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Transcrição:

II CONGRESSO JURÍDICO VILA RICA UNIVERISDADE FEDERAL DE OURO PRETO DIREITOS DA PERSONALIDADE, BIODIREITO E A CAPACIDADE DOS INCAPAZES Maria de Fátima Freire de Sá Diogo Luna Moureira

IMAGEM, CULTURA E SOCIABILIDADE: AS DIMENSÕES DO OUTRO Compreender o tratamento dispensado aos transtornos mentais e do comportamento ajuda- nos a entender, não apenas sob uma perspectiva médica, mas, sobretudo social e jurídica, o modo como os indivíduos humanos lidavam com estes transtornos, revelando, assim, a construção cultural e imagética que fora feita em torno de indivíduos que exteriorizavam certas diferenças mentais e comportamentais, bem como as conseqüências que suportaram em virtude delas.

ESTIGMA Trata-se da impressão de um signo negativo que subjuga o indivíduo a determinadas condições que o impede de se autoafirmar enquanto outro em um contexto relacional. O processo de estigmatização é produto da projeção sócio- cultural de determinados juízos valorativos sobre algo ou alguém que o torna desqualificado perante outro.

ENFOQUE RACIONAL DA TERAPÊUTICA

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA IMPÉRIO Dec. 82/1841 Dec. 8.024/1881 REPÚBLICA Decreto n. 142-A, de 1890 Decreto n. 508/1890 Lei 2.321/1910 Lei 2.738/1912 Lei 4.242/1921 Decreto 132, de 23 de dezembro de 1903 Lei 10.216/2001

LEI 10.216/2001 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. artigo 4º. a internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes

A Lei n. 10.216 prevê três tipos de internações: a voluntária, que se dá com o consentimento do paciente; a involuntária, feita a pedido de terceiros, sem o consentimento do paciente; e a compulsória, realizada através de ordem judicial (parágrafo único do art. 6º) º). Em todas as situações a internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado com a caracterização dos motivos (art. 6º, caput).

Em qualquer caso de internação, voluntária ou não consentida, as pessoas portadoras de transtornos mentais têm direitos que devem ser respeitados (art. 2 da Lei 10.216/2001): I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito a presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

CÓDIGO CIVIL DE 1916 Art. 5 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de 16 (dezesseis) anos; II - os loucos de todo o gênero; III - os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade; IV - os ausentes, declarados tais por ato do juiz. Art. 6 o São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, I), ou à maneira de os exercer: I - os maiores de 16 (dezesseis) e os menores de 21 (vinte e um) anos (arts. 154 a 156); II - os pródigos; III - os silvícolas. Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar, estabelecido em leis e regulamentos especiais, o qual cessará à medida que se forem adaptando à civilização do País. (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962)

CÓDIGO CIVIL DE 2002 Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

O fato de uma pessoa padecer de um transtorno mental seria suficiente para a manutenção da sua interdição? Qual seria o limite da curatela em caso de alguma autonomia? É constatação de POSSÍVEL A CAPACIDADE DOS INCAPAZES?

TERTIUM NON DATUR?

Art. 1772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os incisos III e IV do art. 1.767 (os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; os excepcionais sem completo desenvolvimento mental), o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela, que poderão circunscrever-se se às restrições constantes do art. 1.782 (A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração)

A Justiça do Trabalho mineira anulou ato jurídico respaldando-sese nos atestados e documentos médicos juntados aos autos indicativos de que o empregado não dispunha de pleno discernimento no momento da prática do ato jurídico em decorrência da esquizofrenia, tornando-o incapaz. Disse, ainda, o magistrado que a interdição judicial pelo juízo cível não é requisito essencial para analisar a existência de vício de consentimento na efetivação do pedido de demissão, sendo que o ato jurídico pode ser invalidado se o julgador estiver diante de outros elementos que possibilitem a verificação do vício no consentimento da parte. RO 01602-2009-067-03-00-2 - TRT 3ª Região

Razões da decisão da Corte de Apelação, de 1902, que suspendeu a interdição de DANIEL PAUL SCHREBER: o reconhecimento de que o estado de perturbação mental não era suficiente para a interdição de Schreber. Além do transtorno, seria necessário saber se, em consequência do estado de saúde, o paciente não estaria apto a cuidar dos seus negócios; a interdição tem lugar somente quando a doença mental é de natureza gravíssima, culminando com a total incapacidade do doente em gerir seus negócios; a expressão gerir negócios não diz respeito apenas às questões de natureza patrimonial, sendo certo que seu alcance vai além dos contornos financeiros para abarcar as circunstâncias existenciais, tais como cuidados para com a vida e a saúde da pessoa e da sua família.

CONCLUSÃO A construção do Direito deixou de ser convencionalista e pragmatista e primou por uma nova dimensão valorativa da pessoa vista enquanto autor dos traços biográficos da própria existência.. Pensar nessa existência possibilidade, por si só, é um grande avanço avanço..

Levar o Direito a sério significa, também, assegurar as garantias constitucionais do processo na construção de uma decisão jurisdicional que diga respeito à limitação da autonomia do indivíduo para a prática de atos que se refiram à sua vida enquanto sujeito de direitos. A efetiva participação do curatelado no processo de curatela deve ser resguardada, a ponto, inclusive, de se saber a possibilidade dos limites da mesma.

OBRIGADO www.cebid.com.br