ROTINA ALIMENTAR DE ALUNOS NO ÂMBITO ESCOLAR 1 PUCCI, Vanessa 2 R., GUSMAN, Juliana 2 ; SACCOL, Ana Lúcia de F. 3 ; BENEDETTI, Franceliane J. 3 ; STORCK, Catia Regina 3 ; BERTOLDO, Janice V. 3. 1 Resultado parcial de Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PROBIC) 2 Acadêmicas do Curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Professoras do Curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: vanessarpucci@hotmail.com; juliana.nutricao2010@gmail.com; alsaccol@unifra.br; franceliane@unifra.br; catiars@unifra.br, janice.vidalbertoldo37@gmail.com. RESUMO Os níveis ideais de saúde são proporcionados desde a infância com a prática de uma alimentação saudável. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a rotina alimentar de alunos em âmbito escolar. O trabalho possui delineamento transversal e foi realizado com 179 alunos de 2º ano em escolas públicas de Santa Maria, RS. Avaliou-se durante uma semana no mês de abril os dados gerais da turma, conteúdo da lancheira, compra de alimentos e aceitabilidade da alimentação escolar. Dos grupos alimentares avaliados, os cereais foram os que mais apareceram nas lancheiras dos escolares. A compra de alimentos não se mostrou frequente entre os escolares e quanto a aceitabilidade da alimentação escolar constatou-se que na média geral os alunos gostaram das refeições oferecidas. Neste contexto, pode-se concluir que um diagnóstico da rotina alimentar dos alunos no âmbito escolar é de suma importância, pois proporciona a visão das fragilidades que devem ser trabalhadas. Palavras-chave: Consumo Alimentar; Hábitos Alimentares; Criança. 1. INTRODUÇÃO A prática de uma alimentação saudável desde a infância fornece níveis ideais de saúde, crescimento e desenvolvimento intelectual, participando efetivamente na melhora do seguimento educacional, por reduzir os déficits de atenção causados pelas deficiências nutricionais. As escolhas alimentares na fase pré-escolar dependem das escolhas alimentares pessoais (LOPES, BRASIL, 2003). Convive-se diariamente como uma forte influência da mídia no consumo de alimentos, muitas vezes pouco saudáveis, o que se torna um atrativo ao público em geral, com maior destaque ao infantil. Os padrões alimentares das crianças vêm sofrendo modificações com desenvolvimento acentuado dos meios de comunicação e o crescimento de alternativas alimentares da sociedade pós-moderna. Este fato 1
contribui com o consumo exagerado, por parte das crianças, de alimentos com alto valor calórico, ricos em gordura, açúcar, sódio e pobres em fibras, vitaminas e minerais. O consumo alimentar na infância é caracterizado pela preferência de refrigerantes, biscoito recheado, salgadinho industrializados, chocolate, bala, o que aumenta o risco de doenças crônicas não transmissíveis. Mesmo com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), onde aluno tem acesso à alimentação no ambiente de estudo, prevalece o excessivo consumo de lanches comprados nas cantinas ou vindos de casa (BRASIL, 2009). Segundo Conceição et al. (2010), o consumo de alimentos é uma necessidade fisiológica e a alimentação adequada oferece ao corpo a energia necessária para o desempenho de suas funções, contribuindo com a saúde e estilo de vida do ser humano. As crianças são mais suscetíveis a apresentar desequilíbrios nutricionais, devido ao aumento das necessidades de nutrientes em função do seu acentuado desenvolvimento físico. O acesso às informações corretas sobre alimentação na infância é fundamental, onde a escola representa um espaço propício à formação de hábitos alimentares saudáveis. Assim torna-se importante conhecer a qualidade da alimentação de crianças para desenvolver ações de promoção de hábitos alimentares saudáveis, visto que as mesmas estão em um período que podem ser influenciadas tanto no ponto de vista negativo como positivo. A infância é a fase em que se encontram condições ideais para mudanças de hábitos alimentares e estilos de vida, que poderão repercutir no futuro em escolhas mais saudáveis (MOLINA et al., 2010). Nessa conjuntura, ressalta-se a importância de conhecer a rotina alimentar dos alunos no âmbito escolar para possibilitar uma intervenção educativa adequada, com ações voltadas para a problemática diagnosticada. Desta forma, será possível obter resultados satisfatórios na adequação dos hábitos alimentares dos alunos, refletindo até mesmo no ambiente familiar. Assim o presente estudo tem por objetivo avaliar a rotina alimentar de alunos durante o período escolar. 2. METODOLOGIA O presente trabalho possui delineamento transversal descritivo e foi realizado em todas as turmas de 2 Ano do ensino fundamental de cinco escolas públicas do município de Santa Maria (RS) indicadas pela 8ª Coordenadoria Regional de Educação e Secretaria Municipal de Educação para o Estágio Obrigatório em Alimentação Escolar, sendo duas estaduais e três municipais. As atividades foram autorizadas pelos responsáveis de cada escola, obtiveram a aprovação e 2
