9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções) ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( X ) SAÚDE ( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA PERFIL LIPÍDICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM UMA INSTITUIÇÃO ASSISTENCIAL NA CIDADE DE PONTA GROSSA, PARANÁ. 1 OTT, Flávia Monastirsky 2 CARVALHO, Amabile 3 BORBA, Luciana Maria 4 MACIEL, Margarete Aparecida Salina Autor 5 : Carmem Antonia Sanches Ito RESUMO As doenças cardiovasculares estão entre os mais sérios problemas de saúde pública e relacionam-se diretamente com as dislipidemias, um dos fatores de risco para o desenvolvimento de lesões ateroscleróticas. A elevação sérica dos triglicerídeos ou do colesterol, ou de ambos, ocasiona um complexo processo patológico de formação de lesões fibrosas comprometendo o fluxo sanguíneo. As evidências indicam que a aterosclerose está associada à instalação precoce das lesões, que pode começar nos primeiros anos de vida e relacionada ao estilo de vida. A consequência clínica desta grave alteração fisiológica manifesta-se na vida adulta e responde por elevadas taxas de morbimortalidade. Alguns autores publicaram estudos sobre o perfil lipídico em escolares para estabelecer intervalos de referência (SEKI e col., 2003), ou para descrever o perfil lipídico em escolares em algumas cidades brasileiras (GRILLO e col., 2005; PEREIRA e col, 2010; MOURA e col., 2000; ROVER e col., 2010). Em 2005, a I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência, estabeleceu valores de referência para lipídeos para a faixa etária de 2 a 19 anos. O objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil lipídico de 211 crianças e adolescentes do sexo masculino com idade entre 6 e 19 anos, escolares em uma instituição educacional na cidade de Ponta Grossa, Paraná. No período compreendido entre os anos de 2007-2010 foram analisados Colesterol total (CT), HDL-colesterol (HDL-c), LDL-colesterol (LDL-c) e Triglicerídeos (TG) em soro de sangue venoso, coletado de veia umeral, após 12-14 horas de jejum. As análises foram realizadas no equipamento Selectra II, com reagentes DiaSys, por método enzimático-colorimétrico (CT e TG) e imuno-químico (HDL-c e LDLc), e os soros Trucal U para calibração e Trulab N e Trulab P para o controle interno de qualidade. Embora os resultados encontrados tenham demonstrado similaridade aos reportados na literatura, de acordo com os valores de referência da I Diretriz, observou-se alteração em CT e HDL-c, respectivamente para as faixas etárias de 6-10 e 11-19 anos em 19 (25%) e 21 (15%) e em 22 (29%) e 32 (24%) indivíduos; para TG, apenas na faixa etária de 11-19 anos, houve alteração em 6 (4%) dos indivíduos. 1 Graduanda, acadêmica do curso de Biologia da UEPG; 2 Graduanda, acadêmica do curso de Farmácia da UEPG; 3 Doutora, docente do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da UEPG; borbaluciana@gmail.com 4 Doutora, docente do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da UEPG; msalina@uepg.br 5 Doutor/Mestre, docente do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da UEPG;
9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 2 PALAVRAS CHAVE lipídeos, infância e adolescência, prevenção da aterosclerose. Introdução As doenças cardiovasculares estão entre as maiores causas de morbidade e mortalidade entre adultos e apresentam tendência de acometer pessoas cada vez mais jovens. A urbanização que ocorreu no século XX no Brasil e no mundo trouxe à nossa sociedade o sedentarismo, alterações nos hábitos alimentares com maior consumo de gorduras, ácidos graxos e de açúcares e redução de alimentos com fibras, causando uma diminuição dos casos de desnutrição e um aumento da prevalência de obesidade e sobrepeso (I Diretriz, 2005). Esses fatores, somados aos hereditários e a idade avançada, são considerados fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares, em especial a aterosclerose, uma grave disfunção endotelial, com processo inflamatório e obstrução progressiva da luz arterial por placas de ateroma e trombos. Estudos feitos com crianças encontraram estrias gordurosas, placas fibrosas, células espumosas e infiltrações lipídicas em células musculares lisas nas artérias coronárias de crianças e adolescentes. Crianças e adolescentes com valores lipídicos altos se tornam suscetíveis a doenças coronarianas