RESOLUÇÃO UGT REIVINDICA DIMENSÃO SOCIAL NO PROGRAMA DE GOVERNO As eleições legislativas, ao darem maioria absoluta ao Partido Socialista, criaram condições de estabilidade e governabilidade. O Governo tem todas as condições para aplicar o seu Programa Eleitoral e cumprir as suas propostas, em diálogo e concertação social. A UGT estará particularmente atenta à área social e à criação de mais e melhores empregos, ao reforço da competitividade com dimensão social e ao combate à pobreza e à exclusão social. A UGT recusa o discurso dos sacrifícios de alguns economistas e empresários, que na prática nada mais significa que a continuidade das políticas que foram rejeitadas pelos portugueses em 20 de Fevereiro. A conjuntura actual, a nível nacional e internacional, aponta que não vivemos um momento de facilidades, mas antes de desafios que há que enfrentar com determinação, tendo em especial atenção o cumprimento da Estratégia de Lisboa. Neste quadro tendo presente os Desafios aos Partidos Políticos Desenvolvimento com Equidade e Solidariedade, aprovado por este Secretariado Nacional em 6/1/2005, a UGT reclama que o Programa de Governo a apresentar à Assembleia da República dê resposta a algumas questões fundamentais. 1. Emprego O Principal Desafio A criação líquida de 150 000 postos de trabalho em 4 anos exige uma calendarização no tempo e que a partir do 2º trimestre de 2005 se inverta o ciclo de evolução do desemprego. No quadro de uma política de emprego e formação exige-se nomeadamente: A revisão urgente dos Programas de Emprego e Formação, em particular os geridos pelo Instituto de Emprego e Formação profissional, com concentração de meios nos programas com maior impacto em termos de empregabilidade e competitividade e redução clara do número global de programas; Aumento acentuado do programa de estágios profissionais com particular atenção à empregabilidade nas pequenas e médias empresas, que contribua para a melhoria da capacidade de gestão e inovação, devendo haver acompanhamento e avaliação permanente de impactos sectoriais e regionais; Desenvolvimento dos programas de qualificação inicial de jovens, particularmente os desenvolvidos no Sistema educativo, nas Escolas 1
Profissionais e na Aprendizagem (privilegiando a alternância escolaempresa); Melhoria da qualidade do emprego com maiores qualificações e menor precariedade; Desenvolvimento de programas obrigatórios de qualificação e requalificação de desempregados, em especial os de longa duração e com direito ao subsídio de desemprego, em estreita articulação com as Associações Sindicais e Empresariais, visando a resposta às necessidades do mercado de trabalho; Aprovação de um Programa Global orientado para a empregabilidade dos jovens licenciados desempregados; A garantia do direito à formação contínua, privilegiando a formação dada na empresa e ligada à melhoria das qualificações profissionais e criando uma rede de oferta e procura formativas que respondam a efectivas necessidades dos trabalhadores e das empresas e para a melhoria da qualidade do emprego; Desenvolvimento de componentes de formação em higiene e segurança no trabalho, inglês e tecnologias da informação e comunicação, em reposta a necessidades dos postos de trabalho, incluindo uma especial atenção a programas de literacia para trabalhadores sem escolaridade obrigatória; Melhoria do funcionamento da Inspecção Geral de Trabalho, com um plano plurianual de recrutamento de quadros, campanhas específicas de fiscalidade e desenvolvimento de campanhas de informação a nível das associações, dos trabalhadores e das empresas; Cumprimento dos Acordos Tripartidos de Higiene e Segurança no Trabalho e de Emprego e Formação, celebrados em 2001. 2. A Aposta no Crescimento Económico Sem crescimento económico significativo não haverá emprego e aproximação aos restantes Países da União Europeia. As políticas públicas são fundamentais para gerar, nos sectores público e privado, um clima favorável ao desenvolvimento o que exige confiança dos agentes económicos e sociais. Esta resultará de políticas consistentes e continuadas e não da constante criação de factos políticos. Que as políticas orçamentais, de rigor e contenção, mas não de crise e recessão, dêem sinais positivos aos agentes económicos e sociais. Para a UGT é fundamental que as políticas públicas e, consequentemente, as orçamentais promovam: 2
