nifedipine gel three times a day in the anus and anal edge. For the statistics analysis Mann-Whitney test was applied to a significance of p= 0,05. Ten patients did not exihibit manometric alteration associated with nifedipina treatment, however 50% of them reported improvement of the symptoms and 40% depicted healing of the fissure. The results demonstrated that nifedipine was effective and safe for anal fissure treatment and considering the functional point of view it did not cause injuries as well. The manometric evaluation did not demonstrate alterations in the anal pressure; however, it was observed that 50% of the patients had improvement in pain and 40% in healing. Key words: manometry, fissure, nifedipine, anal canal. 188

REFERÊNCIAS 1. Antropoli C, Perrotti P, Rubino M, Martino A, De Stefano D, Migliore G, Antropoli M, Piazza P. Nifedipine for local use in conservative treatment of anal fissures. Dis Colon Rectum, 1999;42(8):1011-1015. 2. Moreira H, Moreira JPT, Moreira Junior H, Lousa LR, Oliveira EC. Tratamento clínica conservador e cirúrgico da fissura anal. Rev bras Coloproct, 2003;23(2):89-99. 3. Lopes Paulo F. Atualização. Nifedipina tópica vs gliceriltrinitrato tópico no tratamento de fissura anal crônica. Rev bras Coloproct, 2004;24(1):68-69. 4. Cook TA, Mortensen NJM. Nifedipine for treatment of anal fissures. Dis Colon Rectum, 2000;43(3):430. 5. Cook TA, Branding AF, Mortensen NJM. Effects of nifedipine on anorectal smooth muscle in vitro. Dis Colon Rectum, 1999;42(6):782-787. 6. Chrysos E, Xynos E,Tzo varas G, Zoras OJ, Tsiaoussis J, Vassilakis SJ. Effect of nifedipine on rectoanal motility. Dis Colon Rectum, 1996;39(2):212-216. 7. Moreira H, Moreira JPT, Moreira Junior H, Lousa LR, Oliveira Nelson R. A systematic review of medical therapy of anal fissure. Dis Colon Rectum, 2004.p.422-431. 8. Perrotti P, Bove A, Antropoli C, Molino D, Antropoli M, Balzano A, De Stefano G, Attena F. Topical nifedipine with lidocaine ointment vs active control for treatment of chronic anal fissure. Dis Colon Rectum, 2002;45(11):1468-1475. Endereço para correspondência: MARIA AUXILIADORA PROLUNGATTI CESAR Av. Granadeiro Guimarães,270 Taubate SP FAX: (12) 3629-1079 E-mail: prolungatti@uol.com.br 189