ATIVIDADE LEITEIRA NA MICRO-REGIÃO DO PIQUIRIGUAÇU NO ESTADO DO PARANÁ - CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA

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Transcrição:

ATIVIDADE LEITEIRA NA MICRO-REGIÃO DO PIQUIRIGUAÇU NO ESTADO DO PARANÁ - CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA Jardel José Busarello, Luciana Oliveira de Fariña, Ronaldo Bulhões, Fabiana André Falconi Universidade Estadual do Oeste do Paraná jardel@zootecnista.com.br INTRODUÇÃO Este artigo sintetiza os principais resultados do projeto intitulado Programa de Gestão Tecnológica Empresarial da Unidade de Laticínio da Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar com Interação Solidária Campo Bonito, pertencente ao programa Universidade Sem Fronteiras (USF) Extensão Tecnológica Empresarial e resultante do convênio entre o Governo do Estado do Paraná através da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior SETI e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná Unioeste, com a parceria da Prefeitura Municipal de Campo Bonito - PR, Prefeitura Municipal de Guaraniaçu - PR, Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar de Campo Bonito COOPLAF e Cooperativa de Crédito da Agricultura Familiar com Integração Solidária Cresol. O projeto teve por objetivo geral elaborar um diagnóstico dos produtores de leite cooperados a COOPLAF de Campo Bonito, com abrangência nos municípios paranaenses de Cascavel, Catanduvas, Ibema, Campo Bonito e Guaraniaçu, ambos localizados no oeste do estado do Paraná na micro-região do Piquiriguaçu, abordando dessa maneira os diversos aspectos que envolvem a produção primária de leite. MATERIAL E MÉTODOS As análises regionais foram realizadas com os mesmos agrupamentos de regiões utilizado pela COOPLAF para a extração de uma amostra representativa e realização de pesquisa a campo. Para isso o território foi dividido em nove grupos de produtores, sendo estes responsáveis por parcela expressiva da produção leiteira nos municípios abrangentes. Para a concretização deste estudo, foram entrevistados 114 produtores de leite em um universo de 206 propriedades, amostrados em cinco municípios, entre os meses de fevereiro a dezembro de 2009. A coleta das informações, foi realizada com visitas in loco nas propriedades rurais onde foi aplicado um check list elaborado pela equipe do projeto. Todas as variáveis, sujeitas a efeito de escala, foram transformadas para percentual em relação aos municípios pesquisados. As variáveis referentes à produtividade animal e produtividade da terra foram mantidas em sua unidade padrão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização da atividade leiteira O Paraná vem apresentando um expressivo crescimento da produção leiteira, o qual, entre 1997 e 2006, foi de 71%, consolidando-se como segundo estado produtor de leite do Brasil. Esta expansão foi mais intensa nas regiões Oeste e Sudoeste do Estado, com forte crescimento do rebanho e dos níveis de produtividade (WIRBISKI et al, 2009). Na pesquisa realizada os produtores foram avaliados segundo seu porte, verificando-se que 55% (63) dos produtores possuíam produção de até 50 litros/dia sendo responsáveis por 14,7 % da produção de leite, 39% (44) dos produtores produziam entre 51-250 litros/dia representando 43,4% da produção. Sendo apenas 6% (7) produzindo acima de 251 litros/dia, respondendo por 41,8% da produção. A produtividade média diária das vacas verificada foi superior a média nacional, atingindo 10,7 litros. Porém, existe importante diferenciação conforme o porte dos produtores, variando de 5,7 litros/vaca/dia (produtores de menor tecnificação) a 18,9 litros/vaca/dia (produtores com média a alta tecnologia de produção). A quase totalidade do leite produzido pelos produtores era vendida na forma de leite cru fluído para os laticínios regionais por meio da cooperativa. A produção de subprodutos na propriedade (queijo, nata e manteiga) era reduzida e comercializada por feiras ou mercearias, em sua totalidade sem algum tipo de inspeção sanitária (municipal ou estadual). A estimativa das receitas mostrou que o leite é uma importante fonte de renda para os produtores, pois para 52% (60) deles, representava mais de 50% da renda obtida na exploração agropecuária. Quanto ao destino das receitas provenientes da atividade leiteira, observou-se que a maioria dos produtores de leite combinava sua utilização entre as despesas de manutenção da família e o reinvestimento na própria atividade. Embora a aplicação das receitas do leite na própria atividade fosse menor entre os produtores menos tecnificados. A necessidade de utilizar a renda do leite para a sobrevivência, impossibilitando reinvestimento na atividade, restringia a ampliação e a melhoria dos padrões de produção desses produtores, condicionando a expansão da atividade leiteira à obtenção de crédito, que neste contexto em sua maioria era realizada através das cooperativas de crédito regionais. A 1

