ENTREVISTA COM FAMÍLIA DE PACIENTES PÓS-INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO 1 LEAL, Tifany Colome 2 ; GARCIA, Raquel Potter3; BUDÓ, Maria de Lourdes Denardin 4, BARBOSA, Mariane da Silva 5 ; SIMON, Bruna Sodre 6 ; GEWEHR, Melissa 7 ; SILVA, Marciele Moreira da 8 RESUMO Objetiva-se relatar a experiência da realização de entrevistas com famílias de pacientes pósinfarto agudo do miocárdio. Foram realizadas quatro entrevistas, que fazem parte de uma pesquisa de dissertação de mestrado, em andamento, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ocorreram no período de fevereiro a abril de 2012, no domicílio das famílias. As percepções, durante as entrevistas, foram registradas em um diário de campo, sendo a partir dele elaborado esse relato. Percebeu-se que apesar da proximidade entre os indivíduos entrevistados, pouco sabiam acerca de características específicas dos familiares, como idade, doenças, entre outras. Também foi perceptível, a influência que determinados integrantes da família têm sobre os outros, favorecendo a análise do coletivo. Pesquisar a família proporciona satisfação ao pesquisador, uma vez que ao se trabalhar com vários integrantes, tem-se uma aproximação maior da realidade em que são vivenciadas as situações de saúde/doença. Conclui-se que cada família possui especificidades que somente poderão ser detectadas se compartilhadas entre os integrantes, por meio de suas interações e relações estabelecidas. 1 Relato de experiência.universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 2 Apresentador. Acadêmica do 4 semestre do Curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista PIBIC 2011/2012. Santa Maria, RS, Brasil. Email: tifanyleal@hotmail.com 3 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFSM. Bolsista REUNI, Santa Maria, RS, Brasil. 4 Enfermeira. Professora Associada do Departamento de Enfermagem e PPGEnf/UFSM. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Santa Maria, RS, Brasil. 5 Acadêmica do 4º semestre do Curso de Enfermagem da UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. 6 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. 7 Acadêmica do 8º semestre do Curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista FAPERGS. Santa Maria, RS, Brasil. 8 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFSM. Santa Maria, RS, Brasil.
Ainda, é preciso que sejam desenvolvidos novos trabalhos com o enfoque na família, a fim de favorecer a elaboração de estratégias que busquem construir um cuidado condizente com as necessidades da família. Descritores: Infarto do Miocárdio; Família; Coleta de dados; Pesquisa Qualitativa; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO A entrevista é uma das principais técnicas de coleta de dados utilizadas, pelos pesquisadores, no levantamento de subsídios para as pesquisas de campo 1. Favorece a identificação de diversos fenômenos da construção potencial do entrevistado 2, obtém dados sobre o comportamento dos seres humanos em maior profundidade e pode ser aplicada aos sujeitos com qualquer nível de aprendizado, permitindo uma relação próxima entre entrevistador e entrevistado 3. Além disso, a entrevista é frequentemente utilizada nas pesquisas de campo, das ciências humanas e da saúde, por possibilitar que a fala revele os valores, as simbologias e as crenças de cada indivíduo 4. Dessa forma, ao se referir a enfermagem, a entrevista favorece a obtenção de dados congruentes com os diferentes objetos de estudo que são de interesse da área 3, como, por exemplo, o cuidado desenvolvido pela família. Essa tem sido foco central da enfermagem há algum tempo, o que remete ao progresso desse campo do conhecimento 5. A entrevista com família envolve suas peculiaridades, uma vez que o pesquisador deve estar atento não somente ao que uma pessoa fala, mas sim ao que o grupo elabora coletivamente com relação aos questionamentos. Por meio dessa técnica de coleta de dados é possível perceber o funcionamento de cada um dos integrantes no ambiente familiar, bem como as interações e influências que eles têm uns sobre os outros. Isso exige perspicácia e concentração frente à realização da entrevista, pois qualquer comunicação verbal ou não verbal pode indicar algo relevante. Ao investigar essa temática, os pesquisadores encontram uma ampla compreensão dos fenômenos familiares, bem como dimensões múltiplas dos membros integrantes desse contexto 5.
