Palavras-chave: Antibióticos, Otopatias, Resistência bacteriana. Keywords: Antibiotics, Otopathies, Bacterial Resistance

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1 PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE DE BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS CAUSADORAS DA OTITE EXTERNA EM CÃES FRENTE AOS ANTIMICROBIANOS PROFILE OF SUSCEPTIBILITY OF GRAM-POSITIVE BACTERIA CAUSING EXTERNAL OTITIS IN DOGS WITH REGARD TO ANTIBIOTICS Karoline Torres BARRETO¹, Bruna Lessa SILVA², Lucas Nogueira PAZ³, Beatriz PRASERES², Daniela Santos ALMEIDA 3, Evandro NETO 4, Melissa Hanzen PINNA 5 e Marta Vasconcelos BITTENCOURT 4. 1 Médica Veterinária Residente do Hospmev-UFBA 2 Estudante de graduação, UFBA, bruna.lessa@hotmail.com 3 Pós graduando do PPGCAT - UFBA 4 Médico Veterinário, LABAC UFBA 5 DSc, Docente EMEVZ UFBA Resumo: A otite externa é uma afecção frequente na clínica de carnívoros domésticos. O objetivo do presente trabalho é realizar um estudo retrospectivo sobre a ocorrência das bactérias gram-positivas causadoras de otite externa em cães e o perfil de sensibilidade a antimicrobianos. Foram encaminhados ao Laboratório de Bacterioses do HOSPMEV/UFBA 249 amostras do conduto auditivo de cães, com suspeita de otite externa. Estas foram semeadas em ágar sangue, ágar MacConkey e caldo triptose e incubadas em estufa de aerobiose. Posteriormente, prosseguiram-se provas bioquímicas e antibiograma. Evidenciou-se crescimento bacteriano em 87,1% das amostras. Staphylococcus intermedius (40,1%) foi a espécie Gram-positiva mais frequente. Os maiores índices de sensibilidade pertencem ao antimicrobiano amoxicilina+clavulanato e as maiores taxas de resistência pertencem à lincomicina. O uso respaldado dos antimicrobianos contribuirá para redução nas taxas de resistência e maior eficiência terapêutica. Palavras-chave: Antibióticos, Otopatias, Resistência bacteriana. Keywords: Antibiotics, Otopathies, Bacterial Resistance Anais do 38º CBA, p.0661

2 Introdução: A otite externa é uma otopatia com alta prevalência entre animais atendidos na clínica veterinária. Os sinais clínicos apresentados pelo animal são dor, vocalização, prurido, hiperemia, secreção e odor na área acometida (MARTINO et al., 2016). Devido ao seu caráter multifatorial, as causas primárias podem ser doenças dermatológicas imunomediadas, ectoparasitas, hipersensibilidade ou presença de corpos estranhos. Os fatores predisponentes da enfermidade estão associados à conformação anatômica da orelha e o canal auditivo estreito, enquanto os fatores perpetuantes estão relacionados diretamente com desequilíbrio no crescimento dos microrganismos comensais e a mucosa hiperplásica (RAMSEY e TENNANT, 2010). As bactérias e leveduras, componentes da microbiota normal, são os agentes etiológicos mais frequentes (SWIECICKA, 2015). A terapia para a otite é baseada em lavagens auditivas, tratamento tópico e sistêmico com o auxílio de antimicrobianos, porém os tratamentos tem sofrido uma redução na sua eficácia devido ao expressivo aumento das taxas de resistência bacteriana, devido ao uso indiscriminado de antibióticos (OLIVEIRA, 2004). O trabalho apresentado objetiva-se em isolar e identificar as bactérias gram-positivas causadoras de otite externa em cães, além de avaliar o perfil de sensibilidade a antimicrobianos de diferentes cepas bacterianas em cães atendidos no Hospital de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (HOSPMEV/UFBA). Metodologia: Realizou-se um estudo retrospectivo (junho de 2015 a julho de 2016), em 249 amostras do conduto auditivo uni ou bilateral de cães com suspeita de otopatias atendidos no HOSPMEV/UFBA. Foi realizada a coleta por meio de swab estéril seco e encaminhadas imediatamente ao Laboratório de Bacterioses. A amostras foram semeadas em ágar sangue, ágar MacConkey e caldo triptose e incubado em estufa de aerobiose (35 a 37 C), por 24 a 48 horas. Com relação aos microrganismos fastidiosos, foi realizada uma segunda semeadura em ágar sangue, sob as mesmas condições de tempo e temperatura, o qual era utilizada a amostra semeada em caldo triptose. Foi realizada a identificação microbiana baseada em suas características morfotintoriais. Após a identificação das bactérias Gram-positivas (ANVISA, Anais do 38º CBA, p.0662

