COMENTÁRIOS UGT. Relatório sobre a Sustentabilidade da Segurança Social - Síntese
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- Maria Lombardi da Costa
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1 COMENTÁRIOS UGT Relatório sobre a Sustentabilidade da Segurança Social - Síntese No âmbito do acordado em sede de Concertação Social, o Governo comprometeu-se a enviar aos Parceiros Sociais um relatório sobre a sustentabilidade da segurança social. O Governo apresentou um Relatório (síntese), como Anexo à Proposta de Orçamento do Estado O documento que nos foi remetido é uma síntese do referido Relatório. Aguardamos a disponibilização do Relatório para nos pronunciarmos de forma mais consistente sobre o seu conteúdo, os cenários apresentados e as opções de medidas e políticas. Do que nos é dado conhecer através desta síntese, considera-se insuficiente a abordagem feita neste Relatório. Para a UGT, a discussão sobre a sustentabilidade da Segurança Social deve ser feita num quadro mais amplo que integre não apenas esta abordagem financeira mas também os impactos em termos de justiça social e de melhoria dos níveis de protecção social. A UGT não pode aceitar que a análise seja feita numa perspectiva meramente económica e desligada de objectivos de política social que necessariamente lhes deverão estar inerentes. Discutir sustentabilidade da segurança social implica discutir formas (ou modelos alternativos) de financiamento da segurança social dado que o financiamento actual recai no factor trabalho, sendo penalizador para o emprego ao sobrecarregar as empresas de maior intensidade mão-deobra. Implica também discutir medidas e mecanismos alternativos e seus impactos, quer em termos financeiros, quer de bem-estar e de protecção social. Importa olhar para as despesas e para as receitas. E, do lado das receitas, importa que: a) O Estado cumpra atempadamente as suas obrigações relativamente à acção social e aos regimes fracamente contributivos ou não contributivos; b) Se promova a evolução do emprego, fortemente condicionada pelas políticas económicas, e onde a imigração terá um contributo importante;
2 c) A evasão contributiva seja duramente combatida. d) Seja estimulada a componente da capitalização, obviamente sem pôr em causa a trave mestra do sistema o regime de repartição. Tal é possível com o reforço do Fundo de Estabilização sendo para tal essencial que se cumpra os dispositivos da Lei de Bases - e dos Fundos de Pensões; e) Se promovam os regimes complementares, especialmente no âmbito da negociação colectiva. Para se assegurar uma adequada participação dos Parceiros Sociais nesta discussão, importa conhecer com maior detalhe a evolução (passada e perspectivada) das receitas e despesas por regime e sub-regime da Segurança. Importa igualmente ter informação mais detalhada sobre as características dos beneficiários (carreiras, salários, pensões médias, etc) dos trabalhadores dependentes e dos trabalhadores independentes. Espera-se que o Relatório contenha tais informações. A Síntese que nos foi enviada integra duas vertentes: a apresentação de cenários de longo prazo e a identificação de medidas com impacto na sustentabilidade de longo prazo, centrandose especialmente no Subsistema Previdencial. O Relatório visa essencialmente apresentar a situação financeira no longo prazo, tendo em vista, conforme previsto na LBSS, a adequação das fontes de financiamento aos diversos subsistemas que compõem o Sistema Público de Segurança Social. No entanto, são avançadas algumas medidas/alternativas de medidas com o objectivo de assegurar a sustentabilidade a longo prazo sem, no entanto, se procurarem desde logo, ajustamentos quanto às fontes de financiamento. OS CENÁRIOS DE BASE O Relatório destaca as principais diferenças demográficas e económicas na base dos cenário de 2002 (que esteve na base das alterações introduzidas à Lei de Bases da Segurança Social) e do actual cenário de 2004, diferenças estas com impactos importantes na situação financeira da segurança social e que, no entender do Governo, justificam esta nova discussão. De entre estas diferenças destacam-se:
3 - em termos demográficos: uma dinâmica de envelhecimento e um decréscimo da população residente mais acentuados, com fortes impactos no Índice de dependência dos idosos; - em termos macroeconómicos: na Base 2004, foi feita uma reavaliação em baixa do PIB e dos salários bem como um forte aumento da taxa de desemprego. Ainda que o relatório refira a forte incerteza destas variáveis, é com preocupação que para o período , o crescimento do PIB passe de uma média de 3.0% para 2.0%(com dois cenários alternativos 1.2% numa perspectiva mais conservadora e 2.4% numa perspectiva mais ambiciosa), que o crescimento da produtividade do trabalho diminua de 2.8% para 2.1%, que o crescimento real dos salários diminua de 2.8% para 2.1% e que a taxa de desemprego passe de 4.0% para 5.5%. (Note-se, ainda no entanto, que no cenário macroeconómico para 2006 não se usaram as previsões OE, mas sim PEC ). De facto, admitir uma revisão em baixa para aquele período significa falta de ambição e de determinação para inverter um ciclo negativo que a economia portuguesa tem atravessado nos últimos anos. Compreendemos a necessidade de recalcular a evolução e os impactos sobre o cenário de 2002 resultantes de um mais prolongado período de desaceleração económica nesta década. (até ). Contudo, preocupa-nos a revisão em baixa dos cenários para que revela uma falta de ambição e que tem necessariamente impactos negativos e profundos sobre as contas da segurança social estimadas para aquele período. PROJECÇÕES DA CONTA DA SEGURANÇA SOCIAL No que respeita as projecções da Conta da Segurança Social, é referido no relatório que a concretizarem-se aqueles pressupostos económicos e demográficos: - seria necessário recorrer ao FEFSS já em 2007 e que o mesmo se esgotaria em conforme cenário/ variantes utilizadas; - que o défice efectivo do subsistema previdencial seria já de 1.5% a 2.3% do PIB em 2020, atingindo os 3.3 a 5.6% em Contudo, entendemos que o Relatório tem algumas imprecisões. De facto, na página 9, o quadro apresenta dados sobre o défice do sistema previdencial na Base 2004 e nas duas
