RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.320 - RS (2010/0195682-4) RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : YARA BRASIL FERTILIZANTES S/A ADVOGADO : ROMEU JOÃO REMUZZI E OUTRO(S) RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL EMENTA TRIBUTÁRIO. PIS/COFINS. NÃO-CUMULATIVIDADE. INSUMOS IMPORTADOS. CREDITAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. GATT. ISONOMIA DA MERCADORIA IMPORTADA EM RELAÇÃO AO SIMILAR NACIONAL. OBSERVÂNCIA. 1. Hipótese em que a contribuinte impugna a vedação do art. 3º, 3º, I, da Lei 10.637/2002 e do art. 3º, 3º, I, da Lei 10.833/2003 ao creditamento de PIS/Cofins em relação a insumos importados. Argumenta que isso implica tratamento diferenciado para o similar trazido do exterior, o que é vedado nos termos do Acordo do GATT. 2. Não se está discutindo o PIS/Cofins sobre importações, previsto pela Lei 10.865/2004, que permite o creditamento consoante prevê seu art. 15. O debate refere-se estritamente às contribuições incidentes sobre a receita das empresas (Lei 10.637/2002 e Lei 10.833/2003) e a pretensão de creditar-se em relação aos insumos, independentemente de recolhimento anterior desses tributos. 3. O Judiciário brasileiro reconhece a necessidade de tratamento tributário isonômico em relação ao similar importado, conforme inúmeros precedentes relativos a pescados (Súmulas 71/STJ e 575/STF, por exemplo). Ocorre que, no presente caso, inexiste discriminação. 4. O insumo importado não se submete à tributação federal, vale dizer, não incide PIS/Cofins sobre o faturamento do exportador estabelecido, evidentemente, em outro país. O insumo nacional, diferentemente, é onerado por essas contribuições. Não há ofensa à isonomia ou à razoabilidade quando o legislador trata, de maneira diversa, situações que são, realmente, distintas. 5. No caso das importações dos pescados, que deram origem às Súmulas 71/STJ e 575/STF, o similar nacional não estava sujeito ao ICMS, mas os Estados pretendiam tributar a entrada do produto estrangeiro. O caso aqui é inverso: o produto estrangeiro é que se beneficia da não-incidência das contribuições, enquanto o similar nacional sujeita-se à tributação. Permitir o creditamento pretendido pela contribuinte seria ampliar a distinção em favor do importado, o que seria injusto. 6. Ademais, quando o contribuinte adquire insumo nacional que não se submeteu à tributação, não pode se creditar, conforme a vedação prevista no art. 3º, 2º, II, da Lei 10.637/2002 e no art. 3º, 2º, II, da Lei 10.833/2003 (incluídos pela Lei 10.865/2004). Seria absolutamente antiisonômico permitir que a aquisição da mercadoria importada tivesse tratamento mais benéfico, como pretende a contribuinte. Também por esse enfoque, a aplicação da legislação federal garante a isonomia. 7. Afasta-se o argumento de que a Receita Federal admitiria o creditamento de Documento: 1059847 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/06/2011 Página 1 de 7
PIS/Cofins em caso de insumos nacionais não tributados, pois as respostas a consultas suscitadas pelas partes foram proferidas antes do advento da Lei 10.865/2004, que expressamente vedou essa possibilidade. Atualmente não há tratamento diferenciado, já que todo insumo que não se submeteu à tributação, seja nacional ou importado, impede o creditamento pelo adquirente. 8. Recurso Especial não provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Cesar Asfor Rocha, Castro Meira e Humberto Martins (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 24 de maio de 2011(data do julgamento). MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator Documento: 1059847 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/06/2011 Página 2 de 7
RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.320 - RS (2010/0195682-4) RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : YARA BRASIL FERTILIZANTES S/A ADVOGADO : ROMEU JOÃO REMUZZI E OUTRO(S) RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Trata-se de Recurso Especial interposto, com fundamento no art. 105, III, "a", da Constituição da República, contra acórdão assim ementado (fl. 3.843): TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. PIS. COFINS. NÃO-CUMULATIVIDADE. CF, ART. 195, 12. CREDITAMENTO. INSUMOS PROVENIENTES DO EXTERIOR. IMPOSSIBILIDADE. 1 - O princípio da não-cumulatividade das contribuições sociais encontra amparo constitucional, no artigo 195, 12 da CF, introduzido por meio da EC nº 42/2003. 2 - A sistemática da não-cumulatividade estabelecida nas Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, conferindo plena eficácia ao preceituado no GATT, não contempla os insumos adquiridos no exterior. A recorrente aponta violação do art. 98 do CTN e do art. 3º, 2º, do Acordo do GATT, pois o similar importado deve ter idêntico tratamento em relação ao similar nacional (fl. 3.880). É o relatório. Documento: 1059847 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/06/2011 Página 3 de 7
RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.320 - RS (2010/0195682-4) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Discute-se o creditamento de PIS/Cofins em relação a insumos importados, o que é rejeitado pela Receita Federal, nos termos do art. 3º, 3º, I, da Lei 10.637/2002 e do art. 3º, 3º, I, da Lei 10.833/2003. É importante ressaltar, desde já, que não se está discutindo o PIS/Cofins sobre importações, previsto pela Lei 10.865/2004, que permite o creditamento consoante seu art. 15. O debate refere-se estritamente ao PIS/Cofins incidente sobre a receita das empresas (Lei 10.637/2002 e Lei 10.833/2003) e a pretensão de creditar-se em relação aos insumos, independentemente de recolhimento anterior dessas contribuições. A contribuinte argumenta que o entendimento do Fisco, contrário ao creditamento, implica tratamento diferenciado para o similar trazido do exterior, o que é vedado conforme o Acordo do GATT, entre outros. A inobservância do tratado internacional implicaria ofensa ao art. 98 do CTN. O Judiciário brasileiro reconhece a necessidade de tratamento tributário isonômico em relação ao similar importado, conforme inúmeros precedentes relativos a pescados (Súmulas 71/STJ e 575/STF, por exemplo). Ocorre que, no presente caso, não há qualquer discriminação. O insumo importado não se submete à tributação federal, vale dizer, não incide PIS/Cofins sobre o faturamento do exportador estabelecido, evidentemente, em outro país. O insumo nacional, diferentemente, é onerado por essas contribuições. Inexiste ofensa à isonomia ou à razoabilidade quando o legislador trata de maneira diferente situações que são, efetivamente, diversas. Ora, se o insumo importado não é onerado pelo PIS/Cofins, não há fundamento para querer equipará-lo ao nacional, que se submete às exações. É isso que faz a lei: trata diferentemente situações distintas: Documento: 1059847 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/06/2011 Página 4 de 7
Lei 10.637/2002 (PIS) art. 3º, 3º O direito ao crédito aplica-se, exclusivamente, em relação: I - aos bens e serviços adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País; Lei 10.833/2003 (Cofins), art. 3º, 3º O direito ao crédito aplica-se, exclusivamente, em relação: I - aos bens e serviços adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País; Note-se que, no caso das importações dos pescados, que deram origem às Súmulas 71/STJ e 575/STF, o similar nacional não se submetia ao ICMS, mas os Estados pretendiam tributar a entrada do produto estrangeiro. O caso aqui é inverso: o produto estrangeiro é que se beneficia da não-incidência das contribuições, enquanto o similar nacional sujeita-se à tributação. Permitir o creditamento pretendido pela contribuinte seria ampliar a distinção em favor do importado, o que seria absolutamente injusto. A recorrente tem razão ao apontar peculiaridades na sistemática de não-cumulatividade aplicada a essas contribuições, mas erra em sua conclusão. Diversamente do que ocorre com o ICMS e com o IPI, a legislação tributária não se refere aos valores recolhidos anteriormente, para fins do creditamento. O cálculo, no caso do PIS/Cofins, é feito pela aplicação de determinadas alíquotas sobre os valores dos produtos adquiridos. Entretanto, o legislador nacional deixou claro que inexiste direito ao creditamento em caso de insumo nacional não sujeito às contribuições: Lei 10.637/2002 (PIS) art. 3º, 2º Não dará direito a crédito o valor: II - da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, inclusive no caso de isenção, esse último quando revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela contribuição. Documento: 1059847 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/06/2011 Página 5 de 7
Lei 10.833/2003 (Cofins), art. 3º, 2º Não dará direito a crédito o valor: II - da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, inclusive no caso de isenção, esse último quando revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela contribuição. Observe-se, portanto, que o contribuinte, ao adquirir produto nacional que não se sujeitou à tributação, não poderá se creditar. Seria absolutamente antiisonômico permitir que a aquisição da mercadoria importada tivesse tratamento mais benéfico, como pretende a contribuinte. Também por esse enfoque, a aplicação da legislação federal garante a isonomia. Saliento que esses dispositivos legais (art. 3º, 2º, II, da Lei 10.637/2002 e art. 3º, 2º, II, da Lei 10.833/2003) foram incluídos pela Lei 10.865, de 30.4.2004. Faço essa observação para rejeitar o argumento da contribuinte ao suscitar manifestações da Receita Federal anteriores a essa data, que admitiam o creditamento de PIS/Cofins em caso de insumos não tributados. De fato, as respostas às consultas citadas reiteradamente pela recorrente foram elaboradas em janeiro e fevereiro de 2004 (fl. 7), antes da inovação legislativa. Para que fique claro: atualmente não há tratamento diferenciado, já que todo o insumo que não se submeteu à tributação, seja nacional ou importado, impede o creditamento pelo adquirente. do CTN. Por essas razões, inexiste ofensa ao Acordo do GATT e, portanto, ao art. 98 Diante do exposto, nego provimento ao Recurso Especial. É como voto. Documento: 1059847 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/06/2011 Página 6 de 7
CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA Número Registro: 2010/0195682-4 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.218.320 / RS Número Origem: 200671000016579 PAUTA: 10/05/2011 JULGADO: 24/05/2011 Relator Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. JOSÉ FLAUBERT MACHADO ARAÚJO Secretária Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI AUTUAÇÃO RECORRENTE : YARA BRASIL FERTILIZANTES S/A ADVOGADO : ROMEU JOÃO REMUZZI E OUTRO(S) RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Contribuições - Contribuições Sociais - PIS CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Cesar Asfor Rocha, Castro Meira e Humberto Martins (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: 1059847 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/06/2011 Página 7 de 7