no futuro, tanto que seus valores coincidem com a prevalência de doenças cardiovasculares nos adultos de sua região. As funções lipídicas tendem a seguir o movimento de tracking a maioria das crianças e adolescentes se mantém os mesmos em valores lipídicos até a vida adulta. (ROVER e col., 2010) No entanto, embora não haja consenso sobre em que fase da vida deva ser iniciada a prevenção, e de que forma deve ser feita, sabe-se que é possível diminuir a incidência das complicações da aterosclerose e é aceito o conceito de que a atenção deve ser iniciada na infância. O perfil lipídico de escolares tem sido avaliado e, relatos recentes vem sendo apresentados na literatura. SEKI e col., (2003a; 2003b) determinaram intervalos de referência na faixa de idade de 2 a 19 anos. MOURA e col., (2000) descreveram o perfil lipídico e CORONELLI e col. (2003) e PEREIRA e col. (2007) estudaram dislipidemias. ROVER e col., (2010), GRILLO e col. (2005), respectivamente, associaram os resultados com fatores de risco e crianças de famílias de baixa renda. Muitos destes estudos demonstraram níveis alterados no perfil lipídico da população infantojuvenil, e a ocorrência de dislipidemias. Em 2005, a Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou a I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência, um instrumento para estabelecer e orientar estratégias individuais e populacionais para o controle dos fatores de risco para aterosclerose, além de propor valores de referência especificamente para crianças e adolescentes. GROSSO e col. (2010) apresentam um levantamento acerca do desconhecimento pelos pediatras na cidade de São Paulo da I Diretriz, fato preocupante por ser este profissional o que acompanha o indivíduo desde o nascimento, e que pode exercer um papel importante na promoção da saúde. O Laboratório Universitário de Análises Clínicas (LUAC) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) (Figura 1) desenvolve um projeto extensionista em uma instituição assistencial da cidade, realizando exames laboratoriais nas crianças e adolescentes, e integrando ensino, pesquisa e extensão. Para o presente estudo, foram avaliados os resultados das análises de colesterol total e frações e triglicerídeos, determinando o perfil lipídico e verificando as alterações de acordo com os valores de referência da I Diretriz.
9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 3 Figura 1 Laboratório Universitário de Análises Clínicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, campus de Uvaranas. Objetivos Avaliar o perfil lipídico das crianças e adolescentes de uma instituição assistencial, na cidade de Ponta Grossa, pelos exames laboratoriais realizados pelo LUAC/UEPG. Metodologia No período entre abril de 2007 e dezembro de 2010, foram coletadas amostras de sangue venoso, apos jejum de 12-14 horas, de 211 crianças e adolescentes do sexo masculino, na rotina do LUAC (Figura 2). As amostras biológicas de sangue foram separadas por centrifugação e os soros transferidos para tubo de ensaio e analisados no mesmo dia. Foram determinados Colesterol total e Triglicerídeos por método enzimático-colorimétrico e HDL-colesterol e LDL-colesterol por método imuno-químico, nos analisadores Selectra II e Selectra Junior, com reagentes DiaSys, e soros TRUCAL U e TRULAB N e P para, respectivamente, calibração e controles internos. O LUAC participa desde 2001 do Programa Nacional de Controle da Qualidade da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, no qual tem obtido permanentemente excelência em desempenho e resultados Os laudos laboratoriais das análises são rotineiramente encaminhados ao médico que atende as crianças e adolescentes, em conformidade com o projeto que o LUAC realiza junto a instituição. Os resultados foram organizados em planilhas, pelas faixas de idade de 6 a 10 (n=77) e 11 a 19 (134) anos, e analisados em relação ao percentual de alteração. Embora I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência (2005) apresente os valores propostos para os lípides séricos na infância e na adolescência para a faixa de 2 a 19 anos (Tabela 2), alguns autores (SEKI e col., 2003) estudaram os intervalos de referência separadamente para crianças e para adolescentes brasileiros, motivo pelo qual decidiu-se dividir os dados das análises nas faixas etárias de 6 a 10 anos e de 11 a 19 anos.
