Ministério da Justiça Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE PROCESSO ADMINISTRATIVO nº 08012.007042/2001-33 Representante: Advogado: Representadas: Advogados: Relator: UNIDAS União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (antigo Comitê de Integração de Entidades Fechadas de Assistência à Saúde CIEFAS) Luiz Fernando Mouta Moreira Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas da Bahia COOPANEST/BA, Cooperativa do Grupo Particular de Anestesia S/C Ltda. GPA. Estefânia Ferreira de Souza de Viveiros, Úrsula Ribeiro de Figueiredo Teixeira, Vinícius de Figueiredo Teixeira e outros. Conselheiro Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer RELATÓRIO Trata-se de Processo Administrativo movido por UNIDAS - União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde, antigo CIEFAS - Comitê de Integração de Entidades Fechadas de Assistência de Saúde, em desfavor da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas da Bahia COOPANEST/BA e seus respectivos dirigentes: Carlos Eduardo Aragão, Danilo Gil de Menezes, Djalma Neves Costa, Roque José Arcanjo dos Santos, Altamirando Lima de Santana; e Cooperativa do Grupo Particular de Anestesia S/C Ltda. GPA e seus diretores: Mauro Roberto dos Reis Azi, Antônio Minervino Soares Arruda, Edigton Reis Maia, Gerson Andrade Figueiredo Filho, Jonathan Miranda e Sólon Neves Caíres. GPA: A UNIDAS, na peça vestibular, alega, em síntese, que a COOPANEST/BA e o (i) reúnem quase a totalidade dos médicos anestesiologistas do Estado da Bahia; (ii) de forma orquestrada, passaram a enviar cartas padronizadas para diversas filiadas do CIEFAS/BA comunicando a rescisão unilateral dos contratos com elas firmados no sentido de suspender o atendimento de usuários dos respectivos planos de assistência à saúde; (iii) os serviços de anestesiologia prestados estão sendo cobrados diretamente dos usuários dos planos fechados de assistência à saúde, sendo ressarcidos pelas notas fiscais e recibos apresentados, com base os valores praticados pelos convênios; (iv) os dirigentes das Representadas adotaram posturas radicais, recusando propostas de negociações apresentadas pelas filiadas do CIEFAS/BA,
(v) ademais, exigindo reajustes que variam entre 65% e 200% sobre os procedimentos anestesiológicos; por estarem reunidos em cooperativas, os anestesiologistas detém condições de manipular o mercado de anestesiologia, vez que atuam como fornecedores praticamente exclusivos de tal especialidade; (vi) não buscam legitimar o direito à rescisão contratual, mas na verdade, adotar estratégia com a finalidade de cartelizar o setor, caracterizada pela prática de cobrança unilateral de preços uniformes, com reajustes lineares e previamente combinados; (vii) por fim, requer as providências cabíveis para coibir os abusos praticados pelas denunciadas, inclusive, a concessão de Medida Preventiva para determinar o imediato restabelecimento do atendimento aos beneficiários dos planos fechados de assistência à saúde na Bahia. Instruem a representação cópias das cartas supracitadas, dentre outros documentos, acostados às fls. 16/311. Às fls. 312/392, a Representante atravessa petição requerendo a juntada de cópias de liminares concedidas pelo Poder Judiciário da Bahia em favor dos usuários da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil CASSI, uma das operadoras de planos privados de assistência à saúde que aduz ter sido desfavorecida pelas condutas das Representadas, determinando que ela arque com os custos dos procedimentos médicos que titulares de seus planos de saúde seriam submetidos. A Secretaria de Direito Econômico SDE, na nota técnica de fls. 393/397, sugeriu que a investigação fosse feita no bojo de uma Averiguação Preliminar, a fim de apurar se as Representadas incorrem nas condutas tipificadas no art. 20, I e III c/c art. 21, II, na forma do art. 30 e seguintes da Lei 8.8894/94, mas opinou que fosse instaurada tão-somente contra a COOPANEST/BA e o GPA, e não em face de seus dirigentes, sob a alegação de que as pessoas físicas ora representadas são os representantes legais daquelas. No que tange à adoção de Medida Preventiva, a SDE afirmou que para a viabilidade de sua adoção é imprescindível: (i) a instauração de processo administrativo; e (ii) a existência de fortes indícios ou fundado receio de que o representado, por si, ou por meio de terceiros, cause ou possa causar lesão irreparável ou de difícil reparação ao mercado, ou ainda, que possa tornar ineficaz o resultado final do processo. Não obstante, no caso em tela, conforme apontado, aquela Secretaria opinou pela instauração de Averiguação Preliminar, procedimento prévio ao Processo Administrativo, exatamente por não vislumbrar a existência de indícios de infração à ordem econômica, afastando, naquele momento, a adoção da Medida Preventiva pleiteada. O i. Secretário de Direito Econômico, em 07/05/2002, por meio do despacho de fls. 397, acolheu a nota técnica supra, determinando a instauração da Averiguação Preliminar. Devidamente notificadas, as Representadas prestaram esclarecimentos, fls. 430/438 dos autos, aduzindo, em síntese: 2
