DESASTRES NATURAIS E AS REDES SOCIAIS: FERRAMENTAS DE MONITORAMENTO E INTERAÇÃO COM A SOCIEDADE Dra Roberta Baldo Bacelar 1, Msc Leonardo Bacelar Lima Santos 2 1 Faculdade Anhanguera de Taubaté/Comunicação Social, Av. Charles Schenneider, 585, Taubaté, roberta.baldo@gmail.coml 2 CEMADEN-MCTI/Desenvolvimento, Rod Pres Dutra, Km 40, Cachoeira Paulista, leonardo.santos@cemaden.gov.br Resumo- O presente projeto tem como objeto de estudo as manifestações comunicacionais a respeito da ocorrência de desastres naturais como resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre uma área vulnerável, causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais, conforme estabelecido pela Defesa Civil. Por se tratar de um centro de emergente de pesquisa, ainda não existe um trabalho sistemático de relacionamento (através de redes sociais) entre as pesquisas realizadas no CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e a sociedade. O produto final desta pesquisa procurará contribuir com os estudos sobre comunicação em ambientes virtuais, mais especificamente, a comunicação de desastres naturais em mídias sociais. Palavras-chave: desastres naturais; redes sociais; monitoramento Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Introdução Por possuir um processo de atualização ágil e dinâmico, a tecnologia digital de informação e comunicação provoca uma incompreensão por parte da maioria das organizações, fazendo com que elas não consigam utilizar de maneira eficiente os novos meios para se comunicar com seus diferentes públicos de interesse. As pesquisadoras Fragoso, Recuero e Amaral (2011, p.11) expressam a atual euforia em relação às pesquisas sociais tendo o ciberespaço como tema: O cientista social de hoje se encontra diante de uma oportunidade magnífica. A internet coloca o mundo social, em todo seu desarranjo e complexidade, na soleira da sua porta. Os métodos empíricos e as teorias simplistas da metade do século vinte parecem inadequados para desatar esse nó górdio. E podem muito bem ser. Porém, isso não implica abandonar a perspectiva empírica, mas reinventar nossos processos e técnicas. Pesquisadores de diversas áreas do conhecimento têm estudado os sites de redes sociais para entender as práticas, implicações, cultura e a importância dos sites, assim como o engajamento dos usuários com eles (BOYD; ELLISON, 2008, p.211). Entender o tema comunicação digital, incluindo adjacentes como as redes sociais virtuais, mídias sociais e conteúdo gerado pelos usuários, é instigante e desafiador, pois, como afirma Terra (2010, p.2) devido à sua novidade poucas são suas referências acadêmicas, levando os pesquisadores a tomar por empréstimo conceitos da sociologia, da administração e das teoria das organizações; e claro, da própria ideia central da Comunicação Organizacional. Em menos de 25 anos, a sociedade passou da popularização do computador pessoal e do surgimento da internet para a conexão móvel por meio de notebooks, celulares de última geração (3G) e smartphones. Nem mesmo houve tempo dos gestores assimilarem a relevância de manter um site de sua instituição na Internet e já surgiram novas formas de interagir com as pessoas por meio das mídias sociais como Facebook, Orkut e Twitter, entre outros que surgem exponencialmente no ciberespaço. Segundo dados do início de 2012, o Brasil possui 245 milhões de linhas de celulares ativas e, aproximadamente, 19 milhões de smartphones. Com isto, podemos concluir que mais de 200 milhões de linhas existentes no país são aptas a enviar informações através de mensagens de celular, sem que estejam necessariamente, conectadas à internet. Metodologia A partir de uma vasta pesquisa bibliográfica e da conceitualização do tema Comunicação Organizacional compreendendo, mais especificamente, a Comunicação Organizacional Digital traçamos um panorama sobre o uso cotidiano das redes sociais, o que reconfigurou processos comunicacionais com intenções institucionais, atuando assim no que Silva 1
