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Transcrição:

LIBRAS: ASPECTOS LINGÜÍSTICOS E USO NA TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA BILINGÜE ANNETE SCOTTI RABELO Resumo: para inclusão social e escolar da pessoa surda e para que ela possa se constituir socialmente pelas interações dialógicas, torna-se necessária a existência de um código comum entre ela e o ouvinte. Esse será reforçado em uma perspectiva bilíngüe com o uso, além da língua oral, da língua escrita e da Língua Brasileira de Sinais (Libras), na terapia fonoaudiológica. Palavras-chave: comunicação/surdez, Libras, terapia/ bilingüismo Atualmente, o movimento mundial existente pela inclusão social e escolar das pessoas com necessidades especiais, e entre elas, especificamente, a dos surdos, nos leva a falar da Libras, não isoladamente, mas como uma língua que faz parte e joga importante papel no processo geral da comunicação humana. Os indivíduos que não possuem um código comum que possibilite a sua interação com os demais, sofrem uma total marginalização social, política, econômica e cultural. A ausência de uma comunicação eficaz entre os indivíduos impede que se realizem, satisfatoriamente, as funções básicas da linguagem fator de interação social, de trans- 369

370 missão cultural e fator constitutivo do conhecimento e do próprio ser humano. Tal afirmação tem como base os pressupostos teóricos sócio (construtivistas) de Vygotsky e outros, de que a linguagem não é, simplesmente, um fator de interação social, mas um fator constitutivo e transformador do indivíduo que a utiliza e de seu entorno social, reciprocamente. É o contínuo entrelaçar da história individual com a história social (VYGOTSKY, 1989, p. 331). A internalização do conhecimento socialmente construído e sua reelaboração individual são mediadas pela linguagem, signo, por excelência, para Vygotsky (1997), pois modifica as ações da própria pessoa pela transformação que introduz tanto nas suas relações, quanto nas relações com as demais pessoas. Nessa perspectiva, segundo Bakhtin (1990), a comunicação é um processo dinâmico em que a fala de uma pessoa sempre provoca uma resposta do seu interlocutor. Esta resposta, num processo contínuo, exige dos componentes de uma dialogia a reestruturação dos seus pensamentos com base nas experiências vivenciadas e no como explicitá-los na dependência dos enunciados feitos. Assim, cada interação é única. O conteúdo poderá aparecer em outras interações, que nunca se repetirão da mesma forma, pelo caráter dinâmico das relações interpessoais, marcadas pela experiência de cada interlocutor. Para este autor, a produção da significação sempre se dá no contexto da interlocução, na interação de vozes que explicitam os valores culturais e ideológicos dos interlocutores. Por isso mesmo é que o sujeito se faz como ser diferenciado do outro, mas formado na relação com o outro; singular, mas constituído socialmente (SMOLKA, 1993, p. 10). Sabemos que os surdos vivem em uma situação bilíngüe, isto é, convivem com os demais surdos tendo como meio de comunicação a Língua de Sinais (LS) própria da comunidade surda, que no Brasil é a Libras, de natureza visomotora e fazem parte dos diversos grupos sociais ouvintes, convivendo com os mesmos na família, no emprego, no lazer, ao exercer sua crença religiosa ou política. Os ouvintes se comunicam prioritariamente pela modalidade oral da língua oficial do país, e toda a cultura produzida mundialmente está registrada especialmente pela sua

