RESULTADOS PRELIMINARES NO DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES DA MAMONA NA FITORREMEDIAÇÃO DE SOLO CONTAMINADO POR METAIS PESADOS Ícaro Thiago Andrade Moreira, Carla Marques Paixão, José Ângelo Sebastião Araújo dos Anjos, Luciana Neves Sarno Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências do Mar (GICMAR) UNIFACS/BA Laboratório de Pesquisa Ambiental e Geotecnologias (LAGEO), moreira_ita@yahoo.com.br, paixão_cm@yahoo.com.br, jangello@unifacs.br, lucianasarno@gmail.com RESUMO - A fitorremediação é uma das ferramentas da biotecnologia, que utiliza sistemas vegetais para: degradar; extrair, conter, ou imobilizar contaminantes do solo e da água. O intuito deste trabalho é avaliar em casa de vegetação a eficiência de alguns cultivares da Mamona (Ricinus communis, L.) como fitorremediadores, em solos contaminados por metais pesados da área da empresa Plumbum Ltda., em Santo Amaro da Purificação (BA). Foram coletados 3 pontos de amostras de solo na área de estudo e à 6Km da fábrica, foram homogeneizados, constituindo dois tratamentos de solo: contaminado e controle. Com um mês de desenvolvimento a cultivar Pernambucana demonstra ser menos sensível a contaminação e ao tipo de solo em relação à cultivar Nordestina, devido ao tamanho e ao tempo de crescimento. Após o período de três meses as cultivares serão encaminhadas ao laboratório para analisar teores de Chumbo e Cádmio. A escolha da mamona é de grande relevância, já que após seu cultivo no local, poderá ser reutilizada na produção do biodiesel, que hoje é um dos principais interesses econômicos nacionais. INTRODUÇÃO Os problemas ambientais associados à presença de solos contaminados por metais tóxicos são um dos que mais afetam comunidades locais no Brasil e em todo mundo. Segundo Sánchez (2004), esta problemática começou a ser reconhecida no país durante a década de 1980, porém só na década seguinte que respostas do Poder Público começaram a ser estruturadas. A cidade de Santo Amaro da Purificação, situada no Recôncavo Baiano, onde funcionou a empresa Plumbum Ltda, tinha como principais fontes de contaminação a chaminé e a escória (que foi descartada nos diversos compartimentos ambientais). A escória produto do beneficiamento da liga de chumbo - é constituída por metais tóxicos, sobretudo, Chumbo e Cádmio (ANJOS, 1998). A recuperação de áreas contaminadas no Brasil, geralmente é feita através de processos caros e com riscos de contaminação secundária. Nos últimos anos, passou-se a dar preferência por técnicas in situ que ofereçam menos riscos ao meio ambiente e que sejam mais viáveis economicamente. Neste contexto
temos a Fitorremediação, uma das ferramentas da biotecnologia, que utiliza sistemas vegetais para: degradar; extrair, conter, ou imobilizar contaminantes do solo e da água. O objetivo deste trabalho é avaliar a eficiência das cultivares da mamona na fitorremediação de solos contaminados por metais pesados. MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo O município de Santo Amaro da Purificação localiza-se ao sul do recôncavo baiano, a 73 km de Salvador (Via Ba-026 e Br-324), correspondendo a uma área de 518 km², situando-se a 42 m acima do nível do mar. Foi fundada em 1727 e conforme o censo do IBGE (2006) apresenta população de 58.414 habitantes, dos quais 44.505 vivem no perímetro urbano. A área em estudo possui um clima úmido a subúmido e seco a subúmido com temperatura média anual de 25,4 C, apresentando media máxima de 31 C e mínima de 21,9 C. Pluviosidade anual media variando de 1000 a 1700 mm, tendo os meses de abril a junho como período chuvoso, e nos meses secos precipitação superior a 60 mm e inferior a 100 mm. O relevo caracteriza-se por ser acidentado (ANJOS, 2003). A Plumbum situa-se a noroeste da zona urbana do referido município, a 300 m da margem direita do Rio Subaé. Segundos Anjos (2003), os solos encontrados na área são classificados como vertissolos e cambissolos vérticos, profundos, pouco porosos, com permeabilidade baixa e drenagem restrita. A textura varia de argilosa a muito argilosa. De acordo com Moreira et al (2006), o bioma característico da região da fábrica e a Mata Atlântica, com ecossistema associado de Restinga. A vegetação predominante é do tipo herbácea e arbustiva, com grande freqüência das espécies de Aroeirinha (Schinus terebinthifolius, R.) e Mamona (Ricinus communis, L.). Metodologia de Campo Para iniciar as atividades foram coletadas e acondicionadas as amostras de solos da camada superficial (0-20 cm) que nesta região é representada majoritariamente por vertissolos, originários de folhelhos esverdeados intercalados com calcário do Grupo Santo Amaro - em pontos de amostragem ao redor da Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda. O ponto de controle foi coletado a 6 km de distancia do mesmo município, com o mesmo tipo de solo, porém não contaminado.
