COMO PRODUZIR LEITE DE QUALIDADE
COMO PRODUZIR LEITE DE QUALIDADE Pedro Carlos Cani Engenheiro Agrônomo Rosane Freitas Frangilo Zootecnista Vitória-ES 2008
Copyright - Todos os direitos reservados. ACPGLES - Associação de Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo Ladeira Virgílio Lambert, 144 - Centro - Santa Teresa - ES - Cep 29650-000 Tel.: 27 3259-1383 - e-mail: acpglesnst@hotmail.com Documento nº 01 Janeiro 2008 Coordenação Editorai: Liliâm Maria Ventorim Ferrão Colaboradores: Antônio Wanderley Basoni Júnior Robertson Valladão de Azeredo Bevaldo Martins Pacheco Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Oficina de Letras Comunicação - (27) 3222-6955 Revisão de Português: Raquel Vaccari de Lima Loureiro Fotos: Augusto Carlos Barraque Rosane Freitas Frangilo Impressão: Tiragem: 10 mil exemplares Ficha Catalográfica: Cleuza Zanetti Monjardim 637-127 Cani, Pedro Carlos c 223 C Como produzir leite de qualidade/ Pedro Carlos Cani, Rosane Freitas Frangilo. Vitória, ES: ACPLES/Seag-ES, 2008. 36p. il.(acpgles. Documentos, 1) Inclui bibliografia 1- Leite - Qualidade Produção I Cani, Pedro Cani. II Frangilo, Rosane Freitas. III Título
S u m á r i o Apresentação... 7 1. O que é leite de qualidade?... 9 1.1 Como é feito o controle de qualidade do leite?...10 2. Como obter leite de qualidade?...13 2.1 Higienização no processo de obtenção do leite...15 2.1.1 Características de um bom ordenhador...16 2.1.2 Higienização da sala de ordenha...17 2.1.3 Higienização dos latões e utensílios...18 2.1.4 Higienização da ordenhadeira...19 2.1.5 Manutenção dos equipamentos...20 2.1.6 Higiene da ordenha...21 2.2 Destino do leite depois da ordenha...26 2.3 Resfriamento do leite...27 2.3.1 Higienização do resfriador de leite...28 3. Mamite...30 3.1 O que é mamite?...30 3.2 Prejuízos causados pela mamite...33 3.3 Como a mamite é transmitida...33 3.4 Controle da mamite...36
A p r e s e n t a ç ã o A sociedade, cada vez mais exigente, anseia e busca por alimentos de qualidade. Atenta a esta realidade, a pecuária de leite vem sendo marcada por intenso processo de especialização da produção exigida, na mesma intensidade, pelas indústrias de laticínios, quanto à qualidade do leite produzido nas unidades de produção. O Governo, percebendo essa nova demanda de produção e de consumo editou, em 2002, a Instrução Normativa nº 51, com vistas ao aperfeiçoamento e a modernização da legislação sanitária, objetivando a obtenção de leite de qualidade para ser ofertado ao mercado consumidor. Melhorar a qualidade do leite é uma obrigação de quem produz e não uma opção, pois o consumidor tem o direito de adquirir produtos de confiança, tanto do ponto de vista sanitário quanto nutricional. Sentindo a ausência de trabalhos sobre a obtenção de leite de qualidade no Estado do Espírito Santo, a Associação de Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo, juntamente com a Organização das Cooperativas do Brasil OCB, decidiram publicar o presente trabalho.