escrita. Como poderá o surdo se constituir socialmente pelas interações dialógicas se não existe um código comum entre ele e o ouvinte? A interlocução e a função constitutiva da linguagem quase não se realizam entre a mãe ouvinte e seu bebê surdo. Muitos autores, entre eles Northern e Downs (1974) afirmam que a criança, antes de nascer, ao sétimo mês de vida intra-uterina, já é capaz de perceber os sons do meio ambiente e discriminar a voz materna de outras vozes femininas. Como nos lembra Fernandez-Viader (2004), ao nascer, o bebê reconhece a voz materna por sua entonação e já estabelece seus primeiros contatos com a mãe acompanhando-a com o olhar ao passo que esta lhe fala. Quando a mãe amamenta o seu bebe e lhe fala docemente, este, às vezes, pára de sugar abandonando o peito e dá um sorriso para a mãe olhando seu rosto. O bebê surdo não reage ao estimulo materno nem lhe dá respostas, rompendo o possível contato que normalmente se estabeleceria. A mãe não tendo o reforço esperado cessa as tentativas de contatar com seu filho. Surge desde então uma lacuna comunicativa entre a criança surda e os demais ouvintes ao seu redor, quando se utiliza somente a linguagem oral. Essa falta, essa lacuna comunicativa deve ser corrigida o mais rápido possível com a adoção paralela de outras modalidades comunicativas: a LS e a língua escrita, para que uma comunicação efetiva se estabeleça o mais cedo possível, entre a criança surda e as demais pessoas. Por isso, torna-se imperativo que a educação dos surdos se realize em uma visão bilíngüe, isto é, que eles dominem as duas línguas: a Libras e o Português, tendo acesso à cultura veiculada por elas, como também que os profissionais responsáveis por essa área tenham essa mesma formação. Até bem pouco tempo as LS não eram consideradas como tal e pouco se conhecia delas. O domínio cultural do ideal monolingüístico oral prevaleceu por muitos anos, fazendo com que o desenvolvimento lingüístico do surdo se pautasse quase um século, na oralidade. Os ouvintes acreditavam que a melhor forma de integrar o surdo socialmente era dotar-lhe de fala proibindo, por isso, o uso de qualquer tipo de linguagem gestual. 371

372 Preponderância esta autorizada de início pelas determinações do II Congresso Internacional de Ensino de Surdos-Mudos, realizado em 1880, em Milão, que proibiu qualquer abordagem que não fosse a oral, na educação do surdo. Essa situação só se modifica com o aparecimento na década de 1970 da comunicação total como filosofia, em oposição à filosofia oralista, possibilitando nos métodos mistos simultâneos, o uso de todas as formas comunicativas, até o da LS. A comunicação total defendia a utilização de todas as modalidades lingüísticas: oral, gestual e gráfica, simultaneamente ou isoladas, conforme a necessidade do momento, para estabelecer uma comunicação efetiva, com e entre os surdos. Essa nova postura desvia o eixo de atenção da surdez, do déficit auditivo, para a pessoa surda com suas potencialidades e desperta o interesse pela LS. Esse interesse, segundo Wilbur (1980) é demonstrado pelas inúmeras pesquisas, citadas por esse autor, que surgiram com base nesse período, sobre a American Sign Language (ASL), em vários aspectos: sociolingüísticos com Woodward (1973); históricos com Frishberg (1976); fonológicos com Friedman (1976); sintáticos com Liddell (1977) e Battison (1978), e um grande número de dicionários de gestos analisados em dois estudos por Hoffmeister (1978). Markowicz (1980) refere-se aos Mitos sobre a ASL que grassaram entre os ouvintes partidários do oralismo, dos quais citaremos alguns. A LS é icônica este autor contesta dizendo: que se assim fosse, ela seria entendida facilmente por todos; que um mesmo conceito tem diferentes sinais em diferentes LSs. Essas idéias são reafirmadas por Mayberry (1978) ao dizer que não haveria, então, necessidade de intérpretes de uma LS em outra, em eventos internacionais. A LS não é gramatical. Os oralistas fazem essa afirmação porque ao tentarem transcrever para o inglês, ao pé da letra, frases da ASL, estas se apresentaram com vários erros gramaticais. Markowicz esclarece que a ASL não foi criada para se escrever o inglês em sinais; que as LSs têm uma gramática própria, são independentes e que sempre quando traduzimos, palavra por palavra, de uma língua para outra, resultam frases agramaticais. Ele dá o seguinte exemplo:

