Fundo Para o Meio Ambiente Mundial

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Fundo Para o Meio Ambiente Mundial"

Transcrição

1 Fundo Para o Meio Ambiente Mundial Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E MUDANÇA CLIMÁTICA OTCA/GEF/PNUMA Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de recursos naturais da bacia do Rio Amazonas Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos amazônicos Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots Foto: Roberto E. Reis Relatório Produto 4 Estudo consolidado e integrado dos trabalhos de campo com ênfase nos ecossistemas aquáticos e biodiversidade Brasília, Brasil 1

2 PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E A MUDANÇA CLIMÁTICA OTCA/GEF/PNUMA Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de recursos naturais da bacia do Rio Amazonas Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos amazônicos Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots Relatório Produto 4 Estudo consolidado e integrado dos trabalhos de campo com ênfase nos ecossistemas aquáticos e biodiversidade Coordenador dos Componentes Cleber J. R. Alho Coordenação da Atividade Norbert Fenzl Consultor Roberto E. Reis Novembro/2013 2

3 RESUMO EXECUTIVO Ecossistemas Aquáticos e Biodiversidade A bacia Amazônica está situada sobre um terreno de origem mista uma grande área recente de terras baixas no centro, duas grandes áreas periféricas de rochas ígneas cristalinas e metamórficas Pré-Cambrianas, o Escudo Brasileiro e o Escudo das Guianas, e os Andes a oeste. Uma das características mais marcantes do continente Sul Americano é a sua baixa altitude média na crosta terrestre. Cerca de 50% da área total do continente situam-se abaixo de 250 m de altitude. Uma consequência dessa baixa elevação é que porções significativas do continente estiveram repetidamente expostas a transgressões e regressões marinhas ao longo do curso dos últimos 120 milhões de anos, afetando drasticamente a extensão e distribuição dos hábitats disponíveis para os peixes de água doce. A distribuição biogeográfica dos peixes amazônicos está limitada por características ecológicas e de paisagem, como geomorfologia das bacias, clima, tipos de hábitat, e química da água. A sazonalidade na Amazônia se refere à precipitação pluviométrica e não a temperatura. A precipitação na Amazônia é, de maneira geral, muito intensa, apesar de não ser homogeneamente distribuída no espaço e no tempo. A estação chuvosa se estende por cerca de seis meses, com a maior parte da chuva em janeiro. Julho é geralmente o meio da estação seca, na maior parte da Amazônia. A precipitação média anual situa-se entre 1,5 e 2,5m na bacia como um todo, com valores locais ultrapassando os 4m no noroeste da bacia, na Colômbia, e ao norte da foz do rio Amazonas, no Amapá. Toda essa pluviosidade é a causa do mais importante aspecto da sazonalidade dos rios Amazônicos, o regime de enchentes e secas. As águas altas seguem a estação chuvosa, com as épocas locais de enchente dependendo de fatores geográficos locais e posição na bacia. A enorme diversidade de peixes Sul Americanos vive em uma série de diferentes hábitats aquáticos, incluindo grandes rios, pequenos riachos, extensos banhados e áreas alagadas, lagos e rios de altitude, lagoas costeiras, etc. Esses principais tipos de hábitats aquáticos são baseados em altitude, gradiente, pluviosidade, temperatura, cobertura vegetal e tipo de solo. A química da água impõe limites adicionais à distribuição e abundância dos peixes neotropicais, especialmente na Amazônia. A principal característica regional e de paisagem que influencia a química da água é a localização das cabeceiras (escudos, Andes, florestas baixas), a cobertura vegetal dominante (floresta ou savana) e o tipo de solo (rochas ígneas antigas ou terreno sedimentar Andino). A fauna de peixes da bacia Amazônica é a mais rica do mundo e estimativas conservativas sugerem que existam cerca de espécies conhecidas na bacia Amazônica. Esse número, entretanto, é uma clara subestimativa, pois uma parcela significativa da biodiversidade está ainda por ser descoberta e descrita. Essa enorme e diversa fauna de peixes de água doce é muito antiga e tem origens históricas distintas. As ameaças ambientais aos ecossistemas aquáticos e à ictiofauna detectadas nos estudos de campo nos três hotspots designados e com base na literatura publicada estão sintetizadas nos seguintes elementos: Alteração e perda de hábitats de peixes devido ao desmatamento da vegetação ripária As medidas mitigadoras para esta ameaça ambiental compreendem: Monitoramento e controle de desmatamentos da vegetação ripária, inclusive em cumprimento à legislação de vários países membro da OTCA; Conscientização dos produtores rurais sobre a faixa mínima de vegetação ripária; Criação de mecanismos participativos de fiscalização (cooperação das comunidades de pescadores com os órgãos ambientais). 3

4 Efeito da diminuição da vazão dos rios devido ao desmatamento das áreas de nascentes As medidas mitigadoras para esta ameaça ambiental compreendem: Monitoramento e controle de desmatamentos extensivo em todas as áreas da bacia Amazônica, em especial a sua metade sul no Brasil; Conscientização dos governos dos países membros da OTCA da importância da manutenção das florestas ainda existentes para a sobrevivência do ecossistema; Criação de mecanismos participativos de fiscalização (cooperação das comunidades de pescadores com os órgãos ambientais). Efeito de contaminantes ambientais na qualidade da água As medidas mitigadoras para esta ameaça ambiental compreendem: Monitoramento e controle do uso extensivo e indiscriminado de fertilizantes e pesticidas em todas as áreas da bacia Amazônica, em especial a sua metade sul no Brasil; Conscientização dos governos dos países membros da OTCA da importância da melhoria das condições de saneamento das capitais e dos principais núcleos urbanos, mediante a ampliação ou a implementação de sistemas de tratamento de esgotos domésticos, além de sistemas para tratamento de efluentes industriais e de disposição final de resíduos sólidos Proibição do uso de mercúrio para separação do ouro nos garimpos; Desenvolvimento de pesquisa para encontrar forma alternativa de separação do ouro; Fiscalização sobre venda e utilização de mercúrio; Conscientização de garimpeiros sobre os malefícios do mercúrio para a saúde e ambiente. Efeito de reservatórios de hidrelétricas na diversidade e comunidades de peixes As medidas mitigadoras para esta ameaça ambiental compreendem: Conscientização dos governos dos países membros da OTCA da importância da construção de sistemas de passagens para peixes (escadas, canais, elevadores) em hidrelétricas novas e existentes; Planejamento de longos espaços livres de rio entre as UHEs em sequência em um mesmo rio; Desenvolvimento de pesquisa para proposição de ações na operação das UHEs com a finalidade de reduzir a variação do nível do rio a jusante durante a estação reprodutiva dos peixes. Efeito de obras de infraestrutura na diversidade e comunidades de peixes As medidas mitigadoras para esta ameaça ambiental compreendem: Planejamento de longos espaços livres de rio entre as UHEs em sequência em um mesmo rio; Desenvolvimento de pesquisa para proposição de ações na operação das UHEs com a finalidade de reduzir a variação do nível do rio a jusante durante a estação reprodutiva dos peixes. Desenvolvimento de pesquisa para utilização mais eficiente de outras formas de geração de energia elétrica. Reforçar a necessidade da efetiva implementação da legislação ambiental Brasileira relativa ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e ao Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA) nos empreendimentos altamente impactante, que determinam mitigação de impactos e compensação por perdas ambientais. 4

5 Pressão predatória sobre quelônios e outras espécies de hábitos aquáticos As medidas mitigadoras para esta ameaça ambiental compreendem: Elaboração de programas de educação ambiental para a conscientização da população de ribeirinhos sobre a importância das tartarugas e outros animais no ecossistema. Incrementar os programas existentes de proteção aos quelônios na época da desova e de cultivo controlado, a exemplo do que já ocorre em algumas praias do rio Negro e outros locais na Amazônia. Estabelecer novos programas de cultivo e uso sustentável de recursos naturais com a tartaruga-da-amazônia. Ampliação da fiscalização por parte do IBAMA e de agências estaduais sobre a caça e comercialização de quelônios e mamíferos aquáticos. Efeitos das mudanças climáticas sobre os ambientes aquáticos As medidas mitigadoras para esta ameaça ambiental compreendem: Conscientização dos governos dos países membros da OTCA sobre importância da floresta e de sua manutenção, como um regulador do clima; Estudos sobre programas de reflorestamento e recuperação de áreas degradas, com a finalidade de diminuir a exposição do solo; Desenvolvimento de programas de educação ambiental e de conscientização sobre as mudanças climáticas e de como elas afetam a biodiversidade, em especial a biodiversidade aquática. Diminuição mundial das emissões de gás carbônico. 5

6 SUMÁRIO RESUMO EXECUTIVO I - A BACIA AMAZÔNICA, ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS E ICTIOFAUNA Descrição física da bacia Os peixes da bacia Amazônica II. A BACIA DO RIO XINGU A bacia hidrográfica A fauna de peixes do Xingu III. O HOTSPOT DO ALTO RIO XINGU A floresta do alto Xingu Fazendas na área visitada Pousadas de pesca Ambientes aquáticos visitados As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos IV. A BACIA DO RIO TOCANTINS A bacia hidrográfica. Hábitats aquáticos A fauna de peixes do rio Tocantins V. O HOTSPOT DO BAIXO RIO TOCANTINS A floresta do rio Tocantins A Usina Hidrelétrica de Tucuruí Mercados e áreas de desembarques de pescado visitados. No reservatório da UHE Tucuruí A jusante do reservatório da UHE Tucuruí Colônias de pescadores visitadas Ambientes aquáticos visitados As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos VI. A BACIA DO RIO NEGRO A bacia hidrográfica 6

7 Hábitats aquáticos A fauna de peixes VII. O HOTSPOT DO MÉDIO RIO NEGRO A floresta do médio rio Negro Comunidades ribeirinhas visitadas Ambientes aquáticos visitados Áreas de pesca visitadas Principais entrevistas As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos VIII. AÇÕES PROPOSTAS PARA CONSERVAÇÃO E MANEJO LISTA DE FIGURAS Figura 1. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada com os principais pontos referidos no texto. Figura 2. Os trechos de rio marcados com o track de GPS foram visitados de barco. O Rio Sete de Setembro próximo à Canarana e o seu riacho afluente próximo à Água Boa foram visitados de carro. Figura 3. Margem do rio Sete de Setembro mostrando o desmatamento até a beira do rio. As árvores mais altas são testemunhos da dimensão que a mata primária possuía antes do desmatamento. Figura 4. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando o rio Coluene imediatamente acima da área visitada. Figura 5. Plantação de soja em fase de colheita junto à área de mineração de areia em riacho tributário do rio Sete de setembro. Figura 6. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada no baixo Tocantins com os principais pontos referidos no texto. Figura 7. Vista parcial da represa da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Figura 8. Vista parcial do Porto do Onze, local por nós visitado de desembarque de pescado do reservatório de Tucuruí. Figura 9. Vista interna do Porto de Novo de Jacundá, local por nós visitado de desembarque de pescado do reservatório da UHE Tucuruí. Figura 10. Vista parcial do mercado de peixes de Baião. Figura 11. Local de pesca no rio Tocantins, a jusante da UHE Tucuruí. Figura 12. Área de várzea no baixo rio Tocantins, alagada no período de cheia onde peixes desovam e utilizam como berçário para juvenis. Figura 13. Canal do rio Negro em frente à cidade de Barcelos, onde destaca-se a Igreja Matriz e o porto. Figura 14. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada no rio Negro e seus afluentes, destacando os principais pontos referidos no texto. Figura 15. Demonstração do uso do rapixé na área rasa do igapó, para coleta de peixe de aquário. Figura 16. Demonstração do uso do cacuri na área rasa do igapó para captura de peixes da pesca para suprir espécies de interesse do comércio da aquariofilia. 7

8 I - A BACIA AMAZÔNICA, ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS E ICTIOFAUNA Descrição física da bacia A distribuição biogeográfica dos peixes amazônicos está limitada por características ecológicas e de paisagem, como geomorfologia das bacias, clima, tipos de hábitat, e química da água. Ainda, como em todo o planeta, cerca de 80% da superfície da Amazônia é drenada por cursos d água de primeira e segunda ordem. Riachos de primeira ordem são os menores tributários de cabeceiras, e riachos de segunda ordem são formados pela confluência de riachos de primeira ordem. Apenas uma pequena fração da superfície terrestre é ocupada por grandes rios (8-12 ordem) e suas áreas de inundação associadas, que ocupam aproximadamente 8% da área da bacia Amazônica. Ainda assim, essa superfície de áreas periodicamente inundadas do rio Amazonas é da ordem de km 2. Nesta bacia, todas as dimensões são gigantescas. Quando o comprimento total ou mesmo a área da bacia de drenagem são considerados, apenas dois rios da América do Sul estão entre os dez maiores do mundo, o Amazonas e o Paraná. Entretanto, se a descarga média dos rios é considerada, cinco rios Sul Americanos estão entre os dez maiores do planeta Amazonas, Orinoco, Madeira, Negro e Paraná, que juntos descarregam m 3 por segundo no oceano Atlântico. O rio Amazonas sozinho é de longe o mais volumoso do mundo, com uma descarga de m 3 por segundo, à frente do Orinoco com e do Congo, na África, com m 3 por segundo (Reis, 2013). Outra importante característica ecológica da bacia Amazônica é a sua posição sobre o equador, estendendo-se cerca de 10º norte e 15º sul, com cerca de dois terços do total da bacia no hemisfério sul. A sazonalidade na Amazônia se refere à precipitação pluviométrica e não a temperatura. A precipitação na Amazônia é, de maneira geral, muito intensa, apesar de não ser homogeneamente distribuída no espaço e no tempo. A estação chuvosa se estende por cerca de seis meses, com a maior parte da chuva em janeiro. Julho é geralmente o meio da estação seca, na maior parte da Amazônia. A precipitação média anual situa-se entre 1,5 e 2,5 m na bacia como um todo, com valores locais ultrapassando os 4 m no noroeste da bacia, na Colômbia, e ao norte da foz do rio Amazonas, no Amapá. Toda essa pluviosidade é a causa do mais importante aspecto da sazonalidade dos rios Amazônicos, o regime de enchentes e secas. As águas altas seguem a estação chuvosa, com as épocas locais de enchente dependendo de fatores geográficos locais e posição na bacia (Goulding et al., 2003). Muitos rios das terras baixas amazônicas estão em período de enchente por cerca de seis a sete meses por ano, com os tributários da margem sul geralmente enchendo primeiro. Os tributários do Amazonas que drenam o Arco de Fitzcarraldo, no Peru, e o Escudo Brasileiro (Madeira, Tapajós, Xingu, Araguaia e Tocantins) tem sua cheia com a estação chuvosa, com o pico entre março e abril. O Negro e o Branco tem seu período de águas mais altas em junho e julho. No oeste da bacia as águas mais altas são em março e abril, e se propagam para baixo, de tal maneira que o pico das águas altas chegam a Manaus e Santarém em junho e julho. O período de águas mais baixas geralmente ocorre quatro a seis meses mais tarde. O nível da água ao longo da bacia Amazônica varia enormemente, com o nível anual em Tefé, na Amazônia central, variando cerca de 10m entre a cheia e a seca, chegando a mais de 13m no médio Madeira e médio Purus. O período de águas baixas dura de agosto a dezembro na maior parte da bacia Amazônica, apesar de que as enchentes podem durar até setembro em alguns tributários da margem norte (Goulding et al., 2003). 8

