Orientação Educacional e Pedagógica. Diversidade Cultural e Direito Educacional. Profª Ms Jamile Salamene

Documentos relacionados
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO HETEROGÊNEO

Tma: Tema: Competências do professor para o trabalho com competências

DIVERSIDADE CULTURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES NA REGIÃO DO SEMIÁRIDO

DIDÁTICA MULTICULTURAL SABERES CONSTRUÍDOS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM RESUMO

Educação integral no Ensino Médio. Uma proposta para promover a escola do jovem do século 21

O Lugar da Diversidade no contexto da Inclusão e Flexibilização Curricular: Alguns Apontamentos

Habilidades Cognitivas. Prof (a) Responsável: Maria Francisca Vilas Boas Leffer

PERCURSO FORMATIVO CURRÍCULO PAULISTA

EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

O ENSINO MÉDIO INTEGRADO NO CONTEXTO DA ATUAL LDB. Nilva Schroeder Pedagoga IFB Campus Planaltina Abr. 2018

EMENTAS DAS DISCIPLINAS REFERENTE AO SEMESTRE LINHA DE PESQUISA I

Agente de transformação social Orientador do desenvolvimento sócio-cognitivo do estudante Paradigma de conduta sócio-política

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO CURRÍCULO DO PPGMPE

Projeto Mediação Escolar e Comunitária

Material Para Concurso

Prof. Eduarda Maria Schneider Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curso Ciências Biológicas Licenciatura Campus Santa Helena

AS RELAÇÕES INTERATIVAS EM SALA DE AULA: O PAPEL DOS PROFESSORES E DOS ALUNOS. Zabala, A. A prática Educativa. Porto Alegre: Artmed, 1998

Departamento de Investigação do Instituto de Educação da Universidade do Minho

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO RELIGIOSO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA DOCENTE

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES Julgue os itens que se seguem, tendo como referência os documentos legais que regulamentam a educação.

Indisciplina na Escola: Desafio para a Escola e para a Família

O PAPEL DAS INTERAÇÕES PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

EB1/PE DE ÁGUA DE PENA

Questões Conhecimentos Pedagógicos

Para isto, a estrutura formativa proposta se organiza em três blocos: básica, específica e acompanhamento formativo.

ENTRE ESCOLA, FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SOCIEDADE, organizados na seguinte sequência: LIVRO 1 DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO NA RELAÇÃO COM A ESCOLA

Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do S ul SAERS 2016 APROPRIAÇÃO DOS RESULTADOS

Estado do Rio Grande do Sul Conselho Municipal de Educação - CME Venâncio Aires

Posicionamento: Centro de Referências em Educação Integral

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E O ENSINO DE CIÊNCIAS

FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Sem medo da indisciplina: a construção participativa da disciplina na sala de aula

REFLETINDO SOBRE AS COMPETÊNCIAS DE UM PROFESSOR

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GESTÃO EDUCACIONAL: REFLEXÕES TEÓRICO PRÁTICAS

IDENTIDADE E SABERES DOCENTES: O USO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA

Secretaria de Estado de Educação Subsecretaria de Educação Básica SEMINÁRIO DE ENCERRAMENTO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE

Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares lei /03 na Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte

02/10/2014. Educação e Diversidade. Para início de conversa. Descompasso: educação e sociedade. Tema 1: Multiculturalismo e Educação.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS RESOLUÇÃO - CEPEC Nº 1541

POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Lei Federal nº 9.795/1999

A construção da Base. Setembro. Abril de Maio de I n í c i o. elaboração. Versão 2: 9 mil Educadores. Versão 3: MEC entrega a Base ao CNE

Orientações para os primeiros dias letivos

Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACAFE Concurso Público de Ingresso no Magistério Público Estadual

OBJETIVOS DE ENSINO- APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA. Docente: Dra. Eduarda Maria Schneider

1.Perfil do Formando Avaliação Formandos

PCN - PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

Refletir e orientar educadores sobre aspectos filosóficos na prática pedagógica na escola.

PERFIL DO ALUNO CONHECIMENTOS. CAPACIDADES. ATITUDES.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Educação infantil Creche e pré escolas

Complexo de Formação de Professores Termo de Referência Versão considerada definitiva em reunião de 09/03/2018, com instituições parceiras

Prof. Dra. Eduarda Maria Schneider Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curso Ciências Biológicas Licenciatura Campus Santa Helena

LEI / 2003: NOVAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DA CULTURA AFRICANA E AFROBRASILEIRA.