Ex. Francês Il fait chaud Inglês It makes warm. Frase incorreta gramaticalmente. Segundo a gramática inglesa seria: It is warm. A LS só se refere ao concreto Wilbur (1980) explica que esta afirmação é feita por pessoas que desconhecem a estrutura da ASL, pois a maioria das palavras que compõem a LS é simbólica; que até há vocábulos na ASL que foram tomados emprestado de outras línguas orais e sinalizadas. Para estudarmos a Libras, buscamos primeiro, pelos estudos anteriores feitos da ASL, conhecer as características gerais das LSs. Referindo-se aos processos fonológicos na LS Wilbur (1980, p. 8) afirma que este nível é tratado dentro da Gramática Gerativa. Se a menor unidade segmental da linguagem é vista como uma matriz com características próprias, escolhida de um grupo universal de itens que sofrem restrições de convenções estabelecidas, então não importa se o segmento é falado ou sinalizado. A língua de sinais estará sendo discutida não como uma cópia da descrição da língua oral, mas com base em princípios e parâmetros universais de qualquer língua humana. O primeiro a pesquisar a ASL, em sua estrutura, foi Stokoe et al. (1965). Este autor estudou a formação de sinais, que denominou de querologia do morfema grego cher que quer dizer mão, e menciona três parâmetros usados simultaneamente em um sinal: DEZ designador, formato das mãos em 36 queremas e 19 formas básicas, das quais as demais são variações. TAB tabulação, localização espaço sinalizante. SIG signação, movimento realizado. Battison (1978) cria um quarto parâmetro que é a orientação da palma da mão. Estes quatro parâmetros são considerados as unidades mínimas das LS, pois qualquer um deles ao ser modificado produz uma mudança na significação do sinal. Seriam os fonemas das LSs. Em estudos realizados sobre a LS, vários lingüistas apontam restrições físicas e lingüísticas que ela sofre, como: 373

374 impossibilidade física: é impossível a mão estar aberta e fechada ao mesmo tempo (STOKOE, et al., 1965); visão localizadora: no amplo espaço sinalizador há uma zona optimal de acuidade visual entre os olhos e o queixo, para discriminar pequenas diferenças. Ex. A e T (SIPLE, 1978); condição de centralização: em sinais com dois contatos seqüenciais, levando-se em conta que o corpo está dividido em quatro partes maiores: cabeça-pescoço, tronco, braços e mãos, as combinações permissíveis para 1º e 2º contatos são restringidos a uma posição centralizada. Ex. 1º cabeça 2º tronco; condição de dominância: sinais com duas mãos em que só uma se move (dominante) e a outra permanece em apoio. A mão dominante, geralmente, se apresenta em uma das seis formas (marcas mínimas): S, B, 5, G, C, O. São, assim, consideradas por serem muito diferentes quanto à forma da mão e estão entre as primeiras adquiridas pelas crianças. Bellugi et al. (1976) observaram que estas seis formas compõem o início de 69% de todo o vocabulário de três dicionários de autores distintos e 81% do corpus de 1 hora de sinalização de uma criança surda, de dois anos e meio de idade. Em busca dos princípios universais na LS, surgem análises da forma das mãos em pares mínimos que possibilitam a visualização de classes naturais. Wilbur e Regl (1976) com base em dois traços distintivos aberto e fechado, estabeleceram quatro classes naturais, com quatro formatos de mão: G, O, B, S (nas seis formas anteriores citadas o C e o cinco podem ser consideradas variações do B). Lingüistas que estudaram ASL afirmam que as modificações morfológicas na estrutura dos sinais se apresentam tanto nos processos lexicais (derivação e composição) quanto nas categorias flexionais e desinenciais. Wilbur (1976) destaca o processo da reduplicação dos sinais, que tomam diversos significados se feitos devagar ou rapidamente. Reduplicação rápida no eixo horizontal, de sinais de substantivos = plural. Exemplo sinal de crianças, de bolas. Reduplicação devagar de sinais de verbo = continuidade da ação. Exemplo sinal de comer+ comer+ comer...= continuar comendo.