É um trabalho extremamente oportuno, pois as informações nele contidas visam capacitar os produtores e trabalhadores para produzirem leite de qualidade e, assim, atender as exigências do cidadão consumidor e das indústrias. É um trabalho abrangente, pois aborda os cuidados com a matériaprima, que vão desde a fonte de produção, passam pelos caminhos por ela percorridos indo até a plataforma de recepção da indústria e tem como foco dominante a segurança alimentar do consumidor. É fruto de intensa consulta a técnicos do setor e a publicações especializadas, na busca de produzir um documento amplo para atender todos os elos da cadeia produtiva relacionados com a obtenção de leite de qualidade. Foi redigida em linguagem simples e reforçada com inúmeras imagens fotográficas para permitir fácil entendimento do seu conteúdo. Um bom trabalho, sem dúvida, de qualidade. Boa leitura. César Colnago Secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca
1. O QUE É LEITE DE QUALIDADE? Leite de qualidade é aquele produzido por vacas sadias e bem alimentadas, que conserva as qualidades nutritivas ao longo de todas as etapas de sua obtenção e não apresenta riscos para a saúde humana quando consumido. Os principais fatores que alteram a qualidade do leite são: presença de colostro; falta de higiene na ordenha e nos equipamentos usados; leite de vaca com mamite; demora no processo de resfriamento do leite; alimentação da vaca em produção. Colostro É o leite grosso, amarelado e cremoso, obtido na primeira ordenha após o parto. Apenas o leite da primeira ordenha é denominado colostro. O leite obtido da segunda até a oitava ordenha (quinto dia de lactação) é considerado leite de transição, devido a sua composição ir se assemelhando gradualmente ao leite integral. O colostro é muito rico em substâncias de defesa (anticorpos), as quais permitem ao bezerro recém-nascido defenderse do ataque de doenças.
1.1 Como é feito o Controle de Qualidade do leite? O controle de qualidade do leite começa na propriedade, pois a Instrução Normativa Nº 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) determina que, pelo menos uma vez por mês, amostras do leite de cada propriedade devem ser enviadas pela indústria para serem analisadas na Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade do Leite (RBQL). Os resultados das análises são entregues a cada produtor, assim ele fica sabendo o que deve fazer para eliminar o problema encontrado. As análises realizadas no leite são: Contagem Bacteriana Total (CBT); Contagem de Células Somáticas (CCS); Determinação dos teores de gordura, lactose, proteína, sólidos totais e sólidos desengordurados; Pesquisa de resíduos de antibióticos; Pesquisa de indicadores de fraudes e adulterações. Contagem Bacteriana Total: indica a contaminação do leite por bactérias. Quanto menor a contagem, maior rigor higiênico existiu nas etapas de obtenção do leite. Bactérias são micróbios! Os micróbios não podem ser vistos a olho nu. Para ver os micróbios presentes no leite é preciso usar um aparelho chamado microscópio. As bactérias estão presentes na água, no ar, na terra, no capim, nos pêlos e nos tetos da vaca, nas fezes, na urina, na roupa e nas mãos do ordenhador, nos insetos e nos equipamentos de ordenha sujos. A maioria das bactérias não causa problema. Algumas trazem benefícios para o homem. Outras causam doenças. Algumas estragam os alimentos, é o caso das que se alimentam do leite. O leite atacado pelas bactérias fica com sua qualidade ruim. 10