Ano Lectivo 2007/08. Agrupº. Escolas Padre Vítor Melícias

CRITÉRIOS GERAIS de AVALIAÇÃO na EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

SUPERVISOR DE ENSINO

O PROEJA, A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O MUNDO DO TRABALHO

RACISMO E EDUCAÇÃO: O PAPEL DA ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE ANTIRRACISTA

ETAPA 6 ESTUDO SOBRE PROCESSOS E DOCUMENTOS CURRICULARES PARA GESTORES EDUCACIONAIS E ESCOLARES

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos Raça Orientação Educacional

A PRÁTICA PEDAGÓGICA PAUTADA NA COOPERAÇÃO

Apresentação da Proposta Político-Pedagógica do Curso e Grade de Disciplinas

PLANO DE TRABALHO DO PROFESSOR 2012/1 1- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

SUPERVISOR DE ENSINO

O que já sabemos sobre a BNCC?

temas transversais novos saberes, diferentes perspectivas

- SELEÇÃO DE DOCENTES DISCIPLINAS / FUNÇÕES - PROGRAMAS / ATIVIDADES - PERFIS DOS CANDIDATOS - NÚMEROS DE VAGAS

OS ÍNDIOS VÃO À ESCOLA: (re)pensar o multiculturalismo e (co)construir o interculturalismo

FORMAÇÃO CÍVICA E HUMANA

ANEXO 01 LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UENF SELEÇÃO DE DOCENTES DISCIPLINAS / FUNÇÕES - PROGRAMAS / ATIVIDADES - PERFIS DOS CANDIDATOS - NÚMEROS DE VAGAS

UM OLHAR SOBRE A UNIVERSIDADE BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE

Plano de Ensino Docente

EDUCAÇÃO INTERCULTURAL: LIMITES E POSSIBILIDADES NO TRABALHO DOCENTE

Tema - EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Perspectivas e Desafios à Luz da BNCC

BASE NACIONAL COMUM EM DEBATE: desafios, perspectivas e expectativas. Por: Gilvânia Nascimento Presidenta Nacional - UNCME

Inclusão Escolar. A Inclusão escolar: um fato; uma realidade!

LDB Lei de Diretrizes e Bases

ESPORTE E EDUCAÇÃO: UMA RELAÇÃO IMPRESCINDÍVEL. SURAYA CRISTINA DARIDO UNESP Rio Claro - SP Coordenadora do LETPEF

Integrada de Química. Prof. Dr. Carlos Eduardo Bonancêa

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO BARREIRO

RESOLUÇÃO CEPT-14/16, de 28 de abril de 2016.

DISCIPLINA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (FILOSOFIA) OBJETIVOS: 1º Ano

OFICINAS DE MATEMÁTICA BÁSICA: TECENDO UMA TRAMA ENTRE OUTRAS ÁREAS

Relações pedagógicas. Professor aluno. Ensino aprendizagem. Teoria e prática. Objetivo e avaliação. Conteúdo e método

Resolução CEB nº 3, de 26 de junho de Apresentado por: Luciane Pinto, Paulo Henrique Silva e Vanessa Ferreira Backes.

Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Enf. Psiquiátrica e Ciências Humanas. Profa. Karina de M. Conte

REGULAMENTO INTERNO DO NÚCLEO DE RELAÇÕES ÉTNICO- RACIAIS E DE GÊNERO- NUREG

Pro Qualitate (Pela Qualidade)

A SAÚDE COMO UM DIREITO A SER DISCUTIDO POR EDUCADORES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE

PCNs ENSINO FUNDAMENTAL 1º AO 5ºANO

ORIENTAÇÃO TÉCNICA DE MATEMÁTICA 1º Encontro Concepção do Ensino de Matemática

Querido(a) Estudante,

Diretoria de Ensino Região Centro-Oeste. 6º Seminário dos Profissionais Educadores...Semeando ideias... Valorizando práticas...