+ aberto, + fechado - G Implica que só indicador está aberto; - aberto, - fechado - O Os dedos não estão nem abertos, nem fechados sobre a palma da mão. + aberto, - fechado - B Todos os dedos estão abertos e juntos; - aberto, + fechado - S Nem um dedo está aberto. Todos estão fechados sobre a palma da mão, com o polegar fechado sobre as falanginhas. Figura 1: Traços Distintivos na LS Fonte: Wilbur e Regl (1976). Este autor afirma que os processos mais comuns, nas línguas faladas, para a ampliação de vocabulário, são a formação de nomes compostos com palavras já existentes, ou por empréstimos de palavras de outras línguas, e que na ASL se dá o mesmo. Há a criação ilimitada de nomes compostos por sinais já existentes, como também na produção de sinal/nome dado a pessoas. No aumento do vocabulário surgem os processos históricos em que determinados sinais de uma LS são absorvidos por outra. Ou então o processo de incluir palavras emprestadas de outras línguas como de palavras soletradas manualmente, do inglês, pela rapidez e fluência do movimento há eliminação de algumas letras no meio da palavra, dando origem a um sinal diferenciado da soletração inicial. Apresenta ainda, entre as modificações morfológicas, que existe na ASL o sufixo de negação (virar rapidamente a mão aberta com a palma para baixo) acoplado ao sinal de alguns verbos: know, like, want; que uma forma de mão pode assimilar outra que a precede ou o local onde é realizado o sinal; que essa assimilação pode ocorrer quanto ao movimento quando a mão parada pode tomar a forma e movimento da mão dominante. Para este autor, as relações sintáticas entre o sujeito e o objeto são determinadas pelo movimento entre eles, do sinal do 375

verbo e que a estrutura mais usada na sintaxe é a mesma que a das línguas orais, isto é, SVO. Entre as características do movimento estudadas por Fridman, ele apresenta dois traços stressed e unstressed que modificam a significação do sinal, quando usados. Aspectos Lingüísticos da Libras No Brasil algumas lingüistas e fonoaudiólogas se sobressaíram no estudo da Libras: Rabelo (1992), Ferreira de Brito (1995), Barros (1998), Ciccone (1990), De Quadros (2004) e Felipe (2001), entre outras. Em seus estudos constataram a vigência dos mesmos quatro parâmetros: formato da mão, localização do sinal, movimento realizado e direção da palma da mão. A ampliação do vocabulário na Libras também se realiza por criação de sinais compostos e por empréstimo de itens lexicais de outras LSs. Em decorrência desse último processo, muitos sinais são iguais em várias LSs, como por exemplo os sinais de abrir, fechar, mesa, (Figura 2) entre outros. Ocorre também o empréstimo de línguas orais, pela soletração, como por exemplo: azul, nunca, (Figura 3) entre outros. Figura 2: Sinais de Abrir, Fechar, Mesa 376 Figura 3: Soletração de Azul e Nunca

O sufixo de negação é usado de forma igual ao da ASL: saber não, gostar não, querer não etc. Da mesma maneira, o plural na Libras é realizado igual ao da ASL. Os traços observados por Friedman (stressed e unstressed) em relação aos movimentos, que em Português são denominados de com força e leves, também ocorrem na Libras produzindo mudança de significação. Exemplo: Vários movimentos leves/um movimento com força Figura 4: hoje/agora Figura 5: calma/pare Figura 6: sempre/mesmo 377

