Centro de Competências de Artes e Humanidades PORTUGUÊS/LITERATURA ~

Transcrição

1 PROVAS ESPECIALMENTE ADEQUADAS DESTINADAS A AVALIAR A CAPACIDADE PARA A FREQUÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR PARA MAIORES DE 23 ANOS Centro de Competências de Artes e Humanidades PROVA DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS PORTUGUÊS/LITERATURA ~ 13 de Junho de 2011 Duração: 120 minutos

2 PROVAS ESPECIALMENTE ADEQUADAS DESTINADAS A AVALIAR A CAPACIDADE PARA A FREQUÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR PARA MAIORES DE 23 ANOS Centro de Competências de Artes e Humanidades PROVA DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS PORTUGUÊS/LITERATURA 13 de Junho de 2011 Duração: 120 minutos GRUPO I Leia atentamente o soneto abaixo transcrito e responda às questões que se lhe seguem: Aquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e de piedade, enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrada. Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu apartar-se de ũa outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada. Ela só viu as lágrimas em fio que, duns e doutros olhos derivadas, se acrescentaram em grande e largo rio. Ela viu as palavras magoadas que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso às almas condenadas. Luís de Camões. Lírica 1. Apresente uma leitura interpretativa deste soneto, recorrendo a exemplos do texto sempre que achar pertinente. 2. Explique a relação da redundância do pronome «ela» com o desejo / voto enunciado na primeira estrofe. 3. Esclareça a antítese que configura o 1º verso («Aquela triste e leda madrugada») e relacione-a com a carga amorosa patética que atravessa todo o soneto 4. Enumere os adjectivos que, ao longo do soneto, caracterizam a «madrugada» e indique qual a figura de estilo que a humaniza. 5. Comente a relação do lirismo deste soneto com a narratividade nele presente.

3 GRUPO II Resuma o excerto abaixo transcrito, construindo, para tal, um texto bem estruturado mas sintético, que foque a ideias principais nele expressas: «O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.» Assim são resumidas, pelo amigo Zé Fernandes, as origens do supercivilizado Jacinto, o Príncipe da Grã-Ventura, o habitante do nº 202 dos Campos Elíseos, no coração da Civilização essa Paris toda feita de luz, progresso e conforto. Mas «o meu Príncipe», como lhe chama Zé Fernandes, aborrecese, tocado por essa doença de final do século XIX própria de quem tudo tem: o spleen. Jacinto não encontra nada de novo debaixo do céu da grande metrópole, perde o apetite, a paixão, a cor do rosto e a vontade de viver. Quando notícias vindas de Tormes, onde se situa o tal «palácio» da região duriense, o levam a decidir, num enlevo algo romântico, regressar às origens para reconstruir a casa de família e prestar homenagem aos antepassados, o regresso é preparado meticulosamente, e com todos os requintes que a Civilização permite Mas estarão as serras durienses preparadas para tanto? E estará Jacinto preparado para a simplicidade que aí vai encontrar? Entre Paris e a região do Douro, A Cidade e as Serras é a mais deliciosa e divertida busca da felicidade de toda a literatura portuguesa e a obra que, como aponta Rui Zink no Prefácio a esta edição, remata com uma candura e uma ternura tão conscientes quanto pouco habituais, a obra romanesca de Eça de Queirós. GRUPO III Explique e desenvolva as afirmações do texto, complementando-as com argumentos e conhecimentos decorrentes da sua leitura e estudo da obra de Cesário Verde: «Cesário Verde é o único poeta, tido como realista, que consegue superar, de facto, a herança romântica. Em poemas como De Tarde, Nós, Contrariedades, Cristalizações, Sentimento de um Ocidental, não se nos deparam os vagos operários e prostitutas do progressismo verboso de certos contemporâneos, nem o oco pessoalismo ultra-romântico. Ele é o poeta cuja neurastenia se retrata e ironiza num quadro real, à vista do drama concreto dos vizinhos; que, perceptivelmente, deambula e namora em Lisboa, ou examina o campo com o olhar objectivo do administrador rural.» A. J. Saraiva. História da Literatura Portuguesa

4 Cotações Grupo I - 75 pontos pontos (conteúdo 15 pts. / organização e correcção linguística 5 pts.) pontos (conteúdo 10 pts. / organização e correcção linguística 5 pts.) pontos (conteúdo 10 pts. / organização e correcção linguística 5 pts.) pontos (conteúdo 9 pts. / organização e correcção linguística 1 pt.) pontos (conteúdo 10 pts. / organização e correcção linguística 5 pt.) Grupo II - 55 pontos Conteúdo 30 pts. Organização e correcção linguística 25 pts. Grupo III - 70 pontos Conteúdo 45 pts. Organização e correcção linguística 25 pts. TOTAL pontos

5 Linhas de correcção da Prova de Português/Literatura para maiores de 23 anos GRUPO 1 1. Detecção de um cenário personificado que funciona como testemunha da separação entre dois amantes. Fundamentação e exemplificação. 2. Relação do pronome ela com a madrugada, única testemunha da separação solitária dos amantes e da tensão disfórica amorosa e explicação da redundância como ênfase. 3. Madrugada triste porque nela se projecta a dor do sujeito e leda por essa ser a essência constitutiva desse cenário. Fundamentação e exemplificação. 4. Adjectivos: Triste, leda, amena, marchetada. A figura de estilo que a humaniza : personificação. 5. O lirismo caracteriza-se pela presença de um sujeito do enunciado poético, que assume sentimentos íntimos; neste poema há uma descrição de cena (personagens, cenário, acção) que aponta para a narratividade do contar de uma história. Grupo II O resumo deve referir sucintamente a relação entre Jacinto e Zé Fernandes e caracterizá-los através de elementos opositivos mas que não impedem a amizade. Deverão ser mencionadas as dúvidas de Zé Fernandes quanto ao desejo de mudança de Jacinto. Grupo III Explicar as razões pelas quais o realismo (por vezes quase naturalista) de Cesário Verde supera as poucas características de romantismo presentes na sua obra. Relacionar a explicação anterior com o conteúdo dos poemas mencionados no texto. Explicar e desenvolver a última frase, mencionando a força crítica, realista, e a ironia com que retrata a realidade quotidiana, material e humana, que o circunda em Lisboa; opor as suas descrições telúricas ou poéticas do campo.