Vozes do Samba Workshop de Percussão Vozes do Samba são os instrumentos de percussão que compõem toda a magia do samba brasileiro. Do bumbo ao agogô, instrumentos africanos mais tradicionais, passando pelo ronco da cuíca e as platinelas dos chocalhos. Não esquecendo também a caixa de fósforo, a frigideira e o batucar do engraxate paulista na praça da Sé. Neste ambiente faremos uma vivência musical em que o corpo se comunica com os instrumentos, fazendo com que estes ganhem vozes: as Vozes do Samba. O samba originou- se dos antigos batuques trazidos pelos africanos que vieram como escravos para o Brasil. Esses batuques estavam geralmente associados a elementos religiosos que instituíam entre os negros uma espécie de comunicação ritual através da música e da dança, da percussão e dos movimentos do corpo. Os ritmos do batuque aos poucos foram incorporando elementos de outros tipos de música. Em São Paulo, as primeiras manifestações de samba tiveram lugar no interior do estado. De acordo com o sambista Geraldo Filme, a origem do samba paulista teria acontecido em 1908 em rodas de samba de negros na cidade de Pirapora do Bom Jesus. Há, porém, registros anteriores de festas com batucadas em senzalas localizadas em Piracicaba e Capivari que datam de 1722. Em Pirapora, famílias de fazendeiros começaram a frequentar as festas do Bom Jesus no mês de agosto levando para a localidade seus escravos, que mantidos a distância, organizavam seus batuques. Após a abolição da escravatura, ex- escravos e seus descendentes continuaram o hábito de deslocar- se para Pirapora na época de romaria. Dois barracões foram construídos no início do século XX para romeiros. Negros vindos de Capivari, Piracicaba, São Paulo, Sorocaba, Tatuí e Tietê se reuniam nos barracões realizando rodas de samba. A mistura de sambas provenientes de cada uma dessas localidades tinha forte presença da zabumba (bumbo) usado como marcador do compasso da dança. Foi então que a música criada nos barracões de Pirapora ficou conhecida como Samba de Bumbo. Em estudos sobre a cultura popular, Mário de Andrade descreve o Samba Rural Paulista ou Samba de Bumbo: "Enfileirados os instrumentistas, com o bumbo ao centro, todos se aglomeram em torno deste, no geral inclinados pra frente como que escutando uma consulta feita em segredo. É pois a coletividade que decide do texto- melodia com que vai sambar. No grupo em consulta, um solista propõe um texto- melodia. Não há rito especial nesta proposta. O solista canta, canta no geral bastante incerto, improvisando. O seu canto, na infinita maioria das vezes, é uma quadra ou um dístico. O coro responde. O solista canta de novo. O coro torna a responder. E assim, aos poucos, desta dialogação, vai se fixando um texto- melodia qualquer. O bumbo está bem atento. Quando percebe que a coisa pegou e o grupo, memorizando com facilidade o que lhe propôs o solista, responde unânime e com entusiasmo, dá uma batida forte e entra no ritmo em que estão cantando. Imediatamente à batida mandona do bumbo, os outros instrumentos começam tocando também, e a dança principia. 1
Muitos dos frequentadores dos barracões tornaram- se líderes dos cordões carnavalescos precursores das escolas de samba paulistanas. Um deles foi Dionísio Barbosa, fundador, em 1914, do Cordão da Barra Funda, primeiro grupo carnavalesco da cidade de São Paulo. A música dos cordões possuía elementos dos sambas rurais paulistas mesclados com a marcha recebendo a denominação de marcha- sambada. O declínio do samba regional de São Paulo teve início com a hegemonia do samba carioca nas rádios de todo o país, e teve seu golpe de misericórdia com o fim dos cordões que perderiam seu lugar no Carnaval de São Paulo quando, a partir de 1968, transformaram- se em escolas de samba para participar do desfile oficial de Carnaval da Cidade de São Paulo que seguia o modelo do Carnaval do Rio de Janeiro. Apesar da forte tradição regionalista que deu ao samba paulista características distintas do resto do país, nomes como Adoniran Barbosa, Geraldo Filme, Paulo Vanzolini, Germano Mathias, Caco Velho, Jorge Costa, Hélio Sindô e Henricão são reconhecidos como clássicos do samba. 2
