Scientific Electronic Archives Volume 1 p. 6-10 2012 Características Físicas e Nutricionais do Pequi e Comparação de Diferentes Métodos para Extração de seus Lipídeos Physical and Nutritional Characteristics of Pequi Fruit and Comparison of Different Methods for Extraction of their Lipids M.P.R. Torres+ 1.; K. Doroteu.; D.M.S. Valladão; L. Glusczak.; J.S. Agostini 1 Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop + Autor correspondente: mayconprt@gmail.com Resumo Esse estudo objetivou analisar a composição nutricional de frutos do pequi (Caryocar brasiliensis) e comparar o rendimento de dois processos de extração de lipídeos. Os frutos foram colhidos em duas localidades em Sinop MT, no estágio de maturação antes de caírem do pé. Em seguida, foram pesados inteiros e segmentados para serem secos e triturados. Com isso, obteve-se a amêndoa e uma farinha de mesocarpo interno com o endocarpo espinhoso, os quais foram submetidos às análises de umidade, cinzas, lipídios, proteínas e glicídios totais e às extrações de lipídeos à quente e à frio. Os frutos inteiros e pirênios do ponto 2 apresentaram massa maior do que o ponto 1. O pequi apresentou uma grande riqueza nutricional, destacando-se pela alta concentração de lipídeos (amêndoa: 45,42% para o ponto 01, 43,32% para o ponto 02; farinha: 34,73% para o ponto 01, 38,88% para o ponto 02), uma quantidade considerável de proteínas (amêndoa: 20,64% para o ponto 01, 20,3% para o ponto 02; farinha: 3,67% para o ponto 1, 4,03% para o ponto 02). A amêndoa se mostrou mais rica em lipídios, proteínas e minerais em comparação com a farinha. A composição centesimal do ponto 01 e do ponto 02 diferiu nos teores de umidade e proteínas da farinha, e no teor de umidade da amêndoa. A extração de lipídeos a quente apresentou rendimento maior do que o método a frio. O método a quente extraiu dos pontos 1 e 2, respectivamente, 73,4% e 73,5% a mais de lipídios na amêndoa e 30,3% e 78,9% a mais na farinha. Unitermos: Extração, valor nutricional, óleo, pequi. Abstract This study aimed to analyze the nutritional composition of the pequi fruit (Caryocar brasiliensis) and compare the performance of two extraction processes of lipids. The fruits were collected in two localities in Sinop - MT, in the maturation stage, before falling of the tree. Then were weighed whole, then fragmented to be dried and crushed. Then, we obtained the almond and a flour from the inner mesocarp with the thorny endocarp, which were analyzed for moisture, ash, fat, protein and total carbohydrates and hot and cold extraction of the lipids. Whole fruits and pyrenes had higher weight than site 1. The pequi presented a rich nutrition profile, especially for the high concentration of lipids (Almond: 45.42% in site to 01, 43.32% in site 02; flour: 34.73% in site 01, 38, 88% in site 02), a considerable quantity of protein (almond: 20.64% in site 01, 20.3% in site 02; flour: 3.67% in site, 4.03% in site 02). The almond proved richer in lipids, protein and minerals in comparison with the flour. The chemical composition of site 01 and site 02 differed in moisture and protein flour, and the moisture content of the almond. The hot method showed a yield higher than the cold method. The hot method extracted from sites 1 and 2, respectively, 73.4% and 73.5% more lipids from almond and 30.3% and 78.9% more from the flour. Keywords: Extraction, nutritional value, oil, pequi. 6
Introdução O pequizeiro é uma planta do cerrado e pode ser encontrado em diversos estados brasileiros. Tem sua floração ocorrendo normalmente entre os meses de setembro e novembro e frutificação de outubro a fevereiro (Oliveira et al., 2008). No Brasil, existem 12 espécies, sendo a espécie de maior presença no Cerrado do Planalto Central a Caryocar brasiliense Camb. (Oliveira et al., 2009; Oliveira et al., 2008). O pequi, fruto do pequizeiro, é uma drupa contendo, normalmente, entre 1 e 4 caroços por fruto, cientificamente chamados de pirênios, sendo esses compostos por um endocarpo lenhoso com inúmeros espinhos, contendo internamente a semente, ou amêndoa, e envolto por uma polpa de coloração amarela intensa, carnosa e com alto teor de óleo, chamada cientificamente de mesocarpo interno (Silva & Filho, 2006; Oliveira et al., 2008; Soares et al., 2009). O pequi é um fruto rico em lipídeos, principalmente em ácidos graxos insaturados, como o ácido oléico (Lima et al., 2007). Possui também as vitaminas A, E, C e minerais e seu óleo ajuda a combater radicais livres. A polpa fornece 358 Kcal/100 g de material, as quais correspondem a 18% das necessidades calóricas de um adulto com uma dieta de 2.000 Kcal (Santos et al., 2010). É necessário o conhecimento da composição nutricional de alimentos pouco conhecidos, de forma a avaliar a disponibilidade de nutrientes e a possibilidade de utilização dos mesmos para a alimentação humana. Entre estes está o pequi, que possui partes não muito utilizadas, como a amêndoa, com potencial nutricional, que podem ser usadas de forma a incrementar a dieta da população além de ser uma excelente fonte de óleo que pode ser extraído e destinado a vários setores da indústria. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a composição nutricional do fruto do pequi (Caryocar brasiliensis) com o intuito de conhecer a composição de partes comestíveis deste fruto, comparando os resultados de frutos colhidos em dois locais diferentes, e comparar dois processos de extração de lipídeos, um a quente e um a frio, a fim de identificar o método com maior rendimento. Métodos Os frutos foram coletados em dois locais do município de Sinop, Mato Grosso, transportadas para a Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Sinop, onde foram divididos nas diferentes partes que o compõem. As cascas foram retiradas e separadas em epicarpo e mesocarpo externo utilizando-se faca e colher de inox, à temperatura ambiente (+/- 24 0 C). Os caroços (pirênios) foram levados à estufa com circulação forçada a 45 0 C, por aproximadamente 48 horas, com o objetivo de quebrar o pirênio e separar o material em mesocarpo interno juntamente com endocarpo e amêndoa. Os caroços (pirênios) foram quebrados em moinho de martelos e as sementes retiradas. Com a separação, cada produto foi triturado em moinho de facas e em seguida congelado e armazenado a -20 0 C. Foram avaliados o peso do fruto inteiro, mesocarpo externo (casca) e pirênio (polpa). Para análise da composição nutricional foram utilizados os métodos preconizados pelo Instituto Adolfo Lutz (2005). A análise de umidade foi feita seguindo o método de secagem direta em estufa a 105 C. As cinzas (resíduo mineral fixo) foram quantificadas por meio da incineração em mufla a 550 C. A análise de proteínas foi feita pelo método de MicroKjeldahl por meio da titulação de nitrogênio extraído da amostra através de um destilador de nitrogênio. As extrações de lipídios foram feitas através de dois métodos diferentes: extração com solvente a quente (Goldfish) e extração com solvente a frio (Bligh & Dyer) de acordo com Folch et al (1957). Resultados e Discussão Os frutos inteiros e pirênios do ponto 2 apresentaram massa maior que o ponto 1 (P < 0,05; Tabela 1), resultado esse bastante comum, uma vez que o 7
pequizeiro é uma planta ainda não domesticada, tendendo a apresentar grande variação de massa de seus frutos, inclusive entre aqueles de uma mesma árvore (Vera et al., 2005). Os valores nutricionais obtidos da amêndoa e da farinha apresentaram valores semelhantes, com exceção do teor de umidade e proteínas (Tabelas 02 e 03). Essa semelhança de valores pode estar ligada ao fato dos frutos terem sido coletados em dois pontos na mesma cidade, estando submetidos ao mesmo clima e às mesmas características de solo, gerando frutos nutricionalmente equiparáveis. Tabela 1 - Peso dos frutos inteiros e partes de pequis colhidos em duas localidades no município de Sinop MT. Parâmetro Ponto 01 Ponto 02 Fruto Integral (g) 162,51 ± 58,05b 200,21 ± 56,57a Pirênio (g) 43,58 ± 22,29b 52,13 ± 21,22a ME + Ep (g) 118,92 ±55,54b 148,08 ± 39,16a Médias seguidas da mesma letra na mesma linha não diferem entre si, pelo teste t (P<0,05). ME: mesocarpo externo; Ep: epicarpo. Tabela 2 - Composição centesimal da farinha obtida a partir da secagem do mesocarpo interno + endocarpo de frutos de pequis. Parâmetros Teor (%) em base úmida Média ± desvio padrão Ponto 1 Ponto 2 Umidade 4,18 ± 0,15b 4,57 ± 0,12a Cinzas 1,29 ± 0,03a 1,42 ± 0,31a Extrato