PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS AUDITORIA MILITAR ESTADUAL

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Transcrição:

fls. 356 Autos n :0614341-06.2014.8.04.0001 Mandado de Segurança Impetrantes: Ivan Coutinho Vieira Eliezer Braga Coelho Impetrado: Comandante Geral da Polícia Militar do Amazonas. Parte passiva: Estado do Amazonas. Vistos, etc. Trata-se de mandado de segurança com pedido de liminar impetrado por IVAN COUTINHO VIEIRA e ELIEZER BRAGA COELHO, qualificados na inicial, contra ato do Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado do Amazonas. Segundo os autores, foram demitidos após processo administrativo disciplinar militar, oriundo da Portaria n 03/10/2010/SIND/DISC/DJD-PMAM, que não observou as formalidades legais, sendo nulos os atos praticados. Os impetrantes alegaram, ainda, que a autoridade coatora precipitou-se, pois em nenhum momento foi respeitado o princípio do contraditório e da ampla a defesa, deixando-se de dar oportunidade de apresentação de defesa prévia e das razões finais de defesa. Ademais, as testemunhas arroladas pelos requerentes não foram ouvidas na sindicância, nem foram atendidas as diligências requisitadas. Citando jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, tacharam o ato administrativo de nulo de pleno direito, sendo desproporcional o ato administrativo quanto o suposto dano causado à Corporação, não se tratando de caso de exclusão a bem da disciplina. Pediu liminar, alegando o fumus boni iuris, pela violação do direito líquido e certo dos impetrantes, ante o ato inquinado de vício insanável, e o periculum in mora, pelo fato de os requerentes de estarem sem condições de prover o próprio sustento e de suas famílias, representando o ato uma exclusão social, com prejuízo a imagem dos requerentes e impossibilitando-os de laborar em outra

fls. 357 atividade. Por fim, pediram a reintegração ao cargo com o pagamento de todos os vencimentos e vantagens a que fazem jus, a partir da distribuição do presente mandado, bem como o deferimento de concessão dos benefícios da justiça gratuita. Com a inicial, juntou cópias de documentos pessoais e da sindicância disciplinar militar (fls. 15/165). O Estado do Amazonas aduziu preliminar de impossibilidade jurídica do pedido, por não poder o Judiciário adentrar no mérito do Administrador, no que são uníssonos os tribunais pátrios, com base na harmonia e independência entre os Poderes. Sendo o ato de exclusão e demissão de servidor em regular procedimento administrativo ato de mérito, configura-se a carência da ação quando não haja qualquer ilegalidade naquele procedimento, o que leva à extinção do processo sem resolução do mérito, com base no artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil. No mérito, expôs que houve observância aos principios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal quando do procedimento administrativo disciplinar que resultou na exclusão dos impetrantes, sendo inconsistentes as alegações constantes da inicial, por haver sido dada oportunidade de manifestação naqueles autos aos autores, inclusive se lhes propiciou a apresentação de razões finais. Ademais, argumentou que a pena aplicada foi proporcional e razoável, não sendo possível ao Judiciário adentrar nesse mérito. Os impetrantes foram licenciados a bem da disciplina por haverem, em 16 de agosto de 2013, abandonado o posto de serviço sem ordem superior e permitido que comunitários adentrassem e fotografassem a viatura que dirigiam, colocando em risco a segurança da coletividade e denegrindo a imagem da Corporação, uma vez que as imagens foram publicadas em rede sociais, com repercussão pejorativa. Expondo sobre o dever-poder de apurar a falta disciplinar que tem a autoridade administrativa, aduziu que a exclusão se deu por infringência aos

fls. 358 dispositivos estatutários dos policiais militares do Estado do Amazonas, pois o individuo que ingressa nas instituições policiais deve observar, além dos deveres comuns aos servidores públicos, normas específicas contidas nos estatutos, observando os princípio de hierarquia e disciplina e preceitos éticos, que não são compatíveis com ações que maculem a honra do policial e da instituição. Por fim, se não acolhida a preliminar, requereu a denegação da segurança. Às fls. 187 a 340, a autoridade tida como coatora enviou ofício, encaminhando cópias de documentos anexos e referentes a sindicância disciplinar militar. Aberta vista ao Ministério Público, emitiu parecer, referindo-se à tempestividade do mandado de segurança e à existência de irregularidade na sindicância administrativa disciplinar, com falta de vista para a defesa preliminar, inquirição de apenas uma testemunha, ausência de defesa técnica e supressão de fase do procedimento e das razões finais pelo impetrante Ivan Coutinho Vieira. Afirmando que o licenciamento a bem da disciplina dos impetrantes não foi precedido de regular processo administrativo, com inobservância do contraditório e da ampla defesa, opinou pelo reconhecimento da nulidade absoluta do ato impugnado (fls. 344/354). Conclusos para sentença. É o relatório. Segundo o artigo 125, 4º, da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei, e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, em se tratando de pena acessória relativa a crimes militares, razão pela qual me julgo absolutamente competente para atuar na presente ação, cujo escopo é o de obter declaração de nulidade de procedimento administrativo sob a alegação de