Contagem de Células Somáticas: é a quantidade de células presentes no leite, sendo uma parte proveniente do tecido interno do úbere e outra, de células de defesa do animal. Quando as bactérias causadoras da mamite atacam o úbere, as células de defesa passam do sangue para o úbere para combater essas bactérias. Quanto mais intenso for o ataque das bactérias, maior será a contagem de células somáticas no leite. A Instrução Normativa Nº 51 do MAPA define que a Contagem Bacteriana Total e a Contagem de Células Somáticas no leite cru refrigerado devem passar por uma redução gradual ao longo dos anos, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 Contagem Bacteriana Total (CBT) máxima e Contagem de Células Somáticas (CCS) máxima admitidas no leite cru refrigerado, na Região Sudeste do Brasil Índice medido (por propriedade ou por tanque comunitário) Contagem Bacteriana Total (UFC/ml) Contagem de Células Somáticas (CCS/ml) Até 1º/07/2008 A partir de 1º/07/2008 A partir de 1º/07/2011 1.000.000 750.000 100.000 1.000.000 750.000 400.000 Observações: UFC/ml: significa Unidades Formadoras de Colônias por mililitro de leite. Mede a contaminação que ocorreu durante a ordenha, o armazenamento e no transporte do leite. Determinação da quantidade de gordura, lactose, proteína, sólidos totais e sólidos desengordurados: a análise destes componentes é feita porque eles são responsáveis pelo valor nutritivo do leite. Quanto maior a quantidade destes componentes, maior será o rendimento na fabricação dos derivados de leite. Vacas mal alimentadas, vacas com mamite, falta de higiene na ordenha e refrigeração mal feita são fatores que provocam alteração na quantidade desses componentes. 11
IMPORTANTE: Para produzir leite com qualidade, as vacas devem consumir pastos bem manejados, que crescem em solos não degradados. Se as pastagens são boas, somente as vacas que produzem acima de 12 quilos de leite por dia devem receber complementação alimentar. Logicamente, isso depende de uma avaliação técnica feita para cada caso. Pesquisa de resíduos de antibióticos: antibióticos são medicamentos usados para tratar doenças infecciosas causadas por bactérias. A infecção mais comum tratada com antibiótico em vacas é a mamite. Quando se aplica antibiótico em uma vaca, o leite que ela produz passa a conter resíduos desse antibiótico durante um determinado tempo. Durante esse tempo, o leite não deve ser aproveitado ou vendido. É muito importante seguir as informações do fabricante quanto ao período de carência do produto. Vale lembrar que outros produtos utilizados nos animais e na limpeza de equipamentos podem estar presentes no leite. É o caso dos vermífugos, carrapaticidas, inseticidas, desinfetantes e detergentes. O produtor deve estar atento, de modo a evitar os resíduos desses produtos no leite. Atenção! O leite com antibiótico não deve ser aproveitado, porque pode: causar alergias em quem beber o leite; desenvolver resistência em bactérias causadoras de doenças; prejudicar o crescimento dos fermentos usados na fabricação de queijos e iogurtes, trazendo prejuízos às indústrias e ao produtor. 12
Para evitar a presença de antibióticos no leite, é necessário identificar a vaca tratada, anotar o dia e a hora do tratamento, o antibiótico usado e o prazo de eliminação deste antibiótico pelo animal. Pesquisa de indicadores de fraudes e adulterações: este tipo de pesquisa é realizado pelo menos duas vezes ao mês. Visa identificar fraudes e adulterações realizadas por alguns produtores que ainda insistem em praticar essas irregularidades. Uma vez identificada a fraude ou adulteração, o leite é descartado. 2. COMO OBTER LEITE DE QUALIDADE? A obtenção do leite de qualidade começa ordenhando-se apenas vacas sadias. A seguir, três procedimentos fundamentais devem ser adotados: higienização no processo de obtenção do leite, resfriamento do leite e controle da mamite. Leite resfriado paralisa a multiplicação dos micróbios, assim a qualidade do leite é mantida 13