DIRETOR ESCOLAR DICIONÁRIO

DCN DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA PROF MARIA DA GRAÇA BRANCO

PLANO DE CURSO CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

DOCUMENTO PARA AS PRÉ-CONFERÊNCIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO DE RIO CLARO: BASE PARA A CONAE / 2010

Fundamentos Pedagógicos e Estrutura Geral da BNCC. BNCC: Versão 3 Brasília, 26/01/2017

Transcrição:

Orientação Educacional e Pedagógica Diversidade Cultural e Direito Educacional http://lattes.cnpq.br/4873176029168659

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICA Texto extraído integralmente do artigo O orientador educacional no Brasil 1 A orientação educacional teve origem, aproximadamente, em 1930, a partir da orientação profissional que se fazia nos EUA. No Brasil, a orientação educacional mostrou-se válida na ordenação da sociedade brasileira em mudança na década de 1940 e incluía a ajuda ao adolescente em suas escolhas profissionais. Pode-se dizer que o campo de atuação do orientador educacional era, inicialmente, apenas e tão somente focalizar o atendimento ao aluno, aos seus problemas, à sua família, aos seus desajustes escolares, pouco ou quase nada voltado à autonomia do aluno e à sua contextualização como cidadão. A orientação educacional começa a ser questionada a partir de 1980. Assim, os pressupostos teóricos começam a ser repensados e rediscutidos. O orientador começa a participar de todos os momentos da escola, discutindo questões curriculares, como objetivos, procedimentos, critérios de avaliação, metodologias de ensino, demonstrando sua preocupação com os alunos e o processo de aprendizagem. A orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas e unicamente cuidar e ajudar os alunos com problemas. Há, portanto, necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de Orientação, voltada para a construção de um cidadão comprometido com seu tempo e sua gente. O orientador educacional diferencia-se do coordenador pedagógico, do professor e do diretor. O diretor ou gestor administra a escola como um todo; o professor cuida da especificidade de sua área do conhecimento; o coordenador fornece condições para que o docente realize a sua função da maneira mais satisfatória possível; e o orientador educacional cuida da formação de seu aluno, para a escola e para a vida. Como partícipe da equipe de gestão, a orientação educacional pode se desenvolver em cinco áreas: o aluno, a escola, a família, a comunidade e a sociedade. A visão contemporânea de orientação educacional aponta para o aluno como centro da ação pedagógica, cabendo ao orientador atender a todos os alunos em suas solicitações e expectativas, não restringindo a sua atenção apenas aos alunos que apresentam problemas disciplinares ou dificuldades de aprendizagem. 1 PASCOAL, M.; HONORATO, E. C.; ALBUQUERQUE, F. A. O orientador educacional no Brasil. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 47, p.101-120, jun. 2008.

Mediador entre o aluno e o meio social, o orientador discute problemas atuais, que fazem parte do contexto sociopolítico, econômico e cultural em que vivemos. Assim, por meio da problematização, pode levar o aluno ao estabelecimento de relações e ao desenvolvimento da consciência crítica. Como membro do corpo gestor da escola, cabe ao orientador educacional participar da construção coletiva de caminhos para a criação de condições facilitadoras e desejáveis ao bom desenvolvimento do trabalho pedagógico. É um profissional que participa de todos os momentos coletivos da escola, na definição de seus rumos, na elaboração e na avaliação de sua proposta pedagógica, nas reuniões do Conselho de Classe, oferecendo subsídios para uma melhor avaliação do processo educacional. Cabe a ele integrar todos os segmentos que compõem a comunidade escolar: direção, equipe técnica, professores, alunos, funcionários e famílias, visando à construção de um espaço educativo ético e solidário. O orientador educacional é o profissional encarregado da articulação entre escola e família. Assim, cabe a ele a tarefa de contribuir para a aproximação entre as duas, planejando momentos culturais em que a família possa estar presente, junto com seus filhos, na escola. Cabe também ao orientador educacional a tarefa de servir de elo entre a situação escolar do aluno e a família, sempre visando a contribuir para que o aluno possa aprender significativamente. Compreender o modo de vida, os interesses, as aspirações, as necessidades, as conquistas da comunidade é muito importante. Só assim será possível o apoio da escola na luta da comunidade por melhores condições de vida. Neste sentido, pode-se apontar que uma das tarefas do orientador educacional é o conhecimento da comunidade e das situações que facilitam sua vida, bem como as que a dificultam. O orientador educacional é o profissional da escola que, não tendo um currículo a seguir, pode se organizar para trazer aos alunos os fatos sociais marcantes que nos envolvem, bem como propor a participação em lutas maiores. A escola não pode silenciar face às grandes questões que a mídia veicula diariamente. Discutir a corrupção, os atos de terrorismo, a violência urbana e outras situações presentes na sociedade brasileira e na mundial serão de grande utilidade para os demais componentes curriculares. Em todos os campos em que o orientador educacional atua, ele estará sempre em contato com algumas informações que precisam ser sigilosas. Isso acontece, por exemplo, quando o profissional conversa com alunos e seus familiares, momentos em que, muitas vezes, toma conhecimento de situações complexas e delicadas. O bom senso, o sigilo e o cuidado na emissão de juízos de valor podem favorecer o trabalho do orientador. A confiança na pessoa do orientador é fundamental para o êxito de seu trabalho.