9 Os peixes da bacia Amazônica A fauna de peixes da bacia Amazônica é a mais rica do mundo e rivaliza em diversidade com peixes marinhos de recifes coralinos. Estimativas conservativas sugerem que existam cerca de espécies descritas de peixes na bacia Amazônica (Albert & Reis, 2011b). Esse número, entretanto, é uma clara subestimativa, pois uma parcela significativa da biodiversidade está ainda por ser descoberta e descrita. De acordo com Reis (2013), a fauna de peixes de água doce da América do Sul está estimada em mais de espécies. Quando toda a região Neotropical é considerada incluindo também a América Central ao sul do istmo de Tahuantepec, no México o número de espécies de peixes sobe para mais de 5.000, representando quase 10% de todos os vertebrados conhecidos (Lundberg et al. 2000). A seguir, apresenta-se uma interessante ilustração do atual ritmo de descoberta e descrição de novas espécies de peixes, para ilustrar essa grande diversidade de espécies. O Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America CLOFFSCA (Reis et al., 2003) listou espécies válidas de peixes e estimou a existência de espécies adicionais, ainda não descritas, com base na experiência dos autores, conjecturas e conhecimento sobre pesquisas em andamento, elevando o número estimado de espécies existentes na região Neotropical para Nos nove anos decorridos desde a publicação do CLOFFSCA, cerca de 900 novas espécies de peixes de água doce foram descritas para a região, perfazendo uma média de uma nova espécie descrita a cada 3,5 dias, e assim elevando o número de espécies conhecidas para cerca de em Mantido este ritmo de descrição de novas espécies, a estimativa de espécies do CLOFFSCA será atingida em seis anos. Como a curva de acumulação de descrição de novas espécies está claramente ascendente e não se aproxima de uma assintótica, pode-se esperar que o número final de peixes de água doce da região Neotropical possa exceder a estimativa de Schaefer (1998) de espécies! Aplicando-se a mesma estimativa de aumento para a fauna de peixes de água doce apenas da bacia Amazônica, conclui-se que é possível que o bioma possa exceder espécies! Surpreendentemente, essa estimativa de que cerca de 30% da fauna de peixes de água doce da América do Sul ainda estão por ser descritas, não é novidade. Há 35 anos, um clássico artigo de Bohlke et al. (1978) estimou o número de peixes de água doce da América do Sul e chegou a mesma avaliação de que 30% das espécies ainda estavam por ser descritas. O período decorrido desde a avaliação de Bohlke et al. testemunhou um número sem precedentes de espécies de peixes sendo descritas da América do Sul. Ainda assim, 35 anos depois continuamos com a mesma estimativa da percentagem de espécies que ainda não foram descritas. Os fatores que explicam o aumento na taxa de descobertas de novas espécies de peixes na América do Sul foram listados por Ferraris & Reis (2005) referindo-se aos bagres (Siluriformes), mas aplicam-se igualmente a todos os grupos de peixes: o aumento no número de taxonomistas de peixes, a exploração mais intensa dos ambientes aquáticos do continente e mudanças no conceito de espécie, que tendem cada vez mais a discriminar mais finamente as populações. Essa enorme e diversa fauna de peixes de água doce é muito antiga e tem origens históricas distintas (Albert et al., 2011). Os ancestrais marinhos da maioria dos pequenos grupos de peixes invadiram as águas doces do continente Sul Americano e diversificaram durante o Paleogeno, principalmente Oligoceno e Mioceno. Os grandes grupos, entretanto, como os 9

10 Cichlidae e Ostariophysii, estiveram isolados no continente desde o final da separação do Gondwana, no Cretáceo, aproximadamente a 100 milhões de anos. II. A BACIA DO RIO XINGU A bacia hidrográfica O rio Xingu é um dos principais tributários da bacia Amazônica e drena o Escudo Brasileiro, juntamente com o Tocantins, Araguaia, Tapajós e parte do rio Madeira. A bacia do rio Xingu compõe a Ecorregião Aquática 322 do mapa das ecorregiões de água doce do mundo de Abell et al. (2008), que é limitada ao norte pela área de Belo Monte, na zona de contato entre a bacia sedimentar Amazônica e o Escudo Brasileiro, a leste e ao sul pelo divisor de águas com a bacia do rio Araguaia, ao longo da Serra do Roncador, Serra dos Gradaús e Serra dos Carajas, e a oeste pelo divisor de águas com a bacia do rio Tapajós, ao longo da Serra Formosa e Serra do Cachimbo. A elevação ao longo da bacia é muito lenta na maior parte da bacia, com um aumento da cota em relação ao nível do mar de cerca de 150 metros ao longo da Volta Grande, entre Belo Monte e Altamira e mais 150 metros entre Altamira e a confluência dos rios Sete de Setembro e Coluene, já em sua parte alta, área visitada neste estudo. As suas cabeceiras mais altas nascem no Planalto de Mato Grosso, a mais de 800 metros de altitude. Na maior parte de seu percurso o rio Xingu corre sobre terrenos cristalinos de granito e também calcário, o que lhe confere uma quantidade de sedimentos carreados muito baixa e alta transparência. O clima nesta ecorregião é tropical, com precipitação média anual entre e mm e com estação de cheia entre novembro e abril e com temperatura do ar média entre 21,6 e 26,5ºC. O rio Xingu é a quarta maior bacia hidrográfica da Amazônia (cerca de 7% em área) e um dos maiores rio de águas claras que drena os planaltos cristalinos e planícies sedimentares do Escudo Brasileiro, sendo responsável por cerca de 5% da vazão do rio Amazonas. A transparência de suas águas esverdeadas (por causa de florações de fitoplancton) varia de 0,6 a 4 metros, com ph entre 4,5 e 7,8. O nível da água começa a subir em setembro ou início de outubro, atingindo o pico da cheia entre março e abril. A média anual de flutuação do nível do rio é entre dois e cinco metros. Por causa da baixa carga de sedimentos, o rio é bastante largo na ria, assemelhando-se a um lago. Marés oceânicas ocorrem até cerca de 100 km acima da sua foz, a qual se encontra a cerca de 420 km do oceano Atlântico. A parte superior da bacia do rio Xingu, ao sul do paralelo de 10ºS, que coincide aproximadamente com a divisa Pará-Mato Grosso, situa-se em uma depressão caracterizada por extensas áreas úmidas que são periodicamente alagadas. Essa área contém lagos, banhados, florestas sazonalmente alagadas e savanas. Comparando-se com a parte baixa da bacia, onde o nível de nutrientes é baixo, a parte superior da bacia é mais rica em nutrientes, suportando maior diversidade de vegetação aquática, moluscos e outros invertebrados. Cataratas e corredeiras ocorrem principalmente na parte baixa e nos tributários do rio Xingu, notadamente as cataratas da Serra do Cachimbo e as corredeiras da Volta Grande, que agem como barreiras para a fauna aquática entre a Amazônia central e o Xingu superior (Hales & Petry, 2013). A fauna de peixes do Xingu A bacia do rio Xingu está dentro da região ictiogeográfica Guyano-Amazônica, e mais especificamente na província ictiogeográfica Amazônica (Gery, 1969; Ringuelet, 1975). Esta bacia contém um grupo de espécies diverso e único da porção leste do escudo Brasileiro (Hales & Petry, 2013). Em um estudo recente sobre a ictiofauna dos rios Xingu e Tapajós, Buckup et al. 10

11 (2011) coletaram 288 espécies de peixes de pequeno porte no rio Xingu, 128 das quais foram exclusivas dessa bacia. Essas espécies se distribuíram entre uma espécie de Condrichthyes (Rajiformes) e 11 ordens da Actinopterygii, das quais os Characiformes representaram cerca de 50% das espécies, seguidos pelos Siluriformes com cerca de 32%, dos Perciformes com cerca de 10% das espécies, entre outras. Ainda, pelo menos dois gêneros de peixes de água doce são endêmicos da bacia do rio Xingu (Ossubtus e Phallobrycon). Um achado muito positivo nesse estudo é que nenhuma espécie exótica foi capturada na bacia do Xingu. Considerando as espécies de médio e grande porte não levantadas e as demais espécies pequenas não amostradas naquele estudo, estima-se uma riqueza aproximada de 500 espécies para a bacia do rio Xingu. Ao final deste relatório estão listadas e ilustradas as 25 espécies mais importantes da pesca esportiva no rio Xingu. III. O HOTSPOT DO ALTO RIO XINGU Durante a viagem a campo para o alto rio Xingu priorizou-se a estratégia de inspeção ambiental direta, através de deslocamento por barco e automóvel. A equipe ficou hospedada na Pousada Nascente do Xingu, na beira do rio Xingu no município de Canarana, Mato Grosso. A partir dessa pousada diversas excursões em barco rápido (voadeira) foram empreendidas a diferentes ecossistemas aquáticos. Entrevistas com lideranças de pescadores e entidades representativas de pescadores, como Colônias de Pesca, foram efetuadas no sentido de conferir proximidade do diagnóstico e das ações propostas neste estudo. Ambientes visitados situavam-se nos rios Coluene e Sete de Setembro, próximas a nascente do rio Xingu, formado pela confluência dos dois rios acima, e no rio Coronel Vanick, um afluente do rio Sete de Setembro (Fig. 1). A área das nascentes do rio Sete de Setembro, escolhida para representar da região de nascentes do rio Xingu, foi inspecionada por terra, em veículo apropriado, e comparada com as demais nascentes do rio Xingu através de imagens de satélite (Fig. 2). Todo o trabalho foi registrado fotograficamente e as áreas visitadas nos rios foram georeferenciadas através de GPS. 11

12 Figura 1. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada com os principais pontos referidos no texto. Note a Reserva Indígena do Alto Xingu no canto superior esquerdo. Os trechos de rio marcados com o track de GPS foram visitados de barco. A floresta do alto Xingu. A região do alto Xingu representa uma zona de transição entre a Floresta Amazônica típica e o Cerrado do Planalto Central, com uma composição florística própria. À medida que a floresta amazônica vai avançando para o sul, sua fisionomia também vai se modificando, por causa do clima estacional sob o qual essa formação encontra-se hoje. Por isso, apesar de tratar-se de Floresta Estacional, é distinta florística e fisionomicamente da Floresta Estacional Semidecidual ou Decidual, com a qual ainda mantém algum contato por meio das florestas de galeria. Por este motivo, Ivanauskas et al. (2008) sugeriu a denominação de Floresta Estacional Perenifólia para o tipo vegetacional do alto Xingu. Assim, sob o ponto de vista fitogeográfico, a floresta do alto Xingu é considerada Amazônica, mas do ponto de vista morfoclimático é uma área de transição para o domínio do Cerrado. A área visitada situa-se exatamente sobre a fronteira do desmatamento no município de Canarana. A inspeção de imagens de satélite mostra que uma grande parte das florestas do alto Xingu já foi retirada para abrir espaço para a pecuária e, mais recentemente, para a agricultura extensiva (Fig. 3). 12

13 Figura 2. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada com os principais pontos referidos no texto. Note a bacia do rio Araguaia no canto inferior direito e a Reserva Indígena do Alto Xingu no canto superior esquerdo. Os trechos de rio marcados com o track de GPS foram visitados de barco. O Rio Sete de Setembro próximo à Canarana e o seu riacho afluente próximo à Água Boa foram visitados de carro. Fazendas na área visitada. Durante a inspeção da área, algumas fazendas de criação de gado e de plantação de soja foram visitadas. Nessas visitas os proprietários e/ou funcionários das fazendas foram entrevistados sobre as suas práticas de agricultura e pecuária, sobre desmatamento da região e sobre a sua percepção do declínio da quantidade de peixes nos rios e suas possíveis causas. Todos os fazendeiros e outros trabalhadores entrevistados tendem a atribuir à pesca esportiva indiscriminada a responsabilidade pela diminuição da quantidade de peixes. De modo geral, apesar de reconhecerem que defensivos agrícolas e fertilizantes podem ser prejudiciais aos peixes, não reconhecem o desmatamento como um importante impacto aos ambientes aquáticos. Essa falta de entendimento da importância da floresta para os ambientes aquáticos está claramente expressa na mínima faixa de floresta ripária mantida na beira dos rios em várias áreas inspecionadas (Fig. 3). 13

14 Figura 3. Margem do rio Sete de Setembro mostrando o desmatamento até a beira do rio. As árvores mais altas são testemunhos da dimensão que a mata primária possuía antes do desmatamento. Foto: Roberto Reis. Pousadas de pesca. Durante as excursões de barco no rio Sete de Setembro e, principalmente, rio Culuene, cinco Pousadas de Pesca foram visitadas e seus proprietários e/ou funcionários foram entrevistados. Algumas dessas pousadas são bastante bem aparelhadas, possuindo grande número de barcos (mais de 20), e pista de pouso. Da mesma forma que nas fazendas, estes foram questionados sobre suas práticas profissionais como guias e promotores de pesca esportiva, pescadores, desmatamento da região e sobre a sua percepção do declínio da quantidade de peixes nos rios e suas possíveis causas. Aqueles que vivem na região há muito tempo reconhecem um drástico declínio na quantidade de peixes nos últimos anos. Essa percepção não é tão clara para os entrevistados que vivem a menos de 15 anos na região. Apesar do inicio do desmatamento na região ser mais antigo, este era feito prioritariamente para criação de gado, que não impacta tão severamente os ambientes aquáticos. No entanto, a partir de cerca da 15 anos atrás muitas das fazendas de criação de gado iniciaram a trocar sua atividade principal para o plantio de soja ou outros grãos como milho, sorgo, etc., o que introduziu no ambiente, de forma sistemática e periódica, enormes cargas de defensivos agrícolas e fertilizantes de solo, além de provocar o incremento do desmatamento e diminuição adicional da faixa de floresta ciliar ao longo dos rios. Ao contrário dos fazendeiros, as pessoas envolvidas com a pesca esportiva atribuem o declínio na quantidade de peixes às praticas agrícolas, mas também não veem o desmatamento como um impacto sério para os ambientes aquáticos. 14

15 Ambientes aquáticos visitados. A expedição às cabeceiras do rio Xingu foi conduzida durante a estação de cheia, quando o rio está vários metros acima do nível normal. Os ambientes visitados de barco foram rio de grande porte (Xingu), rios de médio porte (Sete de Setembro e Culuene), e também rios pequenos, como o Coronel Vanick. Apesar dos rios estarem sobre o planalto, estes são bastante convolutos e com muitos meandros, e possuem uma faixa de floresta inundável que varia de um a cinco quilômetros de largura na parte baixa dos rios Culuene e Sete de Setembro, e de quatro a oito quilômetros de largura no rio Xingu semelhantes as áreas de terras baixas da Amazônia central. Essa floresta é anualmente inundada pela cheia do rio e peixes e outros organismos aquáticos deixam o leito do rio para se abrigar e alimentar na mata inundada. Nessa mesma época ocorre a frutificação de um grande número de árvores de mata inundável, fornecendo assim frutos e sementes como um valioso recurso energético para os peixes que deles se alimentam. Além disso, uma grande quantidade e diversidade de invertebrados, especialmente insetos, ocupam as florestas inundadas e são consumidos por numerosas espécies de peixe. Além dos rios, vários lagos dos rios Coluene e Sete de Setembro foram visitados. Estes lagos (oxbow lakes) são formados pela dinâmica de mudanças do curso do leito principal do rio dentro da faixa de mata alagável (Fig. 4). Estes lagos são permanentes, sobrevivendo a estação das águas baixas, e se constituem em áreas de refugio e criação de algumas espécies e área de alimentação para outras. Figura 4. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando o rio Coluene imediatamente acima da área visitada. Note lagos (oxbow lakes) formados pelas mudanças do curso do leito principal do rio dentro da faixa de mata alagável. A linha vermelha corresponde a 4 km. Também foram visitadas as nascentes do rio Sete de Setembro, em áreas dos municípios de Canarana e Água Boa. Cerca de 20 km a oeste da cidade de Canarana o rio Sete de Setembro 15

