ISOLAMENTO DE Malassezia pachydermatis DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO, MUCOSA ORAL E PELE DE CÃES

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DA OTITE EXTERNA CERUMINOSA E EVOLUÇÃO CLÍNICA FRENTE A DUAS FORMAS DE TRATAMENTO

AVALIAÇÃO CLÍNICA DOS CASOS DE OTITE EXTERNA EM CÃES ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

PRESENÇA DE Malassezia sp. EM COELHOS DOMÉSTICOS (Oryctolagus cuniculus) PRESENCE OF Malassezia sp. IN DOMESTIC RABBITS (Oryctolagus cuniculus)

ALVALIAÇÃO DA MICROBIOTA VAGINAL DE FÊMEAS CANINAS RELACIONADAS COM O CICLO ESTRAL

AGENTES MICROBIANOS ISOLADOS DE OTITE EXTERNA EM CÃES 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE OTOLOGIA DE CARNÍVOROS DOMÉSTICOS

OCORRÊNCIA DE MALASSEZIA PACHYDERMATIS E CERÚMEN EM CONDUTO AUDITIVO DE CÃES HÍGIDOS E ACOMETIDOS POR OTOPATIAS

IMPORTÂNCIA DA CITOLOGIA DIRETA ASSOCIADA À CULTURA MICROBIOLÓGICA EM CASOS DE OTITE EXTERNA CANINA

TÍTULO: ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE ESPONJAS UTILIZADAS NA HIGIENIZAÇÃO DE UTENSÍLIOS DE COZINHA DE RESTAURANTES DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

PROCEDIMENTOS DE COLETA E ENVIO DE AMOSTRAS PARA EXAME MICOLÓGICO 2ª

Médica Veterinária Residente do Programa de Residência Multiprofissional, UFCG 6

Acta Scientiae Veterinariae. 34(2): , ORIGINAL ARTICLE Pub. 664

Avaliação da eficiência do AURITOP nas otites em cães por Malassezia spp.

As doenças de pele causadas por fungos em cães e gatos

CITOLOGIA AURICULAR E OTOCULTURA FERRAMENTAS NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS OTITES CRÔNICAS

PERFIL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS NA OCORRÊNCIA DE OTITE EM ANIMAIS NA REGIÃO DE CUIABÁ-MT

Viabilidade de cepas de Malassezia pachydermatis mantidas em diferentes métodos de conservação

Aluno do Curso de Medicina Veterinária da UNIJUÍ, bolsista de inciação científica PIBIC - UNIJUÍ, 3

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Otite externa canina em Campo Grande, Mato Grosso do Sul

PROGRAMA DE DISCIPLINA VERSÃO CURRICULAR: 2014/2 PERÍODO: 2 DEPARTAMENTO: MIC

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Malassezia pachydermatis em cães e sua susceptibilidade aos antifúngicos azóis: revisão de literatura

Palavras-chave: Antibióticos, Otopatias, Resistência bacteriana. Keywords: Antibiotics, Otopathies, Bacterial Resistance

UNESP INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS. Disciplina de Microbiologia

Enfermidades Micóticas

ESTUDO RETROSPECTIVO DE 267 AFECÇÕES POR PROTEUS MIRABILIS E PROTEUS VULGARIS EM CÃES (2003 A 2013)

Ana Paula L. de Souza, Aluna do PPG Doenças Infecciosas e Parasitarias (ULBRA);

06/10/2017. Microbiologia da água

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

Microbiologia ambiental 30/09/201 4

Diagnóstico bacteriológico de diversas patologias de cães e gatos e verificação da suscetibilidade a antimicrobianos

Instituto de Biociências IBB. Departamento de Microbiologia e Imunologia. Disciplina de Microbiologia Veterinária

ITL ITL. Itraconazol. Uso Veterinário. Antifúngico de largo espectro FÓRMULA:

Valorização Clínica Achados Laboratoriais Colonização vs Infecção

SUSCETIBILIDADE E RESISTÊNCIA AOS ANTIFÚNGICOS

DIAGNÓSTICO DE MICOSES EM PEQUENOS ANIMAIS DA CIDADE DE PELOTAS-RS E REGIÃO

ANALISE MICROBIOLÓGICA DE AMBIENTE HOSPITALAR: STAPHILOCOCUS AUREUS

FUNGOS PATOGÊNICOS EM MEATO ACÚSTICO EXTERNO DE MAMÍFEROS PROVENIENTES DO NÚCLEO DE REABILITAÇÃO DA FAUNA SILVESTRE PELOTAS/RS

AVALIAÇÃO CLÍNICO-AMBULATORIAL DE PEQUENOS ANIMAIS EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: OTITE CANINA

Isolamento e identificação de colônias do fungo Alternaria dauci obtidas de lesões de Requeima da cultura da cenoura

QUANTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS EM AMOSTRAS DE QUEIJOS COLONIAIS PRODUZIDOS PELA AGOINDUSTRIA FAMILIAR DA REGIÃO DE TEUTÔNIA - RIO GRANDE DO SUL - BRASIL

Técnicas Microbiológicas

sarna sarcóptica e otodécica

Suscetibilidade a antimicrobianos, de bactérias isoladas de diversas patologias em cães e gatos, nos anos de 2002 e 2003

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Isolamento e identificação de microrganismos causadores de otites em cães

MALASSEZIA SP. UMA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE OS ASPECTOS GERAIS. Isabela Barros Bandeira¹, Adriana Gonzaga Nunes¹, M Lilian C.S.

DISTRIBUIÇÃO SAZONAL DE ESPÉCIES DE SIPHONAPTERA EM CÃES DAS CIDADES DE BAGÉ E PELOTAS NO RS

Profa. Patricia Dalzoto Departamento Patologia Básica Universidade Federal do Paraná

OCORRÊNCIA DE FUNGOS FITOPATOGÊNICOS EM MUDAS DE VIDEIRAS DA SERRA GAÚCHA

RESULTADO DE EXAMES LABORATORIAIS. Estado: MG

ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS EM SEMENTES DE MURICI

AVALIAÇÃO DA ROTINA DO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA. Palavras chaves: Isolamento, antimicrobianos, leite, resistência.

CRONOGRAMA DE DISCIPLINA DA GRADUAÇÃO

DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA IBB/UNESP CURSO DE MEDICINA HUMANA ROTEIRO DE AULAS PRÁTICAS DE MICOLOGIA PROFESSORES

ANÁLISE LABORATORIAL PRESUNTIVA DE Malassezia spp. EM AMOSTRAS DE ESCAMAS DO COURO CABELUDO OBTIDAS DE PACIENTES DE UMA CLÍNICA DE ESTÉTICA

DIAGNÓSTICO DE Malassezia sp EM OUVIDOS DE CÃES E SUA CORRELAÇÃO CLÍNICA

SENSIBILIDADE ANTIMICROBIANA DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS ISOLADOS EM MASTITES BOVINAS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 1

QUESTIONÁRIO MÍDIA 2

CONTAMINAÇÃO POR STAPHYLOCOCCUS SP. E CANDIDA SP. EM APARELHO DE ANESTESIA INALATÓRIA VETERINÁRIO 1

CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, PERFIL DE SENSIBILIDADE ANTIFÚNGICA E ESTOCAGEM DE

Infecções causadas por microrganismos multi-resistentes: medidas de prevenção e controle.

Procedimentos Técnicos. NOME FUNÇÃO ASSINATURA DATA Renato de. Coordenador da Qualidade

DERMATITE POR MALASSEZIA SP. EM UM CÃO RELACIONADA COM O ESTRESSE: RELATO DE CASO

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Resistência bacteriana em trabalhadores de um hospital veterinário

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO FÚNGICA EM ALIMENTOS DISTRIBUÍDOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE CAMPOS GERAIS, MINAS GERAIS.

