7.2 Por onde começar a Educação Intertranscultural?

Documentos relacionados
Habilidades Cognitivas. Prof (a) Responsável: Maria Francisca Vilas Boas Leffer

1 o Semestre. PEDAGOGIA Descrições das disciplinas. Práticas Educacionais na 1ª Infância com crianças de 0 a 3 anos. Oficina de Artes Visuais

Apresentação da Proposta Político-Pedagógica do Curso e Grade de Disciplinas

Educação, articulação e complexidade por Edgar Morin. Elza Antonia Spagnol Vanin*

Ementas curso de Pedagogia matriz

Pensando a Didática sob a perspectiva humanizadora

Ministério da Educação UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ. Câmpus Ponta Grossa PLANO DE ENSINO

SOLER, Reinaldo. Educação física inclusiva na escola: em busca de uma escola plural. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO - LICENCIATURA EM ENSINO RELIGIOSO MODALIDADE A DISTÂNCIA. 1º Semestre

AÇÕES COMPARTILHADAS NA ESCOLA

Refletir e orientar educadores sobre aspectos filosóficos na prática pedagógica na escola.

Curso: Pedagogia Componente Curricular: Fundamentos da Interdisciplinaridade

PERCURSO FORMATIVO CURRÍCULO PAULISTA

Posicionamento: Centro de Referências em Educação Integral

Material Para Concurso

CURSO DE PEDAGOGIA EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS BRUSQUE (SC) 2015

Currículos e Programas. Profª. Luciana Eliza dos Santos

09/2011. Formação de Educadores. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

DIVERSIDADE CULTURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES NA REGIÃO DO SEMIÁRIDO

Avaliação qualitativa Portfólios de aprendizagem

Competências gerais. Princípios e valores orientadores do currículo. Competências gerais

PROGRAMAÇÃO DO ENCONTRO DE FORMAÇÃO* Transformando os Ambientes para a Aprendizagem. Juan Carlos Melo Hernández Bogotá - Colômbia

Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil. Elisabete Martins da Fonseca

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PORTARIA Nº40, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2018

Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio

PROCEDIMENTOS DE ENSINO QUE FACILITAM A APRENDIZAGEM DOS ESTUDANTES. Márcia Maria Gurgel Ribeiro DEPED/PPGEd/CCSA

Didática: diálogos com a prática educativa

Currículo, Desenvolvimento Humano e Diversidade: desafios e possibilidades.

PORTARIA Nº 29, DE 20 DE DEZEMBRO DE 2017

Indisciplina na Escola: Desafio para a Escola e para a Família

10º Congreso Argentino y 5º Latinoamericano de Educación Física y Ciencias PIBID: O SUBPROJETO CULTURA ESPORTIVA DA ESCOLA

PERFIL DO ALUNO CONHECIMENTOS. CAPACIDADES. ATITUDES.

Aula 2. Módulo I Educação Ambiental e Sustentabilidade. Curso de Atualização em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Jaqueline Figuerêdo Rosa

O CONSTRUTIVISMO NA SALA DE AULA PROFA. DRA. PATRICIA COLAVITTI BRAGA DISTASSI - DB CONSULTORIA EDUCACIONAL

METODOLOGIA E PRÁTICA do ENSINO PARA AS SÉRIES INICIAIS do ENSINO FUNDAMENTAL. As Metodologias de Ensino como elementos do processo educativo

VAMOS PLANEJAR! Volume 1. BNCC - Colocando o pensar e o agir da criança no centro do processo educativo.

VAMOS PLANEJAR! Volume 1. BNCC - Colocando o pensar e o agir da criança no centro do processo educativo.

Agente de transformação social Orientador do desenvolvimento sócio-cognitivo do estudante Paradigma de conduta sócio-política

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

OBJETIVOS DE ENSINO- APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA. Docente: Dra. Eduarda Maria Schneider

DE OLHO NA BNCC. Volume 1

CURRÍCULO centrado em competências básicas da

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DIVERSIDADE JUSTIFICATIVA DA OFERTA DO CURSO

Lista das disciplinas com ementas: DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS:

Educador A PROFISSÃO DE TODOS OS FUTUROS. Uma instituição do grupo

Universidade dos Açores Campus de angra do Heroísmo Ano Letivo: 2013/2014 Disciplina: Aplicações da Matemática Docente: Ricardo Teixeira 3º Ano de

Prof. Eduarda Maria Schneider Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curso Ciências Biológicas Licenciatura Campus Santa Helena

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO INFANTIL

A DISCIPLINA DE DIDÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA: SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL

Eixo Organização de Tempo e Espaço

1º ANO PROPOSTA PEDAGÓGICA. Nas relações as pequenas coisas são as grandes.