Equipamentos, mãos do ordenhador e úbere da vaca devem receber limpeza rigorosa Somente úbere sadio produz leite de qualidade 14
2.1 HIGIENIZAÇÃO NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DO LEITE A higienização envolve limpeza e desinfecção. Limpeza: é a remoção da sujeira dos equipamentos, dos tetos das vacas e das mãos do ordenhador. Para realizar esta tarefa, é preciso ter água de qualidade disponível. Água de qualidade: é água potável que deve existir em quantidade suficiente para atender ao trabalho diário de limpeza e higienização dos animais, dos equipamentos e das instalações. Água potável é livre de micróbios, matéria orgânica e outros contaminantes. A qualidade da água deve ser comprovada em análise de laboratório. Os reservatórios de água devem ser mantidos tampados e isolados. Desinfecção: é a eliminação de micróbios causadores de doenças ou que promovem fermentações indesejáveis no leite e nos derivados. A limpeza e desinfecção de todos os utensílios e equipamentos usados na produção de leite, bem como a higiene pessoal do ordenhador, deverão ser realizadas criteriosamente. Os equipamentos devem ser limpos e desinfetados imediatamente depois de terminada a ordenha. Quanto mais tempo demorar, mais difícil fica remover os restos de leite. A água deve ser captada em fonte segura, livre de contaminantes e o depósito deve ser protegido contra a entrada de animais 15
2.1.1 Características de um bom ordenhador O comportamento do ordenhador durante a ordenha exerce significativa influência na produção de leite das vacas. Portanto, é preciso que haja bom entrosamento entre o ordenhador e as vacas. Assim, o ordenhador deve ser cauteloso no manejo com as vacas e realizar a mesma rotina durante todas as ordenhas. Além disso, um bom ordenhador deve adotar alguns procedimentos importantes para ajudar obter leite de qualidade, dentre eles: apresentar bons hábitos de higiene (roupa limpa, botas de borracha, cabelos e unhas cortadas); lavar as mãos antes e durante a ordenha; apresentar bom nível de conhecimento técnico. O ordenhador deve lavar as mãos antes de iniciar a ordenha e sempre que sujar as mãos 16
2.1.2 Higienização da sala de ordenha A sala de ordenha deve ser um local tranqüilo, limpo e que ofereça conforto às vacas. Latões, detergente, soluções desinfetantes, papel toalha, caneca telada de fundo preto, frasco para imersão dos tetos e escova devem estar na sala de ordenha e disponíveis para uso. A sala de ordenha deve ser organizada e higienizada para receber as vacas. Todos os equipamentos devem estar limpos e disponíveis na hora da ordenha 17
2.1.3 Higienização dos latões e utensílios Lave os latões e suas tampas com água morna a 45ºC. Em seguida, utilize um detergente alcalino clorado na dosagem indicada pelo fabricante do produto, em água morna, promovendo esfregação completa em toda a superfície interna do latão, enxágüe com água limpa por três vezes seguida. Após limpeza com detergente alcalino, passe uma solução de detergente ácido diluído, em água em torno de 60ºC, enxaguar muito bem. Deixe os latões emborcados em estrados próprios para facilitar a secagem. Lave os filtros e demais utensílios com água morna, e a seguir desinfete-os com detergentes e coloque-os em locais secos, arejados, limpos e protegidos contra moscas e outros insetos. Lavagem dos equipamentos com água limpa e corrente 18
