PROVAS ESPECIALMENTE ADEQUADAS DESTINADAS A AVALIAR A CAPACIDADE PARA A FREQUÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR PARA MAIORES DE 23 ANOS Centro de Competências de Artes e Humanidades PROVA DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS PORTUGUÊS/LITERATURA 12 de Junho de 2012 Duração: 120 minutos
PROVAS ESPECIALMENTE ADEQUADAS DESTINADAS A AVALIAR A CAPACIDADE PARA A FREQUÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR PARA MAIORES DE 23 ANOS Centro de Competências de Artes e Humanidades PROVA DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS PORTUGUÊS/LITERATURA 12 de Junho de 2012 Duração: 120 minutos GRUPO I Leia atentamente o poema abaixo transcrito e responda às questões que se lhe seguem: DE TARDE Naquele pique-nique de burguesas, Houve uma coisa simplesmente bela, E que, sem ter história nem grandezas, Em todo o caso dava uma aguarela. Foi quando tu, descendo do burrico, Foste colher, sem imposturas tolas, A um granzoal azul de grão-de-bico Um ramalhete rubro de papoulas. Pouco depois, em cima duns penhascos, Nós acampámos, inda o Sol se via; E houve talhadas de melão, damascos, E pão-de-ló molhado em malvasia. Mas, todo púrpuro a sair da renda Dos teus dois seios como duas rolas, Era o supremo encanto da merenda O ramalhete rubro das papoulas! Cesário Verde (1855-1886) Apresente uma leitura interpretativa deste soneto, recorrendo a exemplos do texto sempre que achar pertinente. Explique a dimensão pictórica e cinematográfica do poema, apresentando exemplos justificativos. Identifique e comente a presença de elementos sinestésicos ao longo do poema. Identifique três modos de adjectivação presentes no poema, apresentando um exemplo para cada um deles. Comente a relação do lirismo deste soneto com a narratividade nele presente.
GRUPO II Resuma o excerto abaixo transcrito, construindo, para tal, um texto bem estruturado, com discurso lógico mas sintético, que foque a ideias principais nele expressas: O romance A Cidade e as Serras, publicado em 1901, no ano seguinte ao da morte de Eça de Queirós, é um desenvolvimento do seu conto "Civilização", datado de 1892. Uma personagem, José ("Zé") Fernandes, relata a história do protagonista Jacinto de Tormes. É um romance denso, belo, ao longo do qual o autor ironiza e critica ferrenhamente os males da civilização, fazendo elogio dos valores da natureza. Jacinto de Tormes, um ferrenho adepto do progresso e da civilização, troca o mundo parisiense e civilizado, repleto de comodidades provenientes do progresso tecnológico, pelo mundo natural, selvagem, primitivo e pouco confortável da vida aldeã de Tormes, em Portugal. A Cidade e as Serras preconiza e defende uma relação entre as elites e as classes subalternas na qual aquelas promovessem estas socialmente, tal como faz Jacinto, ao abandonar o estilo de vida afrancesado e desprovido de autenticidade que enaltece o progresso urbano e industrial, para voltar a Portugal e reformar a sua propriedade no campo, melhorando as condições de vida dos trabalhadores. Assim, pode-se afirmar que depois da tese (a hipervalorização da civilização) e da antítese (a hipervalorização da natureza), o protagonista busca a síntese, ou seja, o equilíbrio, que vem da racionalização e da modernização da vida no campo. Concluindo, Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade, empreendeu uma viagem circular que o fez reencontrar-se consigo mesmo e com o seu país. Tal viagem, que concomitantemente é exterior e interior, abarca a pátria portuguesa, reveste-se de uma significação particular, pois pode ser lida como um duplo processo de autoconhecimento: um novo Portugal e um novo português percebe a simultânea necessidade do desenvolvimento das serras e da utilização moderada da modernidade civilizacional na cidade. (A Cidade e as Serras - wikipedia - adaptação) GRUPO III Explique e desenvolva as afirmações do texto, complementando-as com argumentos e conhecimentos decorrentes da sua leitura e estudo da lírica de Luís de Camões: «Camões é um clássico que fascinou desde o Romantismo [...] até hoje leitores e escritores da esquerda e da direita, progressistas e conservadores monárquicos e republicanos, católicos e não católicos, desde Garrett a Torga, Régio, Sena e Manuel Alegre, passando por Eça, Cesário Verde, Oliveira Martins, Teófilo Braga, Teixeira de Pascoais e tantos outros. Não é possível pensar e sentir Portugal nas suas grandezas e nas suas misérias sem o canto épico de Camões como não é possível pensar e sentir o mundo e na vida como Sião e como Babilónia sem o canto lírico de Camões. Daí a relevância que têm no Dicionário os verbetes relativos à receção de Camões nos diversos períodos literários. Cada tempo histórico tem lido Camões a partir do seu horizonte cultural antropológico, estético e literário.» Aguiar e Silva, em entrevista ao «JL»19.10.2011, aquando da saída do Dicionário Luís de Camões.
Cotações Grupo I - 75 pontos 20 pontos (conteúdo 15 pts. / organização e correcção linguística 5 pts.) 20 pontos (conteúdo 15 pts. / organização e correcção linguística 5 pts.) 15 pontos (conteúdo 10 pts. / organização e correcção linguística 5 pts.) 10 pontos (conteúdo 9 pts. / organização e correcção linguística 1 pt.) 10 pontos (conteúdo 9 pts. / organização e correcção linguística 1 pt.) Grupo II - 55 pontos Conteúdo 30 pts. Organização e correcção linguística 25 pts. Grupo III - 70 pontos Conteúdo 45 pts. Organização e correcção linguística 25 pts. TOTAL - 200 pontos
Linhas de correcção da Prova de Português/Literatura para maiores de 23 anos Grupo I. Quadro bucólico de um pique-nique, com destaque para a singela beleza feminina. Relação de comunhão/oposição entre o elemento humano citadino e a natureza campestre. Exemplificação da dimensão pictórica expressa na possibilidade da aguarela dava uma aguarela : formas, cores e sua individuação. Exemplificação da dimensão cinematográfica: focalização e sequência de planos e acções. Pequenos prazeres do olhar e do paladar, comprovados com exemplos do texto. Adjectivação simples: granzoal azul (adjectivo posposto); Supremo encanto (adjectivo anteposto). Todo púrpuro intensificação do adjectivo, conseguida à custa do quantificador universal todo. Quanto ao modelo lírico, o poema apresenta formalmente quatro quadras decassilábicas, com rima consoante e cruzada. O desenvolvimento da temática, articulando cenas sequenciais acompanhadas de descrições, confere ao poema lírico a insinuação de um esboço de narrativa. Grupo II Génese de A Cidade e as Serras Breve síntese do enredo. Referência à oposição entre os valores da civilização e da Natureza. Simbologia e/ou moral a retirar do romance. Grupo III Desenvolver o texto a partir da explicitação de três frases-chave: 1) «Camões é um clássico que fascinou desde o Romantismo [...] até hoje leitores e escritores [ ]» 2) «Não é possível pensar e sentir Portugal nas suas grandezas e nas suas misérias sem o canto épico [ ]sem o canto lírico de Camões.» 3) «receção de Camões nos diversos períodos literários [ ]» ou. Cada tempo histórico tem lido Camões a partir do seu horizonte cultural antropológico, estético e literário.»