16 apresenta um leito variando entre 30 e 60 metros de largura, com meandros dentro de uma área de floresta inundável de metros de largura. Mais acima, a oeste da cidade de Água Boa, um riacho afluente do rio Sete de Setembro foi inspecionado. Esse riacho tem cerca de metros de largura, já não possui área de mata inundável e pouca mata ciliar foi mantida após o desmatamento. Nesse riacho havia mineração de areia no leito e grandes montes de areia estavam acumulados esperando compradores. Também, grandes lavouras de soja se localizavam em todo o entorno desse e de outros mananciais na região (Fig. 5). Finalmente, foi inspecionado um pequeno córrego de primeira ordem, da cabeceira do rio Sete de Setembro. Este córrego estava parcialmente represado e, como todos na região, era cercado de lavouras de soja. Abaixo do represamento, no entanto, sua água é corrente e aparentemente limpa, mas possivelmente poluída com defensivos e fertilizantes agrícolas. Figura 5. Plantação de soja em fase de colheita junto à área de mineração de areia em riacho tributário do rio Sete de setembro. Foto: Roberto Reis. As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos. Diversas ameaças aos ambientes aquáticos e peixes do rio Xingu foram identificadas nesta viagem. As ameaças podem ser classificadas em diretas, como a pesca, coleta de peixes ornamentais, retirada de mata ripária e uso de defensivos e fertilizantes agrícolas, com ação rápida diretamente sobre os peixes; e indiretas, como 16

17 desmatamento extensivo, mineração no leito do rio, construção e operação de usinas hidrelétricas e mudanças climáticas. Pesca esportiva. A pesca esportiva é, de maneira geral, uma atividade de baixo impacto nas comunidades de peixes, especialmente quando a prática de pescar-e-soltar é utilizada. Na região do alto Xingu, entretanto, o número de pousadas especializadas em receber pescadores esportivos e disponibilizar condições para pesca é muito grande. Em uma área visitada de cerca de 50 km no baixo rio Coluene, por exemplo, existem pelo menos cinco pousadas com capacidade para receber dezenas de pescadores e de levá-los para pescar diariamente. Essas pousadas contam com acesso por estrada e por aviões pequenos e tem até cerca de 20 barcos para piloto e dois pescadores. Relatos de pilotos de barcos de pesca nessa área reportam varias dezenas de barcos pescando concomitantemente neste trecho do rio na estação de seca. As quotas individuais de pesca, tanto para pescadores comerciais como esportivos, tem sido sistematicamente diminuídas nos últimos anos. Ainda assim, a retirada contínua de peixes pela pesca esportiva é um impacto considerável para as populações locais. Ainda, uma consequência conhecida da pesca é a diminuição do tamanho dos peixes. A pesca, especialmente a pesca esportiva, seletivamente retira da população os exemplares grandes, fazendo com que os peixes menores, mas já maduros, produzam a nova geração. Com o passar do tempo o tamanho médio dos peixes da população sob efeito de pesca pode ser sensivelmente diminuído. Coleta de peixes ornamentais. A coleta de peixes ornamentais no rio Xingu é bastante importante economicamente, sustentando uma comunidade de pescadores que se originaram do garimpo de ouro no leito do rio. Essa atividade, no entanto, está restrita ao baixo Xingu e se concentra na região da Volta Grande, entre Altamira e Belo Monte. Essa atividade é de baixo impacto para o ambiente aquático, mas tem efeito diretamente nas populações de peixe pela retirada de indivíduos e representa uma ameaça por produzir os mesmos efeitos que a pesca comum. Retirada de mata ripária. Mata ciliar ou ripária é a vegetação que ocorre nas margens dos rios. Essa mata é fundamental para o ambiente aquático e para os organismos que vivem nos rios por três motivos principais. A integridade das margens é, em grande parte, sustentada pela vegetação ripária. A sua retirada facilita o carreamento de terra e outros sedimentos para o leito do rio pela chuva, causando o assoreamento do leito, com a consequente diminuição da profundidade e da estruturação. Além disso, a mudança na turbidez da água provoca alteração na penetração de luz e consequentemente na produtividade primária do manancial. Ainda, altera as habilidades de percepção do meio pelos peixes que se orientam visualmente para atividades reprodutivas, alimentares, etc., impactando a sua sobrevivência. Finalmente, diversas árvores da mata ciliar produzem frutos e sementes que são utilizadas por diversos peixes para alimentação, especialmente na época de cheia. Fertilizantes de solo agrícolas. Diferentes tipos de solos precisam ser corrigidos para adaptar-se a distintos cultivos agrícolas. Os típicos latossolos do Escudo Brasileiro na região do alto Xingu são empobrecidos de nutrientes e necessitam de correção de ph e de acréscimo de fertilizantes para o plantio da soja e outros grãos. A engenharia agrícola obviamente procura minimizar o uso destes componentes a fim de diminuir o custo da 17

18 produção. No entanto, parte destes corretivos e fertilizantes é carreada para os riachos e daí para os rios, eutrofizando os mananciais e modificando a dinâmica da cadeia alimentar dos organismos aquáticos. Herbicidas, inseticidas e outros defensivos agrícolas. Da mesma forma que os fertilizantes, diversos tipos de herbicidas e pesticidas são empregados nos cultivos de soja, predominantes na região do alto Xingu. Estes produtos são usualmente aplicados com aviões que jogam grandes quantidades sobre as lavouras. Uma vez aplicados, parte acaba sendo carreada pela chuva para os rios causando diferentes tipos de envenenamentos nos organismos aquáticos. Desmatamento extensivo. O desmatamento extensivo provavelmente representa o mais importante fator de impacto sobre os ambientes terrestres, com consequências igualmente importantes para os ambientes aquáticos envolvidos. A retirada da floresta aumenta drasticamente a evaporação da água do solo, causando a diminuição de fluxo ou mesmo desaparecimento de nascentes, culminando com a diminuição da vazão dos rios. O desmatamento também desagrega o solo que será parcialmente carreado pelas chuvas, especialmente quando a faixa de mata ciliar remanescente for pequena. Mineração de areia no leito dos rios. A demanda por areia para a construção civil tem crescido dramaticamente na região do alto Xingu, uma vez que cidades estão crescendo e se desenvolvendo com o dinheiro da soja que chegou recentemente à região. A mineração de areia no leito do rio causa a completa destruição do leito e das margens localmente, causando um impacto severo, porém pontual. As ameaças ao ambiente aquático e à fauna aquática são severas, mas são, como mencionado, pontuais. Construção e operação de usinas hidrelétricas. Represas hidrelétricas impactam as populações de peixes de três maneiras. A transformação de um ambiente lótico em um lago erradica ou reduz significativamente as populações das espécies reofílicas e ao mesmo tempo fornece as condições para que as espécies lênticas proliferem, dessa forma alterando a composição da comunidade local. Em uma escala mais ampla, as barragens regulam o fluxo do rio a jusante, perturbando os ciclos anuais de alimentação e reprodução, e perturbando as rotas migratórias de muitos peixes grandes que não conseguem atravessar a barreira criada pela represa. Nas cabeceiras do rio Xingu, especificamente no rio Coluene, existe a Usina Hidrelétrica do rio Coluene. Há relatos de pescadores e de cientistas (Flávio Lima, comunicação pessoal), de que grandes cardumes de matrinxã chegam até a represa do rio Coluene e se acumulam a jusante desta por não poder seguir rio acima. Essa parada na rota migratória de espécies de piracema, como o Matrinxã, prejudica a reprodução da espécie. Além disso, há relatos de que comunidades de pescadores locais se reúnem nessas ocasiões para uma pesca farta e fácil, mesmo durante o período de defeso da piracema. No baixo Xingu, por outro lado, a UHE Belo Monte está em fase de construção e depois de concluída irá afetar a comunidade de peixes reofílicos, especialmente acaris da família Loricariidae, que vivem na Volta Grande do Xingu, a jusante de Altamira. Mudanças climáticas. Dados preliminares de um estudo em desenvolvimento pela WWF sugerem que as mudanças climáticas futuras não estão sendo consideradas de maneira 18

19 adequada no planejamento energético de longo prazo ou na avaliação da viabilidade de projetos hidrelétricos da Amazônia. Secas severas como as que assolaram a Amazônia em 2005 e 2010 tendem a se tornar mais frequentes, e essas alterações climáticas, associadas ao desmatamento generalizado da região, podem reduzir a vazão do rio Xingu e de outros rios Amazônicos que drenam o Escudo Brasileiro. Uma eventual redução na vazão do rio Xingu poderá afetar a produtividade em usinas hidrelétricas como a UHE Belo Monte, como sugerido pelo estudo da WWF. As consequências de uma redução de vazão do rio Xingu por causa de mudanças climáticas, entretanto, poderão ser muito mais prejudiciais à fauna aquática, uma vez que áreas de alimentação e refugio podem tornarse menos acessíveis anualmente e migrações reprodutivas rio acima podem não ser desencadeadas por uma vazão reduzida em um ano de seca. IV. A BACIA DO RIO TOCANTINS A bacia hidrográfica. O rio Tocantins é um dos principais tributários da bacia Amazônica e drena, em sua maior parte, o Escudo Brasileiro, juntamente com o Xingu, Tapajós e parte do rio Madeira. A bacia de captação do rio Tocantins drena uma área de km 2, sendo correspondem ao rio Tocantins e ao rio Araguaia, seu principal afluente. O rio Tocantins é bastante canalizado, com planície de inundação relativamente estreita e densidade de drenagem moderadamente alta (Mérona et al. 2010). A bacia do rio Tocantins está contida em duas ecorregiões bastante distintas do mapa das ecorregiões de água doce do mundo de Abell et al. (2008). A maior parte da bacia do rio Tocantins compõe a Ecorregião Aquática 324 (Tocantins- Araguaia), que é limitada ao norte pela barragem da UHE Tucuruí, justamente nossa base de operações nesta expedição. Limita-se a oeste pelas serras do Roncador e dos Gradaús, divisores de água entre as bacias dos rios Araguaia e Xingu, e ao sul pelo divisor de águas com o rio Paraná no Planalto Central e pela formação Chapada dos Guimarães, que o separa da bacia do rio Paraguai. Ao leste é separada de bacias costeiras como o rio São Francisco e rio Parnaíba, pela Chapada das Mangabeiras e pela Serra Geral de Goiás. A topografia ondulada da bacia do rio Tocantins varia de m no Planalto Central até cerca de 25 m nas terras baixas do Amazonas, junto à sua foz. Corredeiras e cachoeiras são os hábitats mais comuns ao longo do curso superior, sendo estes hábitats mais esparsos nos cursos médio e inferior. O último desses ambientes está hoje submerso pela UHE Tucuruí. Ilhas rochosas e arenosas e extensas praias são características e predominantes da estação seca no curso médio do rio Tocantins, ao passo que ilhas aluviais predominam no curso inferior (Mérona et al., 2010). A maior parte da ecorregião é caracterizada pelo clima tropical quente e úmido, com uma precipitação anual variando de a mm. A temperatura média é de 25.5 o C, variando entre a mínima de 17 e a máxima de 33 o C (Hales & Petry, 2013). A parte norte da bacia do rio Tocantins, a jusante da UHE Tucuruí está incluída na Ecorregião Aquática 323 (Amazonas Estuary & Coastal Drainages), que inclui a área do estuário do rio Amazonas e bacias costeiras adjacentes, com limite sudeste na bacia do rio Itapicuru e limite noroeste na bacia do rio Caciporé, na costa do Amapá. Esta região situa-se inteiramente sobre a planície aluvial, com altitudes máximas abaixo de 100 m. O pico das chuvas nesta ecorregião ocorre entre março e abril, mas essas chuvas sazonais tem pouca influência nos níveis 19

20 da planície de inundação, devido à influência das marés. A água salgada não chega até o rio Tocantins, mas o represamento das águas do rio Amazonas pelas marés oceânicas, faz com que estas sejam percebidas na ria do Tocantins. O estuário do rio Amazonas é enorme em tamanho e volume, descarregando entre 180 e 220 mil m 3 /s no Oceano Atlântico, o que corresponde a cerca de 20% de toda a água doce despejada nos oceanos. Por causa da magnitude dessa descarga, praticamente não há entrada de água salgada no estuário e a mistura da descarga do rio Amazonas com a água salgada ocorre até 160 km mar adentro, sobre a plataforma continental. Somente durante períodos de água baixa a água salobra chega até Belém, mas nunca até o rio Tocantins (Hales & Petry, 2013). Hábitats aquáticos. A bacia do rio Tocantins é a terceira maior sub-bacia do rio Amazonas, com uma descarga média anual de m 3 /s. Da mesma forma que o Tapajós e Xingu, suas águas são claras e pobres em nutrientes em virtude de drenarem os terrenos cristalinos do Escudo Brasileiro. Na parte superior da bacia, existem numerosas cataratas e corredeiras, refletindo a geologia desse antigo escudo. Entretanto, ao contrário do Xingu e Tapajós, que deságuam diretamente no rio Amazonas, o rio Tocantins deságua no rio Pará, ao sul da ilha de Marajó. Seu principal tributário, o rio Araguaia, apresenta uma descarga média anual de 6.170m 3 /s. O rio Araguaia possui muitas lagoas sazonais, extensas áreas alagadas, e ilhas, incluindo a ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. Essa é uma área de savana úmida localizada entre os dois ramos do rio Araguaia, que fica inundada seis meses por ano com menos de dois metros de água. Outros ambientes aquáticos importantes na bacia do rio Tocantins incluem o reservatório da UHE Tucuruí e a porção do rio a jusante desse reservatório (Fig. 6). Na parte mais baixa da bacia, a norte de Tucuruí, o nível da água é influenciado pelas marés oceânicas, apesar de que nunca ocorre entrada de água salgada. Como em outros tributários da margem sul do Amazonas, a estação de cheias dura de janeiro a maio, com o pico a inundação entre março e abril. A variação média anual do nível do rio é de cerca de 5-6 m (Hales & Petry, 2013). 20

