UM OLHAR AGROECOLÓGICO SOBRE A PRODUÇÃO DE BANANA NO QUILOMBO IVAPORUNDUVA(SP)

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Transcrição:

UM OLHAR AGROECOLÓGICO SOBRE A PRODUÇÃO DE BANANA NO QUILOMBO IVAPORUNDUVA(SP) Nathan Pereira Dourado¹ ¹ Discente Geografia UNIFAL-MG. npdourado@hotmail.com 838 Resumo Este trabalho abordou a produção de banana, no Quilombo Ivaporunduva, localizado às margens do Rio Ribeira do Iguape, no Município de Eldorado - Sul do Estado de São Paulo. O trabalho consistiu num estudo de caso durante as atividades de campo realizadas em dezembro de 2013 na disciplina de Avaliação de Impacto Ambiental do curso de Ciências Biológicas Bacharelado da Universidade Federal de Alfenas UNIFAL-MG. Os dados foram obtidos pela observação do processo produtivo e entrevistas informais com moradores e lideranças quilombolas. A partir dos princípios e conceitos da agroecologia, permitiu identificar os principais aspectos ambientais, econômicos e sociais do processo produtivo. Palavras-chave: Desenvolvimento Rural Sustentável, Vale do Ribeira, Comunidades Quilombolas, Bananicultura. Introdução O Vale do Ribeira está localizado no sudeste do Estado de São Paulo e no leste do Estado do Paraná, abrangendo a Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e o Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá. A região abriga uma das maiores concentrações de comunidades remanescentes de quilombos no Brasil. Essas comunidades se caracterizam pelo forte vinculo com o ambiente que habitam e vivem basicamente da produção de subsistência, extrativismo e atividades agrícolas, baseadas no uso comum de suas terras e mão-de-obra familiar e coletiva. A região se destaca também pela riqueza de recursos naturais e da biodiversidade, inserida num dos maiores fragmentos contínuos de Mata Atlântica do país. No entanto, apresenta uma situação preocupante do ponto de vista socioambiental, com piores indicadores de desenvolvimento humano no estado de São Paulo (Santos, 2008). Isso aponta para a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento para região.

839 Fig.1 Área do Alto e Médio vale do Ribeira A região e suas características naturais encontram-se bastante modificadas, principalmente no que se refere ao desmatamento, fora das áreas de preservação, em que a floresta acaba sendo substituída por pastagens ou espécies exóticas que homogeneízam a vegetação. (Theodorovicz, 2007). Em consonância com o art. 225 da Constituição Federal de 1988, que preceitua o seguinte: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações. O geografo Ab Saber, (2003) defende que todos têm uma parcela de responsabilidade permanente, no sentido da utilização não-predatória do meio ambiente. E nesse sentido os povos indígenas e quilombolas merecem destaque, pois além de possuírem uma relação de respeito com o meio são dotados de conhecimentos importantes sobre o ambiente natural e os meios de utilizá-los, com base no saber tradicional (Altieri, 2012). Assim, sem dúvida, as comunidades quilombolas exercem papel fundamental na conservação do patrimônio natural do Vale do Ribeira, com a exploração sustentável de seus territórios. A comunidade Quilombola de Ivaporunduva, considerada a mais antiga do Vale do Ribeira, cuja origem remonta, no mínimo, a 1630, é constituída por cerca de 100 famílias, perfazendo em torno de 400 habitantes. O cultivo de banana foi introduzido a partir de 1980 e consolidou-se como atividade econômica, sendo a principal fonte de renda para aquisição de bens e utensílios não produzidos localmente. (Pedroso, 2009)

840 Fig. 2. Vista do quilombo Ivaporunduva as margens do Rio Ribeira de Iguape. Objetivo Analisar a produção de banana no Quilombo Ivaporunduva (SP) por meio da perspectiva da agroecologia, descrever e avaliar sob diferentes aspectos ecológico econômico e social. Fundamentação Teórica A banana é a segunda frutífera mais cultivada no Brasil, sendo superada apenas, em volume, pela laranja. O Brasil é o maior consumidor mundial e o segundo maior produtor (SEBRAE, 2008). Por isso, a banana apresenta grande importância econômica para o país, com cultivos presentes em quase todos os municípios. A região do Vale do Ribeira detém uma das maiores produções de banana do Brasil, predominando a produção convencional, com uso de agrotóxicos e adubos químicos. (Pedroso, 2009) Os solos predominantes na região são argilosos, bastante porosos com boa reatividade química, isso significa que tem boa capacidade hídrica e facilidade na retenção e fixação de nutrientes (adubação). Condições ideais para cultivo de banana. No entanto, são bastante suscetíveis à erosão induzida, se forem arados e ficarem desprotegidos pela cobertura vegetal (Theodorovicz, 2007). O cultivo de banana na região pode gerar impactos negativos, como a contaminação de água pelas altas cargas de agrotóxicos. Segundo moradores da