4 variantes apresentadas. Contudo, o défice de 1.8% em 2015 (Base 2004) reporta-se não ao sistema previdencial, mas ao défice efectivo do regime contributivo que inclui para além do regime previdencial, ainda a Protecção à Família e Políticas Activas de Emprego, sendo o financiamento destas duas últimas suportado não apenas pelas contribuições sociais, mas também pela consignação de receitas fiscais e por transferências do Orçamento do Estado. Seria essencial dispormos de informação mais detalhada sobre as 3 componentes do regime contributivo, nomeadamente a parte de despesas a serem suportadas pela Protecção à Família e Políticas Activas de Emprego. MEDIDAS ESTUDADAS PARA O REFORÇO DA SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA Neste ponto, o Relatório equacionou os efeitos de medidas já implementadas, do aumento da idade legal de reforma, da introdução de tectos contributivos e de alterações na transição para a nova forma de cálculo das pensões. Os efeitos analisados reportam-se apenas aos impactos financeiros sobre a segurança social, não existindo qualquer avaliação do impacto sobre os beneficiários e de justiça social. Como já foi referido, não houve qualquer medida na área da diversificação das fontes de financiamento. Também as políticas e medidas que poderiam favorecer a nossa taxa de natalidade não foram minimamente equacionadas neste Relatório. 1. Promoção do envelhecimento activo O regime de antecipação da idade de reforma (DL9/99) foi suspenso por se considerar que o mesmo já não assegurava a neutralidade em termos de custos para a segurança social. Para assegurar tal neutralidade, o relatório conclui pela necessidade de agravamento do factor de penalização de 4.5% para: 6.5% - para acesso à pensão antes dos 60 anos para quem acumula 30 anos de carreira aos 55 anos de idade, admitindo a redução de 1 ano de penalização por cada 3 anos de carreira acima dos 30; 6% - para acesso à pensão depois dos 60 anos para quem acumula 30 anos de carreira aos 55 anos de idade, admitindo a redução de 1 ano de penalização por cada 3 anos de carreira acima dos 30; 5.4% - para acesso à pensão aos 60 anos de idade para quem acumula 35 anos de carreira, com redução de 1 ano de penalização por cada 3 anos de carreira acima dos 35 anos.
5 Ou seja, integra não apenas os anos de antecipação, mas também a carreira contributiva. 2. Aumento da base de incidência contributiva dos Trabalhadores Independentes A elevação de 1 para 1.5 vezes do salário mínimo como base de contribuição para os independentes, permitirá uma receita adicional de 115 milhões de euros em o Governo considera esta alteração como um passo intermédio. A UGT considera fundamental e urgente criar condições que assegurem que a declaração de rendimentos se faça tendo por base rendimentos reais e não escalões obrigatórios para todos, sob pena de penalizar os trabalhadores de baixos rendimentos, especialmente daqueles independentes cujos rendimentos reais se situam muito próximo do Salário mínimo. 3. Combate à fraude e evasão contributiva No Relatório estimam-se ganhos de cerca de 150 milhões de euros em 2005 (notícias da comunicação social apontam já para os 173 milhões. Esta é uma área prioritária. 4. Alteração da Idade de Reforma O relatório apresenta os impactos positivos sobre as contas da segurança social resultantes de um aumento da idade legal da reforma para os 66 anos em 2020 e para os 67 anos e A UGT manifesta-se desde já contra a subida da idade legal de reforma, considerando que esta não é a via adequada pelos impactos negativos sobre o bem-estar das pessoas e sobre o próprio mercado de emprego. 5. Introdução de tectos contributivos Foram usados dois limiares 5 e 12 salários mínimos para o estabelecimento de tectos contributivos. O relatório conclui que o plafonamento contribuirá para um significativo aumento da dívida e para o agravamento da sustentabilidade financeira do sistema.
6 6. Transição para a nova fórmula de cálculo das pensões Neste ponto são avançadas três hipóteses: a) Aplicação imediata, em 2006, das fórmulas de cálculo da pensão, com base na média ponderada dos períodos contributivos antes e depois de 2002, eliminando portanto, de imediato a cláusula de salvaguarda; b) Um cenário idêntico ao da a), considerando, novas taxas de formação de pensão por referência a novos limiares do SMN (até %, até %, superiores a 8 SMN 2%); c) Manutenção da actual clausula de salvaguarda até 2011, aplicando-se posteriormente o cálculo da pensão apenas com base na média ponderada antes e depois de 2002; Obviamente que o cenário mais favorável em termos de sustentabilidade da segurança social, será a hipótese b) que conjuga aplicação imediata da nova fórmula de cálculo com novas taxas de formação de pensão
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