IMPORTÂNCIA DO FELINO DOMÉSTICO NA EPIDEMIOLOGIA DA DERMATOFITOSE POR MICROSPORUM CANIS

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IMPORTÂNCIA DO FELINO DOMÉSTICO NA EPIDEMIOLOGIA DA DERMATOFITOSE POR MICROSPORUM CANIS IMPORTANCE OF THE DOMESTIC FELINE IN THE EPIDEMIOLOGY OF DERMATOPHYTOSIS FOR MICROSPORUM CANIS Márcia de Oliveira Nobre 1 ; Mário Carlos Araújo Meireles¹; João Manoel Chapon Cordeiro 2 RESUMO Após o contato doméstico com um felino, cinco componentes de uma mesma família, apresentaram vesículas que progrediram para lesões circulares com bordos regulares em várias partes do corpo. O felino era da raça siâmes, com três meses de idade, aspecto geral bom, sem lesões típicas de dermatofitose, apresentando apenas eritema e uma leve descamação da pele na região ventral e interdigital. Os pacientes eram três do sexo feminino e dois do sexo masculino, com idades de 17 a 56 anos. A forma mais grave ocorreu na paciente de 17 anos com lesões pruriginosas, intenso eritema e formação de vesículas. Foram colhidos escamas de pele (humanos) e pêlos (felino) dos pacientes por meio de raspagem com bisturí estéril. O material foi clarificado em hidróxido de potássio a 10% e montado entre lâmina e lamínula, para o exame microscópio (400X). Ao exame direto foram observados a presença de artroconídios e/ou hifas septadas nas amostras examinadas. O material foi cultivado em tubos inclinado contendo ágar Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol e cicloheximida. Ao final de quatro dias houve crescimento de colônias com características macro e microscópicas de M. canis. Os pacientes humanos foram tratados com fluconazol e o felino com cetoconazol, obtendo êxito em ambos os tratamentos. Palavras-chave: Dermatofitose, felinos, Microsporum canis. 1 Dpto Veterinária Preventiva Faculdade de Veterinária UFPel. 2 Dpto Clínica Veterinária Faculdade de Veterinária UFPel.

85 Importância do felino... ABSTRACT After the domestic contact with a feline, five components of one same family, had presented vesicles that had progressed pair circular injuries with regular edges in some parts of the body. The feline one was of the Siamese race, with three months of age, good general aspect, without typical injuries of dermatophytosis, presenting only erytema and a light scaling off of the skin in the ventral and interdigital region. The patients were three of female sex and two of the male sex, with ages of 17 the 56 years old. The form most serious occurred in the patient of 17 years old with pruritic injuries, with intense erytema and formation of vesicles the patients through scraping with barren bistoury had been harvested scales of skin of all; of the feline scales and coats had been harvested. The material was purified in hydroxide of potassium 10% and assembled between slide and overglass, for the microscopical examination (400 x). They had been observed arthroconidia and hyphas in all the samples of skin. The analysis of the material of the feline observed formation of nodules of arthroconidia in the coats. The material was cultivated in tubes contends Sabouraud Dextrose Agar increased of chloranphenicol and cycloheximide during 4 days the 37ºC. The incubation period the gotten colonies had been after classified specifically as M. canis. The human patients had been dealt with fluconazole and the feline with ketoconazole, getting success both the handlings. Key words: Não achei. INTRODUÇÃO Os dermatófitos são um grupo de fungos taxonomicamente relacionados que tem capacidade de invadir tecido queratinizado, (pele, pêlos e unhas, do homem e dos animais), produzindo dermatofitose, que também é conhecida como tinha, ringworn e dermatofides (RUBIO et al., 1999). A infecção pode ocorrer em qualquer idade, embora os jovens sejam mais comumente afetados que os idosos, assim como pacientes com imunossupressão ou debilitados (CASTRO et al., 1976; MULLER et al., 1985; WAWRZKIEWIICZ et al., 1994). Vários pesquisadores têm demostrado a importância epidemiológica dos animais nas dermatofitoses. Dentre os animais domésticos o gato é o principal disseminador do Microsporum canis. Sendo este dermatófito zoofílico, um dos agentes mais freqüentes das dermatofitoses que acometem pessoas e cães (CARLOTTI et al., 1993; SIESENOP et al., 1996; PINHEIRO et al., 1997; NAKAMURA et al., 1999).