caracteriza como imprescindível: uma intervenção rápida. Segundo Silva (1998, p. 1) o termo desastre carrega consigo uma multiplicidade de definições e analogias, sempre referido como um sinônimo de desgraça, infortúnio e de má sorte. Este é usualmente entendido como algo de natureza ruinosa e desoladora que se traduz numa situação de emergência, para a qual é imprescindível uma intervenção imediata. Resultados Criado em 2011 e instalado na cidade de Cachoeira Paulista interior do estado de São Paulo, o CEMADEN tornou-se efetivamente operacional no dia 02 de dezembro de 2011. Trata-se, portanto, de um órgão novo, ainda em fase de estruturação e vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. É um núcleo responsável pela prevenção e gerenciamento da atuação governamental perante eventuais desastres naturais ocorridos em território nacional e, também, por gerenciar as informações emitidas por radares meteorológicos, pluviômetros e dados provenientes de previsões climáticas, repassando as informações para os órgãos competentes em todo o Brasil. Seu principal objetivo é a antecipação perante possíveis ocorrências de situações meteorológicas que possam levar a ocorrência de um desastre natural. Para Nunes (2009, p. 180), o desastre representa uma:...forte modificação, e por vezes, ruptura da funcionalidade do território. É o ápice de um processo contínuo, revelando desequilíbrio brusco e significativo entre as forças compreendidas pelo sistema natural contrariamente as forças do sistema social, o que significa que suas consequências podem estar mais relacionadas às formas como se dá a ocupação do espaço pela sociedade do que com a magnitude do fenômeno desencadeado. E para Valencio et al (2005, p. 163 e 164), um desastre pode ser definido como: A concretização do risco, isto é, uma interação deletéria entre um evento natural ou tecnológico e a organização social, que coloca em disrupção as rotinas de um dado lugar e gera elevados custos (temporais, materiais e psicossociais) de reabilitação e reconstrução. Esta leitura realizada pelos autores, nos remete mais uma vez à percepção da importância da ação / atuação da sociedade no processo de monitoramento e de emissão de alertas em pequena escala dos agentes envolvidos em uma situação de desastre natural. Para isso, a utilização das redes sociais como canal de comunicação para este grupo social é bastante eficiente e síncrona no que tange o CEMADEN, uma vez que a sala de situação está em funcionamento durante 24 horas por dia. A mídia social tem potencial para colocar as autoridades e as populações afetadas em contato direto e instantâneo de uma maneira antes impossível. A comunicação de duas vias da mídia social cria, em tempo real, uma história coesa quanto aos impactos do evento, à capacidade de recuperação de uma comunidade, e também à sua vulnerabilidade. Afinal, uma tomada de decisão efetiva em uma situação pós-desastre se fundamenta não apenas na coleta precisa de informações sobre o ambiente, mas também nas informações sobre as necessidades da população envolvida. Com o uso da tecnologia atual é possível aproveitar de maneira mais eficiente as informações disponibilizadas nas redes sociais. Como exemplo, podemos citar a parceria entre a Cruz Vermelha e a Dell, firmada em março de 2012, onde foi criado o Centro de Operações Digital. A proposta do centro é monitorar as redes sociais e prover um mecanismo para uma melhor resposta e comunicação durante a ocorrência de desastres naturais, adaptado às necessidades dis Estados Unidos. Santaella (2008, p.96) expõe que as tecnologias em comunicação se encontram em sua quinta geração. A primeira seria composta pelos meios de comunicação de massa eletromecânicos (jornal, fotografia, cinema e telégrafo). Como segunda geração viriam os eletroeletrônicos (TV e rádio). Aparelhos, dispositivos e processos de comunicação narrowcasting (ou transmissão direcionada), como TV a cabo, xerox, fax; vídeocassete e walkman, corresponderiam à terceira geração. Cibercultura, computadores pessoais ligados às redes teleinformáticas, como quarta geração. A quinta geração é a comunicação móvel (telefonia celular e computação móvel, por exemplo) que foi associada prontamente às tecnologias da quarta geração. Elementos das gerações das tecnologias comunicacionais coexistem e se complementam no século XXI. Discussão O CEMADEN não fornece informações nem gera alertas diretamente para a população. Porém, o uso das redes sociais possibilitará o acompanhamento, por parte dos técnicos do centro, de como a população está se comportando e reagindo quando um alerta é emitido. Além 2