fls. 359 inobservância das formalidades legais, resultando na exclusão do requerente das fileiras da Polícia Militar do Amazonas, o que significa avaliar a legalidade de ato disciplinar militar. Nenhuma razão assiste à Procuradoria-Geral do Estado do Amazonas ao arguir a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido, por considerar que a parte autora almeja que o Poder Judiciário adentre na discricionariedade do administrador. Não se afirme que seria impossível a declaração de nulidade do ato administrativo em questão pelo Poder Judiciário, haja vista que a jurisprudência dos tribunais superiores tem conferido maior amplitude ao controle jurisdicional dos atos discricionários, sendo possível a análise da regularidade e da legalidade do ato administrativo, bem como da proporcionalidade da atuação do Estado com a conduta praticada. A autoridade administrativa há de se ater, em seus atos, às formalidades e princípios legais, que norteiam os procedimentos disciplinares, inclusive, de modo que não age apenas pela discricionariedade, pois até mesmo esta se subordina à possibilidade no âmbito da lei, tornando-se arbitrariedade se indiferente a regularidade do processo administrativo. Não se pode falar em pedido juridicamente impossível a análise das formalidades legais pelo Poder Judiciário. Quando se vicia o procedimento administrativo não há mais parâmetro para a discricionariedade e ilegal será toda decisão administrativa consequente ao procedimento. Aqui o Juiz não adentra o poder discricionário da Administração, mas é óbvio que, se o mérito for obtido com base na inobservância de formalidades, será também ilegal a fundamentação emanada. Se os princípios básicos do regime militar são a hierarquia e a disciplina, escorreito e rigoroso há de ser o procedimento administrativo que visa decidir sobre a permanência do militar na Corporação. Se há ilegalidade ou não, isso constitui o mérito da ação e cabe ao Poder Judiciário solucionar a demanda em tal sentido. Juridicamente, pois, o pedido é possível.

fls. 360 Percebo que o processo administrativo disciplinar não foi conduzido de forma regular, no tocante ao procedimento de uma sindicância administrativa disciplinar. Aqui não se trata de adentrar no mérito da decisão do Comandante Geral, mas de nulidade que a precede. Em qualquer procedimento administrativo disciplinar, os princípios do contraditório e da ampla defesa são fundamentais, a ponto de obstarem qualquer punição (art. 73, 1º, da Lei Estadual nº 3.278 de 21 de julho de 2008) e nem poderia ser diferente, porque se trata de previsão constitucional (art. 5º, LV, da Constituição Federal). Ainda que o procedimento seja simplificado, não se deve perder de vista a finalidade da sindicância administrativa disciplinar, que é procedimento para aplicar penalidade de advertência ou de suspensão de até trinta dias. Não obstante, hão de ser refutadas as afirmações de que testemunhas não foram ouvidas e que se prescindiu de defesa técnica, até porque as peças juntadas comprovam que tais atos foram praticados, ainda que esparsamente, pelo que cito as peças de fls. 93/94 e 95/96, bem como a ausência de defensor não anularia o procedimento, exceto se não fosse propiciada tal oportunidade ao sindicado, o que se dessume sempre das notificações de apresentação. Ainda assim, existe uma fase que não pode ser suprimida e que constitui extrema violação ao direito de defesa. Quando o encarregado, passada a instrução, não propiciou a apresentação de defesa aos sindicados, fulminou de nulidade o processo administrativo, mesmo que simplório, pois oferecer razões finais é oportunidade que não pode ser omitida, exatamente porque os princípios do contraditório e da ampla defesa a exigem. O que aconteceu nos autos, à vista da prova documental a eles carreadas, é a supressão dessa fase, com a passagem direta para o relatório e conclusão. Então, acerca da desproporcionalidade e da falta de razoabilidade do ato atacado não se faz questionamento, embora seja esse o lastro do pedido, mas à violação dos princípios constitucionais, o que se coaduna com o que quer a defesa, a anulação do ato de licenciamento e a consequente

