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Transcrição:

Jeremias Langa, Diretor Editorial do grupo SOICO, Alfredo Libombo, Director Executivo do MISA, e Fernando Gonçalves, Editor do Savana, num painel. Foto de Gender Links CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Com 14% de fontes femininas, Moçambique classifica-se em penúltimo lugar, ficando apenas acima do Zimbabwe. Esta posição é muito desconfortável para o país e torna o alcance das metas do protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento, que insta os órgãos de comunicação social a assegurar uma representação de 50% até 2015, uma miragem. Continua a haver uma nítida divisão de género no trabalho dos jornalistas, com as mulheres repórteres a cobrir mais temas considerados 'suaves' e os jornalistas homens a cobrir mais os assuntos considerados 'duros' ou 'quentes'. A maior parte dos especialistas e porta-vozes citados nos artigos noticiosos monitorados são do sexo masculino, o que mostra um certo comportamento tendencioso em prejuízo do sexo feminino. A maioria dos órgãos de comunicação social previlegiam as fontes primárias, com uma média de 57%, contra 43% de fontes secundárias. Mesmo assim esta média está abaixo da média regional que é de 69% para fontes primárias e 31% para fontes secundárias, o que coloca Moçambique em terceiro lugar a contar do último classificado, a RDC. Predomina na comunicação social Moçambicana a utilização de fontes singulars, isto é, uma única fonte de informação nas estórias, fonte essa que geralmente é um homem. Neste aspecto, Moçambique tem um melhor desempenho em relação a paises como Maurícias, Lesotho, Madagascar e Swazilância, mas ainda abaixo da media regional que é de 33% de fontes múltiplas e 67 de fontes singulars. Ter mais mulheres nos cargos de direcção dos órgãos de comunicação não se traduz em equilíbrio nos conteúdos da comunicação social. O estudo Tetos de Vidro revelou que a proporção de mulheres nas posições seniores de gestão dos órgãos de comunicação é de 17%. Esta percentagem é mais elevada em relação a percentagem das fontes de notícias femininas, que é de 14%. Isto revela que para que a presença das mulheres nos cargos de direcção se traduza em mais equilíbrio na comunicação social é necessário que se desenhem e implementem estratégias de incorporação do género em todos os aspectos do trabalho jornalístico. O estudo mostra que apesar do projecto MAP, a cobertura do HIV e SIDA tem caído quer em quantidade quer em qualidade, embora as práticas nas redacções e a tendência de consultar mais as pessoas directamente afectadas são de enconrajar. Jornalistas na cobertura presidencial. Photo: Gender Links 66 Estudo de Progresso do Género e Comunicação Social na África Austral Moçambique

As estratégias chaves para seguimento vão incluir: Elevação de consciência e advocacia Elevação da consciência e interação com as constatações desta pesquisa na Cimeira do Género e Comunicação Social 2010 e outros processos que se seguirão no pais. O lançamento do relatório regional na Cimeira vai fornecer a plataforma para mais engajamentos. Engajamento com os órgãos de comunicação social públicos/privados sobre o seu mandato de representar todos os cidadãos no pais e desenvolver estratégias para aumentar as vozes femininas nas notícias. Ter uma série de seminários em todos os paises da SADC sobre a qualidade de jornalismo, tomando em conta a elevada proporção de fontes singulares e anónimas nas estórias, bem como a representação esteriotipada das mulheres. As mulheres na e através da comunicação social: 50/50 até 2015 Usar o Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento para advogar pela igualdade de género na e atravez da comunicação social. Política Interagir com a comunicação social que tem mostrado interesse na criação de um ambiente favorável para as mulheres e homens através do desenvolvimento de políticas de género. O jornal Notícias, a Rádio Moçambique, a Televisão de Moçambique, são alguns dos órgãos de comunicação que manifestaram interesse em desenvolver políticas de género. Dar apoio às organizações que tem políticas de género a implementá-las de forma mais efectiva. Formação Desenvolver cursos de formação para os órgãos de comunicação social sobre como incorporar o género nas suas coberturas. Trabalhar com as instituições de ensino superior e o público em Moçambique para desenvolver uma cidadania crítica atravez dos cursos de alfabetização de género e comunicação social, para que possam cobrar responsabilidade dos órgãos de comunicação social. As instituições de ensino da comunicação em Moçambique já estão a discutir a melhor forma de introduzir o género nos seus cursos. Violência baseada no género Formar jornalistas sobre como cobrir a VBG, aumentar as vozes das mulheres e como ampliar o repertório dos tópicos que actualmente são oferecidos. Trabalhar com a comunicação social e as organizações da sociedade civil para criar espaços seguros onde as mulheres que experimentaram a violência baseado no género possam falar à vontade. HIV e SIDA Interagir com a comunicação social sobre o aumento da cobertura do HIV e SIDA bem como sobre o aumento das vozes das mulheres e das pessoas vivendo com HIV e SIDA nas coberturas noticiosas. Colocar a dimensão do género do HIV e SIDA na agenda da comunicação social através da formação; produção de conteúdos; promover trocas de informação regular e criar uma retaguarda para os jornalistas. Estudo de Progresso do Género e Comunicação Social na África Austral Moçambique 67

68 Estudo de Progresso do Género e Comunicação Social na África Austral Moçambique

Cláusulas sobre a comunicação social no Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento Assegurar que o género seja integrado em todas as políticas, programas, leis e formação em comunicação social de acordo com o Protocolo sobre Cultura, Informação e Desporto. Encorajar os órgãos de comunicação social e os órgãos relacionados com a comunicação social para integrar o género nos seus códigos de conduta, políticas e procedimentos, e adoptar e implementar princípios éticos, códigos de prática e políticas atentas ao género de acordo com o Protocolo sobre Cultura, Informação e Desporto. Tomar medidas para promover a representação igual das mulheres na propriedade dos meios de comunicação social e nas suas estruturas de decisão, de acordo com o Artigo 12.1 que estabelece a representação igual de mulheres nas posições de decisão até 2015. Tomar medidas para desencorajar a comunicação social de: Promover a pornografia e violência contra todas as pessoas, especialmente mulheres e crianças; Representar as mulheres como vítimas indefesas da violência e abuso; Inferiorizar ou humilhar as mulheres, especialmente na àrea do entretenimento e publicidade, e subestimar o seu papel e posição na sociedade; e Reforçar a opressão e esteriótipos de género. Encorajar a comunicação social a dar voz igual às mulheres e homens em todas as areas de cobertura, incluindo o aumento do número de programas para as mulheres e feitos por mulheres, sobre tópicos específicos de género que desafiam os esteriótipos de género. Tomar medidas apropriadas para encorajar a comunicação social a jogar um papel construtivo na erradicação da violência baseada no género através da adopção de orientações que assegurem uma cobertura sensível ao género.

Jornalistas do Savana em trabalho de reportagem em Massingir. Foto de Mercedes Sayagues