Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Acre

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Transcrição:

Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Acre Development of Organic Farming in Acre SIVIERO, Amauri. Embrapa Acre, asiviero@cpafac.embrapa.br; ABREU, Lucimar. Embrapa Meio Ambiente, lucimar@cnpma.embrapa.br. Resumo Este trabalho tem como objetivo analisar historicamente os fatos que marcaram o desenvolvimento da agricultura orgânica no Acre ocorrido nos últimos doze anos. Os estudos foram realizados através de pesquisa bibliográfica e de entrevistas junto a 32 agricultores orgânicos do baixo Acre. A criação da Feira Orgânica de Produtos Naturais de Rio Branco, em 1998, foi o fato que mais contribuiu para o fortalecimento da agricultura orgânica no Acre, pois, viabilizou a comercialização da produção pela venda direta e estreitou laços entre o agricultor e o consumidor. Um grande esforço foi realizado na área de capacitação de 3310 pessoas, custeio e investimentos na agricultura orgânica. As ações foram coordenadas por um consórcio de 23 instituições públicas, organizações não governamentais e associações de agricultores. Foram consumidos cerca de R$ 750.000.,00 no setor de agricultura orgânica no Acre em 12 anos. O processo de conversão dos grupos de agricultores de convencionais para o sistema de produção orgânico está em andamento sendo a produção restritiva para o mercado externo. Palavras chave: Agroecologia, Amazônia Ocidental, História. Abstract This work aims to analyze the historical events that marked the development of organic agriculture in Acre has occurred in the last twelve years. The studies were conducted through literature search and interviews with 32 organic farmers for low Acre. The creation of the Organic Trade Fair for Natural Products of Rio Branco in 1998, was the fact that most contributed to organic agriculture in Acre therefore allowed the marketing of production by selling direct and close links between the farmer and the consumer. A great effort was made in the training of 3310 people, funding and investment in organic agriculture. The actions were coordinated by a consortium of 23 public institutions, NGOs and farmers' association. We consumed about R$ 750,000.00 in the sector of organic agriculture in Acre in 12 years. The process of conversion of groups of farmers from conventional to organic production system is underway with the production limited to the external market. Keywords: Agroecology, Amazon, history. Introdução O processo de conversão da agricultura convencional para a agricultura orgânica foi iniciado pelos agricultores do Projeto de Assentamento Benfica em 1992. Os primeiros agricultores orgânicos do Acre são do PA Benfica são antigos sócios da primeira organização social de agricultores orgânicos criada no Acre, denominada Acre Verde, que foi responsável pelo estabelecimento e difusão da agricultura orgânica no Acre em meados de 1998. Em 1997, por iniciativa de órgãos federais, estaduais e municipais e instituições da sociedade civil teve origem o segundo movimento em favor da implantação da agricultura orgânica no Acre que persiste até os dias de hoje. Os produtos orgânicos são provenientes de roçados, quintais agroflorestais, hortas e pomares de pequenas propriedades na região periurbana de Rio Branco. Os produtos são comercializados no mercado público municipal. Atualmente o estado conta com 320 agricultores orgânicos Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 1812

cadastrados contanto com uma área de 20.403 ha de agricultura voltadas para a agricultura orgânica (Brasil, 2005). Os freqüentadores da Feira Orgânica de Produtos Naturais de Rio Branco FOPNRB são na maioria acreanos, casados, assíduos, bem informados sobre causas ambientais e sobre a origem dos produtos orgânicos. De modo geral o consumidor de produtos orgânicos do Acre apresenta meia idade e nível elevado de escolaridade, adquire os produtos na FOPNRB porque acredita que os alimentos são saudáveis e mais baratos. (SIVIERO et al., 2008; MENDES, 2008). Este trabalho tem como objetivo analisar o desenvolvimento da agricultura orgânica no Acre ocorrido nos últimos doze anos, salientando os fatos que caracterizam esse processo. Material e métodos Os elementos utilizados para a realização deste trabalho foram à pesquisa bibliográfica e documental e consultas, visitas técnicas e entrevistas junto a 32 agricultores orgânicos do baixo Acre. O período de cobertura desta pesquisa foi de 1997 a 2009. Os dados da pesquisa sobre o cadastro de agricultores, localidades e temáticas das atividades de capacitação, número de treinados por categoria e a evolução das capacitações no tempo e espaço foram coletados junto a documentos gentilmente cedidos pela Superintendência Federal de Agricultura no Acre e pela Universidade Federal do Acre. Resultados e discussões A agricultura orgânica teve sua origem no Acre, pela iniciativa de um grupo de agricultores da periferia de Rio Branco que forneciam frutas, verduras e legumes no mercado público de Rio Branco e em feiras livres em bairros de Rio Branco. Os agricultores, notadamente, pertencentes ao Pólo Agroflorestal Benfica, já praticavam o sistema orgânico de produção de hortifrutigranjeiros, sem uso de agrotóxicos e adubos sintéticos desde 1992. Em meados de 1997, deu se uma grande mobilização do setor público federal, estadual e municipal e organizações da sociedade civil em favor da adoção de modelos de agricultura mais adaptados localmente. No dia 05 de dezembro de 1998, foi inaugurada a Feira Orgânica de Produtos Naturais de Rio Branco (FOPNRB). As datas, fatos e eventos históricos relatados de forma cronológica de tempo se constituem no movimento da implantação da agricultura orgânica no estado do Acre estão demonstrados na TABELA 1. 1813 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2