consentimento das professoras e alunos envolvidos. As avaliações foram realizadas no mês de abril de 2012, durante cinco dias consecutivos. A rotina alimentar foi avaliada através da aceitação da alimentação escolar, composição das lancheiras e avaliação dos alimentos adquiridos na cantina ou comercio informal de alimentos dentro da escola. As informações sobre práticas alimentares foram obtidas através de formulários previamente testados através de um piloto. Para avaliação da composição das lancheiras utilizou-se metodologia de acordo com Matuk et al. (2011) analisando por meio de presença ou ausência dos grupos de alimentos nas lancheiras. A aceitabilidade da alimentação escolar foi avaliada por escala hedônica adaptada do Programa Nacional de Alimentação Escolar com quatro faces distintas (gostou, indiferente, não gostou, não comeu). Aceitação superior a 85% é considerada adequada de acordo com o BRASIL (2009). Como algumas escolas apresentam cantina, e também comércio informal de lanches, por meio da venda de alimentos e bebidas pelos professores, comunidade, e até mesmo dos próprios alunos, foi realizada a avaliação, por meio de formulário padronizado com questões abertas e fechadas, onde foram registrados o tipo de comércio e os lanches adquiridos pela turma avaliada. Foram avaliados os mesmos grupos já selecionados anteriormente para composição das lancheiras. Os dados foram coletados por acadêmicos do Curso de Nutrição previamente capacitados. Vale salientar que todas as escolas receberam os resultados desta pesquisa. Os dados foram tabulados no Microsoft Excel onde aplicou-se estatística descritiva. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das cinco escolas participantes obteve-se um total de nove turmas de 2º ano, totalizando 179 alunos com média de idade 7,6 anos, sendo 55,83%(n=100) do sexo masculino e 44,13%(n=79) do sexo feminino. Nenhuma criança se recusou a participar do estudo. De acordo com a avaliação das lancheiras, os grupos alimentares que mais apareceram foram os cereais 180(20,11%), as bebidas 137(15,30%) e os lácteos 128(14,30%) seguido do grupo das bolachas 120(13,40%). Vale destacar que o grupo dos cereais é composto por: pães, biscoitos sem recheio ou cobertura, torrada, bolos sem recheio ou cobertura, cereal matinal flocos de milho, granola, aveia, flocos de milho com chocolate e barras de cereais sem cobertura ou recheio; o grupo das 3
bebidas por: chás, energéticos, bebidas com soja, bebidas isotônicas e hidrotônicas, o grupo dos lácteos é composto por: iogurtes, achocolatado, queijos, requeijão e leite fermentado e as bolachas por: bolachas wafer, cookies, pão de mel, rocambole, bolinho de chuva, brownie, panetone, bolinhos industrializados (MATUK, 2011). Discordando de estudos que encontraram frequência de 82% de presença de cereais e 65% de presença de lácteos (MATUK, 2011). Entre os escolares avaliados, foi constatado que as verduras e as frutas figuraram o décimo segundo e o décimo terceiro lugares (3,12 e 0,44% respectivamente), este fato é preocupante vista a grande importância deste grupo de alimentos para esta faixa etária. Corroborando com pesquisas, as quais sugerem que alimentos como hortaliças e frutas, com menor densidade energética e mais nutritivos, estão cada vez menos presentes na dieta infantil (TRICHES e GIUGLIANI, 2005; PIERINE et al, 2006). Na tabela 1 apresentam-se os grupos de alimentos com a frequência em que apareceram nas lancheiras durantes os cinco dias consecutivos Tabela 1: Grupos de alimentos presentes nas lancheiras de escolares de escolas públicas, Santa Maria, RS., 2012. Grupo de alimentos N % Lácteos 128 14,30 Frutas 28 (3,12) Verduras 04 (0,44) Refrigerantes 35 (3,91) Bebidas 137 (15,30) Cereais 180 (20,11) Salgado 27 (3,01) Fritura 41 (4,58) Frios 85 (9,49) Óleos 98 (10,94) Doces 99 (11,06) Bolachas 120 (13,40) Outros 24 (2,68) O grupo dos doces também se mostrou frequente 99(11,6%), conforme tabela 1, entrando em acordo com Matuk (2011) que encontrou 20% de presença deste grupo de alimentos. De acordo com Pierine et al (2006) os alimentos mais encontrados em ambiente escolar são açucares, doces, bolachas recheadas dentre outros. Das cinco escolas participantes, apenas duas possuíam comércio informal, totalizando 59 escolares avaliados. Durante os cinco dias de avaliação, a frequência com que alguns destes grupos alimentares foram comprados foi de 36 vezes (tabela 2). Os grupos mais comprados por escolares foram os cereais e os frios e embutidos já os grupos dos lácteos, das frutas, das bebidas e dos doces, não foram comprados nenhuma vez. 4