disso, será possível monitorar alertas da própria população que esteja vivenciando um momento extremo ou uma situação de risco. Diante do impacto do uso desta ferramenta de interação social, diversos estudos acadêmicos surgiram e ainda surgem, tanto nacionais quanto internacionais. Para Ellison, Steinfield e Lampe (2007), devido à sua larga utilização e capacidade tecnológica de criar conexões on-line e off-line, as redes sociais representam um espaço fértil para pesquisadores, cujo interesse seja estudar as possibilidades oferecidas à sociedade. A presença em massa no ambiente virtual levou ao desenvolvimento de uma cultura própria multifacetada intitulada cibercultura. Trata-se da (...) forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônica que surgiram com a convergência das telecomunicações com a informática na década de 70 (LEMOS, 2003, p.12). Ela está presente por meio da utilização de celulares e smartphones, envio de e-mails, consulta a notícias em portais e sites da internet, negociações via e-commerce, transações bancárias on-line, o voto por meio da urna eletrônica, entrega de imposto de renda pela internet, entre outras atividades com base digital. A comunicação dos riscos representa um processo que deve apresentar a proposta clara de compartilhar informações relativas a um perigo ambiental, que pode ser utilizado para proteger as pessoas em situação de risco (LYNDEL & PERRY, 2004). De acordo com Manetti (2009, p.11) esta comunicação representa uma situação na qual a população tem acesso a informação e, ao mesmo tempo, apresenta um envolvimento com a prevenção. Não se trata apenas da simples transmissão da informação e sim uma relação baseada na troca de percepções e opiniões de vários atores sociais. A percepção do risco é tão importante quanto à realidade do risco; a sua aceitação é mais dependente da confiança do público no gerenciamento eficaz do risco do que em estimativas quantitativas. Quanto à conceituação, Monteiro (2009, p.130) afirma que: Resumidamente, pode-se afirmar que são encontradas duas abordagens para a expressão. No sentido mais amplo, ela se refere a qualquer comunicação pública ou privada para trocar informações e opiniões com os indivíduos sobre a existência, a natureza, a forma, a gravidade ou a aceitabilidade dos riscos. No sentido mais restrito, ela focaliza uma transferência intencional de informações de especialistas para não especialistas, com vistas a responder às preocupações ou necessidades do público leigo quanto a um determinado perigo real ou percebido. Di Giulio et al (2010, p.338) afirma que: Nos últimos anos, a comunicação de risco tem despertado interesse de pesquisadores e de órgãos do governo, que reconhecem, frente à complexidade e às incertezas científicas, a necessidade de se estabelecer um diálogo entre aqueles que avaliam e gerenciam o risco e aquelas pessoas que de fato o vivenciam e de compreender que as controvérsias sociotécnicas, comuns em situações de risco, devem ser vistas como oportunidades para explorar alternativas possíveis e que o interesse coletivo é produto de negociações, conflitos sociais e alianças. Em outra obra sua, Di Giulio et al (2006, p.2) sinaliza que: Conclusão Ainda pouco debatida no Brasil, diferentemente do que ocorre em outros países, a comunicação de risco envolve um diálogo entre pesquisadores, autoridades, moradores, organizações não-governamentais e demais atores sociais e é definida como um processo de comunicação responsável e efetiva sobre os fatores de risco associados às tecnologias industriais, aos perigos naturais e às atividades humanas. O presente projeto está em fase de implantação no CEMADEN, e deverá se estender por mais dois anos. Desta forma, as conclusões a seguir são preliminares e frutos de uma primeira impressão a partir da pesquisa exploratória. Sabe-se que hoje as redes sociais são presença marcante na vida da sociedade. Que elas aproximam pessoas e facilitam o tráfego das informações entre pontos distantes do país. O uso desta tecnologia no campo do desastre natural ainda é incipiente e deve ser aprimorada e estudada a fundo para que se alcancem resultados satisfatórios. Os autores são gratos ao Dr. Carlos Frederico Angelis, diretor de operações e modelagem do CEMADEN, pelas valiosas discussões sobre o tema. Referências ANATEL. Em janeiro, telefonia móvel alcança 245,2 milhões de linhas ativas. Portal Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações. <http://www.anatel.gov.br/portal/exibirportalnotícia 3
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