Recursos Hídricos. Racionalização do uso da água no meio rural. Anexo III-f. Prospecção Tecnológica. Síntese de Painel de Especialistas
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- Larissa de Sá Pinto
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1 Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação Prospecção Tecnológica Recursos Hídricos Anexo III-f Racionalização do uso da água no meio rural Síntese de Painel de Especialistas 1
2 Contexto O uso da água no meio rural envolve vários aspectos: o uso da água para irrigação, população e dessentação animal, impactos das práticas agrícolas e produção de animais para abate, entre outros. A irrigação é o maior usuário da água tanto em nível de país como em âmbito mundial (da ordem de 60% do total). A água utilizada na produção irrigada é consuntiva, ou seja, parte do volume utilizado não retorna para o sistema hídrico, mas é evaporado para a atmosfera. Na maioria das regiões este volume de água não retorna ao local evaporado, mas entra no sistema geral de circulação da atmosfera. Em regiões de limitada disponibilidade de água frente à demanda, é necessário buscar a racionalidade do uso da água, evitando-se conflitos de usos e impactos ambientais. A racionalidade do uso da água não é vista aqui somente com relação à irrigação, mas também as práticas agrícolas que de alguma forma afetam a quantidade e qualidade do ciclo hidrológico natural dos sistemas hídricos. O desenvolvimento rural no Brasil tem sido muito grande nos últimos anos pela capacidade técnica e científica do país em dominar a agricultura tropical. Isto tem permitido bater recordes sucessivos de produção agrícola principalmente pela produtividade. Com este sucesso também se observa expansão do uso de áreas agrícolas em direção a Amazônia e ao Cerrado, que tem características de relevo apropriado para uso agrícola. No caso do Cerrado, as limitações estão no longo período sazonal seco (maio a setembro) que requer irrigação. Esta demanda está aumentando com forte impactos sobre a disponibilidade hídrica e o meio ambiente. A tendência natural é a de construção de pequenos reservatórios, já que a água subterrânea encontra-se a grande profundidade. No o limitante principal é a disponibilidade hídrica, seja para a irrigação empresarial como para a subsistência. Observa-se aí que a fruticultura tem sido uma tendência de buscar maior valor agregado à produção e ao retorno do investimento. No Sul e parte do Sudeste o desenvolvimento do plantio utiliza pouca irrigação (com exceção do arroz no Sul), mas desde a década de 90 tem sido utilizado o plantio direto. Este tipo de plantio alterou o impacto das práticas agrícolas sobre o comportamento hídrico das bacias hidrográficas, com um ganho econômico e ambiental. Devido a reduzido uso da irrigação o plantio na região é fortemente 2
3 Recursos Hídricos Prospecção Tecnológica dependente das condições climáticas de cada ano, o que tem impacto sobre a produção e renda regional. A produção de animais para o abate no Sudoeste de Santa Catarina, com expansão para o Centro-Oeste tem produzido uma dos maiores impactos ambientais do país, principalmente pela terceirização da produção por pequenas propriedades e cargas distribuídas por extensas áreas em que o meio ambiente passa a subsidiar a indústria de alimentos, já que os efluentes não são tratados. Somado a este conjunto de elementos devem-se destacar também outros aspectos ambientais relacionados com a produção agrícola como o impacto sobre os sistemas hídricos do uso de pesticidas, mas principalmente sobre o consumo de água pelas populações urbanas. O perfil de grande produtor mundial de alimentos do país está baseado nas suas condições climáticas, solo e água. A futura expansão desta área de desenvolvimento econômico dependerá das condições climáticas, da disponibilidade hídrica e da sustentabilidade ambiental, pois o crescimento sem controle pode destruir este alto potencial de recursos existente no país. A complexidade deste conjunto de problemas dificilmente poderia ser explorada na sua totalidade dentro de uma única prospecção tecnológica. Portanto, os objetivos deste estudo são de identificar