PNAIC: O USO DA LITERATURA INFANTIL COMO MEDIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR Cíntia Franz UFSC Joanildes Felipe UFSC Maira Gledi Freitas Kelling Machado UFSC Resumo O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), elaborado e desenvolvido pelo Ministério da Educação do Brasil, em parceria com os governos estaduais e municipais, tem por objetivo assegurar que todas as crianças sejam alfabetizadas aos oito anos de idade, ou seja, nos três primeiros anos do Ensino Fundamental. Nesse sentido, para todos os envolvidos nesse trabalho uma questão deveria se tornar indiscutível, alfabetizar, na perspectiva do PNAIC, é ensinar o Sistema de Escrita Alfabética inserindo a criança em práticas de letramentos. O PNAIC é um projeto de formação que trabalha de uma forma diferenciada, que tem oportunizado um novo olhar para a alfabetização, pois se dá numa perspectiva do letramento. Essa dimensão do processo de aprendizagem é entendida como instrumento para a leitura do mundo, uma perspectiva que supera a simples decodificação de letras e números. Para tanto, as ações desenvolvidas nessa proposta formam um conjunto integrado de programas, materiais didáticos e referências curriculares e pedagógicas disponibilizados pelo MEC que contribuem para a alfabetização na perspectiva do letramento, tendo como eixo principal a formação continuada dos professores alfabetizadores. Mas, o que este programa tem de diferente dos demais apresentados pelos governos brasileiros, até então? Além do aperfeiçoamento e da formação dos professores alfabetizadores, merece atenção a distribuição dos livros literários, para todas as escolas públicas. Eis aqui o ponto de interesse do estudo sobre o qual propomos nos debruçar. Ou seja, como capacitar professores alfabetizadores para serem mediadores entre as crianças e o livro literário quando essas ainda estão em fase de alfabetização? Para compreender como os professores se percebem nesse processo e tentar nos aproximar do quanto a proposta em curso pode contribuir para a formação de um futuro leitor literário é que nos propomos a desenvolver esse trabalho. Palavras chave: PNAIC. Formação de professores. Literatura infantil. Introdução O trabalho se configura a partir da nossa participação como formadoras do PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa que teve início no ano de 2013 com ênfase na linguagem, e no ano de 2014, com ênfase na matemática. Nossa equipe, formada por 1 supervisora e 5 formadoras, ficou responsável pelo polo de Treze Tílias, do qual participavam 52 municípios do Oeste de Santa Catarina. Essa pesquisa 05501
2 ainda será desenvolvida ao longo de 2014, contudo, já nos é possível apresentar uma parte importante desse trabalho, com as suas conclusões parciais. As ações do pacto apoiam-se em quatro eixos de atuação: capacitação de professores alfabetizadores; distribuição de materiais didáticos e pedagógicos; avaliações; gestão e mobilização. Uma formação focada na prática do professor, de modo que as singularidades do trabalho pedagógico são objetos de reflexão. Refletir, estruturar e melhorar a ação docente é, portanto, o principal objetivo da formação (BRASIL, 2012, p. 28). Dos quatro eixos do programa, dois merecem destaque em nossa pesquisa, a formação dos professores alfabetizadores e a relevância do material didático e pedagógico distribuídos a todas as escolas envolvidas na formação docente. Contudo, o grande diferencial do PNAIC está no fato deste não ser uma proposta para a formação do alfabetizador, mas que se faz com ele. Para compreender como os professores se percebem nesse processo e tentar nos aproximarmos do quanto a proposta em curso pode contribuir para a formação do professor enquanto mediador entre a criança e o livro de literatura, é que desenvolvemos esse trabalho.considerando a proposta do PNAIC, em que a literatura infantil está inserida, nos surgiu uma questão para ser respondida: como capacitar professores alfabetizadores para serem mediadores entre as crianças e o livro literário quando essas ainda estão em fase de alfabetização? Uso da literatura infantil no PNAIC, nosso caminho de pesquisa O Acervo Complementar tem o compromisso com a curiosidade, com sua vontade de ler sem a ajuda de um mediador, seduzir, informar, divertir, dar às crianças a oportunidade, talvez para muitas a única, de manusear, explorar, com ou sem a ajuda do professor o mundo dos livros, além de possibilitar a elas a possibilidade de apreciarem o texto literário considerando a linguagem, a imaginação e a fantasia que são tão peculiares desse universo da ficção. (BRASIL, 2012). Diante dessa realidade, sugerimos que os orientadores planejassem e desenvolvessem com os alfabetizadores uma sequência didática com as crianças, partindo da leitura de um livro de literatura do Acervo Complementar. Em seguida, usando como recurso o gênero textual carta, os professores deveriam descrever para um 05502
3 colega a sequência didática realizada. Essas cartas deveriam ser entregues aos orientadores e estes fariam a leitura delas durantes os encontros de formação. Com um número relevante de professores alfabetizadores envolvidos no pacto no polo de Treze Tílias, cerca de 1.000, e 152 orientadores de estudo, entendemos que seria mais produtivo realizarmos a pesquisa com os orientadores, pois eles eram, nas formações, a voz dos professores com os quais estavam trabalhando. Assim sendo, elaboramos um questionário com 7 questões abertas que tinham por objetivo entender como foi recebida e desenvolvida pelos professores a atividade de escrita da carta relatando a atividade desenvolvida com a leitura de um livro de literatura. Foram distribuídos 130 questionários dos quais 81 foram analisados por nós e serão descritos a seguir, pontuando cada uma nas questões na ordem em que estão organizadas. Considerações sobre os dados dos questionários Solicitadas que descrevessem sobre a apresentação e solicitação para elaboração da proposta, que era a escrita da carta com a sequência didática que deveriam ser desenvolvidas com os alfabetizadores, bem como foi a aceitação da