21 Figura 6. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada com os principais pontos referidos no texto. A fauna de peixes do rio Tocantins Da mesma forma que o rio Xingu, a bacia do rio Tocantins está dentro da região ictiogeográfica Guyano-Amazônica, e mais especificamente na província ictiogeográfica Amazônica (Gery, 1969; Ringuelet, 1975). A sua fauna de peixes contém cerca de 400 espécies distribuídas em 40 famílias, dominadas por Characidae (73 espécies), Loricariidae (39) e Rivulidae (32). Mais de 175 espécies são endêmicas do rio Tocantins, representando um nível de endemismo maior do que 40%. Famílias com maior grau de endemismo são Characidae (36 espécies), Rivulidae (30) e Loricariidae (26). Os gêneros de Rivulidae Rivulus e Simpsonichthys são bem representados entre as espécies endêmicas, com nove e oito espécies, respectivamente. Este último inclui várias espécies ameaçadas de extinção. Como uma curiosidade, a região superior da bacia do rio Tocantins contém a mais diversa fauna de peixes de caverna da América do Sul. Historicamente a bacia do rio Tocantins abrigava espécies migratórias de peixes em sua migração rio acima para a desova. A construção da UHE Tucuruí impediu a continuidade dessa migração e isolou os locais de desova de muitas espécies. A porção da bacia do rio Tocantins ao norte da UHE Tucuruí, por estar livremente conectada ao restante na bacia Amazônica, abriga algumas espécies de peixes ausente ou raras na porção hoje isolada pela represa. A porção baixa do Tocantins, assim como toda a área do delta do Amazonas no entorno da ilha de Marajó, fornece importantes hábitats de berçário para os 21

22 grande bagres migradores da Amazônia, como o filhote ou piraíba (Brachyplatystoma filamentosum), a piramutaba (B. vaillantii), a dourada (B. rousseauxii), e o jaú (Zungaro zungaro), que fazem grandes migrações reprodutivas desde o estuário do Amazonas até suas cabeceiras. Algumas famílias de peixes relictuais que ocorrem na Amazônia estão presentes no baixo rio Tocantins. Estas incluem a piramboia, ou peixe pulmonado sul americano (Lepidosiren paradoxa), único representante da família Lepidosirenidae, que é um respirador aéreo obrigatório e hiberna sob o lodo na estação seca. Outros peixes relictuais incluem o pirarucu (Arapaima gigas, Arapaimidae), um dos maiores peixes de água doce do mundo com mais de 2 m de comprimento, e o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum, Osteoglossidae). V. O HOTSPOT DO BAIXO RIO TOCANTINS Durante a viagem a campo para o baixo rio Tocantins priorizou-se a estratégia de inspeção ambiental direta, através de deslocamento por voadeira (barco de alumínio com motor de popa) ou carro. A equipe ficou hospedada no hotel CRT, na Vila Permanente da Eletronorte junto à Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no município de Tucuruí, Pará. A partir desse ponto diversas excursões em voadeira foram empreendidas a diferentes áreas do lago da UHE Tucuruí, como Porto Novo de Jacundá e Santa Rosa, locais com importantes entrepostos de pescado, bem como a vilas e cidades na beira do rio Tocantins a jusante da represa, como Joana Peres, na RESEX Ipaú-Anilzinho e a cidade de Baião. Em deslocamentos de carro foram visitados o mercado de peixes de Tucuruí e o marcado de peixes do Igarapé do Onze, ao sul de Tucuruí. Em cada um desses locais foram feitas entrevistas com pescadores, atravessadores de pescado, vendedores de peixe, administradores de colônias de pescadores e demais integrantes da cadeia produtiva da pesca. Da mesma forma, entrevistas e discussões foram desenvolvidas com o Sr. Tacashi, responsável pelo setor de Ictiologia e Pesca da Eletronorte em Tucuruí, que coordena o trabalho de inventário e estudo de parâmetros alimentares e reprodutivos dos peixes da região de influência da UHE Tucuruí, tanto a montante como a jusante da represa, e controla o desembarque de pescado nos diversos portos da região. Todo o trabalho foi registrado fotograficamente e as áreas visitadas no lago e no rio foram georeferenciadas através de GPS. A floresta do rio Tocantins. A transição de florestas úmidas das terras baixas da Amazônia para a vegetação de florestas secas e savanas (cerrado) no Planalto Central reflete a heterogeneidade da paisagem da bacia do rio Tocantins. O cerrado domina as partes mais altas da bacia, enquanto que matas de galeria e florestas de inundação com buritizais (Mauritia flexuosa) acompanham o curso dos rios e igarapés. Floresta amazônica de terra firme ocupa as áreas fora das planícies de inundação ao longo da bacia do rio Tocantins (Hales & Petry, 2013). A maior parte das áreas de terra firme no entorno do lago da UHE Tucuruí, no entanto, já apresenta profunda modificação antrópica com retirada da floresta para atividades econômicas, principalmente a pecuária extensiva (Fig. 1). As florestas do baixo rio Tucuruí, ao norte da UHE, encontram-se melhor preservadas. A área visitada nesta expedição situa-se exatamente no entorno da represa de Tucuruí, ponto original das quedas que delimitavam o médio do baixo rio Tocantins, e local a transição entre a área mais preservada, ao norte, e mais antropizada, ao sul. A Usina Hidrelétrica de Tucuruí. 22

23 A Usina Hidrelétrica de Tucuruí foi construída na porção baixa do rio Tocantins e inaugurada em 1984, com o fechamento da represa e consequente formação do reservatório (Fig. 7). O lago que se formou tem cerca de 200 km de extensão e aproximadamente km 2 de área de superfície. Com a inauguração da segunda fase da UHE Tucuruí em 2008, a capacidade instala de geração de energia passou a ser de MW de potência. Figura 7. Vista parcial da represa da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Foto: Roberto Reis. Após o fechamento da represa registrou-se uma diminuição na diversidade da ictiofauna na região alagada. Essa diminuição na diversidade na área do reservatório é um fenômeno conhecido e foi estudado por Mérona et al. (2010). A transformação de um ambiente lótico em um lago erradica ou reduz significativamente as populações das espécies reofílicas e ao mesmo tempo fornece as condições para que as espécies lênticas proliferem, dessa forma alterando a composição da comunidade local. Por estes motivos, peixes detritívoros, herbívoros e insetívoros foram prejudicados e tiveram a sua abundância na área do reservatório diminuída após o enchimento do lago. Ao mesmo tempo, espécies piscívoras, carnívoras, onívoras e planctívoras foram favorecidas e aumentaram a sua abundância na área do reservatório após o enchimento do lago (Mérona et al., 2010). A jusante da represa a diminuição na abundância das espécies de peixes é devida, principalmente, a regulação do fluxo do rio, que perturba imensamente os ciclos anuais de alimentação e, principalmente, reprodução dos peixes, e a interrupção de rotas migratórias, uma vez que os peixes migradores não conseguem atravessar a barreira criada pela represa para reproduzir. 23

24 A pesca comercial na região da UHE Tucuruí, tanto no reservatório como no rio a jusante da represa, é basicamente artesanal, com mínima organização de pescadores independentes em Colônias de Pesca. Não existem cooperativas organizadas de pescadores e a cadeia produtiva do pescado passa dos pescadores para marreteiros, ou atravessadores, que compram o produto da pesca nos portos de desembarque e comercializam nos mercados locais ou os transportam para outras cidades para venda ou beneficiamento. Mercados e áreas de desembarques de pescado visitados. No reservatório da UHE Tucuruí. Três pontos de desembarque de pescado dentro do reservatório da UHE Tucuruí foram visitados, o Porto do Onze (Fig. 8), no extremo norte do reservatório, junto à represa, o Porto Novo de Jacundá (Fig. 9), e o Porto de Santa Rosa, no terço superior do reservatório. Nestes locais foram identificadas as espécies de peixe desembarcadas ou estocadas no momento da visita, sendo registradas por fotografia. A lista das espécies identificadas nos portos de desembarque dentro do reservatório encontra-se no Apêndice 1. De maneira geral, havia muita abundância de peixes e diversidade de espécies, fartura típica da estação, mas incomum ao longo do restante do ano. Três espécies contribuem com 87% do total de desembarque na região do reservatório: o mapará (60%), a pescada (15%) e o tucunaré (12%) (Sr.Tacashi, Eletronorte, comunicação pessoal). Tucunaré, no entanto, corresponde a três espécies vide lista abaixo. Figura 9. Vista parcial do Porto do Onze, local de desembarque de pescado do reservatório de Tucuruí. 24

25 Foto: Roberto Reis. Figura 9. Vista interna do Porto de Novo de Jacundá, local de desembarque de pescado do reservatório da UHE Tucuruí. Foto: Roberto Reis. Também, foram feitas entrevistas com pescadores, vendedores, atravessadores e demais trabalhadores da pesca, com a finalidade de entender o funcionamento da cadeia produtiva do pescado em cada local, entender os tipos de pesca e apetrechos utilizados localmente, e formar uma imagem da percepção dos trabalhadores locais sobre as mudanças temporais de longo prazo na comunidade de peixes e das ameaças sofridas pelos peixes e pelo ambiente aquático. De maneira geral os pescadores do reservatório consideram o aumento do número de pescadores na última década e as práticas de pesca predatória, como os principais responsáveis pelo declínio na diversidade e quantidade de peixes. Há relatos de que algumas espécies como o pacu-manteiga, o jaraqui e o pirarucu, antes abundantes, praticamente não ocorrem mais no reservatório. Pescadores mais antigos relatam uma abundância de peixes muito superior a atual há anos, e notam um declínio mais acentuado nos últimos anos. Vários entrevistados condenam o uso do arpão em pesca subaquática, prática que tem se tornado comum na última década, pois permite a captura das matrizes de tucunaré adultos que pouco se alimentam ou se movem durante o período em que estão incubando ovos ou cuidando da prole, e por este motivo não são capturados por apetrechos usuais como redes e anzóis. A captura desses indivíduos em reprodução compromete toda a prole e tem, assim, grande efeito predatório. Da mesma forma, a maior parte dos entrevistados reclama da ausência de fiscalização da pesca por parte do IBAMA, 25

26 relatando que fiscais raramente aparecem ao longo do ano ou do período do defeso. Por outro lado, todos os entrevistados afirmaram que o período do defeso (novembro a fevereiro) não é observado pela maioria dos pescadores da região. A jusante do reservatório da UHE Tucuruí. Dois pontos de desembarque de pescado a jusante do reservatório da UHE Tucuruí foram visitados, o mercado de Tucuruí, imediatamente abaixo da represa, e o mercado da cidade de Baião (Fig. 10), a cerca de 130 km ao norte de Tucuruí. Da mesma forma que nos outros pontos, foram identificadas e fotografadas as espécies de peixe desembarcadas ou estocadas no momento da visita. A lista das espécies identificadas nos portos de desembarque a jusante do reservatório encontra-se no Apêndice 2. Da mesma forma que na área do reservatório, havia muita abundância de peixes e diversidade de espécies, quantidade incomum ao longo do restante do ano. Nota-se que na região do rio Tocantins a jusante do reservatório a diversidade de espécies encontrada foi maior (90% a mais de espécies foram observadas a jusante do que no reservatório). Figura 10. Vista parcial do mercado de peixes de Baião. Foto: Roberto Reis. Igualmente à porção superior, foram feitas entrevistas com pescadores, vendedores, atravessadores e demais trabalhadores, para conhecer o funcionamento da cadeia produtiva do pescado, os tipos de pesca e apetrechos utilizados localmente, e entender a percepção dos trabalhadores locais sobre as modificações na comunidade de peixes e as ameaças a que peixes e o ambiente aquático estão submetidos. Apesar de haver ocorrido um significativo aumento do 26

27 número de pescadores nos últimos anos, os pescadores não atribuem a isso o severo declínio percebido na quantidade média de espécies. As mesmas espécies, pacu-manteiga, jaraqui e pirarucu, antes abundantes, são agora consideradas raras a jusante do reservatório. A utilização do arpão em pesca subaquática também tem se tornado comum nesta área e é condenada pela maioria dos pescadores. Da mesma forma, a maior parte dos entrevistados reclama da ausência de fiscalização da pesca por parte do IBAMA e afirmaram que o período do defeso não é observado pela maioria dos pescadores da região. De acordo com a maioria dos pescadores entrevistados, entretanto, o principal responsável pelo acentuado declínio da abundância de peixes após o fechamento da represa da UHE Tucuruí são as flutuações diárias e, especialmente, as semanais do nível do rio por conta da regulação do fluxo de água nas turbinas geradoras. Essas variações perturbam os ciclos naturais de alimentação e, especialmente, reprodução, sendo especialmente destrutivas na época da desova (outubro-março). Colônias de pescadores visitadas. Durante este trabalho visitamos e entrevistamos funcionários de três Colônias de Pescadores da região do baixo rio Tucuruí: a Colônia Z-53 de Breu Branco, a Colônia Z-43 de Porto Novo de Jacundá, ambas no interior do reservatório, e a Colônia Z-34 de Baião, a jusante do reservatório. Os entrevistados afirmaram que houve sensível diminuição na abundância de peixes, tanto no lago como à jusante deste, especialmente nos últimos anos. Todos atribuem a diminuição na abundância ao aumento de pescadores, a falta de fiscalização e a não observância do período de defeso. Funcionários da Colônia Z-43 mencionaram, ainda, desorganização administrativa nos municípios como um impedimento ao adequado ordenamento e organização da cadeia produtiva da pesca. Como um exemplo, citaram a construção de uma pequena usina de beneficiamento de pescado em Jacundá, concluída há anos, mas nunca operada por causa de desorganização e disputas políticas. Ambientes aquáticos visitados. A expedição ao baixo rio Tocantins foi conduzida durante a vazante, período no qual os peixes estão saindo das áreas alagáveis e retornando ao leito do rio e, portanto, de grande fartura para a pesca. Os ambientes aquáticos visitados foram o reservatório da UHE Tucuruí, especialmente as suas áreas de margem e inúmeras ilhas cobertas de mata que se formaram como enchimento do lago. As áreas abertas do lago, mais profundas e que formam ambientes abertos habitados por peixes pelágicos, como o mapará, também foram visitadas. Na porção a jusante da represa, vários locais de pesca (Fig. 11) foram visitados ao longo do leito do rio entre Tucuruí e Baião. Planícies de inundação que são utilizadas como áreas de desova e berçário por muitas espécies de peixes também foram inspecionadas (Fig. 12). Ainda, a Reserva Extrativista Ipaú-Anilzinho, na margem esquerda do rio Tocantins, foi visitada até a vila de Joanas Peres. Nessa área de reserva a água do rio é preta, demonstrando que esse sistema nasce dentro da floresta, sem aporte de água da UHE Tucuruí. De maneira geral as margens, tanto do reservatório, como do rio Tocantins a jusante dele, estão bem preservadas. Mata de terra firme ladeia as margens do reservatório em praticamente toda a sua extensão. No trecho a jusante, extensas áreas com matas alagáveis estão preservadas no entorno do rio. 27

28 Figura 11. Local de pesca no rio Tocantins, a jusante da UHE Tucuruí. Foto: Roberto Reis. 28

29 Figura 12. Área de várzea no baixo rio Tocantins, alagada no período de cheia onde peixes desovam e utilizam como berçário para juvenis. Foto: Roberto Reis. As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos. Diversas ameaças aos peixes e seus ambientes aquáticos foram identificadas nesta viagem. As ameaças podem ser classificadas em diretas, como as diversas modalidades de pesca, desmatamento e uso de defensivos e fertilizantes agrícolas, com ação rápida diretamente sobre os peixes; e indiretas, como desmatamento extensivo, construção e operação de usinas hidrelétricas e mudanças climáticas. Pesca esportiva. Tucunarés são as espécies mais visadas pela pesca esportiva no rio Tocantins, especialmente no interior do reservatório da UHE Tucuruí. Apesar de haver competições de pesca esportiva de tucunarés, essa não constitui uma ameaça importante face à dimensão da pesca comercial na mesma região. Crescimento da pesca comercial. A pesca comercial no baixo rio Tocantins, tanto no interior do reservatório da UHE Tucuruí como no trecho a jusante da represa, apresentou um forte crescimento ao longo dos últimos anos (Aviz, 2006). Na época da construção da UHE Tucuruí existiam três Colônias de Pescadores na região a jusante de Marabá. Atualmente existem 12 colônias na mesma região, das quais visitamos três. O crescimento do número de pescadores afiliados a cada uma dessas Colônias dá uma ideia do crescimento da atividade. Segundo Juras et al. (2004) no inicio da década de 2000 existiam pescadores afiliados à Colônia Z-43 de Jacundá, à Colônia Z-53 de 29