(i) a ilegitimidade ativa ad causam da Representante, vez que não existe relação contratual entre a mesma e as Representadas; (ii) a sua ilegitimidade passiva, alegando que em tempo algum mantiveram contrato de prestação de serviços com a ora Representante e que elas não são empresas com fins lucrativos, mas sim cooperativas, que visam apenas auxiliar seus integrantes, não havendo que se falar em infração à ordem econômica; (iii) que em grande parte dos contratos firmados com os planos de saúde, nos últimos sete anos, os cooperados não perceberam reajustes condignos, e que a remuneração imposta pela Representante vem inviabilizando a continuidade na prestação dos serviços médicos; (iv) que os preços atualmente praticados são inaceitáveis, pois não se adequam às necessidades que os procedimentos anestesiológicos requerem, pleiteando a atualização do coeficiente dos honorários médicos ou eventual rescisão contratual; Por fim, requereram o arquivamento da Representação, fazendo juntar os documentos de fls. 439/718. Em resposta aos ofícios OF/DPDE/Nº 4719/2002 e OF/DPDE/Nº 4720/2002, as Representadas acostaram relação nominal dos médicos anestesiologistas cooperados a elas, fls. 725/733. Já o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia CRM/BA, em atendimento ao ofício OF/DPDE/Nº 4721/2002, fls. 734/735, forneceu a listagem dos médicos credenciados naquele Conselho. A SDE, em nota técnica de fls. 736/741, rejeitou as preliminares suscitadas pelas Representadas e observou que elas possuem posição dominante no mercado da prestação de serviços médicos de anestesiologia, congregando cerca de 68% dos médicos anestesiologistas credenciados no CRM/BA, e, ainda, que elas impõem tabela da AMB nos procedimentos contratados, havendo indícios de adoção de condutas uniformes e mecanismos de formação de preços. Propõe, assim, a instauração de Processo Administrativo em face de COOPANEST/BA e GPA, o que foi feito através de despacho de fls. 742, em 26/12/02. As Representadas, às fls. 748/758, apresentaram defesa reiterando os mesmos termos aduzidos em sede da Averiguação Preliminar, adicionando que: (i) (ii) em protesto dos profissionais médicos, que nas assembléias de suas respectivas cooperativas manifestaram a impossibilidade de continuar prestando atendimento dentro dos valores até então praticados, requereram medidas a fim de atualizar o coeficiente dos honorários médicos ou a rescisão contratual; ante todos os esforços, restaram infrutíferas as tentativas de negociação com os planos de saúde quanto ao reajuste demandado, optando assim pela 3
(iii) (iv) (v) rescisão dos contratos existentes, dentro dos princípios legais, comunicando tal decisão aos planos de saúde com uma antecedência de 60 (sessenta) dias; após o prazo supracitado, os cooperados das representadas passaram a receber os honorários médicos diretamente dos pacientes, sem que houvesse a intermediação dos planos de saúde com que rescindiram os contratos, bem como sem a interferência das Representadas; que alguns dos planos de saúde, tais como FACHESF, PLAN ASSISTE, Fundação ASSEFAZ, que integram o grupo CIEFAS, restabeleceram o vínculo contratual com as Representadas, com o devido reajuste dos preços dos serviços médicos; e que outras prestadoras de planos de saúde, também filiadas ao CIEFAS, apresentaram propostas no intuito de restabelecer o vínculo com a COOPANEST/BA. Ao final, requereram o arquivamento do presente processo Administrativo, afirmando que não vêm prejudicando a livre concorrência ou a livre iniciativa, pois não dominam o mercado de prestação de serviços médicos de anestesiologia, não aumentaram arbitrariamente os lucros e que não exercem de forma abusiva a posição dominante. Às fls. 827, o i. Secretário de Direito Econômico encerrou a fase instrutória, notificando as Representadas para apresentação de alegações finais, que não se manifestaram. Em 30 de outubro de 2003, às fls. 841 dos autos, a SDE concluiu que as Representadas incorreram na prática de