2.1.4 Higienização da ordenhadeira Todos os dias, antes de começar a ordenha: Circule uma solução clorada de 200 ppm de cloro aproximadamente dois mililitros de cloro em 10 litros de água, durante 5 minutos. Drene completamente a solução para não ficar resíduo. Isso deve ser feito 30 minutos antes de começar ordenha. Não reutilize a água que passou pela ordenhadeira. Todos os dias, após a ordenha: Enxágüe a ordenhadeira com água morna de 35º a 45ºC durante 5 minutos, sem recircular a água. Circule uma solução de detergente alcalino clorado em temperatura de 65º a 70 ºC na concentração indicada pelo fabricante do produto, durante 10 minutos. Enxágüe com água à temperatura ambiente, por 5 minutos. Após enxaguar o detergente alcalino, circule uma solução de detergente ácido em água morna, na concentração indicada pelo fabricante do produto, por 10 minutos. O produtor pode preparar suas próprias soluções desinfetantes, tomando o cuidado com as dosagens dos produtos utilizados, ou senão, comprá-las prontas 19
2.1.5 Manutenção dos equipamentos Após a ordenha, cheque o filtro de linha e os coadores. Caso apresentem sujidade, reveja as operações de limpeza dos tetos, dos equipamentos e dos procedimentos da ordenha. É muito importante fazer a manutenção rotineira da ordenhadeira. Verifique com freqüência se há rachaduras nas borrachas e mangueiras. Dê uma atenção especial ao funcionamento adequado do equipamento de ordenha. A regulagem correta dos pulsadores evita lesões no úbere. O nível de vácuo varia de acordo com o tipo de ordenhadeira e é controlado pelo regulador de vácuo, chamado vacuômetro, conforme mostra o quadro a seguir. Tipo de ordenhadeira Balde ao pé Circuito fechado - Linha baixa Circuito fechado - Linha alta Linha alta com garrafão central Nível de vácuo recomendado 44 a 46 KPa 44 a 46 Kpa 47 a 51 KPa 46 a 49 KPa Regulador de vácuo mostrando nível correto de vácuo para ordenhadeira de balde ao pé 20
Cheque a regulagem dos pulsadores mecânicos e eletrônicos. A taxa de pulsação deve ser de 60 batidas por minuto. Inspecione o orifício de entrada de ar dos coletores. Se estiver obstruído, limpe-o. Troque os insufladores a cada 2.500 vacas ordenhadas e as mangueiras do leite anualmente. As demais peças de borracha devem ser trocadas a cada dois anos. Substitua os componentes que entram em contato com o leite a cada seis meses, ou de acordo com a recomendação do fabricante da ordenhadeira. 2.1.6 Higiene da Ordenha As vacas devem ser manejadas com calma. O horário e a ordem de entrada na sala de ordenha deverão ser os mesmos, todos os dias. Após preparar a vaca, retire os primeiros jatos de leite na caneca telada de fundo preto. Caso o leite apresente grumos (leite talhado) ou qualquer outro componente diferente, significa que a vaca está com mamite clínica. Uso de caneca telada de fundo preto identifica úbere com mamite 21
Se a vaca estiver com mamite, ela deverá ser separada e ordenhada depois das outras. O seu leite deve ser descartado em fossa, inclusive o leite da caneca telada de fundo preto. Depois de realizar esses procedimentos, caso o úbere esteja sujo de barro ou esterco, limpe o úbere e lave somente os tetos. Limpe o úbere e lave apenas os tetos 22
Coloque solução clorada (hipoclorito de sódio a 2%), espere 30 segundos e seque os tetos com papel toalha descartável, utilizando um para cada teto. Maneira correta de passar solução clorada no teto Secando os tetos com papel toalha descartável Nunca utilize toalha de pano para secar os tetos. 23
Úbere com o conjunto de teteiras Imediatamente após a secagem dos tetos, coloque as teteiras nos tetos da vaca. As teteiras devem ser colocadas no máximo 1 minuto e 30 segundos após a retirada dos primeiros jatos. Observe o posicionamento correto e evite a entrada de ar durante a colocação do conjunto das teteiras. Após o término da ordenha, corte o vácuo da ordenhadeira antes de retirar as teteiras. Logo após a retirada das teteiras, faça a desinfecção dos tetos com solução de iodo glicerinado. Depois da ordenha, o canal do teto pode levar até duas horas para se fechar completamente. O uso do iodo glicerinado forma uma barreira contra a entrada de micróbios causadores da mamite. Se os bezerros mamam após a ordenha, não precisa usar a solução de iodo glicerinado. 24