30 Breu Branco, e a Colônia Z-34 de Baião. Em nossas visitas recentes a essas Colônias identificamos os números de 2.300, 6.200, e aproximadamente pescadores afiliados, respectivamente, registrando um crescimento de 290%. É possível que parte desse crescimento seja em função da criação do auxílio-defeso, através do qual cada pescador cadastrado recebe do governo federal o valor de um salário mínimo nos meses de novembro a fevereiro. Pesca predatória com arpão. A pesca subaquática é feita com máscaras de mergulho e com o uso de arpão a ar comprimido ou com armas de construção caseira com tiras de borracha, e tem se tornado comum na região ao longo da última década. Esse tipo de pesca permite a captura de indivíduos reprodutivos de espécies como os tucunarés adultos que pouco se alimentam ou se movem durante o período em que estão incubando ovos ou cuidando da prole, e que por este motivo não são capturados por apetrechos usuais como redes e anzóis. A captura desses indivíduos que estão incubando ovos ou guardando os alevinos compromete de forma severa a população, pois tem grande efeito destrutivo por matar as matrizes e todos os filhotes. Falta de fiscalização da pesca. A precariedade da fiscalização dos órgãos de controle da pesca e, especialmente, do IBAMA, faz com que pescadores inescrupulosos utilizem técnicas e malhas proibidas nas diferentes modalidades de pesca. Malhas de rede de tamanho 4, 5 e 6 cm entre-nós são proibidas (apenas malhas acima de 7 cm entre-nós são permitidas), mas são usadas regularmente por muitos pescadores. Não observação do defeso de pesca. O defeso, ou época de suspensão da pesca para a migração reprodutiva (piracema) e desova dos peixes ocorre anualmente entre 1º de novembro e 28 de fevereiro. Esse período é determinado em função da coincidência do período médio de desova da maioria das espécies, mesmo tendo espécies que desovem antes de novembro e depois de fevereiro. A observação da suspensão das atividades pesqueiras nesse período é fundamental para que as populações possam se reproduzir. A pesca dirigida sobre os adultos migradores é muito prejudicial, pois captura os peixes antes da desova. De acordo com vários relatos na região de Tucuruí, a maioria dos pescadores não observa o período de defeso, continuando as suas atividades de pesca normalmente, apesar de receberem o auxílio-defeso do governo. Desmatamento extensivo. O desmatamento extensivo provavelmente representa o mais importante fator de impacto sobre os ambientes terrestres, com consequências igualmente importantes para os ambientes aquáticos envolvidos. A retirada da floresta aumenta drasticamente a evaporação da água do solo, causando a diminuição de fluxo ou mesmo desaparecimento de nascentes, culminando com a diminuição da vazão dos rios. O desmatamento também desagrega o solo que será parcialmente carreado pelas chuvas, especialmente quando a faixa de mata ciliar remanescente for pequena. Operação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. A operação e consequente regulação do fluxo do rio Tocantins é provavelmente uma das mais sérias ameaças às populações de peixes a jusante do reservatório. Como mencionado acima, as flutuações diárias e, especialmente, as semanais, do nível do rio por conta da regulação do fluxo de água nas turbinas geradoras, causa problemas nas áreas de desova a jusante da represa. A maior demanda 30

31 de energia elétrica no inicio da noite de cada dia, bem como a menor demanda pelas indústrias do país nos finais de semana, acarretam uma regulação da quantidade de água que passa pelas turbinas e é liberada no rio, causando um pequeno aumento no nível do rio a cada noite, e uma razoável diminuição no nível a cada final de semana. Essas variações perturbam os ciclos naturais de alimentação e, especialmente, reprodução, sendo especialmente destrutivas na época da desova (outubro-março). A maioria das espécies deixa o leito do rio na época de cheia, entrando na mata inundada ou áreas temporariamente alagadas para efetuar a desova. Essas mesmas áreas servem de berçário para os alevinos recém-eclodidos, pela alta produtividade e proteção que apresentam. Grande parte dessas áreas são rasas e pequenas variações no nível do rio, como aquelas produzidas pela retenção da água nos finais de semana, são suficientes para expor ao ar e assim matar os juvenis e ovos colocados pelos peixes na massa de vegetação. Há relatos de muitos casos onde mesmo os adultos de peixes, em grandes números, são retidos sobre ambientes que secam nos finais de semana, causando grandes mortandades. Outro sério problema que as represas causam aos peixes migradores é a interrupção das rotas migratórias e consequente falha ou diminuição acentuada da desova. Grandes bagres da família Pimelodidae, como o filhote, a dourada, a piramutaba, o surubim, a pirarara, e o jaú, são comuns e abundantes no trecho imediatamente a jusante da represa da UHE Tucuruí. No entanto, nenhuma dessas espécies foi registrada nos pontos de desembarque de pescado do reservatório, como o Porto do Onze, o Porto Novo de Jacundá ou Santa Rosa. É possível que estas espécies ainda existam no rio Tocantins a montante da represa, mas certamente em quantidades muito menores do que a jusante e do que costumava ocorrer antes da construção da UHE Tucuruí. Construção de novas UHEs e PCHs. O rio Tocantins já possui diversas Usinas Hidrelétricas em funcionamento, além de várias outras planejadas. Com a construção de novas UHEs os problemas existentes no momento deverão ser intensificados. Se ainda existem populações de grandes bagres e outros peixes migradores nos trechos acima da UHE Tucuruí, estas tendem a desaparecer com a construção de novas UHEs, especialmente aquelas entre Tucuruí e Estreito, no curso médio, e das muitas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) planejadas para o trecho superior do rio Tocantins. Considera-se que as PCHs não sejam muito prejudiciais ao meio ambiente, pelo seu pequeno tamanho, quase nula área de inundação e possibilidade de permitir a migração reprodutiva dos peixes nos picos de cheia. No entanto, o conjunto das PCHs planejadas para o rio Tocantins deverá ter um forte efeito nocivo em função do grande número de empreendimentos planejados. Mudanças climáticas. Dados preliminares de um estudo em desenvolvimento pelo WWF sobre o rio Xingu e outros rios que drenam o Escudo Brasileiro, sugerem que as mudanças climáticas futuras não estão sendo consideradas de maneira adequada no planejamento energético de longo prazo ou na avaliação da viabilidade de projetos hidrelétricos da Amazônia. Secas severas como as que assolaram a Amazônia em 2005 e 2010 tendem a se tornar mais frequentes, e essas alterações climáticas, associadas ao desmatamento generalizado da região, podem reduzir a vazão dos rios Amazônicos que drenam o Escudo Brasileiro. Uma eventual redução na vazão do rio Tocantins poderá afetar a produtividade em usinas hidrelétricas como a UHE Tucuruí, como sugerido pelo estudo do WWF. As consequências de uma redução de vazão do rio Tocantins por causa 31

32 de mudanças climáticas, entretanto, poderão ser muito mais prejudiciais à fauna aquática, uma vez que áreas de alimentação e refugio podem tornar-se menos acessíveis anualmente e migrações reprodutivas podem não ser desencadeadas por uma vazão reduzida em um ano de seca. VI. A BACIA DO RIO NEGRO A bacia hidrográfica Ao contrário das duas primeiras expedições, que exploraram ambientes aquáticos que drenam o Escudo Brasileiro, o rio Negro está inteiramente contido na bacia sedimentar Amazônica, sendo o maior tributário da margem esquerda do rio Amazonas. A bacia do rio Negro inclui as Ecorregiões Aquáticas 314 (Rio Negro) e parte da Ecorregião 315 (Amazonas Guiana Shield que inclui o rio Branco e outros tributários menores), do mapa das ecorregiões de água doce do mundo de Abell et al. (2008). A ecorregião Rio Negro inclui a bacia de drenagem do rio Negro Figura 13. Canal do rio Negro em frente à cidade de Barcelos, onde destaca-se a Igreja Matriz e o porto. Foto: Roberto Reis. desde Manaus, junto a sua foz, até o sopé da cordilheira dos Andes na Colômbia. Ela inclui a parte baixa das bacias do rio Branco e do rio Jauaperi, sendo limitada ao norte pela divisa montanhosa com a bacia do rio Orinoco e ao sul pelo divisor de águas entre as cabeceiras dos seus afluentes da margem direita e os afluentes da margem esquerda do rio Solimões. O rio 32

33 Negro drena três áreas principais: os tributários do norte se originam na porção sul do Escudo das Guianas, as cabeceiras a oeste nascem no sopé dos Andes Colombianos e os afluentes da margem direita nascem nas terras baixas da Amazônia brasileira. A maior parte dessa bacia está sobre um platô de terras baixas, com m a oeste e descendo para cerca de 50 m de elevação próximo a sua foz. A porção mais alta da bacia é dominada por afloramentos graníticos do Escudo das Guianas, como as serras de Tapirapecó e Imeri ao longo da fronteira Brasil- Venezuela, com a mais alta elevação no Pico da Neblina a quase m sobre o nível do mar. Esta ecorregião tem um clima de floresta tropical com uma temperatura média anual em torno de 26ºC. A precipitação média anual varia entre e mm, com a maioria das chuvas ocorrendo entre abril e julho (Petry & Hales, 2013). Figura 14. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada no rio Negro e seus afluentes, destacando os principais pontos referidos no texto. As coordenadas geográficas dos pontos mencionados são: Comunidades: Bacabal: S W; Daraquá: S W; Ponta da Terra: S W. Pontos de pesca de peixes ornamentais: Igarapé do Zamula: S W; Igarapé Murumuru: S W; Igarapé Daraquá: S W; Igarapé do Mamulé: S W. Hábitats aquáticos. Rios e igarapés de baixo gradiente atravessam solos sedimentares formados principalmente por espodossolos sujeitos à inundação sazonal. A água do rio Negro é extremamente pobre em conteúdo mineral, com condutividade tão baixa como 8 ms, e é extremamente ácida, com ph variando de 2,9 a 4,2. Maior rio de água preta do mundo, o rio Negro se estende por km, tem uma bacia de captação de km 2, e uma vazão média de m 3 /s, o que representa 14% da vazão média anual da bacia Amazônica. Seu principal afluente, o rio Branco é, por outro lado, um rio de água branca. Embora não seja tão turva como a do rio Amazonas ou rio Madeira, é barrenta na época das cheias, e os sedimentos são visíveis até cerca de 200 km à jusante da confluência com o Negro. Na porção superior da bacia a estação 33

34 das cheias ocorre entre maio e setembro, com pico em julho. Flutuações do nível da água no curso inferior são ditadas mais pelo rio Amazonas, e ocorrem um pouco mais cedo. Nessa região, a estação das chuvas vai de fevereiro a julho, com o pico das águas em junho. A flutuação anual média do rio varia de 4 a 5 m no curso superior e até cerca de 10 m nas partes mais baixas. Estima-se que uma área de km 2 da bacia do Negro seja inundada sazonalmente entre 4 e 8 meses do ano. As maiores planícies de inundação ocorrem ao longo dos afluentes da margem direita, bem como entre a rede de ilhas ao longo do médio e baixo rio Negro. Existem muitos ambientes insulares ao longo do curso principal do rio Negro, incluindo mais de 600 ilhas na parte inferior e média do rio. Ao longo do seu curso principal e dos afluentes estão vastas planícies cobertas por florestas alagadas e campinas e caatingas inundadas (campinaranas), assim como muitos lagos de várzea e lagoas marginais ao longo dos canais. Durante a estação seca enormes praias de areia são encontradas ao longo de toda a extensão dos rios. O fundo dos rios são rochosos, com grandes rochas ou cascalho na porção superior da bacia, e arenosos na parte média e inferior. Afloramentos rochosos e cataratas revelam evidências do Escudo das Guianas em pontos ao longo dos cursos superior e médio do rio Negro (Petry &Hales, 2013). A fauna de peixes A estimativa atual da riqueza de espécies na bacia do rio Negro ultrapassa 750 espécies descritas. Das 11 ordens já registradas, Characiformes e Siluriformes representam cerca de 74% das espécies. Dezenas de novas espécies são conhecidas, uma das quais representa uma nova família para a ciência. A riqueza total de espécies deve estar próxima a espécies. Mais de 90 espécies são consideradas endêmicas da bacia do rio Negro, assim como seis gêneros monotípicos - Tucanoichthys, Ptychocharax, Atopomesus, Leptobrycon, Niobichthys e Stauroglanis - atualmente encontrados somente nesta bacia. O rio Negro é o lar de mais de 100 espécies que são utilizadas no comércio de peixes ornamentais. A iridescência de algumas espécies como o cardinal (Paracheirodon axelrodi), pode ser uma característica adaptativa à água preta do rio Negro. Fenômenos ecológicos interessantes incluem grandes migrações dos bagres doradideos, dos characídeos como Brycon e dos prochilodontideos do gênero Semaprochilodus. O jaraqui (Semaprochilodus insignis), por exemplo, migra das águas pretas do rio Negro para os rios de água branca para desovar. Há também assembleias únicas de espécies em depósitos de folhas, e muitas formas miniaturizadas. Espécies relictuais nessa região incluem o pirarucu (Arapaima gigas, Arapaimidae), um dos maiores peixes de água doce no mundo com mais de dois metros de comprimento, o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum, Osteoglossidae) e o endêmico aruanã preto (O. ferreirai) (Petry &Hales, 2013). VII. O HOTSPOT DO MÉDIO RIO NEGRO Durante a viagem a campo para o médio rio Negro priorizou-se a estratégia de inspeção ambiental direta, através de deslocamento por barco e entrevistas com membros das comunidades. A equipe ficou hospedada no Hotel da Cidade, no município de Barcelos, na margem direita do rio Negro, Amazonas (Fig. 13). A partir dessa cidade diversas excursões em barco rápido (voadeira) foram empreendidas a áreas de pesca de peixes ornamentais em igarapés e igapós, comunidades ribeirinhas, e os diferentes ambientes aquáticos do entorno. As áreas visitadas encontram-se localizadas no rio Negro (igarapé do Zamula [ S W], na margem esquerda, em frente a Barcelos e igarapé Daraquá [ S W], em frente à comunidade de Daraquá [ S W]), no rio Aracá (comunidade de 34