TABELA 1. Principais fatos históricos da agricultura orgânica do Acre de 1997 a 2009. (Rio Branco, 2009) Ano Fatos históricos da agricultura orgânica do Acre. 1992 Primeiros movimentos de adoção da agricultura orgânica em Rio Branco. 1997 I Seminário de Atualização Sobre Agrotóxicos, Saúde, Educação, Meio Ambiente, Agricultura e Direitos Humanos no Acre. 1997 Primeiro ato de certificação orgânica da castanha-do-brasil. 1997 Projeto de Implantação da Agricultura Orgânica do Acre 1998 Protocolo interinstitucional para o estabelecimento da agricultura orgânica/natural no Estado do Acre assinado por 23 instituições. 1998 Inauguração da Feira Orgânica de Produtos Naturais de Rio Branco (FOPNRB). 05.12.1998. 1999 Criada a Associação dos Produtores Orgânicos Acre Verde (APOAV), Instituição do selo Acre Verde e do prêmio Agricultura Orgânica. 2000 FOPNRB comercializa 157 produtos com faturamento de R$ 30.000,00 / ano 2001 Primeiro Congresso de Agricultura Orgânica no Acre. 2002 Criação do Grupo de agricultores Ecológicos do Humaitá (ex-cooperados da Cooperativa Central Santa Inês). Agricultores do Projeto de assentamento Humaitá. (sistema roça sem queima). 2002 Criada a Associação de Certificação Socioparticipativa da Amazônia (ACS) e II Workshop de Certificação Participativa em Rede 2003 Formação da Comissão da Produção Orgânica do Estado do Acre (CPOrg/AC) 2004 I Curso de Agroecologia e Extensão Florestal. Rio Branco. 2005 Uso racional dos produtos agroflorestais para o bem estar de comunidades no vale do Acre. Inicio das atividades do Funbio. 2005 I Semana do Alimento Orgânico no Acre 2006 Criadas as disciplinas Agroecologia, Agrobiodiversidade na UFAC. 2007 Diversas atividades de capacitação em andamento. 2007 O consumidor orgânico do Acre é casado, assíduo, bem informado sobre causas ambientais dos produtos orgânicos, meia idade e elevada escolaridade consome orgânicos pois são saudáveis e baratos. 2008 Defesa da dissertação Aspectos da produção agroecológica do baixo Acre. no programa de pós-graduação em produção vegetal da UFAC. 2009 Publicação do livro; Agroecologia no Acre. EDUFAC;Rio Branco, AC. 2009. 2009 VIII Semana do Alimento Orgânico no Acre. Fontes: Brasil, (1999); Brasil, (2005); Mendes, (2008). (SIVIERO et. al., 2008). Atualmente, cerca de 100 agricultores orgânicos estão em plena atividade no Acre. Todos são pequenos agricultores familiares situados em projetos de assentamento localizados próximos à cidade de Rio Branco. O volume de recursos financeiros investidos na área de agricultura orgânica no Acre no período de 1997 e 2008 vem apresentando estabilidade com leve tendência de queda ao longo dos anos. A soma total de recursos aplicados na área foi de R$ 750.020,00 (MENDES, 2008). Foram realizados no período 312 treinamentos em agricultura orgânica no Acre atendendo 3310 pessoas capacitadas em 5803 horas de atividades distribuídas em áreas temáticas da agricultura orgânica. A categoria curso foi a modalidade de capacitação mais prevalente no Acre com 151 ocorrências das quais 47% realizadas do município de Rio Branco, onde se localizam boa parte dos agricultores, locais de realização de eventos de capacitação, sedes de instituições envolvidas no setor e o maior mercado consumidor de produtos agroecológicos do Acre. Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 1814