Instrumentos de Percussão usados no Samba Surdos Os surdos são tambores grandes de sons graves que possuem a função de marcar o tempo no samba. Dividem- se em três categorias - surdo de primeira, surdo de segunda e surdo de terceira - em função de seu tamanho que define se o surdo é mais grave ou mais agudo. Surdo de primeira: Com um aro de cerca de 75 cm de diâmetro, é o maior e mais grave dos três. É tocado no tempo fraco da marcação rítmica no tempo dois. É ele que dá o andamento principal ao samba, servindo como base. Os puxadores do samba se guiam por ele para não acelerar ou desacelerar o canto. Tem uma afinação mais forte e mais aguda do que a dos surdos de resposta - surdos de segunda. Surdo de segunda: É a resposta ao surdo de primeira. Serve como sustentação para o samba no momento em que o surdo de primeira está 'parado', fazendo um contraponto. Um pouco mais agudo, possui um aro com cerca de 55 cm de diâmetro e é tocado no tempo forte do ritmo no tempo um. O fato de o som mais grave ser tocado no segundo tempo, e não no primeiro, é uma característica típica do samba. Surdo de terceira: Com 40 cm de diâmetro, é o mais agudo dos três. Aparece entre os outros dois (um pouco antes do surdo de segunda). Ele executa um ritmo mais complexo, realizando síncopes 1 que preenchem a marcação regular dos outros dois surdos. A batida varia de escola para escola. 1 Síncope ou síncopa - elemento rítmico que consiste no deslocamento da acentuação da parte forte do tempo para a parte fraca do tempo 3
Caixa Instrumento importantíssimo da bateria na escola de samba, é uma espécie de tambor com uma membrana superior e outra inferior, fixadas e tensionadas em aros metálicos. É o que dá o som característico ao samba pois marca o andamento. Só com o som da caixa já se pode identificar uma escola de samba. É sempre tocado com duas baquetas. Marca o andamento mas permite floreios, o que não ocorre nos surdos. A forma como se toca uma caixa varia também de escola para escola: algumas utilizam o instrumento em baixo, na altura da cintura, tocando normalmente com as duas mãos; outras põem a caixa 'em cima', utilizando uma mão como apoio e a outra livre. Repique O repique, também conhecido como repinique, é um pequeno tambor com membranas em ambos os lados, tocado com uma baqueta e uma mão livre. É bastante utilizado nas paradinhas e nas viradas do samba, como sinal para o retorno dos outros instrumentos. Chocalho O chocalho da escola de samba é feito com chapinhas (chamadas também de soalhas) que são perfuradas por fileiras de hastes. Agitadas, essas soalhas produzem o som. Há chocalhos com duas, três, quatro, cinco e até seis fileiras. Esse instrumento aparece mais nos refrões, e fica passagens inteiras do samba sem ser tocado. O chocalho ajuda a caixa a dar o balanço do samba, mas é mais leve. Tamborim Instrumento com uma membrana esticada sobre uma armação, sem caixa de ressonância. Possui 15 cm de diâmetro e 5 cm de altura. Para tocá- lo, é preciso segurá- lo com uma mão e percuti- lo com uma baqueta. É um dos instrumentos mais importantes na bateria já que faz todo o desenho do samba. Enquanto os surdos e a caixa fazem uma marcação 4
contínua, o tamborim faz diferentes bossas no samba. Sua baqueta pode ter ponta única ou múltipla, produzindo sons diferentes. Cuíca A cuíca é um instrumento semelhante a um tambor, mas com uma haste de madeira presa internamente no centro da membrana de couro. Seu som é obtido com a fricção desta haste com um pedaço de tecido molhado e com a pressão do dedo na parte externa do instrumento. Os sons da cuíca são muito característicos e se assemelham a roncos, grunhidos e guinchos. A extensão total da cuíca pode chegar a duas oitavas, mas a obtenção dessas notas sempre depende da habilidade do instrumentista. Seu andamento depende da marcação dos surdos, que são seguidos pela cuíca. Agogô O agogô é formado por duas, três ou quatro campânulas de ferro de tamanhos diferentes, conectadas entre si. Seu som é obtido através da percussão de uma baqueta nas bocas de ferro das campânulas. É o instrumento que tem um dos sons mais agudos da bateria. Reco- reco O reco- reco é uma caixa de metal com duas ou três molas de aço esticadas sobre o tampo. Sobre elas é friccionada uma baqueta de metal, como num processo de raspagem. Formado por uma haste e um pedaço de madeira (ou metal), seu som é produzido pelo atrito entre essas partes. 5
Pandeiro O pandeiro, outro instrumento símbolo do samba, pode ser descrito como uma membrana esticada sobre um aro. Para tocá- lo, é preciso segurá- lo com uma mão e percuti- lo com os dedos ou a palma da outra mão. Fixadas ao redor do aro podem existir soalhas duplas de metal, elemento que incrementa o som do instrumento. Dá um ritmo característico ao samba, mas muitas escolas de samba não utilizam mais o pandeiro em sua formação, pois seu som não é suficientemente audível no conjunto dos instrumentos. Prato Par de pratos de metal são percutidos um contra o outro produzindo um som bem forte. Outro instrumento utilizado basicamente como 'alegoria' pelos ritmistas. Apito Instrumento rítmico de marcação usado pelos Mestres de Bateria. Herivelto Martins foi o responsável por transformar o apito em instrumento de samba e organizou um escola de samba estilizada para o rádio brasileiro. Educador de Percussão Paulo Kayma 6
Ritmo de Samba Paulo Kayma 7