35 Bacabal [ S W] e igarapé Murumuru [ S W]), bem como na margem direita, no rio Quiuini (comunidade de Ponta da Terra [ S W] e Igarapé do Mamulé [ S W]) (Fig.14). Todo o trabalho foi registrado fotograficamente e as áreas visitadas nos rios foram georeferenciadas através de GPS. A floresta do médio rio Negro. A bacia do rio Negro é formada primariamente por grandes áreas de floresta de igapó, devido ao elevado número de igarapés e rios de água preta. Este tipo de floresta ocorre em terras que são inundadas todos os anos e tem solos arenosos, oligotróficos, e pobres em nutrientes. Espécies de árvores abundantes incluem a ucuúba (Virola elongata), as matamatás (Eschweilera longipes e E. pachysepala) e a fava amarela (Pithecellobium amplissimum). Há também áreas de floresta de várzea, que ocorrem nas várzeas dos rios de água branca como o rio Branco, rio Padauari e rio Demini, que tendem a conter material em suspensão e nutrientes elevados. As florestas de terra firme, um terceiro tipo florestal, nunca sofrem inundações e tem uma composição florística semelhante à floresta de várzea. Espalhadas por estas florestas estão grandes áreas de campinarana (campina inundável) que formam um mosaico de tipos de vegetação desde savanas herbáceas até florestas de dossel fechado. Estes ocorrem principalmente em torno de depressões pantanosas circulares de espodossolos arenosos e pobres em nutrientes. A área visitada nesta expedição situa-se no médio rio Negro, onde grandes áreas de mata de igapó e pequenos trechos de terra firme se sucedem. A inspeção de imagens de satélite mostra que as florestas do médio rio Negro estão muito bem preservadas e apenas recentemente, com o declínio acentuado da pesca de peixes ornamentais, começam a abrir-se áreas para agricultura de subsistência. Comunidades ribeirinhas visitadas. Além da cidade de Barcelos, três outras comunidades foram visitadas durante as excursões de barco no rio Negro, e alguns de seus moradores foram entrevistados. Comunidade de Daraquá: localizada em uma ilha inundada do próprio rio Negro, até cerca de 10 anos atrás possuía mais de 20 famílias, todas vivendo exclusivamente da pesca de peixes ornamentais. Com o declínio da pesca de ornamentais as famílias foram pouco a pouco abandonando a comunidade e mudando-se para áreas de terra firme, onde outras atividades econômicas são possíveis. Atualmente apenas uma família, pai e filho, continuam em Daraquá, vivendo da pesca de ornamentais e produção de artesanato. Comunidade de Bacabal: localizada no curso inferior do rio Aracá, essa comunidade é formada primariamente por indígenas. As suas atividades econômicas são principalmente a agricultura (mandioca) e produção de farinha de mandioca. A criação de animais (porcos) e a pesca de peixes ornamentais, complementam a renda familiar. Comunidade de Ponta da Terra: localizada próximo à foz do rio Quiuini, é a maior das três comunidades. Possui uma escola de ensino básico recentemente construída e bem aparelhada e durante a visita testemunhamos a ocorrência de atividade letiva, merenda escolar e zeladoria da escola. Da mesma forma que nas anteriores, até cerca de 10 anos atrás todas as famílias nessa comunidade viviam da pesca de peixes ornamentais. Hoje ninguém mais na comunidade pratica a pesca de peixes ornamentais e a principal atividade econômica é a agricultura. Para tanto, uma área considerável de floresta de terra firme foi removida para acomodar as plantações de mandioca, milho, e outras. 35

36 Figura 15. Demonstração do uso do rapixé na área rasa do igapó. Foto: Pedro Aquino. A cidade de Barcelos tinha, até cerca de 10 ou 12 anos atrás, cerca de 600 famílias vivendo da pesca de peixes ornamentais. Esse número está hoje reduzido para menos de dez por cento desse número, e as principais atividades econômicas passaram a ser a agricultura, comércio e pesca esportiva especialmente de tucunarés. A estação de pesca esportiva, que ocorre entre agosto e fevereiro movimenta a cidade, tanto social como economicamente. Existem diversos hotéis, barcos-hotéis e pousadas na cidade e no entorno, que somente funcionam neste período. A companhia aérea que serve a cidade (Azul) aumenta os voos para Barcelos de dois voos semanais para voos diários na estação da pesca esportiva. Várias pousadas na floresta possuem hidroaviões para levar os seus hóspedes, alguns vindo diretamente de Manaus. A pesca de tucunarés tem gerado alguns conflitos com a pesca comercial, uma vez que competem diretamente tanto pelos peixes como pelos locais de pesca. Assim, existem zonas de pesca esportiva delimitadas para diferentes operadoras de pesca. Estas muitas vezes não são respeitadas assim como as áreas de pesca de comunidades locais e comunidades indígenas. A pesca comercial, por outro lado, é incipiente em Barcelos. Basicamente, todo o pescado resultante da pesca comercial é vendido e consumido em Barcelos. Não há envio de peixes para Manaus ou outras cidades. Curiosamente, não há em Barcelos um mercado de peixes ou um mercado geral onde sejam vendidos peixes. Existem, ao contrário, vários vendedores ambulantes que percorrem a cidade de bicicleta ou motocicleta com um reboque com gelo, e vendem os peixes de porta em porta. Um exame e registro fotográfico de alguns desses vendedores, e a visita à casa de um vendedor que possuía freezer com peixes para venda, 36

37 permitiu o levantamento de 29 espécies de peixes comercializados na época da visita. Pescadores ainda relataram outras espécies comuns, mas não encontrados nessas visitas. A lista das espécies e fotografias de algumas encontram-se ao final deste relatório (Figs. 15 e 16). Figura 16. Demonstração do uso do cacuri na área rasa do igapó. A, Cacuri iscado e pronto para instalação. B, Piabeiro escolhendo a localização para instalação do cacuri. C, Cacuri em posição de pesca no igapó. D, Piabeiro com caçapa para recolhimento do cacuri. Fotos: Roberto Reis. Ambientes aquáticos visitados. A expedição ao médio rio Negro foi conduzida durante o final da estação de cheia, quando o rio está ainda vários metros acima do nível normal. Os ambientes visitados de barco foram rio de grande porte (Negro), rios de médio porte (Aracá, Demini, Quiuini), igarapés (Zamula, Daraquá, Murumuru, Mamulé) e áreas de igapó, ou mata inundada. Todos esses ambientes são de água preta, exceto o rio Demini que apresenta água branca. As dimensões na Amazônia central são gigantescas, e o rio Negro é o maior rio de água preta do mundo. Na região de Barcelos a sua largura está entre quatro e oito km, mas se a área contígua de floresta inundada for considerada, a largura do corpo de água passa para 30 a 40 km. O rio Negro possui muitas centenas de ilhas, canais, furos, paranás e lagos, formando um intrincado emaranhado de ambientes aquáticos. Os rios de médio porte são bastante convolutos e com muitos meandros, canais e lagos, e também possuem uma extensa área de floresta inundável em suas margens. 37

Biomas / Ecossistemas brasileiros

Biomas / Ecossistemas brasileiros GEOGRAFIA Biomas / Ecossistemas brasileiros PROF. ROGÉRIO LUIZ 3ºEM O que são biomas? Um bioma é um conjunto de tipos de vegetação que abrange grandes áreas contínuas, em escala regional, com flora e fauna

Leia mais

Relatório Parcial Produto 1 As cabeceiras do rio Xingu

Relatório Parcial Produto 1 As cabeceiras do rio Xingu Fundo Para o Meio Ambiente Mundial Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO

Leia mais

BIOMAS BRASILEIROS BRASIL

BIOMAS BRASILEIROS BRASIL BIOMAS BRASILEIROS BRASIL BIOMAS BRASILEIROS Aziz Ab Sáber (1924) Floresta Tropical pluvial-úmida Tropical:próxima ao Equador, estabilidade climática Pluvial: chuvas intensas e regulares ao longo do ano

Leia mais

Para Assunto Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos amazônicos Identificação e estudo em áreas prioritárias ou hotspots, Data

Para Assunto Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos amazônicos Identificação e estudo em áreas prioritárias ou hotspots, Data De: Cleber J. R. Alho consultor Para: Norbert Fenzl e Maria Apostolova Projeto GEF-Amazonas Assunto: Relatório resumido sobre as atividades desenvolvidas para execução dos componentes II.1.1 - Melhorar

Leia mais

HIDROSFERA E AS ÁGUAS CONTINETAIS E BACIAS HIDROGRÁFICAS MÓDULOS 14 E 15

HIDROSFERA E AS ÁGUAS CONTINETAIS E BACIAS HIDROGRÁFICAS MÓDULOS 14 E 15 HIDROSFERA E AS ÁGUAS CONTINETAIS E BACIAS HIDROGRÁFICAS MÓDULOS 14 E 15 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA A água é um recurso natural fundamental ao ser humano, uma das principais fontes de vida. Necessárias são posturas

Leia mais

Quantidade de água no planeta

Quantidade de água no planeta HIDROGRAFIA Quantidade de água no planeta O Brasil possui: 10% da água superficial disponível para consumo no mundo. No Brasil a distribuição é desigual. - 70% na Amazônia - 27% no Centro-Sul - 3% no

Leia mais

Componentes e pesquisadores envolvidos

Componentes e pesquisadores envolvidos Componentes e pesquisadores envolvidos Impactos sobre aves (avifauna) Dr. Luciano Naka Impactos nas comunidades indígenas e tradicionais - Dr. Philip Fearnside Qualidade da água: monitoramento de níveis

Leia mais

Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai Porção Brasileira Período de Análise: 2012 a 2014

Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai Porção Brasileira Período de Análise: 2012 a 2014 Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai Porção Brasileira Período de Análise: 2012 a 2014 1 Sumário Executivo Apresentação A Bacia Hidrográfica do Alto

Leia mais

Mata Atlântica Floresta Pluvial Tropical. Ecossistemas Brasileiros

Mata Atlântica Floresta Pluvial Tropical. Ecossistemas Brasileiros Mata Atlântica Floresta Pluvial Tropical Ecossistemas Brasileiros https://www.youtube.com/watch?v=ee2ioqflqru Sub-regiões biogeográficas endemismo de aves, borboletas e primatas Mata das Araucárias (Ombrófila

Leia mais

LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS

LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS P1-4º BIMESTRE 6º ANO FUNDAMENTAL II Aluno (a): Turno: Turma: Unidade Data: / /2016 HABILIDADES E COMPETÊNCIAS Compreender o conceito de bioma. Reconhecer fatores bióticos

Leia mais

Unidades de Conservação

Unidades de Conservação Unidades de Conservação Unidades de conservação Unidades de conservação Um dos mais significativos programas de conservação ambiental está sendo implantado pela CESP; porém, poucas pessoas podem perceber

Leia mais

ESTRUTURA GEOLÓGICA,RELEVO E HIDROGRAFIA

ESTRUTURA GEOLÓGICA,RELEVO E HIDROGRAFIA ESTRUTURA GEOLÓGICA,RELEVO E HIDROGRAFIA Definição de DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS: Pode ser compreendido como uma região que apresenta elementos naturais específicos que interagem resultando em uma determinada

Leia mais

Ciclo hidrológico e distribuição da água na Terra

Ciclo hidrológico e distribuição da água na Terra Ciclo hidrológico e distribuição da água na Terra a) CICLO HIDROLÓGICO EVAPORAÇÃO/TRANSPIRAÇÃO O ciclo começa com a evaporação da água superficial devido ao calor e com a transpiração dos vegetais. CONDENSAÇÃO/PRECIPITAÇÃO

Leia mais

Geografia. Prof. Franco.

Geografia. Prof. Franco. Geografia Prof. Franco Email: ffrancogeo@bol.com.br BIOMAS Bioma Tundra Taiga (Florestas Boreais) Florestas Temperadas Precipitação e umidade umidade e chuva moderadas umidade e chuva moderadas chuva

Leia mais

ESTUDO DIRIGIDO 5º PERÍODO PROFº GUSTAVO BARCELOS

ESTUDO DIRIGIDO 5º PERÍODO PROFº GUSTAVO BARCELOS ESTUDO DIRIGIDO 5º PERÍODO PROFº GUSTAVO BARCELOS QUESTIONAMENTOS 1- Diferencie Amazônia Legal e Amazônia Internacional. 2- Caracterize o clima equatorial quanto a temperatura e umidade. 3- Explique o

Leia mais

BRASIL NOSSO TERRITÓRIO E FRONTEIRAS MODULO 02 PALMAS - TO

BRASIL NOSSO TERRITÓRIO E FRONTEIRAS MODULO 02 PALMAS - TO BRASIL NOSSO TERRITÓRIO E FRONTEIRAS MODULO 02 PALMAS - TO ESPAÇO GEOGRÁFICO E A AÇÃO HUMANA É o espaço onde os homens vivem e fazem modificações, sendo o resultado do trabalho do homem sobre a natureza.

Leia mais

CAPÍTULO 02 Estrutura Geológica, Relevo e Hidrografia.

CAPÍTULO 02 Estrutura Geológica, Relevo e Hidrografia. 18/02/2016 7º Ano B CAPÍTULO 02 Estrutura Geológica, Relevo e Hidrografia. Profº Delsomar de Sousa Barbosa Páginas: 19 a 39 Itens 01 a 03. Estrutura Geológica Relevo Hidrografia Estrutura Temática Crátons

Leia mais

GEOGRAFIA REVISÃO 1 REVISÃO 2. Aula 25.1 REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV

GEOGRAFIA REVISÃO 1 REVISÃO 2. Aula 25.1 REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV Aula 25.1 REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV Complexos Regionais Amazônia: Baixa densidade demográfica e grande cobertura vegetal. 2 3 Complexos Regionais Nordeste: Mais baixos níveis de desenvolvimento

Leia mais

Relevo brasileiro GEOGRAFIA 5º ANO FONTE: IBGE

Relevo brasileiro GEOGRAFIA 5º ANO FONTE: IBGE Relevo brasileiro GEOGRAFIA 5º ANO FONTE: IBGE O relevo Brasileiro O relevo brasileiro é constituído, principalmente, por planaltos, planícies e depressões. Os planaltos são terrenos mais antigos relativamente

Leia mais

Professora Leonilda Brandão da Silva

Professora Leonilda Brandão da Silva COLÉGIO ESTADUAL HELENA KOLODY E.M.P. TERRA BOA - PARANÁ Professora Leonilda Brandão da Silva E-mail: leonildabrandaosilva@gmail.com http://professoraleonilda.wordpress.com/ PROBLEMATIZAÇÃO Como você acha

Leia mais

O CLIMA E A VEGETAÇÃO DO BRASIL

O CLIMA E A VEGETAÇÃO DO BRASIL O CLIMA E A VEGETAÇÃO DO BRASIL [...] Não tinha inverno e verão em Brasília, tinha o tempo da seca e tempo das chuvas. Uma vez choveu onze dias sem parar, e as pessoas andavam quase cegas debaixo do aguaceiro,

Leia mais

HIDROGRAFIA (estudo das águas)

HIDROGRAFIA (estudo das águas) HIDROGRAFIA (estudo das águas) Consumo Real e Virtual 1 CONSUMO DE ÁGUA MUNDIAL CONSUMO DE ÁGUA MUNDIAL - comparativo CONSUMO DE ÁGUA BRASILEIRO 2 Ciclo da Água CONCEITOS e TERMINOLOGIAS 3 CONCEITOS e

Leia mais

ECO GEOGRAFIA. Prof. Felipe Tahan BIOMAS

ECO GEOGRAFIA. Prof. Felipe Tahan BIOMAS ECO GEOGRAFIA Prof. Felipe Tahan BIOMAS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS Os domínios morfoclimáticos representam a combinação de um conjunto de elementos da natureza relevo, clima, vegetação que se inter-relacionam

Leia mais

O que é hidrografia? É o ciclo da água proveniente tanto da atmosfera como do subsolo.