Maneira correta de fazer o tratamento dos tetos com solução de iodo glicerinado Todos os tetos devem ser tratados com solução de iodo glicerinado 25
Iodo metálico Iodeto de potássio Glicerina Água destilada Solução de iodo glicerinado 50 gramas 50 gramas 800 mililitros 5 litros 2.2 DESTINO DO LEITE DEPOIS DA ORDENHA Existindo resfriador na propriedade, o leite ordenhado deve ser imediatamente depositado no resfriador. Caso não exista resfriador na propriedade, o leite deve ser colocado em latões, que devem ficar em local fresco, limpo e sombreado. Terminada a ordenha, os latões deverão ser levados ao resfriador comunitário, devendo chegar antes de completar 2 horas após o término da ordenha. Leite sendo levado ao resfriador 26
2.3 RESFRIAMENTO DO LEITE Mesmo que o produtor pratique máxima higiene no processo de ordenha, sempre ocorre alguma contaminação, por isso o leite deve ser depositado no resfriador imediatamente após ser ordenhado. A temperatura do leite deve atingir 4ºC em, no máximo, 3 horas após ter sido colocado no resfriador. Nessa temperatura, o leite não se estraga porque as bactérias param de se multiplicar. O leite assim resfriado pode ser conservado na propriedade por até 48 horas. Entrega do leite no resfriador comunitário o mais rápido possível após a ordenha Quando o leite de uma ordenha for misturado ao leite que já está no resfriador, a temperatura não deve passar dos 10ºC e, num prazo máximo de 2 horas, deve voltar a 4ºC. O tanque de resfriamento deve ficar próximo da sala de ordenha e em local coberto, arejado, pavimentado, com instalação elétrica, água de boa qualidade e de fácil acesso ao carro tanque. Deve possuir, ainda, um bom isolamento térmico, a fim de evitar o aquecimento 27
do leite. A instalação do tanque deve ser feita perfeitamente em nível para facilitar o escoamento do leite e da água de lavagem, aproveitando-se o desnível que já existe no fundo do tanque. A potência do resfriador deve ser suficiente para permitir rápido abaixamento da temperatura do leite. Ao ser depositado no resfriador, o leite deve ser passado por um filtro de plástico ou de aço inoxidável, para reter possíveis sujeiras existentes. Atenção! Não mande para o laticínio: 1. leite de vacas com mamite; 2. leite de vacas tratadas com medicamentos que possam ser eliminados pelo leite; 3. leite que fica na caneca telada de fundo preto; 4. colostro. Normalmente, o leite de vaca recém-parida só deve ser enviado ao laticínio 5 dias depois do parto, entretanto existem variações individuais. O produtor deve então estar atento à transformação que vai sofrendo o colostro até atingir a consistência de leite normal. Esse leite pode ser fornecido para os bezerros. 2.3.1 Higienização do resfriador de leite Diariamente, antes de colocar o leite no resfriador, faça a desinfecção do tanque com uma solução clorada de 130 ppm de cloro, aproximadamente dois mililitros de cloro em 15 litros de água. Em seguida, enxágüe muito bem para escorrer toda a água e eliminar completamente o resíduo da solução clorada. O tanque deve estar completamente seco antes de receber novo carregamento de leite. 28