3 2004), estas colônias foram submetidas à prova da catalase, seguidas dos testes da coagulase em tubo, oxidação-fermentação e fermentação do açúcar manitol e incubadas em estufa de aerobiose (35 C a 37 C) por 24 horas. Os isolados foram imersos em salina estéril 0,9%, até atingir a turbidez padrão, correspondente a 0,5 da escala de MacFarland e semeado em ágar Müeller Hinton com adição dos discos de antimicrobianos a serem testados [amoxicilina (20μg)+ácido clavulânico (10μg), cefalexina (30μg), ceftriaxone (30μg), ciprofloxacina (5μg), clindamicina (2μg), doxiciclina (30μg), enrofloxacina (5μcg), levofloxacina (5μg), lincomicina (2μg), neomicina (30μg), norfloxacina (10μg) e tobramicina (10μg)] e, então incubados nas referidas condições por 24 horas. Foi realizada a leitura das placas através do diâmetro formado pelo halo de inibição (''sensível'', ''intermediário'' ou ''resistente'') (NCCLS, 2005). Resultados e Discussão: Em meio as 249 amostras encaminhadas ao LABAC, observou-se crescimento bacteriano em 217 (87,1%), 28 (11,2%) não demonstraram crescimento e 4 (1,6%) crescimento leveduriforme. Destas amostras bacterianas, 147 (67,7%) foram Gram-positivas e 70 (32,3%) Gram-negativas. Os agentes Gram-positivos encontrados foram Staphylococcus intermedius (40,1%), Staphylococcus epidermidis (21,1%), Staphylococcus aureus (16,3%), Staphylococcus spp. (11,6%), Bacillus sp. (9,5%) e Micrococcus spp. (1,4%). Foi observado maior ocorrência de bactérias Gram-positivas. Nos Testes de Sensibilidade in vitro, a amoxicilina + ácido clavulânico (AMC) apresentou uma maior taxa de sensibilidade para Micrococcus spp. (100%), seguido pelos S. aureus (95,8%) e S. intermedius (86,4%), e a maior taxa de resistência foi para S. epidermidis (27%). A maior taxa de sensibilidade para a cefalexina (CFE) foi para os S. intermedius (90,7%), seguido por S. epidermidis (76,7%). Staphylococcus spp. foram os mais resistentes (47%). A resistência antimicrobiana foi comumente observada. A resistência frente a AMC e CFE foi observada respectivamente em amostras de S. aureus 42% e 39%, assim como o S. epidermidis, 27% e 23,3%. Segundo ANVISA (2007), o ceftriaxone é uma classe de medicamentos indicada para infecções por bacilos Gramnegativos, no entanto, neste trabalho mostrou-se eficaz apresentando uma alta taxa de sensibilidade para os S. intermedius (84,4%), seguido por S. aureus Anais do 38º CBA, p.0663