O que é hidrografia? É o ciclo da água proveniente tanto da atmosfera como do subsolo. O que é hidrografia? É o ciclo da água proveniente tanto da atmosfera como do subsolo. Rios São cursos d água com leito ou canal bem definidos. São formados pelo encontro das águas do escoamento superficial

Leia mais

TERCEIRÃO GEOGRAFIA FRENTE 4A AULA 11. Profº André Tomasini

TERCEIRÃO GEOGRAFIA FRENTE 4A AULA 11. Profº André Tomasini TERCEIRÃO GEOGRAFIA FRENTE 4A AULA 11 Profº André Tomasini ÁGUAS CONTINENTAIS Os oceanos e mares cobrem 2/3 da superfície do planeta. Águas Oceânicas : Abrange oceanos e mares. Águas Continentais: Rios,

Leia mais

Cap. 10. Hidrografia

Cap. 10. Hidrografia Cap. 10. Hidrografia Saneamento básico: sistema de coleta e tratamento de água e esgoto. Hidrografia brasileira OLIVEIRA, Franzé http://www.neputufv.com.br/texto.php?p=softwares Acesso em: 17/05/2011

Leia mais

Apresentação do resultado dos Estudos de Inventário Hidrelétrico do rio Uruguai - trecho binacional entre Argentina e Brasil

Apresentação do resultado dos Estudos de Inventário Hidrelétrico do rio Uruguai - trecho binacional entre Argentina e Brasil Apresentação do resultado dos Estudos de Inventário Hidrelétrico do rio Uruguai - trecho binacional entre Argentina e Brasil Eletrobras Diretoria de Geração Superintendência de Geração Porto Mauá, 11 de

Leia mais

Capítulo 4 - MATERIAIS DE ESTUDO

Capítulo 4 - MATERIAIS DE ESTUDO Capítulo 4 - MATERIAIS DE ESTUDO 4.1. Introdução A redução da resistência mecânica é um aspecto de grande preocupação na aplicação de rochas em engenharia civil e, por isso, constitui tema de vários relatos

Leia mais

Brasil: características naturais - litosfera. Páginas 12 à 27

Brasil: características naturais - litosfera. Páginas 12 à 27 Brasil: características naturais - litosfera Páginas 12 à 27 Refúgio Ecológico Caiman Miranda - MS Parque Nacional do Monte Roraima - RR Serra dos Órgãos Teresópolis - RJ Parque Nacional dos Aparados da

Leia mais

Seminário Ano Internacional da Biodiversidade Quais os desafios para o Brasil? Painel 11: Os Oceanos e a Biodiversidade Marinha

Seminário Ano Internacional da Biodiversidade Quais os desafios para o Brasil? Painel 11: Os Oceanos e a Biodiversidade Marinha Seminário Ano Internacional da Biodiversidade Quais os desafios para o Brasil? Painel 11: Os Oceanos e a Biodiversidade Marinha June Ferraz Dias junedias@usp.br Alguns fatos sobre os oceanos... Talassociclo

Leia mais

Estrutura Geológica e o Relevo Brasileiro

Estrutura Geológica e o Relevo Brasileiro Estrutura Geológica e o Relevo Brasileiro 1. (ENEM-2010) TEIXEIRA, W. et. al. (Orgs.) Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009 O esquema mostra depósitos em que aparecem fósseis

Leia mais

Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica. Prof. D.Sc Enoque Pereira da Silva

Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica. Prof. D.Sc Enoque Pereira da Silva Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica Prof. D.Sc Enoque Pereira da Silva 1 Ciclo hidrológico global Energia do sol que atua sobre o sistema terrestre: 36% de toda a energia que chega a terra é utilizada

Leia mais

Apostila de Geografia 16 Hidrografia Matheus Borges

Apostila de Geografia 16 Hidrografia Matheus Borges Apostila de Geografia 16 Hidrografia Matheus Borges 1.0 Distribuição das Águas 97% Águas salgadas: Oceano Pacífico (o maior). Oceano Atlântico (muito navegável). Oceano Índico. 3% Água doce: 2% Geleiras.

Leia mais

Uso da Avaliação Ambiental Integrada para viabilização de empreendimentos hidrelétricos Bacia do rio Chapecó LASE 2016

Uso da Avaliação Ambiental Integrada para viabilização de empreendimentos hidrelétricos Bacia do rio Chapecó LASE 2016 Uso da Avaliação Ambiental Integrada para viabilização de empreendimentos hidrelétricos Bacia do rio Chapecó LASE 2016 São Paulo, 06 de setembro de 2016 Empresas envolvidas Histórico Metodologia Resultados

Leia mais

Características Ecológicas dos Açudes (Reservatórios) do Semi-Árido

Características Ecológicas dos Açudes (Reservatórios) do Semi-Árido Características Ecológicas dos Açudes (Reservatórios) do Semi-Árido Reservatórios ocupam hoje cerca de 600.000 km 2 de águas represadas em todo o planeta. A construção de reservatórios tem origem muito

Leia mais

BIOMAS BRASILEIROS. - Biodiversidade - Principais características - Importância. Por Priscila de Souza Bezerra

BIOMAS BRASILEIROS. - Biodiversidade - Principais características - Importância. Por Priscila de Souza Bezerra BIOMAS BRASILEIROS - Biodiversidade - Principais características - Importância Por Priscila de Souza Bezerra O que são biomas? (bios=vida; omas= massa,grupo) Conjunto de ecossistemas com características

Leia mais

01- Analise a figura abaixo e aponte as capitais dos 3 estados que compõem a Região Sul.

01- Analise a figura abaixo e aponte as capitais dos 3 estados que compõem a Região Sul. PROFESSOR: EQUIPE DE GEOGRAFIA BANCO DE QUESTÕES - GEOGRAFIA - 7º ANO - ENSINO FUNDAMENTAL - PARTE 1 ============================================================================================= 01- Analise

Leia mais

RESPOSTAS DAS SUGESTÕES DE AVALIAÇÃO GEOGRAFIA 6 o ANO

RESPOSTAS DAS SUGESTÕES DE AVALIAÇÃO GEOGRAFIA 6 o ANO RESPOSTAS DAS SUGESTÕES DE AVALIAÇÃO GEOGRAFIA 6 o ANO Unidade 4 1. 2. (V) Os planaltos sofrem mais a ação de agentes de erosão do que de agentes de sedimentação. (F) O nome do maior planalto da América

Leia mais

VEGETAÇÃO BRASILEIRA. DIVIDE-SE EM: 1) Formações florestais ou arbóreas 2) Formações arbustivas e herbáceas 3) Formações complexas e litorâneas

VEGETAÇÃO BRASILEIRA. DIVIDE-SE EM: 1) Formações florestais ou arbóreas 2) Formações arbustivas e herbáceas 3) Formações complexas e litorâneas VEGETAÇÃO BRASILEIRA DIVIDE-SE EM: 1) Formações florestais ou arbóreas 2) Formações arbustivas e herbáceas 3) Formações complexas e litorâneas Floresta Amazônica ou Equatorial Características: Latifoliada,

Leia mais

HIDROGRAFIA (estudo das águas)

HIDROGRAFIA (estudo das águas) HIDROGRAFIA (estudo das águas) CONSUMO DE ÁGUA MUNDIAL CONSUMO DE ÁGUA MUNDIAL - comparativo CONSUMO DE ÁGUA BRASILEIRO Fase rápida Fase longa 2 Alto Médio Curso Curso Interflúvios Baixo Curso Interflúvios

Leia mais

1º Período Conteúdos Habilidades Atividades desenvolvidas

1º Período Conteúdos Habilidades Atividades desenvolvidas 1º Período Conteúdos Habilidades Atividades desenvolvidas UNIDADE 1 O Planeta Terra Tema 1: O planeta onde vivemos; Tema 2: Conhecendo a Terra; Tema 3: Continentes e oceanos; Tema 4: Trabalhando com mapas..

Leia mais

DIAGNÓSTICO DE RISCOS AMBIENTAIS E ALTERNATIVAS PARA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE TRECHO DO RIO GUANDU

DIAGNÓSTICO DE RISCOS AMBIENTAIS E ALTERNATIVAS PARA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE TRECHO DO RIO GUANDU DIAGNÓSTICO DE RISCOS AMBIENTAIS E ALTERNATIVAS PARA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE TRECHO DO RIO GUANDU Albieri, Rafael 1 ; Firmino, Felipe 2 ; Ribeiro, Ariel 2 1 Colégio Técnico da Universidade Federal Rural

Leia mais

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO PORTO ORGANIZADO DE ÓBIDOS

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO PORTO ORGANIZADO DE ÓBIDOS DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO PORTO ORGANIZADO DE ÓBIDOS 2016 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 3 2 CARACTERISTICAS AMBIENTAIS DE ÓBIDOS... 3 2.1 CLIMA... 3 2.2 RECURSOS HÍDRICOS... 4 2.3 SOLOS... 5 2.4 GEOLOGIA... 5

Leia mais

GEOGRAFIA - 1 o ANO MÓDULO 07 ESTRUTURA GEOLÓGICA BRASILEIRA

GEOGRAFIA - 1 o ANO MÓDULO 07 ESTRUTURA GEOLÓGICA BRASILEIRA GEOGRAFIA - 1 o ANO MÓDULO 07 ESTRUTURA GEOLÓGICA BRASILEIRA Como pode cair no enem? A partir dos dados apresentados, assinale a alternativa correta. a) A maior quantidade de minerais concentra-se em áreas

Leia mais

Características da UHE Belo Monte

Características da UHE Belo Monte Realização: Patrocínio: Características da UHE Belo Monte NORTE ENERGIA S.A. CASA DE FORÇA PRINCIPAL (Sítio Belo Monte) Potência: 11.000 MW (18 x 611,11 MW). Garantia física: 4.419 MW médios. 1ª Unidade

Leia mais

é a herança para os nossos filhos e netos com a sua atmosfera rica em oxigénio, permite-nos respirar com a camada de ozono, protege-nos das radiações

é a herança para os nossos filhos e netos com a sua atmosfera rica em oxigénio, permite-nos respirar com a camada de ozono, protege-nos das radiações é a herança para os nossos filhos e netos com a sua atmosfera rica em oxigénio, permite-nos respirar com a camada de ozono, protege-nos das radiações ultravioletas com a água evita a desidratação com as

Leia mais

Características Gerais

Características Gerais Características Gerais O Brasil é atingido por : Planalto da Guianas, Cordilheira dos Andes e Planalto Brasileiro; É pobre em formações mas rico em rios; Ocorrem rios permanentes e temporários; ainda que

Leia mais

HIDROGRAFIA DO BRA R SIL I

HIDROGRAFIA DO BRA R SIL I HIDROGRAFIA DO BRASIL ÁGUAS CONTINENTAIS Rio São águas correntes que se deslocam na superfície, no sentido da declividade do relevo Importante elemento no ciclo hidrológico Fornecimento de água potável

Leia mais

Curso Engenharia Ambiental e de Produção Disciplina: Ciências do Ambiente Profa Salete R. Vicentini Bióloga Educadora e Gestora Ambiental

Curso Engenharia Ambiental e de Produção Disciplina: Ciências do Ambiente Profa Salete R. Vicentini Bióloga Educadora e Gestora Ambiental Curso Engenharia Ambiental e de Produção Disciplina: Ciências do Ambiente Profa Salete R. Vicentini Bióloga Educadora e Gestora Ambiental São Luis de Paraitinga Poço da Borboleta Azul Foto Salete Vicentini

Leia mais

Eng. Agrônomo Ricardo Moacir Konzen Coordenador de departamento Departamento de Meio Ambiente de Vera Cruz

Eng. Agrônomo Ricardo Moacir Konzen Coordenador de departamento Departamento de Meio Ambiente de Vera Cruz Eng. Agrônomo Ricardo Moacir Konzen Coordenador de departamento Departamento de Meio Ambiente de Vera Cruz agronomia@veracruz-rs.gov.br dema@veracruz-rs.gov.br 51 37183778 Vera Cruz - RS Distância de Porto

Leia mais

OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO

OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO 1 OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO Dra. Helena França Centro de Engenharia e Ciências Sociais Aplicadas Universidade Federal do ABC email: helena.franca@ufabc.edu.br Este relatório

Leia mais

Exercícios sobre Continente Americano - 8º ano - cap. 10

Exercícios sobre Continente Americano - 8º ano - cap. 10 Exercícios sobre Continente Americano - 8º ano - cap. 10 Para realizar as atividades, consulte os Slides sobre Continente Americano (Ativ. nº 25 - Site padogeo.com) ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Leia mais

Biomas Terrestres e Ambientes Aquáticos

Biomas Terrestres e Ambientes Aquáticos Biomas Terrestres e Ambientes Aquáticos Sumário 1. Definição de Bioma 2. Clima 3. Fatores Físicos e Adaptativos 4. Diagrama de Whittaker 5. Principais Biomas terrestres mundiais 6. Ambientes aquáticos

Leia mais

ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (ISSA) PARA TRECHO DE VAZÃO REDUZIDA

ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (ISSA) PARA TRECHO DE VAZÃO REDUZIDA ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (ISSA) PARA TRECHO DE VAZÃO REDUZIDA ESTUDO DE CASO: VOLTA GRANDE DO RIO XINGU Cristiane VIEIRA/Viviane MAGALHÃES/Maria Betânia SOUZA/Gustavo OLIVEIRA XXXI - SEMINÁRIO

Leia mais

É a superfície coberta por água o que corresponde a 70% da mesma; Encontrada em: - Oceanos; - Mares; - Águas continentais (rios, lagos e geleiras);

É a superfície coberta por água o que corresponde a 70% da mesma; Encontrada em: - Oceanos; - Mares; - Águas continentais (rios, lagos e geleiras); É a superfície coberta por água o que corresponde a 70% da mesma; Encontrada em: - Oceanos; - Mares; - Águas continentais (rios, lagos e geleiras); - 97,5% é água salgada - 2,5% apenas é água doce Distribuição:

Leia mais

Tipos de Ecossistemas Aquáticos

Tipos de Ecossistemas Aquáticos UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS INTERDISCIPLINA FENÔMENOS DA NATUREZA II Tipos de Ecossistemas Aquáticos Dr. Cleber Palma Silva Dra. Edélti Faria Albertoni Lab. Limnologia Para

Leia mais

ANEXO-UNDER 2 ESTADO DE MATO GROSSO

ANEXO-UNDER 2 ESTADO DE MATO GROSSO ANEXO-UNDER 2 ESTADO DE MATO GROSSO CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO O estado de Mato Grosso está localizado na região Centro-Oeste do Brasil, fazendo fronteira com os estados do Pará e Amazonas ao norte, Mato

Leia mais

AVALIAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA (AAI) Ricardo Cavalcanti Furtado Superintendente de Meio Ambiente

AVALIAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA (AAI) Ricardo Cavalcanti Furtado Superintendente de Meio Ambiente AVALIAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA (AAI) Ricardo Cavalcanti Furtado Superintendente de Meio Ambiente Manaus, junho/2006 Empresa de Pesquisa Energética Empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia,

Leia mais

A AMERICA LATINA SUA NATUREZA E REGIONALIZAÇÃO

A AMERICA LATINA SUA NATUREZA E REGIONALIZAÇÃO A AMERICA LATINA SUA NATUREZA E REGIONALIZAÇÃO O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO PORTUGUESES E ESPANHÓIS, LANÇARAM-SE AO MAR E OCUPARAM O CONTINENTE AMERICANO PARA ATENDER OS INTERESSES DA METRÓPOLE; OUTROS POVOS

Leia mais

2º ano do Ensino Médio. Ciências Humanas e suas Tecnologias Geografia

2º ano do Ensino Médio. Ciências Humanas e suas Tecnologias Geografia 2º ano do Ensino Médio Ciências Humanas e suas Tecnologias Geografia Complexo Regional da Amazônia Características gerais Amazônia Internacional Amazônia Legal Internacional Legal 7,0 milhões de Km 2 5,0

Leia mais

ELEMENTOS DA GEOLOGIA (II)

ELEMENTOS DA GEOLOGIA (II) ELEMENTOS DA GEOLOGIA (II) AS ROCHAS São agregados minerais ou de um mineral apenas, formados naturalmente na crosta terrestre. As rochas podem ser classificadas em ígneas, sedimentares e metamórficas.

