A MAIORIA DESERDADA
CHARLES DERBER A MAIORIA DESERDADA QUESTÕES CAPITAIS PIKETTY E MAIS ALÉM com a colaboração de JULIET B. SCHOR, CHUCK COLLINS, JOSH HOXIE e YALE MAGRASS e uma pequena entrevista a THOMAS PIKETTY
PREFÁCIO QUESTÕES CAPITAIS E A MAIORIA DESERDADA: UM ESQUEMA Neste livro apresento uma análise da sociedade no século XXI. Não se trata de um empreendimento modesto, mas terei muita ajuda, começando pelo livro de Thomas Piketty O Capital no Século XXI 1. Esta obra tomou o mundo de assalto ao ser publicada, em 2014, abrindo uma janela para o nosso futuro a um tempo profundamente brilhante e alarmante para quem se preocupe com os direitos humanos, a igualdade e a justiça social. O livro de Piketty é um ponto de partida para o presente volume. Piketty levanta uma série do que chamo «questões capitais» acerca do capitalismo propriamente dito. Essas questões capitais suscitam um vasto debate, com início em Adam Smith e Karl Marx, sobre o tipo de ordem económica e política que desenvolvemos, uma ordem em que o princípio da herança a par de biliões de dólares de riqueza herdada poderá vir a moldar o nosso futuro. Piketty, no entanto, está a encetar e não a concluir o debate. O meu objetivo é contribuir modestamente no rumo que julgo ser o correto para o debate sobre questões capitais e subsequentes ações políticas. Vou beber com grande agrado a Piketty, mas temos de ir bem mais longe para obtermos as respostas necessárias à preservação da dignidade dos milhares de milhões de pessoas a quem chamo a maioria deserdada. Esta 7
C H A R L E S D E R B E R A M A I O R I A D E S E R D A D A maioria deserdada é composta pela maior parte dos indivíduos nos Estados Unidos e no mundo, mas é uma maioria que se encontra, em grande medida, excluída da riqueza, do poder e do direito a uma vida condigna. O presente livro tem por tema como recriar o mundo dessa maioria, por essa maioria e para essa maioria. Eis um breve esquema onde explico como organizei este livro. A introdução começa com um pequeno resumo da minha tese central: a crise da maioria deserdada do século XXI e como lhe reagir. No resto da introdução sintetizo o trabalho de Piketty, pois este é o catalisador e a «ferramenta» que me possibilita apresentar a minha própria análise. Não é preciso ter lido Piketty para que possa ler e apreciar o presente livro, mas se não o leu, e, provavelmente, mesmo que o tenha feito, é aconselhável ler a minha introdução (que resume os pontos principais apresentados por Piketty). Após a introdução temos o grosso do livro, 14 capítulos, cada um dedicado a uma «questão capital» ou tema. Os capítulos abrem com uma série de questões sobre um tema chave. Em cada capítulo apresento um resumo da perspetiva de Piketty, analiso os comentários suscitados pelo autor e depois apresento a minha maneira de restruturar e de aprofundar o tema em causa. A minha abordagem é ir além da estrutura económica adiantada por Piketty, aprofundando as questões sociais e políticas que ele considera essenciais para a compreensão da economia. Piketty é um crítico feroz dos limites da sua própria pro- de nada vale sem uma dose equivalente de história, sociologia e política. Todavia, em virtude da sua formação como economista, o próprio Piketty não proporciona a forte análise e possibili- precisarmos. Espero conseguir apresentar um diagnóstico mais detalhado da maleita social e política e um vislumbre do remédio social e político para o século XXI que possa dar início à cura. 8
P R E F Á C I O Fazem parte do meu esquema dois outros elementos. Um deles são breves comentários de personalidades cuja opinião respeito profundamente. Piketty ajudou a animar o debate a que pretendo dar seguimento, mas será necessária toda uma vasta comunidade de académicos, alunos e pessoas comuns para que o debate siga o rumo correto. Para sublinhar o facto de se tratar de um debate para todos, incluí um pequeno número de vozes para além da minha, as quais ponderam já questões capitais e estão a trabalhar em prol da maioria deserdada. No presente volume, essas vozes, destacadas enquanto breves interlúdios distribuídos pelo corpo do texto, vão deixar bem claro que necessitamos de uma conversa e não de um monólogo. centei, sobre o mesmo assunto, questões para o leitor. Se necessário for, para levar a cabo esta investigação, o leitor, os seus amigos, colegas de trabalho e vizinhos têm todos de participar. Ao acrescentar estes pontos de debate, mais uma vez digo que não há um único indivíduo muito menos apenas eu próprio que nos possa ajudar a encontrar o caminho certo para a criação de um século XXI mais igualitário, sustentável e democrático. Trata-se de um trabalho para todos. 9
AGRADECIMENTOS Permitam-me que comece por agradecer a Thomas Piketty por ter escrito O Capital no Século XXI. Escrevi o presente trabalho para dar seguimento e para ajudar a reenquadrar o debate catalisado por Piketty, a quem quero agradecer por se ter disponibilizado a ser entrevistado por mim. Agradeço profundamente ao meu editor e amigo Dean Birkenkamp, fundador e diretor da Paradigm Publishers. Dean apoiou-me generosamente em cada passo do desenvolvimento deste livro. Ele desempenhou um papel importante na estruturação da tese e na organização das várias partes do manuscrito. É o editor que todos os autores sonham um dia encontrar. Quero agradecer ao meu amigo e colega Yale Magrass por me ter ajudado a desenvolver o tema central do livro sobre capitalismo enquanto sociedade baseada tanto nas castas como nas classes. Ele escreveu um comentário brilhante sobre o capitalismo enquanto sociedade de castas, incluído no presente volume. Agradeço-lhe ainda pelo tempo dedicado à leitura atenta de todo o original e pelos comentários. Quero ainda agradecer a outros participantes que acrescentaram a sua voz aos comentários, os meus amigos e colegas Chuck Collins, Julie Schor e Josh Hoxie. Obrigado ainda a todos na Paradigm que se revelaram tão prestáveis. E obrigado aos meus amigos e colegas, sempre um grande apoio, David Karp e John Williamson. Endereço um agradecimento especial a Elena, cujo sagaz intelecto e amor me iluminam o caminho. 11
INTRODUÇÃO PIKETTY PARA O POVO: CASTAS, CLASSES E A MAIORIA DESERDADA Com o êxito do seu livro O Capital no Século XXI, Thomas Piketty desenvolveu um novo debate global sobre dinheiro e moralidade num mundo capitalista conturbado. Caso não desenvolvamos esse debate, podemos vir a perder a esperança de sanar os problemas prementes de desigualdade extrema, riqueza dinástica e colapso democrático. O meu objetivo é ajudar o leitor a participar de modo tão simples e agradável quanto possível nesta aventura política e intelectual. O próprio Piketty diz que o seu livro marca o início e trabalho, mas há ainda mais caminhos abertos para aprofundar os tópicos debatidos. O presente volume apresenta a minha perspetiva sobre como interpretar o trabalho de Piketty e avançar a partir daí, enquanto nação e enquanto mundo. Apresento este meu trabalho para precipitar o debate tanto de quem leu Piketty como de que não leu essa obra, mas deseja participar com conhecimento de causa no debate que ele ajudou a impulsionar. Boa parte desta introdução destina-se a resumir os principais argumentos de Piketty. Todavia, quero começar por explicar porque é o seu livro importante e como e porquê devemos aproveitar as suas ideias e aprofundá-las para solucionar as nossas crises do século XXI. 13