os tópicos científicos e tecnológicos que necessitam ser examinados e elencar prioridades e mecanismos de investimento para atuar sobre os tópicos identificados visando sobre tudo dar sustentabilidade ao desenvolvimento rural do país dentro de bases científicas e tecnológicas qualificadas no que se refere ao meio ambiente aquático. Principais questões identificadas As questões identificadas no documento de base e ao longo da reunião técnica devem ser vistas dentro de duas linhas principais. Os aspectos relacionados com a necessidade do país e, muitas vezes não relacionado diretamente com a Ciência e Tecnologia e os tópicos de interesse de investimento de C & T por um fundo de investimento como o CTHidro. Os tópicos a seguir destacados foram reunidos dentro do seguinte conjunto: demanda, oferta, qualidade e gestão. Dentro de cada um dos temas foram destacados os principais tópicos. 3
4 Demanda Zoneamento que envolva a avaliação e caracterização das principais culturas que combinem a produtividade econômica com o uso racional da água. Apesar do conhecimento empírico corrente sobre as culturas mais apropriadas em cada região, torna-se necessário uma avaliação técnico-científica que oriente ao produtor sobre as culturas apropriadas que combinem tipo de solo, clima, uso da água, manejo e retorno econômico. Avaliação econômica e tecnológica das diferentes práticas de irrigação como orientação ao produtor. Estas práticas estão relacionadas diretamente com os tipos de sistemas de irrigação, investimentos, retornos e financiamento; Desenvolvimento de práticas racionais de uso da água para o arroz irrigado no Sul visando à redução da demanda por água e redução de potenciais conflitos; Desenvolvimento e aprimoramento das relações água e produtividade agrícola para diferentes culturas como elementos para o gerenciamento do uso e racionamento da água. Oferta Previsão climática de longo prazo de disponibilidade hídrica e avaliação de risco de oferta hídrica agrícola. Considerando a grande dependência da precipitação e da vazão tanto no Nordeste como no Sul e Sudeste do Brasil é fundamental para a produção agrícola brasileira ter maior conhecimento sobre as condições climáticas e a oferta hídrica. Nos últimos anos o clima tem sido muito favorável e parte do aumento da produção se deve a estes novos condicionantes. Até que ponto os mesmo se manterão no futuro? Qual o risco? Como poderia ser reduzido o impacto do risco com previsibilidade climática? Uso de técnicas alternativas de armazenamento da água para aumentar a regularização de vazão como: recarga de aqüíferos, barragens subterrâneas e sistema de regularização superficial. A grande expansão destas técnicas em diferentes regiões do país sem avaliação dos resultados pode levar a impactos ambientais e a própria redução da disponibilidade hídrica. As principais questões são: Quais as vantagens e desvantagens destas técnicas? Quais os resultados 4
5 Recursos Hídricos Prospecção Tecnológica quantitativos para a produção agrícola e os impactos ambientais resultantes? Como orientar as práticas adequadas? O Plantio Direto alterou parte do ciclo hidrológico terrestre aumentando a infiltração e o escoamento sub-superficial. Quais são efetivamente estas alterações em termos quantitativos? Quais são os impactos em termos de rendimento e disponibilidade hídrica? Qual é a efetiva recarga para o aqüífero e o retorno ao escoamento superficial, impacto sobre o ravinamento, entre outros? Qual é a experiência adquirida e seu reflexo sobre os sistemas de recursos hídricos das bacias de jusante? Este componente deveria reunir as práticas de sucesso deste tipo de plantio, investir em aumentar o conhecimento sobre os gargalos de conhecimento. Qualidade Este componente tem uma forte interface com as prospecções de qualidade da água, qualidade da água subterrânea e saneamento: Avaliação do impacto resultante da produção de aves e suínos no Sudoeste e Centro- Oeste de Santa Catarina sobre as bacias hidrográficas. Desenvolvimento de práticas sustentáveis e tratamento de efluentes e avaliação da sustentabilidade econômica e social. Pode-se observar que as cargas existentes são muito altas e