condutas que atentam à livre concorrência no mercado de prestação de serviços médicos na especialidade de anestesiologia no Estado da Bahia, tipificadas nos art. 20, I e IV, c/c o art. 21, II, da Lei nº 8.884/94, remetendo os autos ao CADE para julgamento. A UNIDAS juntou, às fls. 853/951, exemplar da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos elaborado pela Associação Médica Brasileira em conjunto com o Conselho Federal de Medicina CFM, que no seu entender cuida de imposição de tabela para cobrança de honorários médicos. As Representadas retornam aos autos solicitando a juntada de novos documentos, ora acostados às fls. 953/1002. A ProCADE em parecer de fls. 1003/1013, manifestou-se pela condenação das Representadas, com fulcro no artigo 20, incisos I e IV c/c art. 21, incisos II da Lei nº 8.884/94, com a aplicação de multa prevista no artigo 23, II do diploma legal supra, inclusive com a aplicação de multa em dobro em face da COOPANEST-BA, em virtude de reincidência por já ter sido condenada anteriormente por imposição de tabelas de uniformização nos autos do P.A. nº. 08012.007460/97-74. O Ministério Público Federal, por sua vez, manifestou-se, às fls. 1017, requerendo a realização de audiência pública com a presença de representantes dos órgãos de defesa dos consumidores, Associações e Cooperativas Médicas, Planos de Saúde e da Agência Nacional de 4
Saúde, juntando cópia dos depoimentos dos representantes legais das Representadas colhidos no Plenário da CADE, como requerido pelo Parquet. As Representadas, às fls. 1043/1047, reiteraram o aduzido na referida audiência, a saber: (i) vêm contratando com todos os planos de saúde horários baseados na Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Medidos, editada pela AMB, utilizada como mero parâmetro, tendo os cooperados plena liberdade para contratar da melhor forma que lhes prouver; e (ii) os planos de saúde são livres para contratar, individualmente, com quaisquer especialistas ou pessoa jurídica da área de anestesiologia, cooperados ou não. Ao final, requerem a suspensão do presente Processo Administrativo, comprometendo-se a: a ) adotar, como vem adotando, como parâmetro para cobrança dos honorários médicos, em negociações com os planos de saúde, a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos editada pela Associação médica Brasileira, editada pela Associação Brasileira de Medicina, com a assessoria da FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo, referendada pelo Conselho Federal de Medicina através da Resolução CFM 1673/03, com a flexibilização ali prevista; continuar a observar as normas que regem a Ordem Econômica Brasileira respeitando a liberdade dos anestesiologistas, cooperativados ou não, de contratar com pacientes e planos de saúde de acordo com o seu discernimento; não discriminar qualquer plano de saúde que desejar contratar os serviços médicos através das Representadas; b) continuar a observar as normas que regem a Ordem Econômica Brasileira respeitando a liberdade dos anestesiologistas, cooperativados ou não, de contratar com pacientes e planos de saúde de acordo com o seu discernimento; c) não discriminar qualquer plano de saúde que desejar contratar os serviços médicos através das Representadas. Às fls. 1050/1144, as Representadas juntaram documentos que comprovariam que os pacientes têm plena liberdade de contratar os honorários médicos com os seus cooperados, individualmente. Às fls.1145/1732, a 4ª Promotoria de Justiça do Consumidor do Ministério Público da Bahia, a fim de auxiliar a apreciação do presente Processo Administrativo, encaminhou cópia do Inquérito Civil nº 018/2003, que tinha como interessados CASSI e UNIDAS, instaurado para averiguar eventuais abusos de poder econômico por parte da COOPANEST/BA e do GPA. A COOPANEST/BA e o GPA, às fls. 1774/1803, protocolizaram petição informando o arquivamento do referido Inquérito Civil nº 018/2003, tendo aquela Procuradoria concluído que a finalidade das condutas das Representadas era tão-somente o reajuste dos valores das remunerações para as atividades prestadas, não incorrendo em práticas abusivas. Alegaram, ainda, que foi restabelecido o atendimento de quase a totalidade dos planos e segurossaúde, tendo sido acordado como parâmetro de cobrança dos honorários médicos a 5
Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, editada pela Associação Médica Brasileira em conjunto com o Conselho Federal de Medicina CFM. É o relatório Brasília, 05 de julho de 2005. ROBERTO AUGUSTO CASTELLANOS PFEIFFER Conselheiro-Relator 6