Para Assunto Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos amazônicos Identificação e estudo em áreas prioritárias ou hotspots, Data

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Transcrição:

De: Cleber J. R. Alho consultor Para: Norbert Fenzl e Maria Apostolova Projeto GEF-Amazonas Assunto: Relatório resumido sobre as atividades desenvolvidas para execução dos componentes II.1.1 - Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos amazônicos e III.1.1 Identificação e estudo em áreas prioritárias ou hotspots, do Projeto GEF-Amazonas, conforme contratos Data: Brasília, 26 de junho de 2013 Objetivos e alcance dos trabalhos em progresso O objetivo estratégico para os componentes II.1.1 e III.1.1 é o de agregar as informações técnico-científicas relevantes, conduzir uma análise interpretativa dessas informações, no sentido de mostrar como os ecossistemas aquáticos se estruturam e funcionam, com a participação da biodiversidade regional, para dar apoio às ações do planejamento estratégico visando o manejo integrado e sustentável dos recursos hídricos. Para isso foram conduzidos estudos e trabalhos de campo em três hotspots experimentais: regiões do Alto Xingu; do Baixo Tocantins e do Médio Negro. A busca de informações diversas quer conceitual, quer de dados técnico-científicos, visa integrar e harmonizar os componentes fundamentais da estrutura e da função dos ecossistemas aquáticos. A literatura científica tem enfatizado a relação entre o crescimento da população humana, com o consequente uso e ocupação do solo, modificando os ambientes naturais pelas atividades antrópicas na Amazônia. Desse modo, as atividades socioeconômicas tradicionais, como a pesca e o extrativismo têm sido afetadas pelo avanço mais recente da acentuada migração humana atraída por novas possibilidades de acesso à terra ou motivada por empreendimentos novos de infraestrutura, pecuária, agricultura, mineração, pesca comercial ou outra motivação. A várzea aparece como o primeiro foco de povoamento do espaço amazônico, havendo indícios de tribos indígenas de várzea com cerca de dois mil anos. Essas etnias indígenas procuraram os ambientes de rios e igarapés (como fonte de água e alimentos) para fixarem suas aldeias e se difundirem pela região. A rede hidrográfica da região, contudo, não condicionou somente o processo de ocupação das tribos indígenas e, posteriormente, dos colonizadores, mas também orientou o caminho pelo qual iria seguir a economia regional. As ameaças ambientais causadas pela atividade antrópica aos ecossistemas aquáticos da Amazônia podem ser agrupadas nos seguintes tópicos: Perda e alteração de ecossistemas, particularmente pelo desmatamento das florestas ripárias. Exploração predatória de recursos naturais, incluindo recursos pesqueiros.