O que já sabemos sobre a BNCC?

A CONSTRUÇÃO DE UM PROGRAMA CURRICULAR DE ACORDO COM A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)

Critérios de Avaliação

AVALIAÇÃO I FÓRUM DESAFIOS DA EDUCAÇÃO TEATRO DA UNIARP - 02 de Março de 2016

Análise da proposta da BNCC do Ensino Médio - Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA

POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INFANTIL FRENTE AOS DESAFIOS DA BNCCEI. Rita Coelho

Cidadania e autoridade na escola atual (?)

LEI / 2003: NOVAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DA CULTURA AFRICANA E AFROBRASILEIRA.

PLURALIDADE CULTURAL NA CONSTRUÇÃO DA(S) IDENTIDADE(S) DOS SUJEITOS EDUCACIONAIS 1

Resumo Aula-tema 03: Currículo integrado.

Educação de Adultos na ótica freiriana

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: TRANSFORMAR O ENSINO POR MEIO DO DIÁLOGO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO

O ENSINO MÉDIO INTEGRADO NO CONTEXTO DA ATUAL LDB. Nilva Schroeder Pedagoga IFB Campus Planaltina Abr. 2018

AULA 1. Rodrigo Machado Merli Diretor Escolar da PMSP Pedagogo Didática de Ensino Superior PUC/SP Estudante de Direito

PLANEJAMENTO DE ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

BERÇARISTA. CURSO 180h: CURSO 260h:

Fundação Darcy Ribeiro

SEGUNDA FASE DO PROCESSO SELETIVO DO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

PROPOSTA PEDAGÓGICA. Um programa educacional, como qualquer outra atividade, é dirigido pela expectativa de resultados.

Orientação Educacional e Pedagógica. Diversidade Cultural e Direito Educacional. Profª Ms Jamile Salamene

TEXTO 2 EDUCAÇÃO DE QUALIDADE UM DIREITO SOCIAL

Psicologia Educacional I. O Desenvolvimento Moral e a Educação moral e nas escolas

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

Da Escola ao Bairro... do Bairro à Escola Um percurso rumo à mudança

VMSIMULADOS QUESTÕES DE PROVAS DE CONCURSOS PÚBLICOS CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS CE EA FP PE PP 1

PLANEJAMENTO DE ENSINO

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

O ESPAÇO NA PEDAGOGIA-EM- -PARTICIPAÇÃO

Núcleo das Licenciaturas Curso de Letras. Ana Cristina Bornhausen Cardoso

CEI MUNDO PARA TODO MUNDO. Bases pedagógicas e de gestão

Estudar o papel da educação na reprodução das desigualdades sociais; Analisar o papel da escola diante dos marcadores sociais da diferença;

PROJETO DE INTERCULTURALIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

Resenha em vídeo. Trabalho de gramática e texto

AS RELAÇÕES INTERATIVAS EM SALA DE AULA: O PAPEL DOS PROFESSORES E DOS ALUNOS. Zabala, A. A prática Educativa. Porto Alegre: Artmed, 1998

Descrição dos Estágios do Núcleo 3-7º per./2019

Disciplina: Fundamentos e Práticas em EAD EMENTA: Disciplina: Informática Básica e Aplicada à Educação EMENTA:

A BNCC e sua implantação. José Francisco Soares Conselho Nacional de Educação (CNE)

Presente em 20 estados Unidades próprias em Curitiba Sede Administrativa em Curitiba Parque Gráfico em Pinhais - Pr

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO-CCE PROGRAMA PIBIC/UFPI BASE DE PESQUISA FORMAR

PROJETO APRENDENDO E BRINCANDO COM CANTIGAS DE INFANTIS. Escola Municipal Alfabeto. Série: 2ª. Professor: Edilza Ferreira de Lima Correia

O futuro da graduação na UNESP: planejamento e expectativas Iraíde Marques de Freitas Barreiro

BNCC ENSINO FUNDAMENTAL

PLANO DE CURSO CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

EDUCAÇÃO INTERCULTURAL: LIMITES E POSSIBILIDADES NO TRABALHO DOCENTE

Transcrição:

228 PAULO ROBERTO PADILHA 7.2 Por onde começar a Educação Intertranscultural? Falamos em currículo da escola ou de qualquer outra instituição educacional. Vejam: currículo da escola: aquele que nasce da decisão coletiva de todos os sujeitos escolares e comunitários, e não apenas do currículo escolar, nascido tantas vezes da cabeça de especialistas e daqueles/as que ainda tentam centralizar, nos gabinetes governamentais, o que a escola deverá transmitir aos seus alunos, visão tradicional e centralizada de currículo, esta sim, rançosa e arcaica, que deve ser superada. Definir o currículo da escola na perspectiva que aqui estamos discutindo significa, em primeiro lugar, a própria decisão da unidade educacional sobre a necessidade de que diferentes sujeitos escolares contribuirão nas decisões relacionadas ao currículo. Em segundo lugar, trata-se de criar as condições objetivas possíveis, espaciais e temporais, que viabilizarão a decisão coletiva sobre como os professores, professoras, alunos e alunos e os demais sujeitos escolares estarão se organizando para, de forma dialógica, pensarem sobre o que fará parte do currículo da escola, quando, como, por quê, para quê, onde, com quem e por onde começar. Uma vez estabelecida a metodologia de trabalho para o diálogo em torno do currículo e iniciado o processo pelos encontros desses vários sujeitos, a escola estará dando um passo para a ressignificação e atualização do seu currículo. Passará, nesse processo de travessia, a observar com mais vagar os pontos de partida do processo de definição curricular, definirá onde quer chegar, e, com isso, criará uma ambiência para que se instale, na organização curricular da unidade educacional, uma nova lógica para o alcance das aprendizagens. Como vemos, a organização do currículo da escola exigirá planejamento e avaliação permanentes, coletivamente significados, pelo que o processo é eco-político-pedagógico em si mesmo, mais prazeroso e alegre por aproximar as pessoas e, a partir daí, buscar os reconhecimentos e as aproximações culturais, identitárias dos sujeitos em relação.

EDUCAR EM TODOS OS CANTOS 229 Continuará sendo responsabilidade dos professores e das professoras a atribuição fundamental de coordenar todo esse processo de organização curricular. Mas, agora, com base no encontro intercultural e na perspectiva da intertransculturalidade, que reconhece os movimentos de conexões e de oposições de conhecimentos e saberes, as semelhanças e as diferenças culturais. Estamos falando da criação de contextos educativos que favoreçam a integração criativa e cooperativa de diferentes sujeitos, assim como a relação entre os seus contextos sociais e culturais (Fleuri, 1998: 9), características da Educação Intercultural, exigência primeira do currículo intertranscultural. Se pensarmos especificamente na sala de aula, podemos exercitar esses contextos favorecedores do diálogo aprofundado sobre a nossa cultura, sobre as nossas origens, sobre os nossos sonhos, desejos, expectativas e qualidade de vida, de trabalho, de aprendizagens e sobre as nossas visões de mundo. Poderemos então resgatar a capacidade de criticar, de problematizar, de planejar juntos o que será estudado, de entender a relação do que se aprende nos contextos educacionais com as discussões relacionadas à gestão democrática ou compartilhada das instâncias de decisão coletiva na escola ou na comunidade. Ler o mundo passa a ser um movimento permanente de reconhecimentos intertransculturais, de análises e de interpretações da realidade em nível local e planetário, e isso vai se aprendendo junto, na convivência, nas trocas de experiências, na utilização das várias linguagens artísticas, na alegria do jogo, do lúdico, na constatação de antigos valores, na descoberta de novos e na aproximação afetiva das pessoas. Trata-se de um processo complexo e necessário, até porque, conforme nos explicam os professores José Marin e Pierre R. Dassen, O mundo é constituído de uma grande complexidade e está impregnado pela diversidade ecológica e cultural que ultrapassa largamente toda a pretensão reducionista destinada a impor verdades universais. Devemos imaginar uma sociedade plural, capaz de gerar a igualdade

230 PAULO ROBERTO PADILHA na diversidade, aberta e tolerante em relação às pluralidades que nos oferecem as sociedades multiculturais, e que ultrapasse as fronteiras culturais atuais e as antigas fronteiras sociais, tomando consciência da mobilidade humana e das migrações como um elemento que existe na realidade, desde o início da humanidade até os dias de hoje. (Marin & Dassen, 2006: 4) É importante, ainda, relacionar todas as nossas reflexões, somadas agora às dos professores Marin e Dassen, aos critérios de avaliação do processo de ensino e aprendizagem, que interessa a todas as disciplinas, áreas de conhecimento ou às outras formas de organizar o currículo, digamos, mais complexas, como, por exemplo, uma organização transdisciplinar, que nos indica, pelo próprio prefixo trans, aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina (Nicolescu, 2000: 15) e que visa à unidade do conhecimento. Considerada a programação curricular que o grupo definiu, o fundamental agora é que docentes e discentes continuem trabalhando coletivamente e que caminhem na busca de uma visão de totalidade do conhecimento e do reconhecimento da complexidade dos saberes que fazem parte do currículo. 7 Superar a fragmentação, o isolamento, a competição e a pseudosuperioridade de uma disciplina sobre a outra ou a negação entre elas é atividade exemplar para que, na nossa própria vida, estejamos também revendo os nossos valores e tentando construir uma sociedade mais justa e pacífica, menos competitiva, mais integrada a uma ética e a uma estética particular e universal, local e planetária, preocupadas com a humanização da nossa própria humanidade. 7. Os professores Reinaldo Matias Fleuri e Mário Jorge Freitas escrevem: a complexidade é antes do mais, uma qualidade, um estado, um certo tipo de padrão de organização, que está presente no ser do universo, como um todo e que, nalguns dos seus componentes (vida e mente, em particular), atinge níveis que poderemos chamar de hipercomplexos (Morin,2005). Isto implica, desde logo, aceitar que a complexidade se manifesta de formas diferenciadas, a diversos níveis estruturais do universo. (...) (Fleuri & Freitas, 2006: 18). O ensaio dos professores Fleuri e Freita é instigante e complexo, apresentado pelos autores no contexto do III Encontro Internacional de Educação Intercultural e Movimentos Sociais, realizado em Florianópolis em 2006, que será publicado em breve nos anais do Encontro.