A Feira Orgânica de Produtos Naturais de Rio Branco incentivou a produção e escoamento dos produtos orgânicos, criou condições de aproximação agricultor-consumidor, instituiu a venda direta, rastreabilidade e localidade aos produtos agroecológicos permitindo o acesso direto e mais econômico ao consumo de alimentos mais saudáveis pela população local. A estrutura da comercialização direta de produtos orgânicos junto à feira livre determina o sucesso do empreendimento garantindo melhor preço de venda, rastreabilidade, aproximação entre produtor orgânico e o consumidor contribuindo para o estabelecimento de relações de confiança recíproca. A conquista de novos pontos de venda como em supermercados locais depende da melhoria em qualidade e constância de produtos e da atitude mais ecológica de consumidores. (MENDES, 2008). Os agricultores orgânicos do Acre entrevistados nesta pesquisa estão em pleno processo de transição. A certificação de seus produtos por auditoria/conformidade exige recursos para custeio da conversão como recursos para consultoria e implantação das atividades na propriedade para custear a conversão e os custos da certificação completando o processo de transição para agricultura orgânica. Atualmente, o mecanismo mais apropriado para que os agricultores orgânicos do Acre possam comercializar os produtos diretamente ao consumidor (venda direta), sem certificação, é cadastrarem-se individualmente ou em grupos junto ao MAPA. (SIVIERO et. al, 2008; MENDES, 2008). A segunda opção para a certificação de agricultores familiares ou grupos de agricultores familiares é a implantação de um sistema participativo de garantia da qualidade orgânica (SPG). No entanto os agricultores orgânicos do Acre não estão atualmente, suficientemente organizados e preparados para pleitear recursos junto a possíveis órgãos provedores que financiem a certificação por auditoria ou participativa. A forma mais adequada de certificação, segundo os entrevistados, é aquela que remunera o agricultor de forma a garantir a reprodução social da família e possibilitar investir na unidade de produção. Optam por discutir o processo coletivamente, em assembléias de associações e outros órgãos de classe com a participação direta dos agricultores e nunca induzida por empresas. Outros fatores como reduzido valor do volume de venda, tamanho limitado do mercado, espaço físico são obstáculos para o funcionamento da FOPNRB. Além da ausência de agregação de valor ao produto são os fatores que contribuem ainda mais para limitar a contratação de uma certificação. (SIVIERO et al., 2008). A produção orgânica exige novos paradigmas de pesquisa, o que por sua vez requer a reorientação dos centros de pesquisa agropecuária e da extensão rural e estabelecimento de um diálogo entre os diversos agentes envolvidos. Conclusões O processo de conversão da agricultura convencional para a agricultura orgânica foi iniciado pelos agricultores orgânicos do Acre em 1992. Em 1997, por iniciativa de órgãos federais, estaduais e municipais e instituições da sociedade civil teve origem o segundo movimento em favor da implantação da agricultura orgânica no Acre que persiste até os dias de hoje. O esforço de capacitação foi válido permitindo a formação de massa crítica em agricultura orgânica no baixo Acre em detrimento de outras regiões do estado. O sistema de produção adotado pelos agricultores orgânicos do Acre ainda apresenta limitações que impedem que os produtos recebam certificação como alimento orgânico visando o mercado externo ao Acre. O processo de conversão dos grupos de agricultores de convencionais para o sistema de produção orgânico está em andamento, no entanto, a produção atende o mercado local sendo restritiva para mercados externos. A possibilidade de certificar produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar através de uma estratégia de certificação em grupo, esta em processo de construção no Acre. 1815 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2

A criação da Feira Orgânica de Produtos Naturais de Rio Branco, em 1998, foi o fato que mais contribuiu para o fortalecimento da agricultura orgânica no Acre, por várias razões: a. viabilizou a comercialização e o escoamento da produção b. permitiu a venda direta eliminando intermediários c. estreitou laços entre o agricultor e consumidor e d. proporcionou referência de qualidade, rastreabilidade e localidade aos produtos orgânicos. Referências BRASIL, Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Delegacia Federal do Acre. Relatório da execução do projeto de implantação da agricultura orgânica no estado do Acre; setembro - dezembro de 1998. Rio Branco, AC, 1999. BRASIL, Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Delegacia Federal do Acre. Relatório do Projeto Acre de Agricultura Orgânica 2004. Rio Branco, AC, 2005. MENDES, R.C. Aspectos da produção agroecológica no baixo Acre. 2008. 176 f. (Dissertação em produção vegetal) - Universidade Federal do Acre. Rio Branco, 2008. SIVIERO, A. et al. O consumo de produtos agroecológicos no Acre. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 46., 2008, Rio Branco. Anais...Piracicaba: SOBER, 2008. v. 22. p. 567-597. Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 1816