Remissão de dermatopatia atópica em cão adotado

Reclassificação taxonômica de espécies do gênero Malassezia: revisão da literatura sobre as implicações clinicolaboratoriais

Análise da contaminação em instrumentais ortodônticos.

MICROBIOLOGIA. Observação de bactérias - colorações

Estudo da estabilidade do sistema Paratest usado para diagnóstico das parasitoses intestinais Rev.00 10/01/2011

Modalidade: Nível: Área: Introdução

ESTUDO DA FREQUÊNCIA DE Malassezia pachydermatis EM CÃES COM OTITE EXTERNA NO RIO GRANDE DO SUL

ESPOROTRICOSE FELINA - RELATO DE CASO SPOROTRICHOSIS IN CAT - CASE REPORT

PERFIL DA POPULAÇÃO CANINA DOMICILIADA DO LOTEAMENTO JARDIM UNIVERSITÁRIO, MUNICÍPIO DE SÃO CRISTÓVÃO, SERGIPE, BRASIL

Anais do 38º CBA, p.0882

CONTROLE INTEGRADO DA BROCA DA HASTE DA MANDIOCA Sternocoelus spp.

IDENTIFICAÇÃO E SUSCEPTIBILIDADE BACTERIANA DE UMA UNIDADE HOSPITALAR PÚBLICA

Pesquisa de Leveduras em Rios. Poluídos e não Poluídos

AULA PRÁTICA 3-02/06/2015. Roteiro de aula prática. Infecção de macrófagos por Leishmania (Leishmania) amazonensis

PROJETO DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA COM ÊNFASE EM SANIDADE AQUÍCOLA PARA MICRO E PEQUENOS CARCINICULTORES DO RIO GRANDE DO NORTE

Faculdade da Alta Paulista

ROTEIROS PARA AS AULAS PRÁTICAS

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Avaliação do Tempo de Sobrevivência de Cepa de Corynebacterium pseudotuberculosis em Amostras de Água

ANEXO I RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

GABARITO: PROVA ESCRITA

ESCOPO DA ACREDITAÇÃO ABNT NBR ISO/IEC ENSAIO

Universidade Federal de Minas Gerais Colégio Técnico Plano de Ensino

Evento: XXV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Archives of Veterinary Science ISSN PRESENÇA DE FUNGOS COM POTENCIAL PATOGÊNICO EM INSTRUMENTOS DE TOSA

Atualização na candidíase de repetição Existem novas propostas de tratamento? Vera Fonseca

MIOPATIAS EMERGENTES DO MÚSCULO Pectoralis major DE FRANGOS

Malassezia pachydermatis, COMENSAIS E PATÓGENOS, FRENTE A AGENTES ANTIFÚNGICOS.

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

CUT ÂNEA EM CÃO POR Candida albicans RESUMO

ANÁLISE DA PRESENÇA DO FUNGO Aspergillus sp. EM PERÍODO DE BAIXA E ALTA CIRCULAÇÃO DE PÚBLICOS NA ESTAÇÃO CIÊNCIA FPTI/BR

DIREÇÃO DE COMPROVAÇÃO DA QUALIDADE DIREÇÃO DE PRODUTOS DE SAÚDE DIREÇÃO DE INSPEÇÃO E LICENCIAMENTO. Soluções para Lavagem Nasal

Transcrição:

ISOLAMENTO DE Malassezia pachydermatis DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO, MUCOSA ORAL E PELE DE CÃES WÜRFEL, Simone de Fátima Rauber¹*; SOUZA, Francine Bretanha Ribeiro¹; FISCHER, Elisângela Coelho¹; MARTINS, Patrícia Leitzke¹; FERNANDES, Tatiana Rosa¹; ROSA, Janaína Viana¹; MADRID, Isabel Martins² 1 Graduandas em Medicina Veterinária Universidade Federal de Pelotas 2 Docente da disciplina de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina Veterinária Universidade Federal de Pelotas - Campus Universitário, s/n - Ca pão do Leão/RS CEP 96010-900 *Bolsista de Iniciação Científica FAPERGS simone_rauber@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO Originalmente descrito por Baillon em 1889, o gênero Malassezia consiste em leveduras pertencentes à divisão Deuteromycotina, classe Blastomycetes, ordem Cryptococcales e família Cryptococcaceae (SCHLOTTFELDT et al., 2002). Segundo Prado et al. (2007), atualmente são 13 as espécies isoladas: M. furfur, M. sympodialis, M. pachydermatis, M. globosa, M. obtusa, M. restricta, M. slooffiae, M. dermatis, M. japonica, M. yamatoensis, M. nana, M. caprae, M. eqüina, caracterizando-se por células esféricas ou elipsóides, com brotamento único em base larga, não sendo formadoras de micélio, lipofílicas e lipodependentes, com exceção da M. pachydermatis, considerada lipofílica não dependente (MARTINS et al., 2004; ROSA, 2005; NASCENTE, 2006). Essas leveduras são consideradas microrganismos comensais, habitantes da microbiota normal de mamíferos. Não apresentam ação queratinolítica, mas vivem sobre a pele ou ao redor dos pêlos, utilizando restos epiteliais ou produtos de excreção como fontes de energia para seu desenvolvimento (OLIVEIRA et al., 2006 apud MATTEI et al., 2008). Malassezia pachydermatis apresenta-se como colonizadora comum do orifício anal, orelha externa, lábios e pele interdigital de cães clinicamente sadios. No entanto, pela alta frequência de isolamento no conduto auditivo de cães com otite externa e na pele de animais com dermatite pruriginosa, torna-se um importante invasor patogênico secundário em várias espécies animais (BLOD et al., 1995). Em cães, a malasseziose está associada principalmente à otite externa, na qual há formação excessiva de cerume e prurido com presença de exsudato marrom escuro a negro, causando eritema do meato acústico externo. O diagnóstico baseiase na identificação da levedura, pela citologia do cerume e cultura do agente (NASCENTE, 2006). A instalação do quadro clínico indica uma alteração do equilíbrio existente entre o microrganismo comensal e seu hospedeiro, sendo desencadeado pela excessiva multiplicação da M. pachydermatis em função de alterações no mecanismo de defesa do hospedeiro. Portanto, trata-se de uma