etéreo 34,73 ± 1,31a 38,88 ± 3,18a Proteína 3,67 ± 0,15b 4,03 ± 0,19a Glicídios totais 61,77 ± 1,15a 58,44 ± 4,32a Médias seguidas da mesma letra na mesma linha não diferem entre si, pelo teste t (P<0,05). Tabela 3 - Composição centesimal (base úmida) da amêndoa de frutos de pequis. Parâmetros Teor (%) em base úmida Média ± desvio padrão Ponto 1 Ponto 2 Umidade 9,24 ± 0,48a 6,74 ± 0,22b Cinzas 4,17 ± 0,37a 4,75 ± 0,21a Extrato etéreo 45,42 ± 3,15a 43,32 ± 3,20a Proteína 20,64 ± 0,73a 20,38 ± 0,28a Glicídios totais 30,77 ± 2,69a 32,74 ± 5,50a Médias seguidas da mesma letra na mesma linha não diferem entre si, pelo teste t (P<0,05) O método a quente de extração de lipídeos mostrou-se mais vantajoso em relação ao método de extração a frio, apresentando rendimento maior (P < 0,05; Tabela 4), uma vez que o método a quente extraiu 73,4% e 73,5% a mais na amêndoa para o ponto 1 e 2, respectivamente e 30,3% e 78,9% a mais na farinha para os pontos 1 e 2, 8 respectivamente. Sendo assim, o mesmo apresenta-se como a melhor escolha quando se pretende extrair o óleo do fruto. Essa discrepância entre os rendimentos obtidos pode ser atribuída a inúmeros fatores, tais como: temperatura; tempo de contato, uma vez que na extração quente a amostra permanece um tempo consideravelmente maior em contato com
o solvente; a influência de outros componentes da amostra, como as proteínas, que podem formar complexos com os lipídeos, dificultando a extração; até a necessidade de readequação do volume de solvente utilizado na extração, levando em consideração da amostra ser muito rica em lipídeos, o que por sua vez, satura o solvente rapidamente. Portanto, de maneira geral, acredita-se que o tipo de amostra não se adequou à extração a frio ou a mesma necessita de alterações em sua metodologia. É importante ressaltar ainda que a amêndoa do fruto mostrou-se mais rica em lipídeos, proteínas e minerais, em comparação com a farinha (tabelas 02 e 03), apresentando-se como uma excelente opção para consumo ou fonte de óleo. Tabela 4 - Comparação dos teores de lipídios obtidos pelos dois métodos de extração. Farinha do ME + En Amêndoa Extração Ponto 1 Ponto 2 Ponto 1 Ponto 2 A quente 34,73 ± 1,31a 38,88 ± 3,18a 45,42 ± 3,15a 43,32 ± 3,20a A frio 26,66 ± 0,67b 21,73 ± 5,66b 26,19 ± 0,42b 24,96 ± 2,94b Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem entre si, pelo teste t (P<0,05). ME: mesocarpo externo; En: endocarpo. Conclusão O pequi se mostrou um fruto de alto valor nutricional, com um grande teor de lipídeos e proteínas, principalmente na amêndoa. Além disso, as diferenças na composição foram mínimas, ao comparar os dois pontos de coleta dos frutos. A extração de lipídeos pelo método a quente se mostrou mais eficiente, apresentando um rendimento maior em todas as amostras analisadas. Referências FOLCH, J., LEES, M., STANLEY, GHS. The Journal of Bioogical Chemistry 226: 497. 1957 INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 1.ed. digital. São Paulo, Brasil. 2005. LIMA, A., SILVA, AMO., TRINDADE, RA., TORRES, RP., FILHO, JM. Composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi (Caryocar brasiliense, Camb.). Revista Brasileira de Fruticultura 29 (3): 695-698. 2007. OLIVEIRA, MEB., GUERRA, NB., BARROS, LM., ALVES, RE. Aspectos agronômicos e de qualidade do Pequi. Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, Brasil, 32 p. 2008. OLIVEIRA, MEB., GUERRA, NB., MATOS, NMS., XAVIER, DS. Composição mineral do pequi (C. coriaceum Wittm.). Congreso argentino de ciencia y tecnología de alimentos, Argentina, CD-ROM. 2009. SANTOS, P., PORTO, AG., SILVA, FS., FURTADO, GF. Avaliação físico-química e sensorial do pequi (Caryocar brasiliensis Camb.) submetido à desidratação. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais 12 (2): 115-123. 2010. SILVA, MAP., FILHO, SM. Morfologia de fruto, semente e plântula de piqui (Caryocar coriaceum Wittm). Revista Ciência Agronômica 37 (3): 320-325. 2006. SOARES JR. MS., REIS, RC., BASSINELLO, PZ., LACERDA, DBC., KOAKUZU, SN., CALIARI, M. Qualidade de biscoitos formulados com diferentes teores de farinha de casca de pequi. Pesquisa Agropecuária Tropical 39 (2): 98-10. 2009. 9
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