A visão de orientação de que dispomos hoje deixa para trás as funções desempenhadas por esse profissional no passado e que nem sempre colaboravam com o processo educativo. Não se trata mais de apagar o fogo, como, historicamente, fazia o orientador educacional, chamado nas ocasiões em que havia problema a ser solucionado ou para abafar os casos de indisciplina. Nem inspetor de alunos, nem psicólogo. Hoje, além de conhecer o contexto socioeconômico e cultural da comunidade, bem como a realidade social mais ampla, o orientador educacional pode ser um profissional da educação encarregado de desvelar as forças e contradições presentes no cotidiano escolar e que podem interferir na aprendizagem. DIVERSIDADE CULTURAL E DIREITO EDUCACIONAL Texto extraído integralmente do artigo Educação escolar e cultura(s) 2 A problemática das relações entre escola e cultura é inerente a todo processo educativo. Não há educação que não esteja imersa na cultura da humanidade. Não se pode conceber uma experiência pedagógica desculturizada, em que a referência cultural não esteja presente. A escola é, sem dúvida, uma instituição cultural. Portanto, as relações entre escola e cultura não podem ser concebidas como entre dois polos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma teia tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados. O atual modelo escolar seleciona saberes, valores, práticas e outros referentes que considera adequados ao seu desenvolvimento. Assenta-se sobre a ideia da igualdade e do direito de todos e todas à educação e à escola. Os outros, os diferentes, mesmo quando fracassam e são excluídos, ao penetrarem no universo escolar desestabilizam sua lógica e instalam outra realidade sociocultural. Essa nova configuração das escolas se expressa em diferentes manifestações de mal-estar, em tensões e conflitos denunciados tanto por educadores como por estudantes. É o próprio horizonte utópico da escola que entra em questão: os desafios do mundo atual denunciam a fragilidade e a insuficiência dos ideais e passam a exigir e suscitar novas interrogações e buscas. A escola, nesse contexto, mais que a transmissora da cultura, da verdadeira cultura, passa a ser concebida como um espaço de cruzamento, conflitos e diálogo entre diferentes culturas. 2 MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 23, p. 156-168, maio 2003.

Em vez de preservar uma tradição monocultural, a escola está sendo chamada a lidar com a pluralidade de culturas, reconhecer os diferentes sujeitos socioculturais presentes em seu contexto, abrir espaços para a manifestação e valorização das diferenças. Uma ação docente multiculturalmente orientada, que enfrente os desafios provocados pela diversidade cultural na sociedade e nas salas de aulas, requer uma postura que supere o daltonismo cultural usualmente presente nas escolas, responsável pela desconsideração do arco-íris de culturas com que se precisa trabalhar. Uma das questões fundamentais de serem trabalhadas no cotidiano escolar, na perspectiva da promoção de uma educação atenta à diversidade cultural e à diferença, diz respeito ao combate à discriminação e ao preconceito, tão presentes na nossa sociedade e nas nossas escolas. A discriminação pode adquirir múltiplos rostos, referindo-se tanto a caráter étnico e social, como a gênero, orientação sexual, etapas da vida, regiões geográficas de origem, características físicas e relacionadas à aparência, grupos culturais específicos. Talvez seja possível afirmar que estamos imersos em uma cultura da discriminação, na qual a demarcação entre nós e os outros é uma prática social permanente que se manifesta pelo não reconhecimento dos que consideramos não somente diferentes, mas, em muitos casos, inferiores, por diferentes características e comportamentos. A escola tem um papel muito sério, inescapável, que é um espaço privilegiado de encontro com o diferente. A escola tem de ter um papel muito claro e verdadeiramente democrático, e a escola se democratiza quando ela garante os direitos e cobra os deveres de cada um e faz com que todos os alunos dali se respeitem. Preconceitos e diferentes formas de discriminação estão presentes no cotidiano escolar e precisam ser problematizados, desvelados, desnaturalizados. Caso contrário, a escola estará a serviço da reprodução de padrões de conduta reforçadores dos processos discriminadores presentes na sociedade.