Leia mais

CST 304-3: Fundamentos de Ecologia e de Modelagem Ambiental Aplicados à conservação da Biodiversidade

CST 304-3: Fundamentos de Ecologia e de Modelagem Ambiental Aplicados à conservação da Biodiversidade CST 304-3: Fundamentos de Ecologia e de Modelagem Ambiental Aplicados à conservação da Biodiversidade O REINO NEOTROPICAL AL U N A : Y H AS M I N M E N D E S D E M O U R A REINO NEOTROPICAL AMÉRICA LATINA

Leia mais

OS BIOMAS. A Geografia Levada a Sério

OS BIOMAS.  A Geografia Levada a Sério OS BIOMAS 1 A MATA DE ONDE EU VIM 2003 Guilherme Arantes 2 A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil. Nicolau Copérnico 3 Os Biomas A Paisagem é um conceito chave na ciência

Leia mais

1 Biodiversidade espécies brasileiras ameaçadas de extinção, sobreexplotadas exploração

1 Biodiversidade espécies brasileiras ameaçadas de extinção, sobreexplotadas exploração Sumário 1Biodiversidade...2 1.1Estados Unidos Também é Rico em Biodiversidade...3 2 Principais Animais em Extinção no Mundo...5 3Principais Animais em Extinção no Brasil...5 3.1.1Tabela com nível desmatamento

Leia mais

IBGE apresenta ranking dos 10 rios mais poluídos do Brasil

IBGE apresenta ranking dos 10 rios mais poluídos do Brasil IBGE apresenta ranking dos 10 rios mais poluídos do Brasil Os indicadores do IBGE revelam quais bacias de água doce estão em situação mais crítica, apresentando os 10 rios mais poluídos do país. Os IQAs

Leia mais

Los impactos del Cambio Climático en el Pantanal. Alcides Faria

Los impactos del Cambio Climático en el Pantanal. Alcides Faria Los impactos del Cambio Climático en el Pantanal Alcides Faria www.riosvivos.org.br Propósitos - Identificar o território Pantanal como parte da bacia do rio da Prata e de um grande sistema de áreas úmidas

Leia mais

Domínios Florestais do Mundo e do Brasil

Domínios Florestais do Mundo e do Brasil Domínios Florestais do Mundo e do Brasil Formações Florestais: Coníferas, Florestas Temperadas, Florestas Equatoriais e Florestas Tropicais. Formações Herbáceas e Arbustivas: Tundra, Pradarias Savanas,

Leia mais

Duas dessas massas de ar são formadas nas proximidades do Equador:

Duas dessas massas de ar são formadas nas proximidades do Equador: GEOGRAFIA DO BRASIL Massas de ar Além da importância dos fatores climáticos estáticos (latitude e altitude), deve-se destacar também a atuação dos fatores dinâmicos sobre os climas encontrados no território

Leia mais

Osvaldo Antonio R. dos Santos Gerente de Recursos Florestais - GRF. Instituto de Meio Ambiente de MS - IMASUL

Osvaldo Antonio R. dos Santos Gerente de Recursos Florestais - GRF. Instituto de Meio Ambiente de MS - IMASUL Osvaldo Antonio R. dos Santos Gerente de Recursos Florestais - GRF Instituto de Meio Ambiente de MS - IMASUL Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico - SEMADE Presidência da República Casa

Leia mais

Disponibilidade Hídrica do Sistema Elétrico Brasileiro

Disponibilidade Hídrica do Sistema Elétrico Brasileiro Disponibilidade Hídrica do Sistema Elétrico Brasileiro Maio/2003 A Água no Mundo Desse volume: 97,2% águas dos mares 2,15% geleiras e calotas polares 3/4 3/4 do do globo globo terrestre são são cobertos

Leia mais

Pressão antropogénica sobre o ciclo da água

Pressão antropogénica sobre o ciclo da água O CICLO DA ÁGUA Pressão antropogénica sobre o ciclo da água 2. Poluição difusa 3. Poluição urbana 1. Rega 8. Barragens 7. Erosão do solo 4. Poluição industrial 5. Redução das zonas húmidas Adaptado de:

Leia mais

UNIDADES DO RELEVO E CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO. Módulos 29 e 30 Livro 2 paginas 122 a 124 / 127 a 129

UNIDADES DO RELEVO E CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO. Módulos 29 e 30 Livro 2 paginas 122 a 124 / 127 a 129 UNIDADES DO RELEVO E CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO Módulos 29 e 30 Livro 2 paginas 122 a 124 / 127 a 129 Formas de relevo Escarpa: encosta de planalto intensamente dissecada (erodida) Serra: Morros

Leia mais

R.: R.: 03- A latitude quadro: R.: R.:

R.: R.: 03- A latitude quadro: R.: R.: PROFESSOR: EQUIPE DE GEOGRAFIA BANCO DE QUESTÕES - GEOGRAFIA - 6º ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ========== =========== ============ =========== =========== =========== =========== =========== =========== ==

Leia mais

Localização da bacia e aspectos políticos

Localização da bacia e aspectos políticos Localização da bacia e aspectos políticos Nasce na região central do estado (Serra do Espinhaço) e flui em direção nordeste...... até o Oceano Atlântico em Belmonte (BA) Apresenta 94% da área de drenagem

Leia mais

Ciclo hidrológico: ciclo fechado no qual a água de movimenta

Ciclo hidrológico: ciclo fechado no qual a água de movimenta Ciclo hidrológico e qualidade da água Ciclo hidrológico: ciclo fechado no qual a água de movimenta A água está em constante movimento e descreve um ciclo na natureza: evapora do mar, açudes, rios lagoas

Leia mais

Cópia autorizada. II

Cópia autorizada. II II Sugestões de avaliação Geografia 7 o ano Unidade 8 5 Unidade 8 Nome: Data: 1. A respeito dos aspectos físicos da região Centro-Oeste, marque V nas alternativas verdadeiras e F nas falsas. a) O clima

Leia mais

TÍTULO: INFLUÊNCIA DA PCH LUIZ DIAS SOBRE A COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA NO RIO LOURENÇO VELHO, MG

TÍTULO: INFLUÊNCIA DA PCH LUIZ DIAS SOBRE A COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA NO RIO LOURENÇO VELHO, MG TÍTULO: INFLUÊNCIA DA PCH LUIZ DIAS SOBRE A COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA NO RIO LOURENÇO VELHO, MG CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS INSTITUIÇÃO: CENTRO

Leia mais

QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS EMISSÃO DOS GEE ( RETENÇÃO DE CALOR)

QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS EMISSÃO DOS GEE ( RETENÇÃO DE CALOR) AQUECIMENTO GLOBAL QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS EMISSÃO DOS GEE ( RETENÇÃO DE CALOR) CHINA GRANDE EMISSÃO DO GEE DEZ SINAIS DE ALARME DO AQUECIMENTO GLOBAL AUMENTO DO NÍVEL DOS OCEANOS TUVALU refugiados

Leia mais

Desde a escola ouvimos uma antiga definição de que meio ambiente era chamado de tudo o que é vivo, ou seja, todas as coisas que vivem neste planeta e

Desde a escola ouvimos uma antiga definição de que meio ambiente era chamado de tudo o que é vivo, ou seja, todas as coisas que vivem neste planeta e O Meio Ambiente Desde a escola ouvimos uma antiga definição de que meio ambiente era chamado de tudo o que é vivo, ou seja, todas as coisas que vivem neste planeta e estão ligadas a vida dos seres humanos.

Leia mais

PANTANAL: UM PARAÍSO SERIAMENTE AMEAÇADO

PANTANAL: UM PARAÍSO SERIAMENTE AMEAÇADO PANTANAL: UM PARAÍSO SERIAMENTE AMEAÇADO Por: Carlos Roberto Padovani, Rob H. G. Jongman paisagem do Pantanal é um paraíso. Consiste de vastos rios, A maravilhosas áreas úmidas, águas temporárias, pequenos

Leia mais

9 - Escoamento Superficial

9 - Escoamento Superficial 9 - Escoamento Superficial 9.1 Generalidades e ocorrência ESCOAMENTO SUPERFICIAL Estuda o deslocamento das águas na superfície da terra CHUVA Posteriormente evapora Interceptada pela vegetação e outros

Leia mais

GEOGRAFIA FÍSICA DO BRASIL

GEOGRAFIA FÍSICA DO BRASIL GEOGRAFIA FÍSICA DO BRASIL (26/10/2016 às 15h ) 1) Há um domínio morfoclimático brasileiro, que está situado em zona climática temperada, mas ainda sob efeito dos trópicos, por isso in uenciado por um

Leia mais

OS FATORES DO CLIMA. Equador, portanto quanto maior a latitude, menores são as médias anuais de temperatura.

OS FATORES DO CLIMA. Equador, portanto quanto maior a latitude, menores são as médias anuais de temperatura. Os climas do Brasil OS FATORES DO CLIMA LATITUDE quanto mais nos distanciamos do Equador, portanto quanto maior a latitude, menores são as médias anuais de temperatura. BRASIL 93% zona Intertropical e

Leia mais

SUBTROPICAL (SÃO GABRIEL - RS)

SUBTROPICAL (SÃO GABRIEL - RS) PROFESSOR: EQUIPE DE GEOGRAFIA BANCO DE QUESTÕES - GEOGRAFIA - 6º ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ============================================================================================= 01- Analise as imagens.

Leia mais

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) Água

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) Água Água Água a) Faça a relação entre a quantidade de água disponível e a distribuição da população. b) Indique os principais fatores que, nas regiões Sul e Sudeste, comprometem negativamente a qualidade da

Leia mais

Biomas terrestres. Gabriela Ferreira 6º ano

Biomas terrestres. Gabriela Ferreira 6º ano Biomas terrestres Gabriela Ferreira 6º ano Tundra Tundra é um tipo de vegetação rasteira típica de regiões polares que ficam cobertas por gelo durante grande parte do ano. Na época do verão, este gelo

Leia mais

Ideli Salvatti Ministra da Pesca e Aquicultura

Ideli Salvatti Ministra da Pesca e Aquicultura Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional Ideli Salvatti Ministra da Pesca e Aquicultura 24/5/2011 1 Panorama Mundial 2007/2008 Produção Regional 2008/2009 Produção por estado

Leia mais

Tipos de Chuvas. Chuvas Orográficas: é quando as massas de ar são barradas pela ocorrência do relevo(planaltos ou montanhas).

Tipos de Chuvas. Chuvas Orográficas: é quando as massas de ar são barradas pela ocorrência do relevo(planaltos ou montanhas). CLIMAS DO MUNDO ;;. V jlóyufrdcdf Latitude Tipos de Chuvas Chuvas Orográficas: é quando as massas de ar são barradas pela ocorrência do relevo(planaltos ou montanhas). Chuvas Frontais: é resultado do encontro

Leia mais

AMÉRICA ANDINA e PLATINA

AMÉRICA ANDINA e PLATINA OBJETIVO 2016 1º ANO E.M. MÓDULO 24 AMÉRICA ANDINA e PLATINA Geograficamente, o fator mais significativo dessa região em termos de quadro natural é a CORDILHEIRA DOS ANDES. AMÉRICA ANDINA Ocorrem as maiores

Leia mais

Capítulo 11. Biomas e a vegetação Parte 2

Capítulo 11. Biomas e a vegetação Parte 2 Capítulo 11. Biomas e a vegetação Parte 2 Características das formações vegetais brasileiras (pág. 225) Brasil: vegetação nativa Domínio Amazônico: Floresta Densa e meandros fluviais Formações Arbóreas

Leia mais

. a d iza r to u a ia p ó C II

. a d iza r to u a ia p ó C II II Sugestões de avaliação Geografia 6 o ano Unidade 4 5 Unidade 4 Nome: Data: 1. Sobre o relevo de planalto, marque V nas alternativas verdadeiras e F nas falsas. ( ) os planaltos sofrem mais a ação de

Leia mais

ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE

ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL PEQUENAS BARRAGENS DE TERRA As barragens de

Leia mais

Quais são os principais drivers do desflorestamento na Amazônia? Um exemplo de interdisciplinaridade.

Quais são os principais drivers do desflorestamento na Amazônia? Um exemplo de interdisciplinaridade. INCLINE workshop interdisciplinaridade FEA-USP - 10 de Março de 2015 Quais são os principais drivers do desflorestamento na Amazônia? Um exemplo de interdisciplinaridade. Natália G. R. Mello, PROCAM-USP

Leia mais

Os principais aspectos físicos do continente americano

Os principais aspectos físicos do continente americano Os principais aspectos físicos do continente americano O CONTINENTE AMERICANO CARACTERÍSTICAS GERAIS O continente americano se destaca pela sua grande extensão Norte-Sul. É o segundo maior continente do

Leia mais

Localização : em áreas de baixas latitudes, ao longo da linha equatorial.

Localização : em áreas de baixas latitudes, ao longo da linha equatorial. Curso Completo Professor João Felipe Geografia Tipos de Clima No Brasil e no Mundo CLIMA EQUATORIAL Localização : em áreas de baixas latitudes, ao longo da linha equatorial. 1 Apresentam baixas pressões

Leia mais

CADERNO DE EXERCÍCIOS

CADERNO DE EXERCÍCIOS GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Disciplina: Ecologia de Ecossistema e da Paisagem

Leia mais

PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA. Adaptado de Devanir Garcia dos Santos Agência Nacional de Águas Gerência de Uso Sustentável de Água e Solo

PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA. Adaptado de Devanir Garcia dos Santos Agência Nacional de Águas Gerência de Uso Sustentável de Água e Solo PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA Adaptado de Devanir Garcia dos Santos GESTÃO COMPARTILHADA Harmonizar a relação entre produtor a montante da bacia hidrográfica e usuário a jusante Através do reconhecimento econômico

Leia mais

com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente;

com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente; com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente; sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria. Fonte: http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-territorio/biomas.html

Leia mais

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre. Processo de Seleção de Mestrado 2015 Questões Gerais de Ecologia

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre. Processo de Seleção de Mestrado 2015 Questões Gerais de Ecologia Questões Gerais de Ecologia a. Leia atentamente as questões e responda apenas 3 (três) delas. identidade (RG) e o número da questão. 1. Como a teoria de nicho pode ser aplicada à Biologia da Conservação?

Leia mais

Características dos Solos Goianos

Características dos Solos Goianos Universidade do Estado de Mato Grosso Campus Universitário de Pontes e Lacerda Departamento de Zootecnia Disciplina: Geologia Docente: Prof. Dr. Eurico Características dos Solos Goianos Discente: Kepler

Leia mais