4 (71,4%). A ciprofloxacina, apresentou maior sensibilidade aos Staphylococcus spp. (68,8%), seguido de S. aureus (65%) e com o índice de resistência maior aos S. epidermidis (54,8%). A clindamicina exibiu maior sensibilidade aos S. aureus (45,5%), seguido por S. intermedius (44%) e maior resistência aos Staphylococcus spp. (66,6%). A doxiciclina mostrou a maior sensibilidade aos S. aureus (53,3%), posteriormente S. epidermidis (47,6%), assim como a maior taxa de resistência, foi Staphylococcus spp. (73,3%). Este fármaco pertence apresenta amplo espectro de ação contra bactérias Gram-negativas e Grampositivas (ANVISA, 2007), porém neste estudo, pôde-se observar altas taxas de resistência. A enrofloxacina apresentou uma maior taxa de sensibilidade para os S. aureus (68,7%). Os dois isolados de Micrococcus spp. demonstraram 100% de sensibilidade. A maior taxa de resistência pertenceu aos S. epidermidis (52%). A levofloxacina demonstrou índice elevado de susceptibilidade mediante os Staphylococcus spp. (83%), seguidos por S. intermedius (40,7%) e S. aureus (40%), bem como níveis de resistência máxima aos S. epidermidis (100%), seguido de S. aureus (60%). Conforme Cruz, Paes e Siqueira (2012) relataram que a levofloxacina é uma quinolona de pouco uso na medicina veterinária, sendo esta resistência esclarecida devido à possibilidade de resistência cruzada com outras substâncias da mesma classe mais utilizadas na rotina clínica, tal como a enrofloxacina. A lincomicina, houve maior taxa de sensibilidade para S. aureus, sendo 66,7%, seguido por S. intermedius (55,5%). Entretanto, o Staphylococcus spp., apresentou maior taxa de resistência (75%). A neomicina revelou a maior taxa de sensibilidade encontrada para os S. intermedius (77,1%), S. aureus (26,7%) foi a espécie com mais elevada resistência frente à neomicina. A norfloxacina exibiu uma taxa de sensibilidade de 64% para Staphylococcus spp., seguido de 59,1% para S. aureus. O índice máximo de resistência representou 57% para S. epidermidis. Apenas um isolado testado para Micrococcus spp., mostrou-se sensível (100%). A tobramicina, os Micrococcus spp., apresentaram 100% de sensibilidade e S. intermedius 71,2% de sensibilidade, enquanto o índice de resistência maior foi de 29% para Staphylococcus spp.. Conclusão: O S. intermedius foi o patógeno com maior número de isolados e com taxa de Anais do 38º CBA, p.0664

5 sensibilidade mais elevada a diferentes antimicrobianos, enquanto que os S. epidermidis apresentaram maiores taxas de resistência. A amoxicilina+clavulanato foi o antibiótico com maior taxa de sensibilidade para as bactérias Gram-positivas seguido da tobramicina. A lincomicina, seguido da doxiciclina foram os antibióticos que apresentaram os maiores índices de resistência para bactérias Gram-positivas. Os resultados obtidos neste estudo reforçam a necessidade do uso respaldado dos antimicrobianos, através da realização prévia de testes de susceptibilidade in vitro. A prática rotineira destes exames irá contribuir para uma redução nas taxas de resistência frente aos antimicrobianos, assim como e uma melhor eficiência terapêutica. Referências: ANVISA-Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Detecção e Identificação de Bactérias de Importância Médica, Disponível em: < Acesso em: 22 ago CRUZ, A.R.; PAES, A.C.; SIQUEIRA, A.K. Perfil de sensibilidade de bactérias isoladas de cães frente a antimicrobianos. Veterinária e Zootecnia, v.19, n.4, p , MARTINO, D.L. et al. An update on microbiological causes of canine otitis externa in Campania Region, Italy. Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, v.6, n.5, p , NCCLS- Manual Clinical and Laboratory Standards Institute. Normas de Desempenho para Testes de Sensibilidade Antimicrobiana: 15º Suplemento Informativo, v.25, n.1, OLIVEIRA, L.C. Otite média e externa bilateral em cães. Estudo comparativo do perfil microbiológico e susceptibilidade a antimicrobianos das espécies prevalentes. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Médica). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, RAMSEY, I.K.; TENNANT, B.J. Manual de doenças infecciosas de cães e gatos. Editora Roca Ltda, São Paulo, p. SWEICICKA, N. et al. Prevalence and commonest causes for otitis externa in dogs from two polish veterinary clinics. Bulgarian Journal of Veterinary Medicine, v.18, n.1, p.65-73, Anais do 38º CBA, p.0665