maioria dos produtores de leite avaliava positivamente a atividade: 82% (93) estando satisfeitos, 88% (100) desejavam continuar e 62% (71) pretendiam realizar investimento na atividade, porém, entre os produtores com produção abaixo de 50 litros/leite/dia havia uma proporção maior de produtores sem perspectiva de investimento Perfil do produtor e de sua família assistidas pelo Projeto USF Embora se tenha conhecimento de que a produção de leite está fundamentada na utilização de mão-de-obra feminina, isto não implica que as mulheres sejam consideradas responsáveis pela gestão dos estabelecimentos onde se desenvolve a atividade. Neste sentido, verificou-se que aproximadamente 96% (109) dos responsáveis pelas propriedades leiterias abordadas na região eram do sexo masculino. Quanto à faixa etária, verificou-se que esses produtores eram relativamente mais velhos, uma vez que 58% (66) deles possuíam mais de 50 anos. Com relação ao grau de instrução, 86% (98) dos produtores possuíam apenas o ensino fundamental incompleto, reproduzindo o padrão de escolaridade da população rural do estado do Paraná. Realizando uma comparação entre a média de idade e sua baixa escolaridade, concluiu-se que a baixa escolaridade está consolidada e dificilmente sofrerá mudanças amplas sem que hajam políticas específicas e focalizadas. As famílias dos produtores de leite possuíam em média três membros residindo na mesma casa. É importante ressaltar que 33% (38) das famílias não possuíam filhos residentes na mesma moradia. Naquelas famílias que possuíam filhos residentes, a média era de dois filhos por família. Se referindo à situação de habitabilidade, observaram-se alguns avanços importantes, principalmente quando se considerava que a maioria desses produtores residia nos estabelecimentos rurais: a totalidade das residências era servida por energia elétrica, 98% (112) dispunha de pelo menos um ponto de distribuição de água e de banheiros internos, e o nível de adequação entre o número de dormitórios e membros residentes encontrava-se dentro do parâmetro de até duas pessoas por dormitório recomendado pela Organização Mundial da Saúde OMS. Existem aspectos relacionados à habitabilidade da moradia que apontaram algumas carências que merecem ser atendidas. 89% (101) dos produtores dependiam de água proveniente de fontes existentes na propriedade e havia indícios de que não era realizado o monitoramento periódico da qualidade dessa água, nem mesmo a recuperação e proteção de fontes em processo de degradação. O destino dos resíduos produzidos pelas moradias também era um problema entre os produtores, tanto em termos de saneamento quanto em relação à geração de lixo. Em sua grande maioria, 66% (75) das moradias ainda faziam uso da fossa negra e menos de 20% (23) dos produtores tinham o lixo doméstico coletado pelas prefeituras, a maioria queimava ou enterrava na propriedade. Bases da Produção Leiteira O sistema de produção de leite dos produtores nos municípios incluídos na pesquisa não fugia da realidade brasileira de produção a pasto. Verificou-se que 88% (100) dos produtores de leite eram proprietários das terras, as quais tinham área média de 26,3 hectares. Em relação à ocupação dessas áreas, verificou-se que aproximadamente 90% da área total eram utilizadas, sendo que 54% eram ocupadas por pastagem, sendo esta área média de 11,2 hectares. Embora a alimentação do rebanho estivesse baseada na pastagem, já se encontrava generalizado o uso de suplementação alimentar (silagem, feno, ração, etc.) em 72% (82) dos produtores utilizavam essa prática para alimentar o rebanho. Dentre eles, 56% (46) tomavam essa medida devido a insuficiência de pastagem 44% (36) buscavam uma maior produtividade do rebanho. O uso de suplementação alimentar aliada a pastagem ficava evidenciado quando se avaliava a produtividade desses rebanhos, onde aqueles que faziam essa combinação apresentavam maior produtividade no rebanho, 13,7 litros/vaca/dia contra 8,2 litros/vaca/dia obtidos por aqueles que não realizavam nenhum tipo de suplementação. Segundo estudo realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES, 2010), o rebanho bovino de leite do