proposta, fica claro, como houve uma reflexão sobre a importância da troca de experiências e construção de novos conhecimentos oportunizadas pela socialização das cartas, uma vez que tiveram a oportunidade de apresentar seus trabalhos e, ao mesmo tempo, conhecer a ação pedagógica das colegas, o que, por certo, contribuirá para melhorar prática de todos os partícipes da proposta. Um dos objetivos dos acervos literários é a utilização dos mesmos de forma efetiva com os alunos, então, ao serem questionadas sobre a organização dos Cantinhos da Leitura, em sua maioria, os relatos afirmam que essa formação veio para romper com uma realidade triste, onde caixas fechadas com livros eram encontrados em armários, intactos. Por esse motivo e com o incentivo através do PACTO, o acervo estava disponível para as salas de aula em forma de Cantinhos da Leitura que foram organizados de diversas formas, despertando interesse pela forma lúdica que foram disponibilizados: desde prateleiras, selecionando algumas obras em destaque na semana; mural com fantoches; tapetes e almofadas; pufes, que estão disponíveis para a hora da leitura. Algumas professoras transformaram caixotes de madeira, como espaço para organizar os livros, sendo pintados pelos próprios alunos. Destacaram todas, que o mais importante desse acervo deve-se ao fato dos livros estarem ao alcance das mãos dos 05503
4 pequenos, levando-os a se sentirem à vontade para pegar um exemplar, folhear, ler e depois devolver, ou até mesmo levar para casa para concluir a leitura. O planejamento para o uso dos livros do Cantinho da Leitura se dividem entre os momentos específicos para leitura, dentro do projeto de trabalho pedagógico, mas também para quando as crianças terminam suas tarefas antes dos colegas, aproveitando um momento que poderiam ficar ociosos para realizar a leitura deleite, com ou sem a ajuda de alguém que possa fazer a leitura, caso o aluno não seja, ainda, alfabetizado. Quando a leitura se torna um prazer, um livro é de extrema necessidade e carregado de intencionalidades. Se deixarmos à disposição dos alunos, que estão se constituindo leitores, as trocas e descobertas que fazem entre si é algo mágico, inexplicável, quando acontece a democratização do saber: O cantinho é seu! Com esse depoimento, nota-se a importância do Acervo estar acessível aos alunos, em momentos diversos, de formas diversificadas, proporcionando uma leitura prazerosa e não obrigatória e sem sentido. Sobretudo, os livros de literatura estão sendo utilizados diariamente como ferramenta para o fazer pedagógico, no trabalho interdisciplinar, como leitura deleite, livre e dirigida, como suporte de projetos e sequências didáticas. Também para contação de histórias, leitura e interpretação de textos, pesquisas e produção de escrita, releituras, debates, dramatizações, produções coletivas e individuais. Trabalha-se com vários gêneros, com leitura de imagens e uma diversidade de recursos. A política de incentivo proposta pelo Programa, de acordo com as orientadoras, à leitura presente no PNAIC se difere das políticas públicas apresentadas anteriormente ao pacto pelo fornecimento de excelente material como subsídio direto na sala de aula, no incentivo ao trabalho com os professores, através dos encontros de formação e o apoio dos formadores com diferentes possibilidades de trabalho junto aos alunos. Como relata uma professora alfabetizadora: Esta política fortaleceu o educador quando mostrou como utilizar a literatura na alfabetização, chamou a atenção, ofereceu o recurso e instrumentalizou o professor. Isso faz toda a diferença, pois não podemos só oferecer instrumentos, temos que ensinar e aprender como utilizá-los. Foi emocionante ver os professores relatando e mostrando quais livros foram utilizados em seus projetos e sequências didáticas e, ainda, os trabalhos realizados com os educandos, as esculturas, os cartazes, as obras, as releituras e tudo o que compôs cada etapa do PNAIC em 2013. Para concluir, ficou registrado nas respostas ao questionário, que a proposta do PNAIC não visa apenas instrumentalizar ou subsidiar teoricamente sobre a importância 05504
5 da alfabetização e letramento nesta fase escolar das crianças. Segundo as professoras, no que se refere à leitura e à literatura o PNAIC se diferencia, sobretudo, porque está presente no cotidiano das salas de aula e tem mostrado resultados positivos, pois o planejamento do acervo se dá em contextos de sentido, o que torna significativa a aprendizagem dos alunos. No Caminho de uma Conclusão Ao findar o primeiro ano de formação, já é possível evidenciar o quanto o Pacto tem mobilizado os professores da educação básica. Fica explícito que há um comprometimento de todos os envolvidos no projeto uma vez que os mesmos foram evidenciados através das socializações das experiências, nos depoimentos, nas visitas às escolas e nas respostas ao questionário. Quanto ao Acervo Complementar, verificamos que este se torna uma ferramenta para o letramento infantil, sobretudo para as crianças de classe social menos favorecida que, em ampla maioria, não têm a oportunidade de ter contato com a cultura escrita fora da escola. Nesse sentido, esse material pode ser visto como um instrumento de inclusão, pois é inegável que muitas crianças das escolas públicas brasileira jamais teriam acesso a um material de tamanha qualidade. Mas para que os objetivos do MEC com o referido material sejam efetivos, é preciso uma participação ampla e comprometida do professor, uma vez que, ao explorar essas obras, no grande grupo, é esse profissional que deve planejar e desenvolver excelentes situações para associar o deleite à vivência de estratégias de compreensão leitora. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: currículo na alfabetização: concepções e princípios: ano 1 : unidade 1 / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. -- Brasília: MEC, SEB, 2012. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: formação do professor alfabetizador: caderno de apresentação / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. -- Brasília: MEC, SEB, 2012. 05505