fls. 361 reintegração. Existem princípios e regras que devem ser observados na condução de procedimentos administrativos disciplinares, o que a própria Lei Estadual nº 3.278/2008 guarnece, inclusive esmiuçando o procedimento, desde a instauração até o relatório. Nesse âmbito, ocorre a fase da defesa, prevista nos artigos 106 a 108, e que se faz após a instrução, o que não foi observado no presente caso, pelo que se ressalva que, em se tratando de sindicância, o prazo mais reduzido não pode ser dispensado, porque a sindicância disciplinar militar segue o rito do processo administrativo disciplinar (artigo 72 da mesma lei). Sendo o ato administrativo violador do direito líquido e certo dos impetrantes, consequência de procedimento administrativo disciplinar irregular, que não observou as formalidades legais, há de ser reputado como anulável, sendo, decerto, possível a retomada do procedimento administrativo cabível, com vista à aplicação do licenciamento a bem da disciplina, para o que não se presta a sindicância administrativa disciplinar. EMENTA: Mandado de Segurança. Servidora Pública Municipal objetivando a anulação de penalidade de advertência que lhe foi imposta. Admissibilidade. Hipótese em que não foram observados os princípios constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. Testemunha inquirida sem que a sindicada ou sua advogada tivessem sido intimadas. Recurso provido para conceder a segurança. (TJ-SP, Relator: Aroldo Viotti, Data de Julgamento: 09/09/2014, 11ª Câmara de Direito Público). EMENTA: POLICIAL MILITAR. PRAÇA. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. LICENCIAMENTO EX OFFICIO, A BEM DA DISCIPLINA. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA, PELO PODER PÚBLICO, DA GARANTIA DO DUE PROCESS OF LAW. NULIDADE DO ATO PUNITIVO QUE NÃO RESPEITOU ESSA GARANTIA CONSTITUCIONAL. RECURSO PROVIDO. - O Estado, em tema de punições de índole disciplinar, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de sua atividade censória, o postulado da

fls. 362 plenitude de defesa. O reconhecimento da legitimidade ético-jurídica de qualquer sanção punitiva imposta pelo Poder Público exige, ainda que se cuide de procedimento meramente administrativo (CF, art. 5º, LV), a fiel observância da garantia constitucional do due process of law. Doutrina. Precedentes. - A praça da Polícia Militar, ainda que não disponha de estabilidade, não pode sofrer desligamento de sua corporação, a bem do serviço público, a não ser que o Estado, na imposição dessa punição disciplinar (licenciamento ex officio), tenha efetivamente respeitado as garantias do contraditório e da plenitude de defesa, asseguradas, aos servidores públicos em geral, pelo art. 5º, LV, da Constituição da República, eis que esse preceito constitucional, para o fim referido, não estabelece qualquer distinção entre servidores civis e servidores militares. Precedentes (STF - AI 315.538, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 4.5.2005). EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL NÃO ESTÁVEL. EVENTUAL DEMISSÃO. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. 1. Garantia do contraditório e da ampla defesa em eventual demissão de servidor público pela Administração, mesmo que de cargo não efetivo. Precedentes. 2. A decisão agravada reconheceu que o acórdão recorrido decidiu conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal. RE 244.544-AgR/MG, 2ª Turma, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 21.06.2002, dentre outros. 3. Agravo regimental ao qual se nega provimento (STF - RE 491.724-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe 19.12.2008). EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MILITAR. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. LICENCIAMENTO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. A jurisprudência desta Corte tem se fixado no sentido de que a ausência de processo administrativo ou a inobservância aos princípios do contraditório e da ampla defesa

fls. 363 tornam nulo o ato de demissão de servidor público, seja ele civil ou militar, estável ou não. Agravo regimental a que se nega provimento (STF - RE 513.585-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe 1º.8.2008). Pelo exposto, concedo a presente segurança, acolhendo o pedido de anulação do ato administrativo, que licenciou a bem da disciplina os policiais militares IVAN COUTINHO VIEIRA e ELIEZER BRAGA COELHO, em decorrência da falta de formalidades legais na sindicância disciplinar militar, bem como determinando, subsequentemente, a reintegração dos impetrantes aos quadros da Corporação, incidindo o pagamento de vencimentos e vantagens a partir da data da impetração, tal como dispõe o art. 14, 4º, da Lei 12.016/2009. Com base no art. 14, 1º, da Lei 12.016/2009, determino a remessa dos presentes autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas. À falta de previsão, sem custas. P. R. I Manaus-AM, 16 de junho de 2015. ALCIDES CARVALHO VIEIRA FILHO Juiz de Direito do Juízo Militar