Paraná foi estimado em 2.852 mil cabeças, com média de 29 animais por produtor, nos municípios abordados neste estudo estimou-se uma média de 12 animais por produtor, a maioria desse rebanho era composto por animais mestiços, 68% (77) possuía animais com características holandesas, e 32% (37) deles possuíam animais mestiços da raça Jersey, Gir e/ou Girolando. Considerando que a alimentação com mistura de concentrados seja o principal custo de produção, a maneira de aumentar a rentabilidade do produtor estaria relacionada à utilização adequada dos recursos de baixo custo disponíveis, como a pastagem. O conceito-chave seria o pastejo em substituição aos custos com combustível, máquinas e equipamentos, utilizados no processo de colheita da forragem. O benefício imediato é de caráter econômico, com redução nos custos de produção de leite. Além disso, os investimentos em instalações, 2

especialmente aquelas destinadas ao abrigo dos animais e maquinários, são menores quando se comparam sistemas a pasto com confinamento (MATOS, 2002). Manejo Sanitário Por meio de um manejo sanitário bem conduzido realização de exames clínicos e vacinações, o produtor consegue a prevenção, o controle e até mesmo a erradicação de algumas doenças. É importante ressaltar que, além da febre aftosa, outras enfermidades, como a tuberculose, brucelose, raiva bovina, mastite e doenças parasitárias devem ser acompanhadas e tratadas (IPARDES, 2010). No referente estudo observou-se que 97% (110) dos produtores realizou a vacinação contra febre-aftosa, e 68% (77) vacinou o rebanho contra carbúnculo e brucelose. A vacinação contra a raiva-bovina foi realizada por um número menor de produtores, cerca de 18% (20). A realização de exames clínicos para detecção de doenças infecto-contagiosas ainda é pouco difundida entre os produtores abordados, sendo os exames mais realizados os relativos a brucelose e tuberculose, mesmo assim por apenas 49% (56) dos produtores. Manejo do Rebanho Alguns procedimentos básicos envolvem a atividade leiteira, tais como a reprodução controlada, a inseminação artificial, programação da primeira cobrição e do período de lactação, registros de cobertura/inseminação e do nascimento dos bezerros. A combinação entre idade e peso das novilhas para realização da primeira cobrição, embora seja a mais indicada tecnicamente (IPARDES, 2010), era realizada somente por cerca de 12% (14) dos produtores pesquisados, a maioria que controlava a cobrição considerava apenas a idade da novilha, cabe ainda mencionar um dado importante, que 49% (56) dos produtores abordados não utilizavam nenhum critério para realização da primeira cobrição. A proporção de produtores que realizavam anotações e as mantinham atualizadas com informações de reprodução, primeira cobrição, programação de parto, peso de bezerros e ou retorno ao cio nas fêmeas foi de apenas 8% (9). A reprodução dos bovinos ocorria por duas formas: a inseminação artificial e o acasalamento, este último realizado por meio de monta natural controlada ou monta natural não-controlada (Wirbiski et al, 2009). A principal forma de reprodução utilizada era a monta natural não-controlada, prática informada por 54% (62) dos produtores pesquisados, sendo sua adoção mais elevada entre os produtores pouco tecnificados, chegando a valores próximos a 69% (79). Devemos nos atentar a esses valores, pois estes dificultam o melhoramento genético e produtivo dos rebanhos. A inseminação artificial é a segunda técnica de reprodução mais utilizada nos rebanhos pesquisados, 27% (31) deles utilizavam essa técnica, e sua adoção predominava nos produtores mais tecnificados. A monta natural controlada, citada por apenas 19% (22) dos produtores. Para se ter rentabilidade na atividade leiteira, uma alta eficiência reprodutiva deve ser a principal meta dos produtores para atingir produtividade e retorno econômico. Para que se alcancem estes parâmetros, é necessário que se faça uma criação adequada das bezerras, porque essas bezerras é que vão ser as futuras reprodutoras do rebanho. Animais que têm pouco desenvolvimento, seja por alimentação inadequada ou problemas sanitários, não têm condições de expressar todo o seu potencial ao longo da vida produtiva, recomendações citadas pela EMBRAPA (2010) Manejo das Pastagens O sistema de criação de gado leiteiro a pasto era adotado, exclusivamente a pasto em muitas situações, evidenciandose a importância das pastagens bem manejadas para o sistema de produção como um todo, as práticas de piqueteamento e rotação de pastagens eram realizadas em apenas 62% (71) e 