Marcelo Gonçalves Depto. Medicna Social da UFRGS Maria Helena Rigatto Depto. Medicina Interna / Infectologia da PUCRS

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Transcrição:

Medicina do Viajante Marcelo Gonçalves Depto. Medicna Social da UFRGS Maria Helena Rigatto Depto. Medicina Interna / Infectologia da PUCRS

Globalização Medicina do viajante, qual interesse? Brasil: grandes eventos esportivos Copa do Mundo 2014 Olimpíadas: Rio 2016 Qualificar a prática na APS e SUS Maior integralidade e acesso à população

Roteiro da apresentação Epidemiologia Consulta pré viagem Recomendações e vacinas Consulta pós viagem Problemas de saúde frequentes Principais sites

Epidemiologia De 100.000 viajantes para países de média e baixa renda: 50.000 terão algum tipo de problema de saúde ao longo da viagem 8.000 procurarão um médico 1.100 estarão incapacitados de retornar às atividades laborais no retorno da viagem 300 serão admitidos no hospital durante ou logo após retornarem 50 necessitarão de transporte aéreo 01 morrerá Spira. A Preparing the traveller Lancet 2003. 361: 1368-81

Epidemiologia As patologias mais prevalentes são: trato gastrointestinal (30% dos casos) doença febril aguda doenças dermatológicas trato respiratório J Travel Med 2005 Sep-Oct;12(5): 248-53 Travel and Migration associated infectious diseases morbidity in Europe, 2008.

Epidemiologia Brasil: 33,7% dos brasileiros realizarão uma viagem nos próximos 6 meses 69,6% para território nacional e 28,7% para fora do país Ministério do Turismo / Brasil, 2011 Aumento crescente de turistas estrangeiros: 5,16 milhões em 2010 (7,8% a mais em relação a 2009)

Epidemiologia Vacinação indicada para 86,5% dos que procuraram o serviço do HC-USP, sendo as principais: febre tifóide (55,7%) difteria-tétano (54,1%) hepatite A (46,1%) hepatite B (44,2%) febre amarela (24,7%)

Epidemiologia Na Europa, em 2008, dos viajantes que retornaram doentes, 45,4% haviam recebido aconselhamento pré-viagem J Travel Med 2005 Sep-Oct;12(5): 248-53 No Brasil, estudo mostrou que apenas 5% dos brasileiros procuraram aconselhamento médico para viagem.(9) Ariza L et cols. J.Travel Med Infect Dis. 2007

Consulta pré viagem Aspectos fundamentais: verificar as condições de saúde do viajante conhecer o itinerário da viagem avaliar necessidade de imunizações recomendações gerais e específicas Spira. A Preparing the traveller Lancet 2003. 361: 1368-81

Consulta pré viagem Saúde do viajante Perguntar: gestação, alergias, patologias prévias e atuais além de uso crônico de medicações Gestantes: segundo trimestre. Cias. aéreas proíbem nas 4 últimas semanas Medicamentos: quantidade, receita médica e embalagem original (alfândegas) Contato de clínicas de saúde nos locais da viagem

Consulta pré viagem Itinerário de Viagem Meio de transporte Escalas e tempo de permanência em cada localidade Condições climáticas e de acomodação (hotéis com ar-condicionado, acampamentos) Estilo de viagem (rural x urbana, turismo x trabalho) Atividades planejadas (por ex.: safari, escaladas, mergulho)

Consulta pré viagem Itinerário de Viagem: Dados fornecidos na consulta ou no agendamento, o que facilita a pesquisa prévia de doenças endêmicas locais e surtos A característica da viagem e seu roteiro são fundamentais para adequar as orientações e definir necessidade de vacinas e profilaxias.