9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 4 Figura 2 Coleta de sangue no Laboratório Universitário de Análises Clínicas da UEPG. Resultados Os resultados encontrados nas faixas de idade estudadas estão apresentados abaixo na Tabela 1. Tabela 1 - Valores de Colesterol, HDL-colesterol, LDL-colesterol e Triglicerídeos (mg/dl) por faixa etária (anos). Faixa etária (anos) Lipídeo 6 a 10 (n=77) 11 a 19 (n=134) n % n % Colesterol (mg/dl) < 150 39 50% 82 62% 150 169 19 25% 31 23% 170 19 25% 21 15% HDL-colesterol (mg/dl) < 45 22 29% 32 24% 45 55 71% 102 76% LDL-colesterol (mg/dl) < 100 54 70% 111 83% 100 129 23 30% 17 13% 130 0 0% 6 4% Triglicerídeos (mg/dl) < 100 74 96% 123 92% 100 129 3 4% 11 8% 130 0 0% 0 0%
9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 5 Na Tabela 2 a seguir, apresenta-se os valores para os lípides séricos propostos pela I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência (2005). Tabela 2 Valores de referência lipídica para a faixa etária de 2 a 19 anos. Lipídeo Desejável Limítrofe Aumentado (mg/dl) (mg/dl) (mg/dl) Colesterol < 150 150-169 170 HDL-colesterol 45 - - LDL-colesterol < 100 100-129 130 Triglicerídeos < 100 100-129 130 Fonte: I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência (2005) De acordo com a I Diretriz, e considerando como ponto de corte os valores limítrofes, observa-se que há semelhança nas alterações verificadas nas duas faixas de idade consideradas. Os resultados para Colesterol total apresentaram-se elevados em 25% (n=19; 6-10 anos) e 15% (n=21; 11-19 anos); e para HDL-colesterol, diminuídos em 295 (n=22, 6-10 anos) e 24% (n=32; 11-19 anos). Para LDL-colesterol observa-se uma alteração em 4% (n=6) apenas na faixa de 11-19 anos. Para Triglicerídeos, em ambos os grupos, não foram verificados valores discordantes dos propostos pela I Diretriz. Com relação aos níveis elevados de Colesterol, MOURA e col. (2000) encontraram 35% em estudo realizado com 1600 escolares (7-14 anos) de primeiro grau, SEKI e col. (2003) 13,1 % em 624 escolares (2-19 anos), e GRILLO e col. (2005) 3,1 % em 257 escolares (3-14 anos) de baixa renda. No entanto, se analisados os resultados do presente estudo considerando-se um só grupo de idade, verifica-se 18,4% de hipercolesterolemia, semelhante ao relatado por SEKI e col. (2003). A I Diretriz orienta para a determinação do Colesterol total em crianças a partir de 10 anos, esse verificado resultado > 170 mg/dl, a análise completa dos lipídeos, com indicações de conduta médica e familiar. Conclusões Os resultados mostram que ocorrem alterações no perfil lipídico na infância e adolescência, e por ser fator de risco para aterosclerose, deve haver investigação, conforme a meta da I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e Adolescência. A intervenção precoce possibilita o controle dos fatores de risco e a prevenção de transtornos metabólicos e cardiovasculares que tem inicio na infância. Referências 1. I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na infância e adolescência. Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Vol.85, Supl. VI, Dezembro 2005. 2. CORONELLI, C.L.S.; MOURA, E.C. Hipercolesterolemia em escolares e seus fatores de risco. Revista Saúde Pública, São Paulo, vol. 37(1): 24-31,2003. 3. GRILLO, L.P. e col. Perfil Lipídico e obesidade em escolares de baixa renda. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, vol.8(1):75-81, 2005. 4. GROSSO, A.F.; SANTOS, R.D. Desconhecimento da diretriz de prevenção da aterosclerose na infância e na adolescência por pediatras em São Paulo. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, vol. 56(2): 157-161, 2010. 5. MOURA,E.C. e col. Perfil Lipídico em escolares de Campinas, SP, Brasil. Revista Saúde Pública, São Paulo, v.34(5): 499-505, 2000. 6. PEREIRA, P.B. e col. Perfil Lipídico em Escolares de Recife -PE. Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia - vol. 95(5): 606-613, 2007.
9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 6 7. ROVER, M.R.M. Perfil Lipídico e sua relação com fatores de risco para a aterosclerose em crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Análises Clínicas, São Paulo, vol.42(3): 191-195, 2010. 8. SEKI,M. e col. Determinação dos intervalos de referência para lipídeos e lipoproteínas em escolares de 10 a 19 anos de idade de Maracaí (SP). Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. Rio de Janeiro, vol. 39, n.4: 309-316, 2003a. 9. SEKI,M. e col. Perfil Lipídico: intervalos de referência em escolares de 2 a 9 anos em idade escolar da cidade de Maracaí (SP). Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. Rio de Janeiro, vol. 39, n.2: 131-137, 2003b.