55% (63) dos produtores, respectivamente, estando mais presentes entre os produtores mais tecnificados. Práticas de Higienização A higienização é tecnicamente um procedimento aplicado ao controle que elimine ou reduza os perigos, minimizando os riscos de transmissão de agentes causadores de doenças (Silva, 1995). A higienização na ordenha era realizada pela maioria dos produtores, somente 9% (10) deles não utilizava nenhum tipo de procedimento. Entretanto, apenas 16% (18) dos produtores realizavam a higienização adequadamente e 84% (96) faziam-na de forma inadequada. Quanto à higienização pós-ordenha, apenas 22% (25) realizavam esta prática de forma eficiente e tecnicamente correta. Nas propriedades pesquisadas, os produtores utilizavam, basicamente, os recursos hídricos das propriedades, sendo que 82% (93) faziam uso de mina, fonte, córrego, rio ou açude, 13% (15) de poço comum ou artesiano e apenas 5% (6) tinham acesso a rede pública de abastecimento. Apesar de 93% (106) dos produtores 3

pesquisados considerarem a água utilizada de boa qualidade, ressalta-se o fato de que 83% (95) destes nunca realizaram análise de qualidade e 35% (40) nunca realizou sequer a desinfecção dos reservatórios nas propriedades. Benfeitorias, Máquinas e Equipamentos A infra-estrutura de qualquer propriedade destinada à produção de leite consiste em um conjunto de características próprias e únicas, cujos fatores a serem considerados devem ser avaliados de forma global e interativa, quanto a disponibilidade dos recursos produtivos: terra, capital e mão-de-obra. Este procedimento é essencial para o sucesso na atividade, quer seja ao se iniciar, reestruturar ou promover uma expansão no sistema de produção (EMBRAPA, 2005). Nas propriedades visitadas durante o projeto, 89% (101) dessas observou-se a existência de pelo menos estábulo e/ou sala para ordenha, o que significa que há ainda 11% (13) que não destinam sequer um local específico para o tratamento do rebanho e realização da ordenha. Embora a assistência técnica local orientasse para a utilização de uma sala especifica para a ordenha, apenas 26% (30) dos produtores dispunham desse espaço exclusivo, além da existência de benfeitorias apropriadas, outro fator importante que contribuía para a produtividade e a qualidade do leite era a utilização de máquinas e equipamentos de forma adequada, esses equipamentos principais eram a ordenhadeira e o resfriador. Verificaram-se duas formas de ordenha, a manual e a mecânica. A mecânica representava um importante avanço tecnológico, com expressivo aumento na produtividade do trabalho. Porém, o manuseio e a higienização inadequados da ordenhadeira mecânica geravam prejuízos em cadeia, resultando em contaminação dos animais, principalmente com mastite, na redução da produção e perda de qualidade do leite. Nas propriedades abordadas pelo projeto, 77% (88) possuíam ordenhadeira mecânica, proporção que vinha aumentando consideravelmente nos últimos anos, devido a facilidade de crédito para esta finalidade. A Instrução Normativa nº 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento (MAPA) (In 51, 2002) estabelece em suas recomendações técnicas que, após a ordenha, o leite seja filtrado, armazenado e refrigerado em temperatura inferior de 4 o C em resfriadores de expansão até ser entregue às indústrias de processamento. Os resultados sobre o local de estocagem do leite revelaram que 92% (105) dos produtores entregavam o leite resfriado para os laticínios. Deste total, a utilização de resfriador (expansão ou imersão), equipamento mais adequado para a conservação do leite, era utilizado por 72% (82) dos produtores, 22% (25) freezer comum e 6% (7) geladeira. Apoio a Produção A assistência técnica é um fator fundamental para o aprimoramento da atividade leiteira (IPARDES, 2010). Contudo, observou-se que, por razões diversas, 66% dos produtores não acessavam esse serviço. Embora não seja o único meio de acesso às informações sobre a atividade leiteira, a falta de assistência técnica reduz a probabilidade de adoção de novas práticas tecnológicas, sobretudo nas pequenas e médias propriedades. Constatou-se que aqueles produtores que tiveram acesso a esse serviço obtiveram melhores resultados em termos de produtividade e remuneração quanto à atividade. Diante esta realidade é preciso mais profissionais extensionistas voltados à produção familiar e o desenvolvimento rural, maior comprometimento de quem já atua na área, contemplando a agroecologia, a segurança alimentar e a economia solidária. O reduzido número de produtores que