enfermidade frequentemente associada a doenças primárias concomitantes (EICHENBERG, 2000). Tendo em vista a importância da Malassezia spp. como agente oportunista e complicador de várias enfermidades, este estudo teve como objetivo isolar M. pachydermatis do conduto auditivo externo, mucosa oral e pele de cães provenientes do Hospital de Clínicas Veterinária da Universidade Federal de Pelotas/RS. 2. MATERIAIS E MÉTODOS No período de maio a julho de 2009, foram coletadas amostras de tegumento e mucosa de 32 cães sem lesões ou dermatopatias visíveis, provenientes do Hospital de Clínicas Veterinária e projetos de extensão como, Pet Terapia e Castração. Com auxílio de swabs estéreis, foram coletadas amostras de cerume do conduto auditivo externo direito e esquerdo, assim como da mucosa oral. Também foram coletadas amostras do tegumento das regiões axilar e interdigital sendo feita antissepsia prévia dos locais com álcool 70 e a coleta realizada através da técnica do quadrado do carpete (MARIAT & ADAN-CAMPOS, 1967 apud ROSA, 2005) e com swabs estéreis. Com o conteúdo dos swabs da orelha externa (conduto auditivo externo) e mucosa oral foi realizado esfregaço em lâmina, em seguida semeado em placas de Petry contendo ágar Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol e azeite de oliva. Os swabs provenientes das regiões da axila e espaço interdigital foram utilizados somente para confecção de esfregaço. O material do carpete também foi semeado em ágar Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol e azeite de oliva. Os esfregaços foram fixados e corados pela técnica de Gram. Todas as placas semeadas foram incubadas em estufa à 37º C por um período de até sete dias e após avaliadas segundo características macroscópicas das colônias, como coloração, topografia e textura. Microscopicamente, as colônias sugestivas do gênero Malassezia foram avaliadas através do esfregaço e exame direto. Para confirmação da espécie M. pachydermatis, as colônias foram repicadas em ágar Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol, sem fonte lipídica. O exame direto das amostras foi visualizado em microscópio óptico (100X) em imersão, no qual foi feita a leitura em três campos aleatórios e contagem das células leveduriformes compatíveis com a morfologia do gênero Malassezia. Para classificação foi utilizado o seguinte escore: (+) presença de até 5 células/campo; (++) presença de 6 a 10 células/campo; (+++) acima de 10 células/campo. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No exame direto das amostras provenientes do conduto auditivo externo, mucosa oral e tegumento observou-se a presença de células morfologicamente compatíveis com M. pachydermatis, as quais, segundo Sloof (1970), apresentam dupla membrana, forma globosa ou elíptica, medindo 2,0-3,0 x 4,0 5,0 µm, reproduzindo-se assexuadamente por brotamento unipolar repetitivo, no qual adquirem formas semelhantes à garrafa. No meio de cultivo utilizado foram isoladas colônias que se caracterizavam macroscopicamente como opacas, convexas e pastosas, com superfície seca e lisa, e de coloração inicial branco marfim escurecendo gradualmente até a tonalidade amarelada, sugestivas de M. pachydermatis. Gordon (1979) constatou que

inicialmente algumas leveduras se apresentavam com coloração rosada, e Sloof (1970), relatou anteriormente um aspecto de sombra rosada ao redor das colônias após um mês, mantidas a temperatura de 20ºC. Após a visualização das lâminas provenientes dos diferentes locais de coleta e de acordo com o escore estabelecido obteve-se os resultados observados na Tabela 1. Tabela 1 - Porcentagem de animais por local de coleta e escore de células visualizadas nº de células por campo OE OD MO AX EI 0 < x 5 75,10% 68,75% 96,87% 85,18% 85,18% 5 < x <10 9,30% 9,30% 0,00% 7,40% 0,00% 10 15,60% 21,95% 3,13% 7,42% 14,82% OE: orelha esquerda; OD: orelha direita; MO: mucosa oral; AX: axila; EI: espaço interdigital Notou-se que 96,87% dos animais apresentavam escore (+) para M. pachydermatis na mucosa oral (MO), com este resultado pode-se observar que a maioria dos animais não apresenta lesões causadas pelo microrganismo neste local, sendo o valor de 0 a 5 células por campo (+) considerado normal e o mais comum de ser encontrado nos animais. Constatou-se também, que 21,95% dos animais apresentavam escore (+++) para a levedura na orelha externa direita (OD). Em segundo lugar neste escore encontra-se a orelha externa esquerda (OE) em 15,60% dos animais e 14,82% obtiveram resultados maiores que 10 células por campo no espaço interdigital (EI). A alta incidência de M. pachydermatis no conduto auditivo canino pode não estar relacionada com a ocorrência de otite externa. Ribeiro et al. (1997) realizou estudos com a ocorrência de M. pachydermatis nos condutos auditivos saudáveis e de cães com otite externa, os resultados obtidos neste estudo evidenciam a ocorrência desse microrganismo em número elevado tanto nos condutos auditivos saudáveis como naqueles com otite externa, enfatizando a interpretação correta dos dados laboratoriais juntamente com os sinais clínicos apresentados por cada animal. Segundo Nobre et al. (1998), 77,99% dos casos de otite e 100% dos casos de dermatopatias apresentam infecção concomitante dessa levedura com outros agentes infecciosos, como Staphylococcus aureus, S. intermeditus, Pseudomonas aeruginosa, Proteus sp., Streptococcus sp. e Actinomyces sp., demonstrando que M. pachydermatis está associada em infecções secundárias de otite externa canina. Observou-se que cerca de 80% dos animais estavam de acordo com o escore normal de 0 a 5 (+) para a ocorrência do fungo, demonstrando que a M. pachydermatis é um componente comensal da superfície cutânea e mucosa dos cães. Houve uma maior porcentagem de crescimento de colônias no OE, atingindo o valor de 37,5%. Já o local com menor isolamento de colônias foi verificado na superfície da MO com o valor de 6,25%. A partir destes resultados constata-se um maior crescimento de colônias nas amostras dos condutos auditivos externos, tanto direito como esquerdo, assim como foi demonstrado no exame direto das amostras.