região, são frequentes os casos de problemas de saúde relacionados ao consumo de água contaminada. Outro problema é a falta de cuidados dos trabalhadores com o manuseio e armazenamento dos agrotóxicos. A monocultura de banana favorece e intensifica a proliferação de novas pragas, gerando uma dependência e uso cada vez maior de agrotóxicos. Cabe afirmar que as bases teóricas e metodológicas que sustentaram os atuais modelos de agricultura e desenvolvimento rural do país são fundamentalmente incapazes de promover um desenvolvimento sustentável. Além dos impactos ambientais, como desmatamento e degradação dos recursos naturais, o pacote tecnológico da Revolução Verde não se adequaram as condições agrícolas, ecológicas e socioeconômicas dos pequenos agricultores (Altieri, 2012). 841 Em resposta aos acentuados problemas causados pela agricultura convencional com base na monocultura, uso de insumos químicos, dependência energética, mecanização, transgênicos e etc.. O qualificativo sustentável também tem sido associado à agricultura, a fim de obter novos modelos de produção estáveis, baseados em princípios ecológicos e éticos. Como proposta para uma produção agrícola, menos impactante ao meio ambiente e socialmente justa, surge a agroecologia, cuja prática promove processos ecológicos para auto-regulação do agroecossistema, com resultados e benefícios socioeconômicos aos agricultores. A agroecologia como um campo novo de conhecimento, vem se afirmando como opção modeladora de um desenvolvimento rural sustentável, fornecendo uma série de conceitos, princípios e metodologias que orientam a construção de modelos e processos produtivos sustentáveis. (Altieri, 2012) Metodologia O trabalho foi realizado por meio de um estudo de caso, durante as atividades de campo da disciplina Avaliação de Impacto Ambiental ministrada no curso de Ciências Biológicas Bacharelado da Universidade Federal de Alfenas UNIFAL-MG. O estudo de caso é uma investigação empírica que busca estudar um fenômeno dentro do seu contexto. Devendo se beneficiar do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise de dados (Yin, 2008). Os dados foram obtidos por meio da observação do processo produtivo e de entrevistas informais com os membros da comunidade e lideranças quilombolas, com a interpretação guiada por um esquema teórico que analisa o processo de produção

de banana, as práticas de manejo e de comercialização em suas múltiplas dimensões: ecológico, social e econômico. Resultados e Discussões A comunidade, atualmente está organizada através da Associação Quilombo de Ivaporunduva, uma associação civil de base comunitária, sem fins lucrativos, fundada em 1994. A associação desenvolve ações voltadas para manutenção da identidade cultural, liderança politica em movimentos regionais e o desenvolvimento sustentável das comunidades quilombolas da região. 842 O cultivo de banana sempre esteve presente na comunidade, sendo eventualmente comercializada nas cidades de Iporanga e Eldorado. A partir da construção da rodovia a produção cresceu gradativamente e passou a representar a principal atividade econômica da comunidade. A área total ocupada com a cultura é de aproximadamente 84 hectares, que corresponde a cerca de 3% do território quilombola (Pedroso, 2008). O uso de agrotóxicos nas plantações era muito restrito, já que o alto custo dos insumos agrícolas e o baixo rendimento econômico, não apresentava uma relação custo/beneficio atraente. Assim a opção pela adoção de um sistema produtivo com base na agroecologia e a procura pela certificação orgânica, partiu dos próprios produtores da comunidade que buscaram uma alternativa ao mercado tradicional, com custos de produção elevado e o baixo valor agregado, assim como a preocupação com a baixa conservação dos recursos naturais e a exposição aos agrotóxicos e adubos químicos. Como a maioria das práticas de manejo são possíveis de executar com trabalho manual, os tratos culturais desde o plantio até a colheita são realizados sem a utilização de implementos agrícolas de grande porte, como grades, arados e roçadeiras. O uso de equipamentos motorizados restringe-se ao transporte da produção e a climatização das frutas. Isso gera independência de externalidades da agricultura industrializada, reduzindo os impactos ambientais. Além de diminuir a demanda por energia e insumos externos, os tratos culturais no cultivo de banana, passaram a ter uma preocupação maior com o equilíbrio ecológico, como exemplo, podemos citar a manutenção permanente da cobertura vegetal, como medida de conservação do solo, pois repõe nutrientes ao solo, a partir

da decomposição da matéria orgânica, e mantém a capacidade produtiva do solo, além de evitar a erosão e evaporação. Até 2002 a venda da produção era feita a atravessadores. A partir do Projeto de Gestão Ambiental Participativa e Desenvolvimento Econômico no Quilombo de Ivaporunduva, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e financiamento do PDA, do Ministério do Meio Ambiente, foi obtida a infraestrutura necessária para a comercialização direta pela Associação, aperfeiçoamento e certificação orgânica da produção. Dessa maneira, a banana passou a ser comercializada pela própria comunidade em mercados preferencias, mais rentáveis e vantajosos economicamente. Tendo como exemplo o fornecimento para merenda escolar em municípios de São Paulo. 843 A agregação de valor ocorreu pela certificação orgânica da banana, que foi viabilizada, principalmente, em função das práticas ambientalmente corretas de manejo, adotadas pelos produtores desde que a cultura foi estabelecida na comunidade. E a não utilização de produtos sintéticos na cadeia de produção, prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Com isso a banana passou a ser comercializada em nichos de mercado diferenciados, que garantem uma independência econômica e até política da comunidade. Referências bibliográficas AB SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. ALTIERI, Miguel. Agroecologia: bases cientificas para uma agricultura sustentável. ed. Ver. Ampl. São Paulo: Expressão Popular, AS-PTA 2012. 400p. BRASIL. Constituição Federal. Brasilia, 1988. PEDROSO, Fabio Graf. As experiências do desenvolvimento sustentável do quilombo de Ivaporunduva: Um estudo de caso. São Carlos: UFSCar, 2009. SANTOS, Katia M. Pacheco; Agenda socioambiental de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. - Instituto Socioambiental, 2008. SEBRAE, Série estudos de mercado Banana, relatório completo. São Paulo, 2008. THEODOROVICZ, Antonio. Atlas geoambiental: subsídios ao planejamento territorial e à gestão ambiental da bacia hidrográfica do rio Ribeira do Iguape. 2. ed. rev. São Paulo: CPRM, 2007. YIN, R K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2006. 205 p.