A entrevista com família se caracteriza, de forma diferenciada, desde o momento em que se aborda o sujeito para falar da pesquisa, pois é necessário que ele compreenda que essa se realizará com a família e não somente com ele. Destaca-se que a família é quem as pessoas dizem que são, não havendo a necessidade de existir laços de consanguinidade e se caracteriza por abranger dois integrantes ou mais 6. Desse modo, este trabalho se faz necessário, para auxiliar na divulgação de desafios e benefícios da pesquisa com família, uma vez que essa tem sido foco de diversos estudos na área da saúde, bem como das políticas públicas instauradas no país. Assim, objetiva-se relatar a experiência da realização de entrevistas com famílias de pacientes pós-infarto agudo do miocárdio. 2. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência proveniente da realização de quatro entrevistas com famílias de pacientes pós-infarto agudo do miocárdio. Essas fazem parte de uma pesquisa de dissertação de mestrado, em andamento, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ocorreram no período de fevereiro a abril de 2012, no domicílio das famílias e tiveram a participação da pesquisadora, bem como de uma graduanda de enfermagem, da UFSM, para auxiliar na observação das questões que permeiam a família. Todas as percepções, durante as entrevistas, foram registradas em um diário de campo, sendo a partir dele elaborado esse relato. Destaca-se que essa pesquisa está vinculada à linha de pesquisa Cuidado a adultos, idosos e famílias nos diferentes cenários de atenção, do grupo de pesquisa do CNPq Cuidado, Saúde e Enfermagem, da UFSM. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES As entrevistas foram agendadas, com os pacientes, previamente, no ambulatório de cardiologia, no dia do convite para participação na pesquisa. Após, se realizaram, no domicílio dos pacientes, conforme a disponibilidade da família. Ao chegar no domicílio, para realização da coleta de dados, as entrevistas ocorriam com quem o paciente desejasse, desde que houvesse pelo menos dois integrantes da família. Destaca-se que a primeira entrevista foi permeada por bastante ansiedade por parte
do pesquisador e da graduanda, pois era a possibilidade real de colocar em prática o que até então só tinha sido visto na teoria. Após as devidas apresentações, se deu início a entrevista com a construção do genograma, o qual se caracteriza por ser um diagrama do grupo familiar, representando a estrutura familiar interna, por meio de gráficos convencionais genéticos e genealógicos. Tem a finalidade de obter uma visão geral da família 6. Destaca-se que neste momento surgiu uma dificuldade para o pesquisador, pois os integrantes se lembravam de poucos dados do restante da família, o que prejudicou a elaboração do diagrama. Esse desafio, também fez parte das outras entrevistas realizadas, demonstrando que apesar da proximidade entre os indivíduos, pouco sabiam acerca de características específicas dos familiares, como idade, doenças, entre outras. Também foi perceptível, a influência que determinados integrantes da família têm sobre os outros. Isso, de certa forma, foi importante para a análise do coletivo, porém difícil para a condução da entrevista com questões circulares, as quais se caracterizam por serem realizadas com famílias, devendo reunir ideias individuais de todos os participantes sobre um tema 6. Várias vezes um mesmo integrante dominava os assuntos que estavam sendo realizados, então cabia ao pesquisador retomar a participação dos outros e, frequentemente instigar para que sua percepção não fosse incentivada pelo familiar dominante. Dessa forma, conceber a família como categoria de análise é mais complexo do que estudar indivíduos, pois há mais pessoas a serem estudadas e avaliadas, bem como o todo familiar 5. Outra questão percebida se relacionou ao número de integrantes da família que participou das entrevistas. Quando quatro participaram, os relatos pareceram mais ricos, demonstrando a realidade de parte do funcionamento familiar. Nas entrevistas realizadas somente com dois integrantes foi necessário um maior empenho da pesquisadora, a fim de alcançar aquilo que não podia ser observado pelas interações entre os integrantes que ali não estavam presentes, mas aquilo que foi somente citado. Ressalta-se que apesar do receio de trabalhar com várias pessoas ao mesmo tempo e também da dúvida quanto à recepção no seu domicílio, grande parte, dos membros das famílias demonstraram, durante a visita para coleta de dados, acolhimento e interação com o pesquisador. Assim, pesquisar a família proporcionou satisfação ao pesquisador, uma vez que ao se trabalhar com vários integrantes tem-se uma aproximação maior da realidade em que são vivenciadas as situações de saúde/doença.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Cada família possui especificidades que somente poderão ser detectadas se compartilhadas entre os integrantes, por meio de suas interações e relações estabelecidas. Ainda, trabalhos com o enfoque na família são incentivados, devido à necessidade da elaboração de estratégias que busquem identificar as fragilidades e potencialidades de cada indivíduo do núcleo familiar para que, a partir disso, se possa construir um cuidado condizente com as necessidades da família. 5. REFERÊNCIAS 1 Minayo MCS (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 26 ed. Petrópolis: Vozes, 2007. 108 p. 2 Turato ER. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa. Construção teóricoepistemológica: discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis: Vozes, 2003. 3 Oliveira RBG, et al. A entrevista nas pesquisas qualitativas de enfermagem pediátrica. Rev Bras Enferm. 2010 Mar-Abr 63 (2): 300-6. 4 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8 ed. São Paulo: Hucitec, 2004. 5 Angelo M, et al. Família como categoria de análise e campo de investigação em enfermagem. Rev. Esc. Enferm. USP, 2009, 43 (2): 1337-1341. 6 Wright LM, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e intervenção na família. [trad. Sílvia Spada]. 4ª ed., São Paulo: Roca, 2008. 294 p.