4. CONCLUSÕES Este estudo demonstra que a M. pachydermatis é um microrganismo da microbiota de cães, podendo ser encontrado em altos índices, não sendo necessariamente patogênico. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOND, R. et al. Population sizes and frequency of Malassezia pachydermatis at skin and mucosal Sites on healthy dogs. Journal of Small Animal Practice, v.36, p.147-150, 1995. EICHENBERG, M.L. Susceptibilidade antifúngica da Malassezia pachydermatis isolada de cães com otite externa através do método de microdiluição em caldo, Porto Alegre, 2000. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias Universidade Federal do Rio Grande do Sul. GORDON, M.A. Malassezia Pityrosporum pachydermatis (Weidman) Dodge 1935. Sabouraudia, v.17, p.305 309, 1979. MARTINS, A.A.; ROSA, C.S.; NASCENTE P.S. et al. Utilização dos Tweens 20, 40, 60 e 80 para identificação das espécies do gênero Malassezia. Anais do XIII Congresso de Iniciação Científica. Pelotas RS, 2004. MATTEI, A; MADRID, I; SANTIN, R. et al. Isolamento de Leveduras em instrumentos de tosa de pequenos animais. Anais do 35º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária. Gramado RS, 2008. NASCENTE, P.S. Estudo da população de Malassezia pachydermatis em otite externa canina e avaliação da sensibilidade in vitro e in vivo frente a antifúngicos. Porto Alegre, 2006. Tese (Doutorado em Ciências Veterinárias). Faculdade de Veterinária Universidade Federal do Rio Grande do Sul. NOBRE, M; MEIRELES, M; GASPAR, L. et al. Malassezia pachydermatis e outros agentes infecciosos nas otites externas e dermatites em cães. Revista Ciência Rural, Santa Maria-RS, v.28, n.3 p.447-452, 1998. PRADO, M.R.; BRILHANTE, R.S.N.; SIDRIM, J.J.C. et al. Malassezia spp. em humanos e pequenos animais: uma abordagem teórica. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. Lisboa Portugal, v.102, n.563-564, p.207-214, 2007. RIBEIRO, V.L. da S.; PEREIRA, S.A.; DIECKMANN, A.M. Ocorrência de Malassezia pachydermatis em número elevado nos condutos auditivos externos sãos e com otite externa de cães. Anais do XXV Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária. Gramado RS, 1997. ROSA, C. Estudo do gênero Malassezia em felinos. Pelotas, 2005. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). Faculdade de Veterinária Universidade Federal de Pelotas.

SCHLOTTFELDT, F.S; TRAMONTIN, S.W.; NAPPI, B.P. et al. Reclassificação taxonômica de espécies do gênero Malassezia: revisão da literatura sobre as implicações clinicolaboratoriais. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, vol.38, n.3, 2002. SLOOF, W.C. Genus Pityrosporum. In: LOODER, J. (Ed). The yeasts: a taxonomic study. 3.print. Amsterdam:North Holland Publishing, 1970. p1167 1186.