MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA Autor: Marusa Fernandes da Silva marusafs@gmail.com Orientadora: Profª. Ms. Mônica Mª N. da Trindade Siqueira Universidade de Taubaté monica.mnts@uol.com.br Comunicação oral: Relato de Pesquisa Introdução Neste estudo abordo sobre a maternidade na adolescência. A pesquisa se pauta em estudar a realidade da mãe adolescente no contexto histórico atual, com o intuito de conhecer ao longo deste estudo a realidade de vida e o cotidiano da mulher que foi mãe na adolescência, assim como as implicações e mudanças que ocorreram em sua vida e na família no decorrer desta maternidade. A investigação foi realizada em uma organização não governamental ONG situada no bairro Parque Três Marias do município de Taubaté fundada há mais de 10 anos. A relevância em aprofundar sobre o tema está em contribuir com a ONG onde estagiei, para que com este trabalho possam intervir nesta realidade. Nesta ONG são realizadas várias oficinas de geração de renda, como corte e costura, bordado, dentre outros. Para as crianças há cursos de informática, aulas de dança, música, brinquedoteca, biblioteca. NA ONG é oferecida de segunda a sexta-feira refeições no período da noite e aos sábados
durante a manhã e almoço. Essas refeições são para as crianças e familiares que participam de qualquer atividade na ONG. Foi escolhida esta ONG para se realizar a pesquisa, pois foi o local de estágio no período do ano de 2007. Tive facilidade no acesso às informações por conhecer os membros da diretoria da ONG e as famílias que lá são atendidas. Neste artigo discuto sobre as transformações da família no decorrer dos séculos, a família com filhos adolescentes e mães adolescentes. Em seguida trato das políticas públicas que por direito regem o adolescente e sua respectiva família, assim como a intervenção do Assistente Social juntamente com essa demanda. Desenvolvimento Para falar de mãe adolescente faz-se necessário estudar o contexto onde essa adolescente está inserida, sua realidade familiar. A família vem se transformando muito no decorrer dos séculos, várias mudanças e modelos familiares ocorreram para chegarmos às configurações que se apresentam hoje. Com o passar dos séculos a família foi perdendo sua tradicionalização, e o autoritarismo dando vez à igualdade e respeito entre todos da família, não somente ao pai, mas também à mulher e aos filhos. A família é uma realidade moral e social, tem o dever de preparar os filhos para viver em sociedade considerando as diferentes formas e conjunturas em que vive. A família brasileira, não se diferencia do que aconteceu no mundo, mas se desenvolveu de forma particular conforme contexto social,
econômico e cultural que a caracteriza, para Souza (1997, p. 27) a família brasileira evoluiu de um modelo hierarquizado a uma busca do igualitário. A adolescência é marcada por uma fase de descobertas, não sabem o que fazer com determinadas situações, são inconseqüente, segundo Oliveira: O adolescente busca uma identidade pessoal, tem medo de não se tornar alguém, luta para obter a independência, a liberdade e a responsabilidade do adulto. É idealista, artista e generoso, mas ao mesmo tempo comporta-se de maneira imprevisível, é calculista e egoísta. Essas variações são normais na adolescência, considerando que esta não é uma fase definida, mas um processo de definição no desenvolvimento humano; é um período da vida representado por características sociais que implicam na personalidade e identidade dos adolescentes. (OLIVEIRA, 2000, p. 23) Os pais por sua vez, não sabem o que fazer com os filhos, pois este não obedece, não respeita as ordens dos pais. É importante que a família perceba que o filho cresceu, não é mais criança, mas também não é adulto, está se descobrindo, é fundamental que o diálogo prevaleça nessa fase, para que assim um possa confiar no outro, para que haja um acordo entre pais e adolescentes e não tenha muitos conflitos intra familiares. Um desafio a ser enfrentado é o diálogo entre pais e filhos, muitos adolescentes não têm liberdade para conversar com os pais sobre vários temas, o que pode influenciar para uma gravidez precoce. A falta de informação pode acarretar varias conseqüências. A gravidez precoce prejudica a adolescente e a família. Ser mãe não é brincar de boneca, há os cuidados com alimentação, banho, trocas de fralda, e várias outras necessidades que o corpo humano necessita. Ser mãe na adolescência não é fácil, ainda mais em uma família pobre.
