O Ministério Público opinou pela denegação de segurança.

Transcrição

1 SENTENÇA-A 2014 TIPO A MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL PROCESSO: IMPETRANTE: PAULO SOUZA LOBATO IMPETRADO: PRESIDENTE DA COMISSAO ESPECIAL INTERMINISTERIAL - CEI Trata-se de Mandado de Segurança, com pedido liminar, impetrado por PAULO SOUZA LOBATO contra ato atribuído ao PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL INTERMINISTERIAL (CEI) - MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, objetivando o(s) impetrante(s) que a autoridade impetrada examine o seu requerimentos de anistia política, afastando o prazo estabelecido pelos Decretos n 5.115/2004 e n 5.212/2004, por reputar ilegal e desarrazoada a publicação dos atos relativamente à revisão de anistia exclusivamente no Diário Oficial da União. O pedido liminar foi deferido. Foram prestadas as informações. O Ministério Público opinou pela denegação de segurança. É o relatório. O Autor sustenta na peça de ingresso que protocolizou requerimento de revisão de sua anistia nos termos dos Decretos 5.115/2004 e 5.215/2004, sendo seu processo analisado e indeferido, ao argumento de ser este intempestivo. Dispõe o art. 2º, inciso I, do Decreto nº 5.115, de , que Pág. 1/7

2 instituiu a Comissão Especial Interministerial (CEI) de revisão dos atos administrativos praticados pelas comissões criadas pelos Decretos nº e nº 1.499, de , e nº 3.363, de , referentes a processos de Anistia de que trata a Lei nº 8.878, de , in verbis: Art. 2 o Cabe à CEI: I - analisar os requerimentos, desde que formulados até 30 de novembro de 2004, e considerar em relação aos atos administrativos referidos no art. 1 o os seguintes aspectos: a) a incidência da decadência prevista no art. 54 da Lei n o 9.784, de 1999; e b) a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa; Já, a Lei nº 9.784, de , que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, estabelece a forma de intimação do interessado no processo administrativo, nos seguintes termos: Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo administrativo determinará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a efetivação de diligências. (...) 3 o A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado. 4 o No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por meio de publicação oficial. 5 o As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade. Pág. 2/7

3 Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo administrado. Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garantido direito de ampla defesa ao interessado. Da leitura dos dispositivos acima transcritos, depreende-se que é garantido aos interessados no processo administrativo o direito de ampla defesa, bem como que deve ser utilizado meio que assegure a certeza da ciência do interessado, e, ainda, que serão consideradas nulas as intimações quando feitas sem observância das prescrições legais. No caso em exame, houve apenas a intimação do interessado por meio da publicação do Decreto no Diário Oficial da União para apresentar requerimento para revisão de sua Anistia, o que revela ausência de atendimento às regras expressamente previstas na Lei nº 9.784/1999, e ofensa aos princípios constitucionais que asseguram o direito ao devido processo legal e à ampla defesa (art. 5 o, incisos LIV e LV CF/88). Sobre o tema, confira-se a jurisprudência do TRF da 1ª Região: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REVISÃO DE ANISTIA. DECRETO PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DE REQUERIMENTO. PUBLICAÇÃO NO DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. ILEGALIDADE POR VÍCIO DE FORMA. APELAÇÃO PROVIDA. 1. O Decreto 5.115, de 24 de junho de 2004, que instituiu a Comissão Pág. 3/7

4 Especial Interministerial (CEI) de revisão dos atos administrativos praticados pelas comissões criadas pelos Decretos e 1.499, de 24 de maio de 1995, e 3.363, de 11 de fevereiro de 2000, referentes a processos de anistia de que trata a Lei 8.878, de 11 de maio de 1994, dispõe em seu art. 2o que cabe à CEI analisar os requerimentos de revisão, desde que formulados até 30 de novembro de Nos termos do 3o, 4o e 5o do art. 26 da Lei 9.784/99, a intimação do interessado em processo administrativo por meio de publicação no Diário Oficial da União não se mostra eficaz para sua defesa, porque não assegura a observação dos princípios do devido processo legal e da ampla defesa. 3. In casu, resta explícita a inobservância aos princípios constitucionais que asseguram o direito ao devido processo legal e à ampla defesa (art. 5o, LIV e LV CF/88), na medida em que, além de desatender a forma expressa em lei, a intimação pela só publicação no Diário Oficial da União, cerceou o direito do impetrante de ter conhecido e analisado seu requerimento de revisão de sua anistia. 4. Apelação a que se dá provimento. (AC /DF, Rel. Desembargador Federal Kassio Nunes Marques, Primeira Seção,e-DJF1 p.306 de 30/09/2011) ADMINISTRATIVO - REVISÃO DE ANISTIA FUNDADA NA LEI Nº 8.878/94 - INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL E AMPLA DEFESA - PRAZO DE 10 DIAS - INTIMAÇÃO DA DECISÃO ADMINISTRATIVA PELO DIÁRIO OFICIAL - REQUERIMENTO INTERPOSTO FORA DO PRAZO - ILEGALIDADE POR VÍCIO DE FORMA - LEI 9.784/99 ART 26 - INTIMAÇÃO ANULADA - RECURSO E REMESSA OFICIAL DESPROVIDOS. 1. O art. 27 da Lei 9.784/99, prevê que " O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo administrado.parágrafo único. No Pág. 4/7