que a reciclagem sustentável dificilmente tem condições de minimizar de forma substancial da carga lançada sobre os rios. Desta forma, torna-se necessário desenvolver sistema de tratamentos de pequena carga e buscar a viabilidade econômica financeira para esta produção. No cenário atual o ambiente está subsidiando a produção nacional e de exportação, o que seguramente terá um preço a ser pago; Desenvolvimento de práticas de reuso da água urbana no sistema agropecuário dentro de padrões ambientais adequados, buscando reduzir a carga residuária do sistema; Avaliação da qualidade da água efluente de diferentes práticas agrícolas sujeita a diferentes compostos existentes nos pesticidas. Esta avaliação passa pelo escoamento e a carga em suspensão nos rios e no depósito de sedimentos que representa o acumulado das cargas depositados em vários anos nos rios e sujeita a re-suspensão durante as inundações. 5
6 A produção de sedimentos em áreas críticas e devido à prática da agropecuária como ocorre no Mato Grosso do Sul. Esta produção de sedimentos pode comprometer a capacidade dos rios e reservatórios em função da expansão agrícola. Gestão Desenvolvimento de sistemas de suporte a decisão a partir de uma base de dados de campo, em informações de satélites, modelos de previsão climáticos e de umidade do solo, produtividade agrícola e condições de plantio; Um plano de capacitação de profissionais para os diferentes aspectos tecnológicos que forneçam o suporte à expansão do negócio agropecuário; Desenvolvimento de um programa securitização que envolva: risco agrícola Pesquisa sobre os instrumentos legais que possam impactar positivamente no uso da água na agricultura. Pesquisa sobre as variáveis climáticas e hidrológicas, variação do risco agrícola. Gestão interdisciplinar da previsão climática, hidrológica, manejo agrícola e resultado econômico. Estes aspectos estão de alguma forma inseridos nos itens anteriores, mas destaca-se aqui o aprimoramento aprimorar da integração interdisciplinar para o desenvolvimento integrado, que envolvem profissional de meteorologia, hidrologia, análise de sistema, manejo agrícola e produtividade em função da demanda e retorno econômico. Recomendações e mecanismos Uma parcela dos itens relacionados possui forte inter-relação com os temas de clima e recursos hídricos, qualidade da água, qualidade da água subterrânea e saneamento. Os mecanismos propostos nestes componentes devem se integrar para a busca de uma visão integrada do desenvolvimento da pesquisa. Com relação ao tema de clima e recursos hídricos, foi proposto o investimento de uma rede de observação de bacias pilotos nos ambientes brasileiros. Neste caso, bastaria incorporar os itens identificados aqui de medidas de sedimentos, dos processos que ocorrem no plantio direto e qualidade da água nas medidas deste programa. Portanto, a amostragem das bacias 6
7 Recursos Hídricos Prospecção Tecnológica em diferentes escalas deveria contemplar amostras de condições ambientais e de práticas agrícolas nos ambientes brasileiros. No referido tema também foi proposto o desenvolvimento de um programa de pesquisa de previsão e mitigação dos impactos climáticos. Um dos focos deste programa deve ser a agropecuária com visão de mitigação dos efeitos do risco agrícola, com foco principalmente em regiões com e sem irrigação. No que se refere aos outros tópicos tecnológicos recomenda-se o investimento em editais específicos que busquem responder as questões de destaques a serem elencadas durante o workshop. 7
8 Participantes do Painel de Especialistas Autor do documento de referência: Dr. Andrés Troncoso Vilas Consultor independente De acordo com a metodologia de prospecção adotada pelo CGEE, participaram do painel sobre Racionalização do uso da água no meio rural, nos dias 15 e 16 de outubro de 2003, os seguintes especialistas: Participantes Vínculo Institucional Antonio Felix Domingues Agência Nacional de Águas - ANA Demetrios Christofidis Ministério da Integração Helvécio Saturnino Consultor Independente Washington Luiz de C. e Silva Embrapa - CNPH Andrés Troncoso Vilas Consultor independente 8
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