A maternidade na adolescência traz sérias complicações, não só na vida da adolescente, como também na familia em que esta inserida. Param de estudar e na maioria das vezes, o pai não assume a paternidade fazendo com que a adolescente se torne pai e mãe da criança. O diálogo sobre sexualidade dentro de casa, se faz necessário, para que o índice de maternidade precoce possa diminuir. É importante destacar as políticas públicas no contexto da assistência social e o atendimento do adolescente e sua família junto a essa demanda. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é uma política pública, onde as intervenções se dão nas particularidades do território, para que assim se tenha um reconhecimento do cotidiano da população. (BRASIL, 2005 p.8). Com o intuito de melhorar a gestão da PNAS, o objetivo do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é informar, impor regras e organizar a rede de serviços socioassistenciais em todo território nacional. Tem como foco, o atendimento às famílias, seus membros e indivíduos. (BRASIL, 2005, p. 23). Devido as desigualdades sociais, o grau de vulnerabilidade da sociedade brasileira vem aumentando, tornando cada vez mais impossível a família cumprir sua função junto aos seus membros. O que se faz necessário é não fragmentar as políticas sociais, para garantir a qualidade dos serviços para todas as famílias e indivíduos. Portanto, a assistência social, enquanto política pública deve inserir-se na articulação com outras políticas sociais. Quando a adolescente fica grávida, causa transtorno em toda a família, ao ter o filho, altera as relações familiares, necessitando de proteção social. Seguindo a vertente do SUAS, é direito do cidadão, a proteção social para as famílias.
A PNAS tem a função de prevenir os riscos socias, minimizando seus impactos, assim é dever do Estado garantir a qualidade de vida das famílias, logo as mães adolescentes fazem parte da sociedade e são portadoras desse direito. É dever do Estado garantir à saúde da familia, assim como da mãe adolescente, pois necessita de cuidados e atenção especial. É importante que o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), pela política de assistência social e o Programa Saúde da família (PSF), pela política de saúde busquem ações em conjunto para atender a esta demanda, garantindo o direito da mãe adolescente. O papel do assistente social junto a essas políticas é buscar garantir os direitos desta população tendo como base o Projeto ético político da profissão. As intervenções que podem ser realizadas pelo assistente social são inúmeras, dentre elas: encaminhamentos para a rede, com o objetivo de ser feito um pré-natal da adolescente grávida; orientá-la a respeito dos direitos enquanto cidadã; formar grupos com mães adolescentes discutindo vários temas sobre a maternidade e também assuntos de interesse das adolescentes. O assistente social trabalha a partir de entrevistas, palestras, visitas domiciliares, oficinas, grupos de famílias, de adolescentes com o objetivo de garantir os direitos e propor ações para o enfrentamento da realidade social. Metodologia O objetivo desta investigação se pautou em: conhecer o cotidiano da mãe adolescente que participa de um projeto social de um bairro do município de Taubaté. Os objetivos específicos que basearam a análise dos dados foram:
caracterizar as condições de vida na qual se encontra a mãe adolescente; conhecer as mudanças que a gravidez trouxe para a vida da mãe adolescente, e identificar as estratégias de sobrevivência da mãe adolescente em seu cotidiano. A análise dos dados foi norteada pelas seguintes categorias: mães adolescentes, família com filhos adolescentes e cotidiano. O público alvo abrangeu três mulheres, que foram mães na adolescência e seus familiares mais próximos indicados pelos próprios sujeitos. Ao entrevistar esse familiar pude conhecer esta realidade em sua totalidade. A faixa etária escolhida foi a adolescência, pois é uma fase que se caracteriza pela socialização, profissionalização, formação da identidade e não a maternidade. Esta pesquisa trabalhou com dados qualitativos que permitiram