EDUCAR EM TODOS OS CANTOS 231 As unidades educacionais e as suas respectivas redes de ensino têm, diante de si, este desafio: enfrentar, com vontade política, a necessidade de mudança de mentalidade, buscar soluções a curto, a médio e a longo prazos para o problema da falta de recursos destinados à educação e superar as históricas estruturas burocratizantes, resistentes a alterar práticas e metodologias educacionais meritocráticas, individualizantes e que estimulam a competição. Falamos de princípios que precisam ser organizados e associados às práticas escolares, mas que nascem dessas próprias práticas, experiências e culturas, conservando o que o tradicional tem de bom a disciplina, a ética, a estética, a pontualidade, a organização, a autoridade democrática, as relações respeitosas entre pessoas e grupos que são diferentes em alguns aspectos e semelhantes em outros. Cabe também abandonar o que o tradicional já mostrou que é rançoso, que é antigo, que é sinônimo de violência e não tradição: o castigo, o autoritarismo, o preconceito, o desrespeito aos direitos humanos, 8 a arrogância (e a ignorância) de quem acha que sabe e que age como se estivesse diante de outras pessoas que nada sabem, a exclusão, a humilhação (Cortella, 1998). Abandonar e conservar significam, neste contexto, discutir profundamente os problemas no momento em que eles surgem. Enfrentar esse desafio, não evitá-lo e estimular a discussão e o debate fazem parte das atribuições do/a professor/a no século XXI. Mas, ao fazê-lo, deve entender que não só pela via do conflito ou da constatação da diferença a educação se realiza. Revisando e reafirmando: o currículo da escola e o trabalho didático-pedagógico, na perspectiva da educação intertranscultural começa: Com a criação de espaços e tempos de encontros na escola, na cidade, no bairro, na comunidade, onde o diálogo entre as pessoas é estimulado e viabilizado. 8. O texto dos Professores Marin e Dasen (2006) analisa também a educação nas suas relações com as migrações e os direitos humanos, o que implica em situá-la em um amplo contexto histórico e político, com abrangência mundial o que vem muito ao encontro de nossa tese de um Mundo Educador.

232 PAULO ROBERTO PADILHA Fazendo a leitura do mundo do contexto, problematizando a realidade. Partindo da cultura das pessoas. Refletindo sobre os diferentes significados dos múltiplos sentidos do real. Promovendo a tentativa de reconhecimento dos símbolos e das representações culturais, materiais e imateriais da realidade que nos cerca. Vivenciando experiências de aproximações e de afastamentos identitários conforme o grau de comunicação que as nossas linguagens nos permitem. Esse movimento relacional procura desvelar quais são as visões de mundo e de natureza humana que cada pessoa traz na sua experiência cultural, educacional, social, política e espiritual. E, assim, processualmente, criam-se as possibilidades para o autoconhecimento individual, pessoal, intra, interpessoal e coletivo. Diferenças e semelhanças reconhecidas se desdobram nos seus aspectos pedagógicos, filosóficos, históricos, antropológicos, sociológicos, psicológicos, lingüísticos, políticos, econômicos etc. A educação e o currículo intertranscultural nascem, assim, de um processo cultural e educacional que visa à conectividade humana, ao reconhecimento de relações híbridas da descoberta dos entrelugares, instâncias nas quais fundimos os nossos múltiplos saberes e procuramos superar o monoculturalismo e o daltonismo cultural (Stoer e Cortesão, 1999). Procuramos novas cores, novos sabores e novos sentidos para o ato de educar. 7.3 A Educação Intertranscultural como fundamento para a Educação Integral Na Educação Intertranscultural, uma cultura aprende com a outra e ensina a outra permanentemente e, se isso não acontece, fica