Após a coleta, as amostras das diferentes áreas foram encaminhadas à Casa de Vegetação do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde foi realizado o processo de homogeneização - criando dois tipos de tratamento (controle e contaminado). Logo depois deste processo, foram encaminhadas subamostras ao Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Bahia (CEPED) para quantificar os metais pesados presentes no solo. A semeadura foi desenvolvida em casa de vegetação - onde as sementes foram submetidas aos dois tratamentos durante três meses - com os cultivares da mamona: Pernambucana e a Nordestina, fornecidas pelo Instituto de Permacultura da Bahia. Durante este período as plantas serão monitoradas, por meio de parâmetros fisiológicos (crescimento, desenvolvimento e comportamento). Passado os três meses serão avaliados parâmetros morfológicos (cortes anatômicos dos tecidos vegetais) e quantificados os teores de metais pesados ao longo das estruturas (raiz, caule e folhas) para a determinação dos possíveis cultivares eficientes como fitorremediadoras. Na metodologia laboratorial, os cultivares serão encaminhados a Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Bahia (CEPED) onde serão realizadas as análises de teores de metais pesados (Pb Chumbo e Cd - Cádmio), para quantificar o nível de acumulação das espécies nos diferentes tratamentos de solo. As análises químicas serão realizadas de acordo com Malavolta (1997) e SILVA (1997). Neste processo os tecidos vegetais serão secos em estufa de circulação forçada numa temperatura de 65 ºC até peso constante. Os extratos serão levados para leitura em espectrofotômetro de absorção atômica para mensurar a concentração dos metais pesados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Passado 7 dias, os cultivares da pernambucana germinaram primeiro que os da Nordestina tanto no tratamento controle quanto no contaminado, mostrando assim ser menos sensíveis a contaminação do solo (Figs 1 e 4). As folhas apresentaram cores amareladas, provavelmente devido à temperatura úmida. Após 30 dias a cultivar Pernambucana segue se desenvolvendo mais rápido do que a Nordestina (Figs 2, 3, 5 e 6), comprovando a sua menor sensibilidade aos tratamentos, porém ainda não se pode
afirmar que são mais eficientes em relação à fitorremediação, já que ainda não foram realizadas as análises químicas para quantificar os teores de Chumbo e Cádmio no tecido vegetal das plantas. CONCLUSÕES O trabalho segue em andamento e até o momento a cultivar Pernambucana se mostra menos sensível ao tratamento de solo contaminado. Os resultados contribuirão para o desenvolvimento de pesquisas aplicadas não apenas na área da Plumbum, mas também em outras áreas com solos contaminados por metais pesados, já que, o conhecimento da capacidade fitorremediadora de algumas espécies e cultivares, é de suma importância na recuperação de áreas degradadas. Os grão das cultivares da mamona utilizadas na técnica poderão ser coletados utilizados por empresas especializadas no processamento do Biodiesel, garantindo ao futuro projeto na área, sustentabilidade econômica, não só aos órgãos e instituições proponentes, mas também para as comunidades que estarão diretamente ligadas e serão beneficiadas através da ricinocultura. A utilização da Fitorremediação é uma técnica inovadora, expressivamente menos dispendiosa e ecologicamente correta, pode viabilizar o primeiro projeto de recuperação ambiental em Santo Amaro da Purificação (BA) e pode servir como modelo em outras áreas com a mesma problemática. AGRADECIMENTOS Ao Instituto de Permacultura da Bahia, principalmente a coordenadora geral Cinara Sanches e a FAPESB. À FAPESB pela concessão da bolsa de Iniciação científica ao primeiro autor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJOS, J. A. S. A. dos. Estratégias para remediação de um sítio contaminado por metais pesados Estudo de caso. 157p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mineral) Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, São Paulo, 1998. ANJOS, J. A. S. A. dos. Avaliação da eficiência de uma zona alagadiça (wetland) no controle da poluição por metais pesados: o caso da Plumbum em Santo Amaro da Purificação-BA. 227p. Tese (Doutorado em Engenharia Mineral) Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, São Paulo, 2003.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2000: Características da População e dos Domicílios: Resultados do universo. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/default.shtm>. Acesso em 22 de março de 2006. MALAVOLTA, E., et al. Avaliação do Estado Nutricional das Plantas: Aplicações e Perspectivas. 1.ed, 319p. Potafos: Piracicaba, 1997. MOREIRA, I. T. A.. et al. Coleta de solo e de folhas de Aroeirinha (Schinus terebinthifolius, R.) e Mamona (Ricinus communis, L.) para quantificação dos teores de metais pesados, para futura aplicação da técnica de Fitorremediação na área da PLUMBUM LTDA., Santo Amaro da Purificação, BA: ENCOBIO-Encontro de Biólogos, VIII ENCOBIO, Resumos... Feira de Santana, Bahia. 2006. SANCHEZ, Luís Enrique. Revitalização de áreas contaminadas: Remediação e revitalização de áreas contaminadas: Aspectos técnicos, legais e financeiros. 1.ed, v.1, p.80-90. Signus: São Paulo, 2004. SILVA, Fabio Cesar da. (Org.). Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes: Embrapa Producao da Informação, 1.ed, v.1, 320p. Brasilia, 1999. Figura 1 Germinação Pernambucana Figura 4 Germinação Nordestina Figura 2 Desenvolvimento 15 dias Pernambucana Figura 5 Desenvolvimento 15 dias Nordestina
Figura 3 Pernambucana solo contaminado Figura 6 Nordestina solo contaminado