MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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1 1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA n.º IMPETRANTE: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ IMPETRADO: EXMO SR SECRETARIO DE ESTADO DE FAZENDA E PLANEJAMENTO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Relator: Des. Cléber Ghelfenstein APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. UERJ. FUNDAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL. AUTONOMIA. BLOQUEIO EM SISTEMA ELETRÔNICO DE PESSOAL. ATO ADMINISTRATIVO ILEGAL. MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELA CONCESSÃO DA ORDEM. P A R E C E R

2 2 EGRÉGIA CÂMARA, Trata-se de mandado de segurança impetrado pela UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ, em face do EXMO. SR. SECRETARIO DE ESTADO DE FAZENDA E PLANEJAMENTO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, objetivando que a autoridade coatora seja impedida de executar, promover ou implementar qualquer bloqueio no sistema SIGRH-RJ, em especial na aplicação Evento de Cargo ; ou, que seja impedida de executar, promover ou implementar qualquer medida que dificulte a aplicação dos direitos subjetivos dos seus servidores, em especial as Leis Estaduais n.º 7.426/16 e 7.423/16 ou qualquer medida que reduza, atrase ou impeça a sua aplicação. Alega o impetrante que, por ser uma fundação estadual de direito público, possui autonomia constitucional, prevista no artigo 207 da Constituição Federal, para promover qualquer modificação nos cargos dos servidores, em especial: promoções, progressões funcionais, enquadramentos, inserções de cargos comissionados, funções gratificadas, inclusão dos novos servidores aprovados em concurso público, inclusão de triênios, etc, o que fora impedido, pela parte impetrada, através do Ofício SEFAZ/SGAB nº 553/2017, que estabeleceu o bloqueio de toda e qualquer movimentação funcional de seus servidores, no seu sistema eletrônico de pessoal, denominado SIGRH-RIO, controlado pela Secretaria de Fazenda e Planejamento SEFAZ.

3 3 Informações prestadas pela autoridade coatora às fls. 79/88. Impugnação apresentada às fls. 91/99. Este é o sucinto relatório. Passo a opinar. Como é cediço, o artigo 1º da Lei nº /2009, preceitua ser cabível mandado de segurança para proteger direito líquido e certo sempre que esse tenha sido violado, ou esteja na iminência de sê-lo, com prática ilegal ou abuso de poder. O mandado de segurança exige prova pré-constituída dos fatos alegados como condição essencial à verificação do direito líquido e certo, mostrando-se a dilação probatória incompatível com a natureza da ação mandamental. Da análise dos autos, verifica-se que a parte impetrada bloqueou o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos SIGRH, não podendo ser realizado qualquer lançamento, a partir da folha de pagamento da competência de maio/2017, por parte dos órgãos setoriais de RH, os registros de Eventos de Cargos que gerem modificação no campo Referência (Espécies: progressão, promoção, enquadramento, etc). Em razão disso, qualquer cadastramento de Eventos de Cargo,

4 4 relacionados à mudança de Referência, passam a ser efetivados pela Subsecretaria de Gestão de Pessoas (Anexo 1, doc ). Assim, a impetrante ficou impedida de modificar o campo Evento de Cargos, no programa que controla os cargos dos seus servidores, o SIGRH-RJ, criado pelo Decreto Estadual n.º /09 e controlado, remotamente, pela Secretaria de Fazenda Planejamento do Estado do Rio de Janeiro. Sabe-se que os atos administrativos gozam da presunção da legalidade e legitimidade, não sendo permitido ao Poder Judiciário rever os atos administrativos dos outros Poderes, senão quando eivados de ilegalidade ou imoralidade. A intervenção do Poder Judiciário somente se faz necessária, com o escopo de garantir direitos constitucionalmente previstos, afastando os possíveis vícios que os atos administrativos possam ter, sem invadir o mérito administrativo, não adentrando, assim, na conveniência e oportunidade administrativa. Compulsando-se os autos, verifica-se que o ato administrativo, ora sub judice, mostra-se ilegal, por violar a Constituição Federal, bem como a Constituição Estadual. Sabe-se que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro é uma Universidade Pública, estruturada sob forma de fundação pública, de

5 5 natureza autárquica, integrante da Administração Pública Indireta do Estado do Rio de Janeiro e, nessa condição, possui autonomia administrativa e financeira, prevista na Constituição Federal (artigo 207) e na Constituição do Estado (artigo 309). In verbis: Art As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Art A Universidade do Estado do Rio de Janeiro, organizada sob forma de fundação de direito público, goza de autonomia didáticocientífica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, para o exercício de suas funções de ensino, pesquisa e extensão. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL. UERJ. Contratação Temporária para exercício de função pública. Ilegitimidade passiva do Estado. Na forma do art. 309 da Constituição Estadual do Rio de Janeiro, a UERJ, organizada sob a forma de fundação de direito público, goza de autonomia didáticocientífica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, para o exercício de suas funções de ensino, pesquisa e extensão. Também possui

6 6 patrimônio e receita independentes, ou seja, autonomia financeira, gerencial e orçamentária em face do Estado, além de representação jurídica própria, sendo responsável pelo pagamento de seus servidores. A demanda deve ser proposta em face tão somente da Uerj, ainda que a causa de pedir narre supostamente a omissão estatal. (...). Recurso prejudicado. (Apelação Cível nº ª Câmara Cível Des. FERDINALDO DO NASCIMENTO) APELAÇÃO CÍVEL. Ação pelo procedimento comum ordinário, com pedido de cobrança de adicional noturno, ajuizada por servidor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro contra o ente estatal. A UERJ é órgão da administração indireta, com natureza de fundação púbica com personalidade jurídica própria, dotada de autonomia administrativa e de gestão financeira. Artigo 309 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Sendo assim, correta a sentença de extinção do feito, com fundamento no artigo 485, inciso VI, do Código de Processo Civil de 2015, ante a ilegitimidade passiva do réu. Precedentes. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

7 7 (Apelação Cível nº ª Câmara Cível Des. PATRÍCIA RIBEIRO SERRA VIEIRA) Apelação cível. Reajuste salarial. Servidor público da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Fundação de direito público dotada de personalidade jurídica própria, autonomia jurídica e orçamentária. Art. 309 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Demanda distribuída em desfavor do Estado do Rio de Janeiro. Ilegitimidade passiva corretamente decretada na sentença. Precedentes. Recurso desprovido. (Apelação Cível nº ª Câmara Cível Des. LUCIANO SABÓIA RINALDI DE CARVALHO) Além disso, este Eg. Tribunal de Justiça já afirmou entendimento no sentido de que a UERJ não pode sofrer ingerência externa da Secretaria de Planejamento: MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDORA CONTRATADA COMO CELETISTA, EM 1984, PELA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E ENQUADRADA EM CARGO PÚBLICO, EM 1999, EM CUMPRIMENTO AO REGIME JURÍDICO ÚNICO. NÃO

8 8 PRESTAÇÃO DE CONCURSO, PÚBLICO. DECISÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO QUE RESULTOU EM INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO, PELA SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO, PARA APURAÇÃO E PROVIDÊNCIAS. LEGITIMIDADE PASSIVA DO PRESIDENTE DO TCE E DO SUBSECRETÁRIO DE GESTÃO DE RECURSOS DA SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO, QUE ATUARAM EM CONJUNTO NA PRÁTICA DOS ATOS IMPUGNADOS. REGULARIDADE DOS ATOS DA CORTE DE CONTAS, POSTO DENTRO DE SUA COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL. INCOMPETÊNCIA DA SECRETARIA PARA INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTOS QUANTO A SERVIDORES UNIVERSITÁRIOS, DIANTE DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA, ESTAMPADO NOS ARTIGOS 309 DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL E 307 DA FEDERAL. NÃO RECEPÇÃO DO ARTIGO 65 DO ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (DECRETO-LEI N 220, DE 18 DE JULHO DE 1975), PELAS CARTAS POLÍTICAS, NO QUE RESPEITA ÀS UNIVERSIDADES. (Mandado de Segurança nº Órgão Especial Des. Sergio Lucio de Oliveira e Cruz) Entende esta Procuradoria de Justiça que cabe à impetrante, em decorrência de sua autonomia, decidir sobre a movimentação funcional de seus servidores e confeccionar sua folha de pessoal, sob a fiscalização do Tribunal de Contas do Estado. Por isso, não poderia o Secretário de Governo determinar bloqueio do sistema dos servidores, subvertendo a autonomia, constitucionalmente, prevista.

9 9 Portanto, havendo prova que afaste a presunção de legalidade do ato administrativo, que bloqueou toda e qualquer movimentação funcional dos servidores da UERJ, no seu sistema eletrônico de pessoal, denominado SIGRH-RIO, tal bloqueio não deve ser mantido. Diante do acima exposto, opina-se esta Procuradoria de Justiça pela concessão da segurança. É o parecer. Rio de Janeiro, 02 de agosto de MÔNICA DA SILVEIRA FERNANDES