O investimento em áreas como a educação, a formação e a inovação, de grande rentabilidade para o futuro; Condições para uma efectiva modernização de serviços públicos fundamentais, como é o caso das Contribuições e Impostos, das Inspecções Económicas e do Trabalho, dos serviços virados para a criação de empresas e dos que respondem a necessidades directas dos cidadãos, evitando burocracias inúteis; Um combate determinado à fraude e fuga fiscais; Políticas sectoriais nas áreas económicas que traduzam efectivas apostas no desenvolvimento de novas áreas de actividade e na consolidação das existentes, nomeadamente por via de uma gestão preventiva das reestruturações empresariais, eliminando múltiplos incentivos às empresas que não tem qualquer consequência em termos de decisão de investimento; Uma política de gestão de efectivos na Administração Pública que promova a rápida satisfação das necessidades, quer por via de mobilidade interna, quer por recrutamento externo; A criação de condições de estabilidade da máquina do Estado, quer em termos de estruturação de Ministérios, quer nas unidades orgânicas fundamentais, pondo termo a uma política sistemática de publicação de leis orgânicas para, por essa via, provocar a queda de todos os dirigentes; Uma política de efectiva melhoria da produtividade dos serviços públicos, com maior responsabilização dos dirigentes, dignificação das funções e aposta na formação continua. 3. A aposta na Legislação e na Protecção Social Em Portugal tem-se muitas vezes confundido reformas com mudanças de legislação que, na prática, nada alteram. A UGT considera prioritárias: A revisão da legislação laboral visando a dinamização da negociação colectiva, o combate à precariedade abusiva, o repor do princípio fundamental de que a legislação fixa mínimos para a negociação e a reposição de direitos individuais e colectivos postos em causa pelo Código de Trabalho; A revogação do diploma sobre o subsídio de doença que visou fundamentalmente poupar dinheiro à custa dos doentes; A discussão sobre a sustentabilidade financeira a longo prazo da Segurança Social, no quadro do cumprimento do Acordo Tripartido celebrado em 2001; A revisão do regime de reformas flexíveis para combater abusos e para favorecer a permanência voluntária na vida activa; 3
A aplicação dos acordos sobre a participação dos parceiros sociais no sistema de segurança social e sobre a acesso à informação; A recuperação das pensões degradadas, privilegiando a situação de idosos e famílias em situação de pobreza. A UGT considera que é importante intensificar o combate à fraude no cálculo das pensões, os regimes de taxa reduzida e o cumprimento da Lei de Bases no que respeito ao cumprimento do financiamento do regime contributivo, mas que nada justifica neste momento o aumento da idade de reforma. 4. Uma Política de Rendimentos Justa e Solidária A política de rendimentos tem um acto significativo na situação económica e social. Deve ser um instrumento de justiça e de solidariedade social. A UGT defende aumentos salariais que tenham em conta a inflação esperada e os aumentos de produtividade. O nosso País apresenta aumentos de produtividade normais de cerca de 2% ao ano. Só em situação de crise económica e de aumento de desemprego se verificam aumentos de produtividade inferiores a estes valores. Os aumentos salariais acordados nas negociações colectivas devem contribuir para uma aproximação gradual aos salários médios comunitários, não prejudicando a competitividade das empresas, nem o emprego. Atenção especial deve ser dada ao salário mínimo que tem vindo a perder peso para os salários médios, ao contrário de todas as orientações internacionais. A UGT defende uma orientação geral para a política de rendimentos que torna mais efectiva negociação colectiva e aproxima os sectores de maiores e menores ganhos de produtividade. Uma política justa de crescimento dos salários tem um efeito positivo sobre o crescimento económico por via do aumento da procura e, consequentemente, sobre o emprego. A UGT rejeita políticas de perda dos salários reais, que não têm qualquer justificação económica e têm um efeito muito negativo sobre o crescimento e o emprego. 5. Negociação Colectiva e Concertação Social para a Mudança O diálogo social a todos os níveis permite uma maior aceitação social para as mudanças e, consequentemente, maior rapidez na sua aplicação. A negociação colectiva e a concertação social são fundamentais para a melhoria da adaptabilidade das empresas, para o aumento da produtividade e para uma melhor conciliação entre a vida profissional e a vida familiar. 4
A UGT defende: Uma negociação colectiva que abranja a generalidade dos sectores e empresas, tanto públicas como privadas; A revisão global dos contratos, permitindo uma melhor resposta ás necessidades dos sectores e empresas; A rápida negociação de um acordo tripartido sobre a competitividade e o emprego, que seja levado à prática durante a legislatura; Um debate tripartido sobre a revisão da legislação laboral; Um debate tripartido sobre os mecanismos de sustentabilidade financeira do regime contributivo da Segurança Social; Uma negociação alargada entre Governos e Sindicatos sobre políticas para a Administração Pública incluindo salários, carreiras, mobilidade e pensões, tendo em atenção a desburocratização e a melhoria da qualidade; Um diálogo do Governo com os Sindicatos do Sector da Educação e da Saúde visando a melhoria da qualidade dos serviços e uma melhor gestão; O reforço dos mecanismos de participação em especial na higiene e segurança no trabalho, na formação e na segurança social; Medidas visando o efectivo respeito pelo Estado de Direito. Lisboa, 3 de Março de 2005 O Secretariado Nacional 5