Consulta pré viagem Imunizações: Destino, risco de adquirir a doença e das condições clínicas do viajante (alergias, gestação, imunossupressão) As vacinas podem ser administradas simultaneamente VVA parenterais, se não administradas simultaneamente, realizar intervalo de 4 semanas entre as doses Momento importante para atualização do calendário vacinal

Consulta pré viagem Imunizações: Vacinas para adultos podem ser divididas em 3 categorias: Rotina (MMR, DT ou DPTa e influenza) Requeridas para viagem Recomendadas Clin Infect Dis.(2006) 43 (12)

Imunização: Febre Amarela Deve ser administrada 10 dias antes da saída Imunidade por 10 anos* Contraindicações: Gravidez Imunossupressão Alergia ao ovo

Imunização: Poliomielite Para adultos sempre VOP Indicada a vacinação pelo risco de reintrodução da doença no Brasil

Imunização: Hepatite A 3/1000 por mês: aumenta 7x risco em viagens de aventura 2 semanas após a 1ª dose: 94% formam anticorpos protetores Checar sorologia

Imunização: Hepatite B Baixo risco pela viagem Proteção a longo prazo

Imunização: Raiva Risco de 2% de mordida por animal com potencial de transmissão: sempre fatal Pré exposição, apenas na impossibilidade de chegar a serviço de saúde

Imunização: Febre Tifóide Vacina parenteral (dose única) ou oral atenuada (dias 1,3,5,7) Baixa proteção (50-80%) Não protege contra Salmonella paratyphi

Imunização: Meningite Tipo A + C: polissacarídica Tetravalente (A + C + W135 + Y): conjugada Tipo B: sem vacina Maior risco no inverno e estações secas

Imunização: Encefalite Japonesa Permanecendo em área rural por 3 a 4 semanas Abril a outubro Proteção de 91%

Imunização: Cólera Eficácia de 50% Duração da imunidade: maior nos 1 os 6 meses Não evita a infecção assintomática (El Tor)

Água e Alimentos Recomendações Diarreia em 30 a 60% dos viajantes E.coli, Campylobacter, Shiguella, Salmonella Rotavirus, hepatites A e E Protozoários e Helmintos Prevenção Medidas de Segurança Hipoclorito de Sódio Tratamento Sais de reidratação oral Loperamida Ciprofloxacina no sudoeste asiático resistência de até 77% do Campylobacter- uso de Azitromicina 1g

Recomendações Doenças transmitidas por insetos Repelentes Roupas Mosquiteiro Horários do amanhecer e entardecer

Recomendações Doenças transmitidas por insetos Febre Amarela: vacina Dengue: sinais de alerta Outras: Chikungunya, Tripanossomíase, doenças transmitidas por carrapatos

Recomendações Malária Prevenir morte por P. falciparum Viagens mais longas que 7-10 dias Sem acesso a serviço de saúde em 24hs Doxiciclina 1 dia antes até 4 semanas após Diminui a gravidade, não evita a doença

Recomendações Acidentes com animais peçonhentos Lavar o local Evitar garrote ou colocação de material sobre a lesão Procurar imediatamente serviço de saúde. Se possível, levar o animal ou registrar com fotografia

Recomendações Altitude >2500m e/ou subida rápida N/V, anorexia, fadiga, insônia Edema pulmonar e cerebral Prevenção: 48hs para aclimatização Evitar álcool e hipnóticos Acetazolamida Mergulho

Recomendações Cuidados com: Exposição solar: protetor solar ( FPS 15) Mudanças de temperatura e fuso-horário Kit para primeiro-socorros Viagens aéreas longas distâncias Acidentes automobilísticos Violência urbana local Exposição sexual desprotegida

Consulta pós viagem Considerar o roteiro, atividades realizadas, vacinas prévias, doenças endêmicas do local e período de incubação das doenças Doenças virais e bacterianas costumam ter período de incubação mais curto (1-2 semanas) Período de incubação prolongado (meses), pode ocorrer com parasitoses intestinais, hepatites virais, malária e tuberculose

Consulta pós viagem Pacientes com febre e que retornaram de regiões endêmicas para malária devem obrigatoriamente realizar teste da gota espessa Exames específicos devem ser realizados conforme a clínica: EPF e cultura de fezes, pesquisa de BAAR e sorologias (dengue, leptospirose, hepatites, HIV, etc) Referenciar para o especialista focal casos com dificuldade diagnóstica e terapêutica

Boa viagem! marcelorog@gmail.com