Introdução de espécies exóticas. Aumento de patógenos nos ambientes naturais. Aumento de tóxicos ambientais. Efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas. A pesca na Amazônia varia de região para região, mas é dividida em comercial (de vários níveis), de subsistência e recreativa ou esportiva, além do extrativismo de peixes ornamentais. De tal forma que os apetrechos de pesca variam em função desses tipos de pesca, sendo que para atendimento dos grandes centros urbanos como Manaus, Belém, Porto Velho, Santarém e outros, a pesca comercial tem-se valido de meios tecnológicos para detectar cardumes, além de embarcações aparelhadas. A identificação, caracterização e avaliação das ameaças ambientais aos ecossistemas aquáticos constituem um instrumento importante para compor o plano de ações estratégicas. Essa identificação, caracterização e avaliação das ameaças visam, portanto, designar instrumentos para a execução de políticas e de gestão ambiental para subsidiar o planejamento de uma determinada ameaça potencialmente modificadora do meio ambiente aquático, em conjunto com outras que ocorrem nos ecossistemas. Algumas dessas ameaças aos ecossistemas aquáticos são de natureza técnico-científica, como aquelas que interferem na estrutura e função dos ecossistemas. Outras são de natureza político-administrativa, como aquelas que podem ser previstas e evitadas. Neste caso, muitas vezes se referem às normas legais que devem ser implementadas e obedecidas. Em se tratando de diretrizes para oito países, esse aspecto legal-administrativo ganha bastante complexidade. A quantificação do efeito da ameaça analisada é de certo modo subjetiva, envolvendo avaliações não só de ordem ecológica, mas também socioeconômica. Portanto, a variável ambiental da ameaça se traduz pela inserção dos meios físicoquímico (tipo de ecossistema, época do ano em funçao do fluxo hidrológico, solo, qualidade da água etc.), biótico (vegetação inundável, fauna aquática etc.); socioeconômico (pesca, extrativismo etc.) e político (defeso na época reprodutiva, bolsa para pescadores na época do defeso etc). Um ecossistema aquático em condições naturais é um sistema dinâmico e equilibrado, cujos componentes abióticos (solo, água, clima etc.) interagem com os componentes bióticos (comunidades ecológicas e populações de micro-organismos, plantas e animais). Quando a necessidade humana é inserida neste sistema, na visão produtor-consumidor, a interatividade das variáveis de consumo deve ainda ser buscada, com regras de manejo adequado, na busca da sustentabilidade do sistema, a fim de evitar o uso predatório, não sustentável, de determinado recurso. O presente estudo considera o fato importante de que as ameaças ambientais atreladas aos ecossistemas aquáticos são muito diversas e abrangem uma área extensa da Amazônia. Portanto, no sentido de tornar as ações estratégicas exequíveis e praticáveis, o termo de referência vai concentrando o foco das ações em ameaças ligadas à pesca e, ainda, para poder qualificar essas ameaças, o projeto procura limitar essas ameaças em pontos focais da Amazônia (áreas prioritárias para estudo ou hotspots).

A visão mais ampla é que os povos ribeirinhos da Amazônia, os extrativistas em geral e os pescadores artesanais em particular, têm baixa escolaridade e baixa renda, exibindo padrões de pobreza. Embora a pesca artesanal ainda contribua significativamente para a atividade pesqueira amazônica, ela está associada a conflitos: competição com a pesca industrial e esportiva, menor produtividade pesqueira devido à degradação ambiental face ao desmatamento e competição com outros usos e ocupação do solo, como expansão da pecuária, agricultura, mineração, urbanização e outros fatores de alteração e perda de hábitats naturais. Associado ao padrão socioeconômico dos pescadores artesanais, há os conflitos relacionados com a pesca; em geral envolvem pescadores de fora da região, como também pescadores de comunidades vizinhas que invadem áreas de pesca de comunidades de pescadores locais. A literatura publicada relata a entrada de pescadores comerciais de outras áreas, utilizando "malhadeira" fora do período permitido; a captura de pirarucus (Arapaima gigas) durante o defeso (período de proteção à reprodução do peixe); as pescarias de arrasto, cerco e mergulho; e a captura de pescado excessiva, para atender à demanda dos centros urbanos. A dimensão socioeconômica do pescador e da pesca na Amazônia é importante para a gestão da pesca, objetivo do plano de ações estratégicas do GEF-Amazonas. Esse enfoque tenta fazer face ao uso predatório dos recursos naturais pela aplicação de estratégias de manejo que possam beneficiar os aspectos sociais e econômicos das populações locais, tais como os pescadores artesanais, profissionais ou esportivos, de tal maneira que o benefício dos recursos naturais seja duradouro e compatível com estrutura e função dos ecossistemas aquáticos amazônicos, isto é, que seja sustentável. Estudos nos hotspots designados e atividades de campo pertinentes Nos dias 8 a 16 de junho de 2013 foi feito o primeiro trabalho de campo no hotspot do Alto Rio Xingu, com a participação do consultor Cleber Alho e dos consultores de apoio Roberto Reis e Pedro de Aquino. A equipe partiu de Brasília em carro alugado até às margens de formadores do rio Xingu, em Mato Grosso. O rio Xingu é um dos principais tributários da bacia Amazônica e drena o Escudo Brasileiro, juntamente com o Tocantins, Araguaia, Tapajós e parte da bacia do rio Madeira. Na maior parte de seu percurso o rio Xingu corre sobre terrenos cristalinos de granito e também calcário, o que lhe confere uma quantidade de sedimentos carreados muito baixa e alta transparência. O clima nesta ecorregião é tropical, com precipitação média anual entre 1,5 e 2,5 m e com estação de cheia entre novembro e abril e com temperatura do ar média entre 21,6 e 26,5ºC. O rio Xingu é a quarta maior bacia hidrográfica da Amazônia (cerca de 7% em área) e um dos maiores rio de águas claras que drena os platôs cristalinos e planícies sedimentares do Escudo Brasileiro, sendo responsável por cerca de 5% da vazão do rio Amazonas. A transparência de suas águas esverdeadas varia de 0,6 a 4 metros, com ph entre 4,5 e 7,8. Estima-se uma riqueza aproximada de 500 espécies de peixes para a bacia do rio Xingu, sendo que 25 espécies são de alta importância para a pesca esportiva no rio Xingu.