378 O parâmetro da estrutura frasal SVO também permanece no geral a não ser quando existem regras gramaticais da Libras que contrariam tal disposição, como, por exemplo: os interrogativos na língua oral dão início à frase, mas na Libras eles são usados no final delas. Português Qual é o seu nome? Libras sinal de nome + qual; Português Onde é a sua casa? Libras sinal de casa + onde. gesto inicial indica o mais importante do que se quer comunicar. gesto de cair+menino+chorar (quando o tombo é que foi grande); gesto de chorar+cair+menino (quando o berreiro é que foi grande). A relação sujeito/objeto, na Libras, também se estabelece em alguns verbos com o movimento direcional da mão, que vai do sujeito ao objeto: Exemplo: dizer, perguntar, responder, olhar. Rabelo (1984/1985), realizou uma pesquisa em que foram levantados quais os sinais mais utilizados por crianças surdas, até seis anos de idade. Dessa, emergiu um repertório composto de 718 sinais. Quando analisados, verificou-se que: Dos 718 sinais, mais usados, apenas 28% eram icônicos; e alguns deles, dependendo do contexto, mudavam de significação, passando de icônicos para simbólicos. Exemplo: laranja, sábado. Alguns sinais sofreram restrições perceptuais mudando o local de realização para a zona de acuidade visual. Exexmplo: Pessoa. O sinal era realizado com as duas mãos em P, cada uma de um lado do corpo, com as palmas para baixo, que se moviam paralelas ao corpo dos ombros até a altura dos joelhos. O sinal passou a ser realizado apenas com a mão direita em forma de P, palma para trás, deslizando a ponta do dedo médio na testa, da esquerda para a direita. Do universo pesquisado, 20% obedeceu à condição de simetria forma da mão e movimentos iguais, direção do movimento igual ou oposto. Exemplo: junto, dia, abrir, namorar, burro, precisar, ovo e outros (Figura 7).

Figura 7a: junto Figura 7b: dia Figura 7c: namorar Figura 7d: burro Figura 7e: precisar Figura 7f: ovo Figura 7g: outros 379

380 Quanto à Libras podemos tecer as seguintes considerações: Nem a ASL, nem a Libras são icônicas, pura pantomima, ligadas ao concreto. Como as línguas são frutos de culturas específicas, existirão tantas LSs quanto forem as comunidades culturais nacionais e regionais de surdos. A Libras, como qualquer outra LS, pode ser analisada de acordo com princípios da fonologia gerativa, obedecendo, em sua estruturação, a regras formacionais provenientes de restrições físicas, perceptuais e lingüísticas. Em muitos países, as LSs ainda não são reconhecidas. Em abril de 2002, o Brasil reconhece a Língua Brasileira de Sinais pela lei n. 10.436/2002 que determina a inclusão da Libras como conteúdo curricular nos Cursos de Formação de Professores, de Educação Especial e de Fonoaudiologia. Atualmente, como o fonoudiólogo profissional que atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia fonoaudiológicas na área da comunicação oral e escrita, voz e audição, bem como em aperfeiçoamentos dos padrões da fala e da voz utilizará a Libras em sua atuação? Através dos tempos, a ação fonoaudiológica sofreu modificações. À princípio, nossa atuação se voltava para os distúrbios e as técnicas reabilitadoras fonoaudiológicas correspondentes. Tratávamos a gagueira, os distúrbios articulatórios, a surdez, entre outras patologias. Hoje, o eixo central do nosso trabalho se desloca para o ser humano que está apresentando algum distúrbio de linguagem o gago, o surdo etc. Essa nova perspectiva parte da visão que temos do ser humano com base nos pressupostos socioconstrutivistas de Vygotsky e outros. Para Vygotsky (1997), o trabalho a ser feito com qualquer pessoa que tenha um déficit não deve se apoiar fundamentalmente na área afetada, e, sim, nas áreas preservadas. Temos de partir das potencialidades existentes características do ser humano, como também de seus anseios e das necessidades como tal, independente das diferenças que apresente, acreditando que o homem se constrói histórica e socialmente e que a construção do conhecimento é um processo contínuo que flui da interação entre as pessoas. As crianças surdas provenientes em sua maioria de famílias ouvintes que usam somente a língua em sua forma oral para se