Nobre, M. de O. et al. 86 M. canis é cosmopolita, endêmico em criações de felinos, onde todos os animais jovens podem estar clinicamente afetados e em contraste os gatos adultos portadores podem não apresentar lesões. O diagnóstico inicial é feito através do exame direto de escamas de pele e pêlos, utilizando-se clarificante, hidróxido de potássio (10 a 30%), o qual revela a presença de estruturas de parasitismo, hifas e artroconídios. M. canis cresce bem em ágar Sabouraud com cloranfenicol e cicloheximida, incubado à temperatura ambiente ou a 37ºC, produzindo em uma semana colônia cotonosa branca ou amarelada, com reverso amarelo alaranjado. Microscopicamente apresenta numerosos macroconídeos em forma de fuso com parede celular espessa e eqüinulada, apresentando de 6 a 15 células e apêndice de fixação (LACAZ et al., 1998). Este trabalho teve como objetivos relatar a participação do gato na disseminação da dermatofitose e a importância desta enfermidade como zoonose. MATERIAIS E MÉTODOS Após o contato doméstico com um felino, cinco componentes de uma mesma família apresentaram lesões circulares com descamação, vesículas e eritema em várias partes do corpo. O gato era da raça siamêsa, com três meses de idade, apresentando bom estado geral, sem lesões típicas de dermatofitose. Apresentava apenas, eritema e uma leve descamação da pele na região ventral e interdigital dos membros anteriores e posteriores. Caso 1: M.U.S., paciente do sexo feminino com 17 anos. Apresentou a forma mais grave com várias lesões nas pernas e braços. Os sintomas haviam iniciado há 10 dias com vesículas, intenso prurido que após rompidas evoluíram para placas eritematosas com descamação em formato circular. M.U.S, paciente do sexo feminino com 22 anos. Apresentava vesículas e lesões eritematosas com bordos circinados semelhante ao caso 1, embora com o aparecimento mais tardio e menos intenso, com localização nos braços, pernas e quadris (Caso 2). L.U.S., paciente do sexo masculino com 22 anos. Apresentava lesões circinadas no braço direito (Caso 3). F.U.S. paciente do sexo masculino com 21 anos, desenvolveu lesões arredondadas nos braços e pernas (Caso 4). I.H.S, paciente do sexo feminino com 56 anos de idade. Apresentava lesões circinadas na face e braço direito (Caso 5). Para o diagnóstico laboratorial foram colhidas amostras individuais de cada paciente realizando-se raspagem da borda das lesões com bisturi estéril,

87 Importância do felino... coletando-se escamas e pêlos. O material colhido foi clarificado com hidróxido de potássio a 10% para a análise microscópica. Após, o material foi cultivado em ágar Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol e cicloheximida (Mycobiotic agar 1 ), incubado a 37º em estufa bacteriológica durante sete dias. Para identificação das estruturas microscópicas foi realizado microcultivo (RIDELL, 1950) corado com lactofenol. Os pacientes humanos foram encaminhados a um dermatologista que os medicou com fluconazol (Fluconazol 150 mg) 2 via oral uma vez por semana durante oito semanas e tratamentos tópicos diários foram realizados duas vezes por dia com sabonetes a base de ácido salicílico e enxofre (Salder F) 3 e utilização de creme de nitrato de isoconazol (Icaden) 4. O tratamento do felino foi realizado com formulação aviada em farmácia de manipulação utilizando cetoconazol 5, formulado em comprimidos (15mg) utilizados via oral uma vez ao dia, e em 1 Bacto mycobiotic Agar, Laboratórios Dfico Ltda, Detroit, 2 Michigan, USA. Fluconazol 150 - LIBBS Farmacêutica Ltda. laboratório industrial brasileiro de biologia e síntese Ltda. São Paulo-SP 3 Salder F- I.Q.C. Instituto Químico campinas s/a. Campinas SP 4 Icaden - BERLIMED Divisão da Schering do Brasil - São Paulo - SP 5 Ketoconazole Purifarma São Paulo - SP xampu (2%), utilizado em banhos uma vez por semana, durante 30 dias. RESULTADOS Os exames diretos realizados no material colhido do felino e dos 5 pacientes humanos, visualizados ao microscópio óptico (400X), demonstraram, respectivamente, a presença de bainhas de artroconídios envolvendo os pêlos e fragmentos de hifas em abundância nas escamas de pele. As amostras semeadas em Mycobiotic agar aos sete dias de incubação, demonstraram o crescimento de colônias brancas cotonosas, tendendo a amarelo, com reverso amarelado. No microcultivo observou-se a presença de hifas finas septadas com macroconídios equinulados de paredes espessas, com apêndices de fixação. Os aspectos macroscópico e microscópico dos cultivos permitiram a identificação do M. canis, como o agente etiológico das dermatofitoses estudadas. Os pacientes humanos tratados com fluconazol tiveram regressão da lesão ao redor do 10º dia de tratamento, sendo que ao final de oito semanas, todos apresentaram aspecto normal da pele, com o desaparecimento de todos os sinais clínicos da dermatofitose. O felino tratado com cetoconazol apresentou aos 10 dias de tratamento desaparecimento do eritema, com o reaparecimento de pêlos na região ventral e interdigital e aos 15 dias