Durante os trabalhos de campo na área, fazendas e pousadas de pesca foram visitadas e seus proprietários e funcionários foram entrevistados sobre as suas práticas profissionais, sobre o desmatamento da região e sobre a sua percepção do declínio da quantidade de peixes nos rios e suas possíveis causas. Todos os fazendeiros e outros trabalhadores agrícolas entrevistados tendem a atribuir à pesca esportiva indiscriminada a responsabilidade pela diminuição da quantidade de peixes. De modo geral, apesar de reconhecerem que defensivos agrícolas e fertilizantes podem ser prejudiciais aos peixes, não reconhecem o desmatamento como um importante impacto aos ambientes aquáticos. Ao contrário dos fazendeiros, as pessoas envolvidas com a pesca esportiva atribuem o declínio na quantidade de peixes às praticas agrícolas, mas também não veem o desmatamento como um impacto sério para os ambientes aquáticos. Na região do alto Xingu o número de pousadas especializadas em receber pescadores esportivos e disponibilizar condições para pesca é muito grande. Em uma área visitada de cerca de 50 km no baixo rio Coluene, por exemplo, existem pelo menos cinco pousadas com capacidade para receber dezenas de pescadores e de levá-los para pescar diariamente. A bacia do Rio Xingu está completamente compreendida em terras brasileiras, correspondendo a um dos afluentes da margem direita do Rio Amazonas. Suas nascentes estão no estado brasileiro do Mato Grosso e compartilham divisores de águas com as ecorregiões do Tocantins-Araguaia, do Tapajos-Juruena e do Paraguai. A bacia tem extensão de 463,77 Km 2 e suas nascentes localizam-se em terras altas do Escudo Brasileiro. Para bacia do Rio Xingu são catalogados 142 espécies de peixes das quais 36 são endêmicas. As principais modalidades de pesca observadas ao longo da bacia do Alto Rio Xingu foram a pesca artesanal e a pesca amadora. A pesca artesanal é desempenhada por pessoas que moram nas cidades próximas aos rios e por ribeirinhos. Os principais apetrechos de pesca utilizados nas pescarias são anzóis de barrando (ou pinda) e varas com molinetes. Geralmente o transporte e as pescarias são realizadas em pequenas embarcações, com motores de pequena potencia. É interessante perceber que alguns dos pescadores profissionais, que utilizavam a pesca artesanal para seu sustento, passaram a ser incorporados aos serviços relacionados à pesca amadora. Pelo conhecimento da geomorfologia dos rios e da biologia e ecologia das diferentes espécies de peixes, esses pescadores são os principais guias para a prática da pesca amadora. Os apreciadores da pesca amadora em águas de interiores buscam locais pristinos para a prática dessa atividade. Essas regiões possuem comunidades nativas de peixes e exemplares de grande porte, os quais são mais apreciados durante as pescarias. A bacia Amazônica possui grande potencial para o desenvolvimento dessa modalidade de pesca por apresentar uma grande malha hídrica, em sua maioria, ainda preservada. A região do Alto Rio Xingu encontra-se no limite da fronteira agrícola no estado brasileiro do Mato Grosso. A chegada da agricultura promove grandes alterações ao ambiente natural e muitas delas relacionadas aos mananciais hídricos. A partir de relatos de moradores, que vivem nessa região a pelo menos 20 anos, é possível