utilizavam o crédito rural oficial na atividade leiteira chamou a atenção, considerando-se a existência do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que disponibiliza linhas especiais de crédito dirigidas a pequenos produtores rurais que utilizam basicamente a força do trabalho familiar. Como a maioria destes produtores possuía mão de obra familiar, estes não teriam dificuldades para se enquadrar nas regras para concessão deste crédito oficial. Mesmo assim, para expressiva parte desse segmento da produção de leite não toma crédito, e justifica isto pelo receio de não poder pagar, por ter área reduzida ou por possuir recursos próprios. Quanto aos produtores que adotaram o crédito para investimento e tinha utilizado esses recursos apropriadamente e com acompanhamento técnico, principalmente para compra de animais de reprodução e novilhas, visando o melhoramento genético do rebanho, além de adquirir equipamentos essenciais para a atividade, como a ordenhadeira mecânica e resfriadores, apresentou melhor produtividade, melhor retorno na atividade e expectativa de novos investimentos no setor leiteiro. CONSIDERAÇÕES FINAIS 4

As análises realizadas permitiram identificar alguns pontos que podem dificultar o desenvolvimento do segmento leiteiro regional, como à elevada proporção de produtores com animais de raças mestiças, principalmente entre os pequenos e médios produtores. A inseminação artificial é uma alternativa viável para melhorar a qualidade do rebanho, sobretudo dos pequenos e médios produtores, pois representa um custo mais baixo do que a aquisição e manutenção de touros nas propriedades. Outra questão a ser considerada é o baixo investimento na melhoria da atividade leiteira, particularmente entre os pequenos produtores. Para a inclusão de maior número de produtores de leite aos serviços de assistência técnica oficial é preciso reforçar as condições materiais e de pessoal, mediante contratações em caráter de urgência e, principalmente, capacitação de técnicos para a área da pecuária leiteira, bem como estabelecer uma verdadeira parceria de cooperação entre estes órgãos e outros agentes que atuam no setor, como indústrias e cooperativas, para ampliar e melhorar os sistemas de assistência técnica existentes nos municípios abrangentes a este estudo. Diante este diagnóstico que abrange o sistema de produção como um todo, políticas públicas devem ser implantadas ressaltando os pontos fortes das práticas tradicionais e introduzindo novas técnicas pertinentes ao produtor visando a melhoria da produção, da rentabilidade e da valorização do homem do campo e conseqüentemente, colaborar positivamente com o desempenho competitivo da cadeia como um todo. AGRADECIMENTOS À Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior SETI e Fundação Araucária pelo apoio ao trabalho. À Prefeitura e Câmara dos Vereadores dos Municípios de Campo Bonito e Guaraniaçu. LITERATURA CONSULTADA BRASIL. Instrução Normativa nº 51, de 18 de Setembro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade de Leite Tipo A, B e C. Gestão da qualidade e tecnologia em laticínios estudos de mercados lácteos. Disponivel em: <http://www.aex.com.br>. Acesso em 15 Novembro de 2008. IPARDES. Caracterização socioeconômica da atividade leiteira do Paraná. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Disponível em: http://www.ipardes.gov.br/biblioteca/docs/sumario_executivo_atividade_leiteira_parana.pdf. Acesso em: 24/03/2010. EMBRAPA. Manejo Reprodutivo. EMBRAPA gado de leite. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/fonteshtml/leite/leitesudeste/reproducao.html. Acesso em: 24/03/20010. MATOS, L. M. Estratégias para redução do custo de produção de leite e garantia de sustentabilidade da atividade leiteira. In: SUL-LEITE SIMPÓSIO SOBRE A SUSTENTATABILIDADE DA PECUÁRIA LEITEIRA NA REGIÃO SUL DO BRASIL, 2002, Maringá, PR. Anais... Maringá: Universidade Estadual de Maringá, p.156-183, 2002. SILVA, JR., E. A. Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Alimentos. 4ª ed. São Paulo: Varela, 475p, 1995. EMBRAPA. Sistema de produção de leite com recria de novilhas em sistemas silvipastoris. EMBRAPA Gado de Leite. Disponível e: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/fonteshtml/leite/leiterecriadenovilhas/instalacoes.htm, 2005. Acesso em: 25/03/2010. WIRBISKI, S.; BAZOTTI, A.; NAZARENO, L. R.; SUGAMOSTO, M.; WOVRUK, P.; Caracterização socioeconômico da atividade leiteira do Paraná. In: SOBER 47º CONGRESSO Sociedade Brasileira de Economia Administração e Sociologia Rural. Porto Alegre, 2009. 5