5 prosseguimento do processo, será garantido direito de ampla defesa ao interessado". 2. A atuação da Administração Pública prende-se, necessariamente, ao Principio da Legalidade, ao qual devem os atos manter harmonia estrita. Assim, como bem esclareceu a sentença recorrida, "...Não pode o Poder Público, diante de um requerimento tardio, simplesmente ignorar as razões trazidas pela parte: a ele se impõe, no exercício de usa autotutela, examinar se há ilegalidade a ser sanada. (...) Logo, remanesce o dever de receber o requerimento da impetrante, ainda que como denúncia de eventual ilegalidade, para, após apreciação, nega-la ou dar-lhe provimento segundo a legislação que rega a matéria". 3. A só publicação da decisão administrativa no Diário Oficial, como suficiente ao conhecimento do restabelecimento da condição de anistiado, no preclusivo prazo de 10 (dez) dias, evidencia ofensa explícita ao disposto na Lei nº 9.784/99, cujo art 26, 3º, 4º e 5º, já vigentes à época do ato questionado. 4. Nessa mesma linha de entendimento, o eg. Superior Tribunal de Justiça, também, acerca do tema, tem entendido que: "(...)Não obstante as normas específicas que tratam do processo de revisão das anistias concedidas com base na Lei 8.878/94 - previstas no Decreto 3.363/ o modo eficaz de intimação para a defesa do interessado, porque destinada ao cumprimento da exigência dos princípios da ampla defesa e do contraditório, deve ser rigorosamente observada pela Administração, nos termos do art. 26, 3º, da Lei 9.784/99. No caso, não há prova de que o meio utilizado para intimação - qual seja, o de publicação no Diário Oficial - tenha sido eficaz em relação à impetrante, que não apresentou defesa, conforme prova a "ficha de análise de defesa"...(ms 8.762/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em , DJ p. 150). 5. Resta explícita a inobservância do Princípio Constitucional que assegura o direito ao devido processo legal e da ampla defesa (art. 5º, Pág. 5/7

6 LIV e LV CF/88), na medida em que, além de desatender a forma expressa em lei, a intimação pela só publicação no Diário Oficial para o requerimento determinado pelos Decretos 5.115/2004 e 5.215/2004 cerceou o direito da impetrante de conhecer e de manifestar acerca da revisão de sua anistia. 6. Apelação e Remessa Oficial desprovidas. (AMS /DF, Rel. Desembargador Federal Luiz Gonzaga Barbosa Moreira, Conv. Juiz Federal Itelmar Raydan Evangelista (conv.), Primeira Turma,e-DJF1 p.107 de 29/10/2008) Ademais, o decreto, enquanto ato regulamentador, não pode fixar prazo preclusivo que não foi estabelecido na lei objeto de regulamentação, sob pena de violação ao princípio da legalidade, mormente nesta presente lide, em que ato administrativo governamental gerou grave prejuízo à autora: sua demissão. III DISPOSITIVO Diante do exposto, ratifico a decisão que anteriormente deferiu o pleito liminar e CONCEDO A SEGURANÇA pleiteada na inicial, determinando que a Autoridade Impetrada analise o pedido de anistia formulado pelo Impetrante em 2010, ainda em trâmite por meio dos Processos de n / e / Custas ex lege. Não há honorários (Súmulas 512/STF e 105/STJ). Sentença sujeita ao reexame necessário. P.R.I. Pág. 6/7

7 FRANCISCO NEVES DA CUNHA Juiz Federal da 22ª Vara/SJDF Pág. 7/7