conhecer a realidade da mãe adolescente e da família de origem na percepção dos sujeitos. A técnica escolhida foi a História Oral que possibilitou conhecer em profundidade a realidade social dos sujeitos da pesquisa bem como o cotidiano da mãe adolescente na atual conjuntura sem julgamento e com olhar científico. Para a aplicação desta técnica utilizei a entrevista com questões abertas. Foram entrevistados três sujeitos e seu familiar. O sujeito 1 foi uma jovem de 20 anos, o seu familiar foi seu irmão. O sujeito 2 foi uma jovem de 22 anos, o seu familiar foi sua mãe e o sujeito 3 foi uma jovem de 24 anos, o seu familiar não aceitou participar da entrevista. A análise dos dados se deu a partir da observação das condições, mudanças e estratégias de vida da mulher que foi mãe na adolescência. Os
depoimentos foram selecionados pelas semelhanças entre si e relacionados de acordo com os objetivos específicos da pesquisa. As categorias família com filhos adolescentes, maternidade na adolescência e cotidiano também nortearam a análise dos dados e o desenvolvimento do trabalho como um todo. Resultados Com esta pesquisa pude perceber o quanto uma gravidez não planejada modifica toda uma estrutura familiar. O cotidiano da adolescente quando se torna mãe, modifica-se completamente. Param de estudar, vão morar junto com o respectivo pai da criança e algumas continuam em suas casas, mas com dificuldade no relacionamento com os familiares. Na medida em que fui estudando a temática e aprofundando os dados apresentados nas entrevistas pude perceber que ser mãe na adolescência faz parte do contexto familiar dessas mulheres. A princípio os pais se preocupam de como a adolescente vai criar seu filho, mas com o tempo acabam aceitando e ajudando na situação. Observei certo conformismo com a família de origem (mães) quanto a gravidez da adolescente pelo fato delas também terem engravidado nesta fase. O diálogo sobre sexualidade entre a família de origem e as adolescentes é quase inexistente. A maternidade era o sonho da mãe quando adolescente e ao ter seu filho assume integralmente esse papel. As mães arrependem-se da interrupção de seus estudos quando engravidaram na adolescência. Para os sujeitos, ter mais estudos propicia um emprego melhor; mas não há menção do desejo por uma realização
profissional. Considerações Finais É importante focarmos a contribuição deste estudo sobre maternidade na adolescência, pois o número referente a essa demanda cresce a cada dia, o que se torna necessário entender mais sobre essa temática para que saibamos, no futuro como trabalhar com essa demanda. Para a ONG onde estagiei, esse dados vão servir de indicativo para ser trabalhado com os adolescentes sobre essa temática, podem ser feitos grupos de adolescentes, com o objetivo de discutirmos prevenções, como agir em determinadas situações a partir de demandas trazidas pelo próprio adolescente. Uma gravidez não planejada traz várias conseqüências, não só para a adolescente como também para a família em que ela está inserida. A discussão sobre família e também sobre a maternidade na adolescência é um tema em que não podemos deixar de discuti-lo. Para o assistente social é fundamental o estudo dessas demandas que se agravam cada vez mais no país. De acordo com esses resultados, proponho o trabalho em grupo para esses adolescentes, com o intuito de provocar reflexões sobre os pontos positivos e negativos, assim como as conseqüências que acompanham uma gravidez não planejada. Palavras-chave: Mães adolescentes. Famílias com filhos adolescentes. Cotidiano.
Referências bibliográficas BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Proteção Básica do Sistema Único de Assistência Social: orientações técnicas para o Centro de Referência de Assistência Social, Brasília, 2005. OLIVEIRA, Maria Aparecida dos Santos. Mães adolescentes: como se vêem frente a maternidade precoce. 2000. 60f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) Departamento de Serviço Social, Universidade de Taubaté, Taubaté, 2000. SOUZA, Anna Maria Nunes de. A família e seu espaço. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1997.