Nobre, M. de O. et al. 88 a pele apresentava coloração normal e com crescimento de pêlos. Durante o tratamento ocorreram episódios de naúseas e vômitos. DISCUSSÃO Os casos de microsporose envolvendo felinos e humanos têm sido relatados por vários autores que salientam o sério risco de contaminação pelo M. canis quando do estreito contato entre gatos e humanos (ZAROR et al., 1986; BASSANESI et al., 1993; SIESENOP et al., 1996; SIMPANYA et al., 1996; RUBIO et al, 1999). Como zoonose pode ser transmitida tanto pelo contato direto como indireto e a presença de gatos como animais de companhia, tem demonstrado um aumento do número de relato de casos (CASTRO et al., 1976; THOMAZ et al., 1994; PINHEIRO et al., 1997; NAKAMURA et al., 1999), confirmados pela alta frequência de M. canis isolados de felinos (KATOH et al., 1993; FERREIRO, 1995; SIESENOP et al., 1996; CABANES et al., 1997; ROMANO et al., 1997). SIESENOP et al. (1996) ao estudarem durante 11 anos a prevalência de dermatófitos em cães e gatos com lesões de pele encontraram M. canis em 95,8% dos gatos e 84,1% dos cães. KATOH et al. (1993) trabalhando com um total de 20 gatos, 18 com lesões de pele e dois com pele hígida, isolaram M. canis em todos os casos. As lesões inespecíficas observadas no felino são compatíveis com os relatos de MARCHISIO et al. (1995), que isolaram M. canis em 40% de casos de lesões de pele em gatos e cães, sendo as lesões mais severas menos freqüentes nos felinos do que em cães. Os trabalhos que analisam pele hígida de gatos demonstram ser este um reservatório do M. canis (CASTRO et al., 1976; ZAROR et al., 1986; THOMAS et al., 1989; WILKINSON et al., 1996). As infecções inaparentes são freqüentemente observadas em gatos, o que sugere que o M. canis é primariamente adaptado ao parasitismo nesta espécie de hospedeiro (CASTRO et al., 1976). Pela presença de lesões minúsculas, dificilmente detectáveis, ou mesmo a ausência de lesões, o parasitismo em felino doméstico é investigado quando aparecem casos em humanos ou em outros animais. O sucesso do tratamento já era esperado, pois o fluconazol é um antifúngico triazólico, que tem sido bastante utilizado na terapêutica humana, por ser menos tóxico e melhor absorvido que os demais azóis (ALVES et al., 1999; SOLOMON et al., 1997). A indicação do cetoconazol tem sido comum para o tratamento de cães e gatos com dermatofitose, resultando normalmente em

89 Importância do felino... cura, sendo esperado como efeito colateral a manifestação de problemas gastrointestinais (ARONSON et al., 1992). CONCLUSÃO O convívio doméstico entre felinos e humanos é um fator predisponente para o desenvolvimento de dermatofitose por M. canis em humanos. Para finalizar, ressaltamos a importância dos clínicos veterinários de pequenos animais em esclarecer aos proprietários de gatos o potencial zoonótico desta espécie em relação a dermatofitose, orientando medidas higiênico- sanitárias imprescindíveis para a manutenção da saúde pública. REFERÊNCIAS ALVES, S.H.; LOPES, J.O.; CURY, A.E. Teste de Suscetibilidade aos antifúngicos: Por que, quando e como realizar. site Internet Newslab. Disponível em: 1999, http://www.newslab.com.br/antifung.htm. Acesso em 5 de abril de 1999. ARONSON, A.; AUCOIN, D.P. Medicamentos antimicrobianos In: ETTINGER S.J, Tratado de medicina interna veterinária, 3ed. São Paulo: Manole, 1992, p.402-431. BASSANESI, M.C.; CONCI, L.A.; SOUZA, A.P.; SEVERO L.C.; DE SOUZA A.P. Source of Microsporum canis infections. Anais Brasileiros de Dermatologia, v.68, n.1, p.11-13, 1993. CABANES, F.J.; ABARCA, M.L.; BRAGULAT, M.R. Dermatophytes isolated from domestic animals in Barcelona. Mycopathologia, v.137, n.2, p.107-13, 1997. CARLOTTI, D.N.; URBINI, R. Dermatophytoses in dogs and cats. Pratique Medicale and Chirurgicale de l Animal de Compagnie, v.28, n.2, p.9, 1993. CASTRO, R.M.; FISCHMAN, O.; TALARICO, F.O.S.; LAU, D. Epizootia por Microsporum canis en Perros da Raza San Bernardo. Castellania, v.4, n.11, p.215-217, 1976. FERREIRO, L. Étiopathogénie des infections à microsporum canis. Étude dúne exoprotéase kératinolytique. Paris, 1995, 193p. Tese (Doutorado) Faculté de Medicine de Créteil - Université Paris XII Val de Marne. KATOH, T.; NISHIOKA, K.; SANO, T. A mycological study of pets as the source of human infection due to Microsporum canis. Japanese J. Med. Mycol. v.34, n.3, p.325-330, 1993.

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