Tabela 2: Frequência da compra dos grupos de alimentos em cantina de escolas públicas de Santa Maria, RS, 2012. Grupos de alimentos N % Lácteos 0 0 Frutas 0 0 Verduras 06 (16,66) Refrigerante 03 (8,33) Bebidas 0 0 Cereais 07 (19,44) Salgado 01 (2,77) Fritura 05 (13,88) Frios 07 (19,44) Óleos 05 0 Doces 0 0 Bolachas 02 (5,5) Outros 0 0 Observou-se que a compra de alimentos não foi uma opção frequente no ambiente escolar, sendo positivo, visto que autores consideram a compra de lanches em cantinas, uma das variáveis associadas ao sobrepeso em escolares (CHAVES et al, 2008). Quanto ao lanche fornecido pela escola, os cereais e os lácteos foram os que apresentaram grande evidência de oferta ao longo dos cinco dias, enquanto que as bebidas, e os salgados não foram disponibilizados nenhuma vez. Os grupos alimentares, bem como a freqüência com que foram ofertados nas escolas, está representado na Figura 1. Figura 1 Frequência relativa dos grupos de alimentos presentes na alimentação oferecida em escolas públicas de Santa Maria (RS), 2012. 5
Observou-se que a aceitabilidade da alimentação escolar foi de 85%, estando de acordo com o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), deste modo os alimentos ofertados de maneira geral atendem as expectativas dos alunos e podem contribuir para o crescimento e desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar, bem como a formação de hábitos saudáveis atingindo o objetivo do programa (BRASIL, 2009). Na tabela 3 pode-se visualizar a aceitação da alimentação escolar pelos alunos. Durante os cinco dias foram avaliadas 774 refeições. Tabela 3. Avaliação da aceitabilidade escolar pelos alunos de escolas públicas, Santa Maria (RS), 2012. Respostas Refeições n=774 Não comeu 296(38,24%) Comeu 478(61,75%) Gostou Indiferente Não gostou 403(85%) 46 (8,92%) 29 (6,06%) 4. CONCLUSÃO Com a realização deste trabalho observou-se que a compra de alimentos em ambiente escolar é praticamente inexistente e que a alimentação escolar tem uma boa aceitabilidade. Com relação às lancheiras dos escolares, dos grupos alimentares avaliados, os cereais foram os que mais apareceram, em contrapartida observou-se uma baixa freqüência de frutas e verduras. Neste contexto, pode-se concluir que um diagnóstico da rotina alimentar dos alunos no âmbito escolar é se suma importância em qualquer programa educativo, pois proporciona a visão das principais problemáticas que devem ser trabalhadas junto ao público alvo. 5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL. Ministério da Educação. Resolução/CD/FNDE n o 38. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no Programa de Alimentação Escolar-PNAE. Brasília: Ministério da Educação, 2009. CHAVES, Maria, das G.,A., M. Estudo da relação entre a alimentação escolar e a obesidade. H.U. Revista, Juiz de Fora, v.34, n.3, p.191-197, 2008. CONCEIÇÃO, Sueli Ismael Oliveira da, et al. Consumo alimentar de escolares das redes pública e privada de ensino em São Luís, Maranhão. Revista de Nutrição. v.26, n.6, p.993-1004, 2010. 6
LOPES, Fábio Ancona; BRASIL, Anne Lise Dias. Nutrição e Dietética em Clínica Pediátrica. São Paulo: Atheneu, 2003. Cap.15, p.61-72. MATUK, Tatiana Tenorio et al. Composição de lancheiras de alunos de escolas particulares de São Paulo. Revista Paulista de Pediatria. v.29, n.2, p.157-163, 2011. MOLINA, Maria Del Carmem Bisi et al. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Revista de Saúde Pública. v.44, n.5, p.785-792, 2010. PIERINE, Damiana, T.; et al. Composição corporal, atividade física e consume aliementar de alunos do ensino fundamental e médio. Motriz, Rio Claro, v.12, n.2, p.113-124, 2006. TRICHES, Márcia R.; GIUGLIANI, Elsa R. J. Obesidades, práticas alimentares e conhecimentos de nutrição em escolares, Rev de Saúde Pública, v.39, n.4, p.541-547, 2005. 7