Imediatamente após a saída do leite para o laticínio, enxágüe com água morna a 45 ºc toda a superfície interna do resfriador, até que a água esteja saindo limpa, sem resíduos de leite. Não se deve recircular a água. Em balde com água com temperatura entre 60º a 70ºC, prepare uma solução de detergente alcalino clorado na concentração de 130 ppm de cloro, aproximadamente dois mililitros de cloro em 15 litros de água, ou siga a indicação do fabricante do produto que estiver sendo utilizado. Jogue essa solução no tanque resfriador. Em seguida, promova esfregação uniforme com escovas plásticas em toda a superfície do resfriador, nas tampas, na hélice do agitador e na válvula de saída do leite. Enxágüe por completo, até a água sair limpa. Tenha cuidado para não ficar resíduo do produto utilizado. Após limpeza com detergente alcalino, é necessário utilizar uma solução de detergente ácido, com água à temperatura acima de 35ºC e abaixo de 60ºC, seguindo as indicações do fabricante do produto. Enxágüe muito bem o detergente ácido para não ficar resíduo. Limpeza manual do resfriador de leite 29
3. MAMITE 3.1 O QUE É MAMITE? Mamite ou mastite é a inflamação do úbere provocada por micróbios ou pancadas. Leite com alta contagem de células somáticas pode indicar que a vaca está com mamite. Existem duas formas de manifestação da mamite, a clínica e a subclínica. Úbere inchado. Sintoma típico de mamite Mamite clínica: é aquela possível de ser observada a olho nu, pois quando se retiram os primeiros jatos na caneca telada de fundo preto, verifica-se a presença de grumos, pus, ou aspecto aquoso do leite. Observa-se também inchaço e aumento de temperatura do quarto do úbere afetado. Como o úbere é formado por quatro glândulas com saídas independentes em cada teto, a mamite pode atacar apenas um dos tetos. Por isso, é preciso tirar jatos de leite de todos os tetos. Mamite clínica: facilmente identificada no teste da caneca telada de fundo preto 30
Mamite subclínica: é aquela que não pode ser observada a olho nu. Para identificar a mamite subclínica, usa-se, principalmente, o teste conhecido como Califórnia Mastitis Test (CMT) por ser simples, barato e amplamente utilizado em campo. Este teste deve ser realizado mensalmente. Caso haja ocorrência freqüente de mamite clínica, o CMT deve ser realizado de 15 em 15 dias. Diariamente, deve-se dar atenção especial às vacas que mudaram seu comportamento, analisando com rigor os sintomas apresentados e relacionando-os com a mamite. Atenção! Para cada caso de mamite clínica, estima-se a existência de 40 casos de mamite subclínica. 1 2 Identificando mamite subclínica com teste CMT 31
3 4 A seqüência de fotos mostra o que acontece com o leite tirado de vaca que está com mamite, quando se usa o CMT 5 6 32
3.2 PREJUÍZOS CAUSADOS PELA MAMITE Vaca com mamite chega a produzir até 25% menos leite do que quando ela está sadia. Por exemplo, uma vaca que produz dez litros de leite ao dia, se estiver com mamite poderá deixar de produzir até dois litros e meio de leite ao dia. Ocorrem perdas também com desclassificação e descarte de leite, gastos com antibióticos e serviços veterinários, perdas de tetos e descartes e mortes de animais. A mudança na composição do leite causada pela mamite afeta sua qualidade e interfere nos processos industriais. Considerando esses prejuízos, torna-se obrigatório, todos os dias, realizar o teste da caneca telada de fundo preto em cada teto. 3.3 COMO A MAMITE É TRANSMITIDA A mamite é transmitida, principalmente, de uma vaca doente (com mamite) para as vacas sadias. O momento de maior transmissão é durante a ordenha. As bactérias de uma vaca contaminada podem passar para uma sadia através das mãos do ordenhador, de procedimentos incorretos da ordenha ou de equipamentos de ordenha operados de forma incorreta. Outra forma de transmissão é do ambiente para a vaca. Neste caso, os micróbios são transmitidos diretamente do ambiente para o interior do úbere. Isto acontece no intervalo entre as ordenhas. Os principais focos de transmissão são: locais sujos de barro e esterco, camas molhadas e água contaminada. Pode também ser transmitida pelo mal funcionamento do regulador de vácuo ou pulsadores da ordenhadeira mecânica e ordenhando vacas com tetos sujos e úmido. 33