comunicar, usualmente, não estruturam nenhum código lingüístico eficaz e sofrem as más conseqüências que isto acarreta em seu desenvolvimento intelectual, afetivo e social. Com essas observações, não queremos dizer que a audição do surdo está sendo substituída por sua visão, mas que as características específicas dos surdos e dos ouvintes levam cada um a criar um caminho diferente para a apreensão da realidade objetiva e a estabelecer uma forma prioritária de comunicação nas interações sociais que realizam. Vygotsky fez críticas contundentes à forma mecânica e exaustiva como eram utilizados os métodos orais para desenvolver a fala do surdo. Postulou que o trabalho com a fala consumia e absorvia totalmente todos os outros aspectos da educação do surdo e se tornava um fim em si mesmo: O surdo é ensinado a pronunciar palavras, mas não é ensinado a falar, i.é., a usar a fala como meio de comunicação e pensamento (VYGOTSKY, 1993, p. 329). Defende a idéia de que a fala deve ser utilizada em sua significação (fala lógica) e não na repetição de sons isolados, pois o processo seria semelhante ao da criança ouvinte a quem não ensinamos a falar pela repetição fonêmica. Aqui o falar tem uma conotação muito mais ampla do que simplesmente emitir sons. Abrange o domínio das estruturas fonêmicas, morfossintáticas e semânticas que fazem parte da gramática específica de qualquer língua. Não podemos separar a linguagem do contexto social em que se realiza, pois é uma ação e reação social que faz parte deste mesmo contexto. A linguagem, quer oral, quer escrita, não contém uma significação em si mesma, como algo já dado, mas uma significação diferenciada que se constrói dependendo das ações e intenções dos interlocutores, em dado momento sociohistórico, como parte de um diálogo social ininterrupto (BAKHTIN, 1990). A linguagem não é neutra. Ela não é expressa apenas pela estrutura gramatical utilizada pelo emissor. Seu aspecto formal se organizará em função das significações, dos sentidos que essas estruturas deverão suportar para transmitir valores culturais e individuais desse emissor, que variam de acordo com as relações que este estabelece com o mundo, valendo-se do lugar social que ocupa. Como afirma Rabelo (2001), o sentido das palavras não está, primordialmente, na sua forma; elas o adquirem no uso funcional 381

382 e significativo que delas fazem cada interlocutor nas mais diversas situações comunicativas. Por isso, a construção da linguagem, quer oral, quer escrita, pela criança surda não parte da sua estrutura fonêmica e morfológica, dependendo da junção destas para formar significados, mas o caminho será o inverso: a partir da linguagem em seu uso social, contextualizada, é que sua estrutura terá sentido para o surdo. Não cabe ao fonoaudiólogo, em sua atuação clínica, ensinar a Libras ao surdo, sistematicamente, mas sabemos que o domínio de uma língua se faz por meio do seu uso social, quer seja em sua modalidade oral, escrita ou gestual. Ao fazer uso também da Libras, na comunicação, com seu paciente surdo, o fonoaudiólogo estará assistematicamente oferecendo uma opção a mais para a sua realização lingüística, em um código viso-motor, área em que o surdo não apresenta nenhuma dificuldade, até mesmo respeitando a sua característica de ser mais visual que auditivo. Será muito mais fácil e motivador o fonoaudiólogo trabalhar a emissão de conceitos que já foram construídos previamente pela Libras. Hoje estamos vivendo um grande movimento transformador em busca da inserção social e escolar das pessoas e de respostas às questões pedagógicas existentes. Nesse sentido, a educação inclusiva assume importância maior na expectativa de renovação e busca incessante da democracia, que só será alcançada quando todas as pessoas, indiscriminadamente, tiverem acesso à informação, ao conhecimento e aos meios para formação e exercício pleno de sua cidadania (GOIÁS, 2001). Para a inclusão social e escolar da pessoa surda, é imprescindível que as comunidades onde está inserida assumam a LS como uma forma viva de comunicação. Referências BARROS, M. E. Proposta de escrita das línguas de sinais. Dissertação (Mestrado em Letras e Lingüística) Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1998. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1990.

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