perceber a influência da ocupação humana e crescimento do desmatamento sobre os estoques pesqueiros. Ao longo dos trechos visitados foi possível visualizar a descaracterização dos ambientes naturais e crescimento da agricultura e pecuária. Foi comum também o relato por pescadores profissionais que a concentração de algumas espécies de interesse comercial ocorre principalmente em trechos no limite com o Parque Indígena do Xingu, região bastante preservada. Muito provavelmente, os estoques pesqueiros dentro dessa reserva são mantidos pela integridade de suas matas. Nos dias 13 a 15 de maio de 2013 foi feita uma viagem do Consultor Cleber Alho a Belém com o objetivo de fazer contatos com instituições e pesquisadores para juntar elementos técnico-científicos à missão de estudo ao segundo hotspot (Baixo Rio Tocantins) que a equipe de três consultores fez na região em junho, conforme contratos e termos de referências dos consultores. Nos dias 10 a 16 de junho de 2013 a equipe formada pelo consultor Cleber Alho e pelos consultores de apoio Roberto Reis e Pedro Aquino participou dos trabalhos de campo no segundo hotspot no Baixo rio Tocantins. A logística dos trabalhos de campo foi bem sucedida, planejada com antecedência. Contamos com barco e barqueiro experiente, conhecedor da região, além de carro alugado para deslocamentos terrestres. Os contatos preliminares feitos com a Eletronorte e o consequente apoio recebido foram essenciais para o sucesso dos trabalhos. Exploramos de barco a região do reservatório de Tucuruí (indo até Porto Novo e Santa Rosa, distantes cerca de 100 km da barragem) e também a região do rio Tocantins, a jusante da barragem, com os trabalhos indo até a região de Baião (cerca de 120 km da barragem), explorando ambientes aquáticos da área da Reserva Extrativista Ipaú-Anilzinho, região de Joana Peres e outras. Tivemos a chance de entrevistar lideranças de pescadores em diversas cooperativas e colônias de pesca nesses lugares. O objetivo deste segundo trabalho de campo foi para dar sequência aos estudos nos hotspots designados pelo Projeto GEF Amazonas, conforme componentes II.1.1 (melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos) e III.1.1 (manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots), desta vez explorando as questões dos ecossistemas aquáticos, tomando a questão de peixes e pesca como vetor, na Região do Rio Tocantins, afetado pela represa de Tucuruí, e também ao longo do rio a jusante da represa. Além dos trabalhos locais de observação direta dos ambientes, houve entrevistas com lideranças e cooperativas de pesca, incluindo a abordagem de reservas extrativistas estabelecidas na região. As atividades incluiram a identificação de fatores de estresse ambiental e problemas críticos, que possam ser identificados no hotspot específico e o desenvolvimento de um conjunto de ações estratégicas validadas para o manejo sustentável e participativo de recursos pesqueiros e a proteção da biodiversidade aquática estendida para toda a Bacia Amazônica, visando a formulação de intervenções estratégicas replicáveis em amplo espectro para inclusão no Programa de Ações Estratégicas. Participam do trabalho o consultor Cleber Alho, coordenador dos componentes do Projeto, e os consultores de apoio Roberto Reis, professor-pesquisador em ictiologia

da PUC-RS, que vem de Porto Alegre para os trabalhos de campo, e Pedro Aquino, biólogo da UnB, pesquisador em ictiologia, todos em atividade para implementação do Produto ora em elaboração conforme os respectivos TDRs. O Rio Tocantins nesse trecho está modificado pela barragem formando a imensa represa de Tucuruí, com 180 km de extensão, e a região a jusante da barragem compreende várias localidades com atividade de pesca (Icanguí, Ituquara, Baião, Mucajuba e Cametá). A próxima excursão de trabalho no campo será na região do Médio rio Negro, nas proximidades da cidade de Barcelos. Em conclusão, as atividades dos componentes II.1.1 e III.1.1 do Projeto GEF- Amazonas progridem em sua plena execução, conforme os planos de trabalho e o cronograma estabelecidos, tendo até então atingido seus objetivos parciais em plenitude e evoluindo na direção de alcançar seus objetivos finais.