3.4 CONTROLE DA MAMITE O controle da mamite exige esforço e dedicação, e deve atuar sobre todos os fatores que influenciam sua ocorrência. Um controle eficiente atua na prevenção rigorosa e no tratamento correto. A prevenção rigorosa consiste em: ordenha higiênica, cuidadosa e completa, evitando deixar leite no úbere; desinfetar os tetos antes (pré-dipping) e depois (pós-dipping) da ordenha; assegurar que animais comprados não estejam com mamite; descartar vacas que repetem mamite. Para um tratamento correto, é preciso: tratar todos os casos de mamite, consultando um profissional especializado. O tratamento deve ser feito imediatamente após a ordenha; no dia da secagem, é necessário tratar com antibiótico específico e de longa duração todos os tetos utilizando uma bisnaga para cada teto. Este tratamento tem o dobro de eficiência em relação ao tratamento feito durante o período de lactação; fazer anotações, identificando as vacas e os tetos que apresentaram mamite clínica ou subclínica, registrando a data de ocorrência, o nome do antibiótico e a data de sua aplicação. Importante: A estrutura interna do úbere é formada por quatro glândulas com saídas independentes em cada teto. Por isso, no tratamento normal da mamite, basta tratar apenas os tetos que se encontram doentes. Porém, é preciso ter cuidado ao manusear o teto doente para não contaminar os outros. 34
Tratamento de vaca seca, com cânula curta 35
Todo medicamento de uso interno do úbere deve ser feito com cânula curta GANHOS OBTIDOS COM LEITE DE BOA QUALIDADE: As indústrias de laticínios já estão pagando mais pelo leite de melhor qualidade, para premiar produtores que investem nessa busca. A obtenção de leite de alta qualidade aumenta a rentabilidade da propriedade rural, pois: leite obtido com higiene e bem conservado apresenta baixa Contagem Bacteriana Total, o que evita perdas por leite ácido; a prevenção de mamite permite obter leite com baixa Contagem de Células Somáticas, o que evita queda na produção e melhora o rendimento industrial do leite; as vacas devem ser bem alimentadas, porque assim produzem leite com maior valor nutritivo; leite sem resíduos de antibióticos e outros medicamentos indica bom controle de descarte de leite contaminado o que evita penalidades para o produtor. MELHORAR A QUALIDADE DO LEITE É UMA OBRIGAÇÃO DE QUEM PRODUZ E NÃO UMA OPÇÃO. 36
B i b l i o g r a f i a ALVARES, B.L. Limpeza de equipamentos de ordenha e tanques. Rev. Balde Branco, 489 A 27jan. 2006. Disponível em: < WWW.cienciadoleite.com. br >. Acesso em: 20 maio 2007. BRITO, J.R.F. et al. Segurança e qualidade do leite. In: SANTOS, C. A. dos et al (ed). EMBRAPA Gado de Leite: 30 anos de pesquisa e conquistas para o Brasil. Juiz de Fora: EMBRAPA, 2006. p. 155 172. BRITO, J.R.F. et al. Mastite de A à Z. In: DIAS, J.C.; BRITO, J.R.F. Sanidade animal. Juiz de Fora: EMBRAPA, [19--] p. 7 14. BRITO, M. A. V. P. e. Conceitos básicos da Qualidade. In: DIAS, J.C.; BRITO, J.R.F. Sanidade animal. Juiz de Fora: EMBRAPA, [19--]. P. 55 62. CARDOSO, I. dos S.; BRENER, S; COSTA, U. S. Ordenha Mecânica. Brasília: SENAR,2001. Coleção SENAR 12. COOPERATIVA CENTRAL DOS PRODUTORES RURAIS DE MINAS GERAIS: ITAMBÉ. Qualidade do leite: manual do produtor. Belo Horizonte: Itambé, 1998. COOPERATIVA CENTRAL DOS PRODUTORES RURAIS DE MINAS GERAIS: ITAMBÉ. Qualidade do leite: manual da cooperativa. Belo Horizonte: Itambé, 1998.
COOPERATIVA CENTRAL DOS PRODUTORES RURAIS DE MINAS GERAIS: ITAMBÉ. Guia de higienização na produção do leite. Belo Horizonte: Itambé [19--] DeLaval. Informações sobre equipamentos de resfriamento. Disponível em: <www.delaval.com.br >. Acesso em: 06 jun. 2007 DÜRR, J. W. Como produzir leite de alta qualidade. Brasília: SENAR, 2005.
Realização: