PEDAGOGIA DE PROJETOS: PROPOSTA DE IDENTIFICAÇÃO DE HABILIDADES PARA AS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE MACAPÁ. Gilvandro DOS SANTOS PANTALEÃO

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PEDAGOGIA DE PROJETOS: PROPOSTA DE IDENTIFICAÇÃO DE HABILIDADES PARA AS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE MACAPÁ. Gilvandro DOS SANTOS PANTALEÃO INTRODUÇÃO A escola na idade contemporânea está cada vez menos atrativa para seus educandos, com metodologias atreladas ainda em uma pedagogia tradicional, completamente desvinculada da realidade de sua clientela. Muito se fala em superação de paradigmas, no entanto a mudança é lenta. Infelizmente, vivenciamos um sistema educacional desvinculado dos avanços tecnológicos, problemas oriundos de uma sociedade desigual frente às diversidades econômicas, sociais e culturais. Uma escola que não acompanha o ritmo acelerado do pensamento e interesses dos alunos, que os fazem pensar além do tempo dos educadores que insistem em não mudar, professores que precisam refletir sobre sua prática pedagógica, ainda tradicional, onde o professor pensa que sua função é ministrar aulas, cabendo ao aluno aprender somente conteúdo programático adotado pela escola. O cenário educacional contemporâneo, precisa de novas práticas metodológicas, aulas dinâmicas e prazerosas, contextualizando o aprendizado do aluno, sempre que possível associando o conteúdo a realidade onde o mesmo está inserido, por outro lado, que os questionamentos e exemplos ministrados em sala de aula, despertem para a possibilidade de resolução dos problemas sociais que figuram na sociedade moderna. Nesse vasto leque de metodologias que figuram o ambiente escolar, emerge a pedagogia de projetos, que oportuniza aos educadores uma prática diferente, possibilitando aos educandos o início do contato com a pesquisa, com a elaboração de projetos, não somente aqueles idealizados pela escola, onde o aluno desenvolve ou simplesmente executa algo idealizado pela coordenação pedagógica, mas sim, aquele projeto que nasce do interesse do educando, do seu sonho, ficando sob a responsabilidade do professor mediar o processo de construção desse conhecimento, apontando leituras, 430

incentivando a pesquisa, culminando da apresentação de um trabalho que respondeu a um determinado problema. As escolas em sua maioria trabalham com projetos, no entanto, os temas são geralmente os mesmos, aqueles elencados pelos parâmetros curriculares nacionais. O foco desse estudo é o projeto na área de interesse do aluno, mediado pelo professor que incentivará as potencialidades, em conjunto encontrarão a melhor metodologia, o educando encorajado por esta nova práxis, vislumbrará na escola um ambiente propulsor de seu aprendizado, um local motivador da busca de respostas para suas inquietações e curiosidades. A relevância desse estudo fundamenta-se na necessidade da escola oportunizar precocemente ao educando o contato com a metodologia científica, evidenciando que a criança ao ingressar na escola poderá trabalhar itens como a capa, a contra capa, nos anos seguintes inserir normas técnicas que devem ser utilizadas no desenvolvimento dos trabalhos escolares que precisam ser inseridas na pratica pedagógica. No terceiro ano do Ensino Fundamental, inserir no planejamento citações, referências, que estas precisam ser incorporadas ao trabalho apresentado ao professor como requisito a ser avaliado. Ainda permitir que o aluno trabalhe com projetos na área se seu interesse, direcionamento do trabalho com projetos proposto nos atendimentos educacionais especializados com alunos com características de altas habilidades/superdotação. PEDAGOGIA DE PROJETO: Alguns conceitos sobre a Pedagogia de projetos que conduzem a um olhar na metodologia de projetos na área de interesse do educando, focando na habilidade individual, na ausência do medo de arriscar dos educandos que necessitam apenas de um olhar mediador do professor na condução de uma aprendizagem significativa, com propostas de resolução de problemas. Segundo Freire e Prado (1999), o processo de projetar implica analisar o presente como fonte de possibilidades futuras. De acordo com Nogueira (2007), o projeto é aquilo que ainda está por vir, pois ainda não é atual, não está presente, já que é ainda uma antecipação do futuro. 431

Para Machado (2000), a palavra projeto deriva do latim projectus, particípio passado de projícere, significa algo como um jato a ser lançado para frente. Ele nos possibilita que se pense antecipadamente na ação que se propõe desenvolver. Compartilhando com o posicionamento de Machado, Boutinet (2002, p. 27) considera que: [...] o projeto pode ser definido como conceito dotado de propriedades lógicas a serem explicitadas em suas conexões com a ação a ser conduzida. Mas, ao mesmo tempo, o projeto aparece como figura que remete a um paradigma, simbolizando uma realidade que parece preexistir e escapar-nos: aquela de uma capacidade a ser criada, de uma mudança a ser operada. O projeto seria, então, o avatar individual e coletivo de um desejo primitivo de apropriação. A ideia de projeto é própria da atividade humana, da sua forma de pensar em algo que deseja tornar real, portanto o projeto é inseparável do sentido da ação (ALMEIDA, 2002). Para Nogueira (2003), os projetos são verdadeiras fontes de investigação e criação, passando por processos de pesquisas, aprofundamento, análise, depuração, criação de novas hipóteses instigando, a todo o momento, as diferentes potencialidades dos elementos do grupo, bem como as suas limitações. ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO A legislação educacional brasileira considera educandos com altas habilidades/superdotação aqueles que apresentam grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (Brasil, 2001, Art. 5º, III). O CENÁRIO DA IDENTIFICAÇÃO DE ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES OBSERVADO NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE MACAPÁ. O senso escolar não mensura avanços na identificação de novos alunos com características de Altas Habilidades/Superdotação, necessitando de um olhar intervencionista nas escolas, cenário de onde alunos são oriundos para o Atendimento Educacional Especializado. 432

As desculpas para tal ausência de identificação se veste de diversos sentimentos, o medo de indicar alunos, o desconhecimento do sistema educacional como um todo sobre as características de um aluno talentoso, ausência de incentivo dos órgãos públicos em superar o paradigma da inclusão que direciona seu olhar sempre nas deficiências. O processo inclusivo orienta para uma educação que oportunize qualidade de educação para todos, onde a aprendizagem seja significativa, que promova mudanças comportamentais e atitudinais, que professores conheçam e se apropriem de novas metodologias. Mittler (2003, p. 35) diz que a inclusão é uma superação de barreiras, na qual: A tendência ainda é pensar em política de inclusão ou educação inclusiva como dizendo respeito aos alunos com deficiência e a outros caracterizados como tendo necessidades educacionais especiais. Além disso, a inclusão é frequentemente vista apenas como envolvendo o movimento de alunos das escolas especiais para os contextos das escolas regulares, com a implicação de que eles estão incluídos, uma vez que fazem parte daquele contexto. Essa superação de barreiras. Segundo a Secretaria de Educação Especial (SEE), todos os alunos com necessidades especiais carecem de inclusão escolar. Dentre eles, o aluno com sobredotação, assim como o que apresenta alguma deficiência física e/ou mental também deveria ser considerado. Em um relatório oficial da SEE são distribuídos os alunos com necessidades educacionais especiais desta maneira: baixa visão, cegueira, deficiência auditiva, surdez, surdo, deficiência múltipla, física e mental, condutas típicas, autismo, síndrome de Down e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2006). Se a leitura aponta que o cenário educacional se encontra repleto de potenciais a serem descobertos, mediados, para posteriormente poderem fazer parte do quadro estatístico que comprovem os dados encontrados na literatura mundial e nacional, porque não nos permitirmos deixar a famosa zona de conforto, que insiste a permanecer no campo educacional, fato que dificulta, emperra a superação do paradigma tradicional, em favor daquele que concebe o ser humano dotado de múltiplas inteligências. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existe entre cinco e oito por cento, aproximadamente, de superdotados na população mundial. Mas, dependendo XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 do referencial teórico e do modo como se concebe, este número pode ir de um a vinte por cento. 433

Dentre destes, cerca de um por cento de indivíduos apresentam características de genialidade e, outros dezenove, apresentam características de altas capacidades (BARBOSA, PEREIRA & GONÇALVES, 2008; CABRERO, COSTA & HAYASHI, 2006; HALLAHAN & KAUFFMAN, 2003). MÉTODO A INTERVENÇÃO NA ESCOLA O projeto iniciou em setembro tendo como meta identificar habilidades, iniciar o processo da elaboração dos Pré-projetos de acordo com o interesse dos alunos voluntários, finalizando uma audiência previa determinada para o final de dezembro, período final do ano letivo. Os avanços na identificação não se constituíam significativos, então a partir da leitura da Resolução CNE/CEB foi possível observar palavras como facilidade de aprendizagem, atitudes entre outras conforme constam no artigo 5º, inciso III, da Resolução CNE/CEB Nº 2 de 2001, que estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Brasil, 2001), tem como acepção de educandos com altas habilidades/superdotação aqueles que apresentam grande facilidade de aprendizagem, levando-os a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. Ainda sobre uma breve leitura nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em sua série de Adaptações Curriculares, Saberes e Práticas da Inclusão (Brasil, 2004), publicada pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, atribuem os seguintes traços como comuns aos superdotados: Alto grau de curiosidade; Boa memória; Atenção concentrada; Persistência; Independência e autonomia; Interesse por áreas e tópicos diversos; Facilidade de aprendizagem; Criatividade e imaginação: Iniciativa; Liderança; Vocabulário avançado para sua idade cronológica; Riqueza de expressão verbal (elaboração e fluência de ideias). Partindo das palavras norteadoras, foi solicitado as professoras do Atendimento Educacional Especializado da Escola Campo, que realizassem um levantamento de alunos que possuíssem como características: atitude, curiosidade, persistência, com foco maior em interesse por áreas e tópicos diversos. Os alunos que demonstraram interesse em participar do projeto, foi oportunizado uma oficina sobre Metodologia de Projeto, mostrando os passos de um projeto, a importância do ato de planejar antes de executar uma atividade. Em seguida os alunos foram conduzidos a preencher uma atividade utilizada como norteadora na captação de pré-projeto, trabalhada em um encontro sobre Altas Habilidades/Superdotação que conheci com o seguinte 434

tema: O QUE REALMENTE ESTÁ INCOMODANDO VOCÊ? COMO ACHAR UM VERDADEIRO PROBLEMA DO MUNDO REAL! Aos alunos interessados foi oportunizado atividades de Enriquecimento escolar, preconizada por Renzulli (2005). Este modelo abrange além da inteligência formal (avaliada por meio de testes, que aferem o escore do quociente de inteligência - QI), áreas como criatividade, liderança, motivação, artes e desenvolvimento psicomotor (MANTOVANI, 2006). O modelo de Renzulli acerca da intervenção na área da D&T passa por três etapas. A primeira consiste em identificar uma área em que o indivíduo demonstre interesse especial. Segue-se um programa de enriquecimento e, depois uma prática efetiva, na área (RENZULLI, 2008; VIRGOLIM, 1998). OS RESULTADOS ALCANÇADOS Satisfatoriamente conseguiu-se um quantitativo de 40 (quarenta alunos) interessados em participar do projeto na Escola Campo, destes compareceram aos encontros ocorridos no contra turno, 20 (vinte alunos) no andamento das atividades dois alunos que motivados pelo desenvolvimento dos alunos participantes, das conversas nos corredores, resolveram procurar as professoras do AEE perguntando se poderiam participar, quando informado, inferi que talento não se desperdiça e que sempre haveria lugar para mais um, felizes todos ficamos quando entre os dois alunos, um especialmente talentoso no desenho, também é um aluno com deficiência auditiva, fazendo perceber que realmente o processo inclusivo deve se constituir em um espaço para todos, onde os professores necessitam estar dispostos a abraçar a causa da educação, independente das condições adversas que se enfrenta no cotidiano escolar. Aos alunos atendidos oportunizamos atividades de Enriquecimento Escolar. No Modelo Triádico de Enriquecimento proposto por Renzulli (oferecido no contra turno escolar), há uma divisão em três tipos: enriquecimento do tipo 1, 2 e 3. O enriquecimento do tipo 1 indica uma grande variedade de disciplinas à disposição do aluno, a fim de trabalhar suas potencialidades. Ao passo que, no do tipo 2 é empregada técnicas e materiais instrucionais diferenciados/específicos e, no 435

enriquecimento do tipo 3, foca-se a aprendizagem do aluno (RENZULLI, 1984, 2000, 2008; RENZULLI & DELCOURT, 1986; RENZULLI & RICHARDS, 2000). As áreas se constituíram em projetos, um grande obstáculo orientar projetos os quais não se possuía a mínima habilidade, poesia, acróstico, desenho, jornal, robótica, banda de música escolar, dança. Iniciou-se o a elaboração de todos os projetos, na elaboração foi possível perceber o quanto o campo escolar possui realmente um currículo oculto, que necessita de um olhar mediador para conduzi-los a grandes conquistas. Um aluno professor eu toco oito instrumentos musicais. Como você aprendeu ouvindo, você consegue transformar uma poesia em música? professor eu sei construir o arpegio. Palavras soaram como possibilidades, um aluno com características de altas habilidades/superdotação, que surpreendentemente surgiu na audiência como o dono da banda, líder, criativo, e muito envolvido com a tarefa. O aluno que os professores do ensino regular não percebiam como potencial e sim como o bagunceiro, não sabe ler, muitos menos escrever, a conversa com a professora de língua portuguesa mostrando as poesias apaixonadas escritas pelo seu aluno. A aluno que escreveu um livro em três meses, contando a história de vida dos seus entrevistados em forma de poesia, não sabíamos que se tratava de intertextualidade. O aluno dançarino que constrói suas caixas de som a partir do material reciclado, uma preocupação precoce com a saúde do meio ambiente. Talentos temos, precisam apenas de um olhar de intervenção, um olhar no projeto de vida, na área de interesse dos alunos tidos como bagunceiros. CONCLUSÃO Em conversas sobre altas habilidades/superdotação, quase sempre relato que tenho receio da palavra superdotado, gosto do termo habilidade, uma habilidade que mediada, orientada pode transformar-se em alta habilidade. Os alunos que não conhecem o tema podem sentir-se empolgados demais, às vezes projetando um futuro que pode não ser confirmado, trabalhando as habilidades conseguimos encontrar fortes indicativos de altas habilidades. Aqueles que possuem todas as características, que saibamos orientar sempre, para que sejam os cientistas do amanhã. 436

É fato que existe a necessidade da identificação, da desmistificação dos conceitos concebidos sobre as altas habilidades/superdotação, que o professor tanto do Ensino Regular quanto do Atendimento Educacional Especializado se apropriem de instrumentos que possibilitem atividades interessantes não somente para alunos tidos como especiais, mas para todos, independentemente se sua escola é localizada no centro ou na periferia de sua cidade, nos diversos cotidianos existem alunos com habilidades, alta habilidade, um aluno superdotado. Precisamos de professores que acreditem no novo, no desconhecido nem tão desconhecido como as minhas colegas que acreditaram e abraçaram meu projeto, como seus. O medo da identificação por parte de técnicos, professores, reforça o conceito de que precisamos superar paradigmas, que a verdadeira educação acontece no campo da construção de conhecimentos, na aprendizagem significativa, oportunizada pela pedagogia de projetos, onde o aluno é o profissional pesquisador, nós professores somos seu orientador, deixamos ao educando a missão de realizar seus sonhos mediados por nossos conhecimentos. Existe a necessidade te sairmos do anonimato, do baixo índice gráfico no senso escolar das Altas Habilidades/Superdotação, inexpressivo. Este projeto de intervenção realizado em uma única escola, em um curto espaço de tempo, motivado por uma leitura que infere que 5% de um universo escolar possui algum tipo de habilidade, emergiu a vontade, a necessidade de sair da zona de conforto, correr atrás da confirmação, fazendo ter certeza que muitos músicos, muitos artistas, muitos poetas, se encontram abandonados nas escolas que insistem na prática tradicional, da educação bancária que impede o professor de sair do mito da caverna, de se arriscar com novos conceitos, práticas e métodos pedagógicos. Considero este estudo um pequeno apanhado, muitas ideias povoam meus pensamentos, desejando a partir desta experiência, um espaço educacional onde se pudesse conviver com as diversas habilidades em um único espaço, música, dança, poesia, robótica, alunos preocupados em criticar o mundo que vivemos, mas que essa crítica estivesse acompanhada com sugestões de melhorias. Saindo do atual conceito humano que apenas critica, sem apontar caminhos. 437

REFERENCIAS ALMEIDA, M. E. B. de. Como se trabalha com projetos (entrevista). Revista TV Escola. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, n. 22, mar./abr. 2002. BARBOSA, A.J.G., PEREIRA, C.E.S., PASSOS, C.S., MOREIRA, P.S., & JESUS, T.L. Programa de Identificação e Desenvolvimento de Estudantes Talentosos PIDET. Em ANAIS do 3º. Congresso Brasileiro de Educação Especial. São Carlos, SP: XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP UFSCar, 2008. BOUTINET, J.-P. Antropologia do projeto. 5. ed. Tradução de Patrícia Chitonni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2002. BRASIL. Lei 4.024 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília: autor, 1961. Acesso em 29 de agosto, 2013: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4024.htm BRASIL. Lei 5.692 de 11. agosto.1971 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília: autor, 1971. Acesso em 29 de agosto, 2013: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm BRASIL. Diretrizes Gerais para o Atendimento Educacional aos Alunos Portadores de Altas Habilidades: superdotação e talentos. Brasília: MEC / SEESP, 1995. BRASIL. Lei 9.396 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília: autor, 1996. Acesso em 29 de agosto, 2013: http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen-n-3782011-revogada-pela-resoluo-cofenn-4202012_6793.html BRASIL. Números Da Educação Especial No Brasil. Brasília: SEE / Coordenação Geral de Planejamento, 2006. FREIRE, F.; PRADO, M. Projeto pedagógico: pano de fundo para escolha de software educacional. In: VALENTE, J. A. (Org.) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: NIED-UNICAMP, 1999, p. 111-129. MANTOVANI, F. Governo Federal Implanta Centros Para Superdotados. São Paulo: folha.com, 2006. Acesso em 29 de agosto, 2013: http://www.universitario.com.br/noticias/buscaportema.php?tema=mec NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2007. 438

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