PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História, Currículo, Currículo do Estado de São Paulo.

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Transcrição:

O CURRÍCULO E O ENSINO DE HISTÓRIA NO ESTADO DE SÃO PAULO: O QUE DIZEM OS PROFESSORES? José Antonio Gonçalves Caetano- UEL 1 zg_caetano@hotmail.com CAPES-Cnpq Marlene Rosa Cainelli - UEL 2 RESUMO Este trabalho é parte da pesquisa em andamento no Curso de Mestrado em Educação na Universidade Estadual de Londrina, a presente pesquisa tem a intenção de estudar de forma analítica e qualitativa a visão e apropriação que os professores da rede estadual de São Paulo da disciplina de História fazem dos documentos reguladores da disciplina como o Currículo do Estado de São Paulo de Ciências Humanas e Suas Tecnologias para a disciplina de História, e os Cadernos do Aluno e do Professor, e como tais documentos influenciam e definem os conteúdos que são ensinados pelos professores. A criação e adoção de um currículo estão diretamente ligadas ao ideal de sociedade que se pretende formar através da escola. Da mesma forma que em tal documento se reflete política e socialmente o momento histórico de sua criação. Para tanto, adotaremos como objetivo geral de nossa pesquisa perceber a relação que os professores estabelecem entre os documentos oficiais e a prática que acaba por transformar-se no ensino de história em sala de aula, analisando os documentos oficiais para o ensino de História em vigor atualmente nas escolas estaduais de São Paulo, tal como o material didático destinado a alunos e professores. O campo teórico se apresenta com autores do Ensino de História e estudos sobre currículo. Neste texto elencamos os resultados parciais obtidos através da análise do documento curricular estadual, dos materiais didáticos, tal como questionários aplicados a oito professores da rede estadual e dos estudos bibliográficos realizados até o presente momento PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História, Currículo, Currículo do Estado de São Paulo. INTRODUÇÃO Este trabalho é parte da pesquisa em andamento no Curso de Mestrado em Educação na Universidade Estadual de Londrina, a presente pesquisa tem a intenção de estudar de forma analítica e qualitativa a visão e apropriação que os professores da rede estadual de São Paulo da disciplina de História fazem dos documentos reguladores da disciplina como o Currículo do Estado de São Paulo de Ciências Humanas e Suas Tecnologias para a disciplina de História, e os Cadernos 1 Aluno regular do curso de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina UEL. 2 Doutora em História (UFPR), Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina UEL e professora do programa de pós graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina - UEL 136

do Aluno e do Professor, e como tais documentos influenciam e definem os conteúdos que são ensinados pelos professores. Qual o conhecimento e a posição que professores de História da rede estadual de São Paulo possuem sobre os documentos reguladores da disciplina, e qual a sua real aplicabilidade no cotidiano escolar atualmente? Que influências o Currículo do Estado e o material didático têm sobre a prática pedagógica cotidiana? Essa questão nos guiará num estudo exploratório que nos permita perceber a posição dos professores em relação a tais documentos. PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES DE UMA PESQUISA Desde sua adoção enquanto disciplina escolar ainda no século XIX no Brasil, o ensino de História foi um campo de usos políticos. Quando se privilegia aquilo que seria ou não adotado no currículo da disciplina, se privilegia o ideal de sociedade que se pretende formar a partir da educação pelos grupos dominantes. Com essa prerrogativa que teria se estruturado o Ensino da disciplina desde a sua implementação no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro em 1837 e vem se mantendo até hoje no currículo oficial das escolas nacionais, como afirma Circe Bittencourt: A manutenção de uma disciplina escolar no currículo deve-se à sua articulação com os grandes objetivos da sociedade. Assim, a formação deliberada de uma classe média pelo ensino secundário, a alfabetização como pressuposto ao direito do voto, o desenvolvimento do espírito patriótico ou nacionalista, entre outras questões determinam os conteúdos do ensino e as orientações estruturais mais amplas da escola. (BITTENCOURT,1998, 17) Tais objetivos do Estado em relação à disciplina nem sempre estão explícitos no cotidiano escolar ou na prática pedagógica dos professores, mas, é possível encontrá-los explicitamente nos programas, currículos ou diretrizes da matéria. Os interesses do Estado estão ali, escondidos nas entrelinhas do documento como um palimpsesto que esconde as várias camadas de um mesmo pergaminho, portanto, é importante ver esse documento como um artefato cultural próprio de seu tempo, disposto a criar o cidadão que se deseja para a sociedade que se almeja (MOREIRA E SILVA, 2008). 137

A presente pesquisa tem a intenção de estudar de forma analítica e qualitativa a visão e apropriação que os professores da rede estadual de São Paulo da disciplina de História fazem dos documentos reguladores da disciplina como o Currículo do Estado de São Paulo de Ciências Humanas e Suas Tecnologias, para a disciplina de História e os Cadernos do Aluno e do Professor, e de que forma tais documentos influenciam e definem os conteúdos que são ensinados pelos professores. O Currículo do Estado de São Paulo começou a ser redigido, em tese de forma conjunta de professores e comunidade acadêmica, em 2008 e entregue como redação final em 2010 às escolas estaduais. Primeiramente a intenção do Currículo seria o de unificar sistematicamente todas as escolas do estado de ensino fundamental e médio sob um único documento regulador voltado para a preparação do aluno para as avaliações externas de desempenho escolar, como o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) 3. (SÃO PAULO, 2010). Ao se posicionar como um dos objetivos principais a preparação aos exames de rendimentos externos, assume um desígnio próprio, que diz respeito às preocupações das políticas públicas para a educação paulista. Essa mudança de foco do Currículo está presente já na carta de apresentação do documento redigida pelo então Secretário da Educação do Estado de São Paulo, Paulo Renato Souza: Estes documentos, que dão origem aos Cadernos do Professor do Aluno e do Gestor, são referências essenciais para o estabelecimento das matrizes de avaliação do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) (SÃO PAULO, 2010, 03) Simultaneamente, outras medidas foram tomadas pela Secretaria para a ação docente e curricular no estado. O processo de seleção para professores a serem contratados como temporários foi remodelado, foram criados materiais didáticos destinados ao professor e aos alunos da rede estadual e para os gestores. 3 O SARESP é uma avaliação externa da Educação Básica do Estado de São Paulo, criado em 1996, com a finalidade de produzir informações que auxiliem gestores no monitoramento de políticas voltadas para a melhoria na qualidade educacional (MOTA, 2014, 24) 138

O material, chamado Caderno do Aluno e Caderno do Professor é um guia para as aulas a serem ministradas durante o ano letivo, foi criado pelo programa da Secretaria da Educação do Estado São Paulo Faz Escola, em consonância com o novo Currículo estadual e o Caderno Gestor é destinado às equipes de gestão. (MOTA, 2014) Dessa forma, a pesquisa se pautará numa análise crítica dos documentos destinados ao ensino de História atualmente utilizado no estado de São Paulo, entendendo que, assim como afirmam Moreira e Silva (2008), esse currículo é um artefato social e cultural e, também próprio do seu tempo. O currículo é considerado um artefato social e cultural. Isso significa que ele é colocado na moldura mais ampla de suas determinações sociais, de sua história, de sua produção contextual. O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal ele tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação (MOREIRA E SILVA, 2008, 8) Com base em tais pressupostos definiu-se os caminhos a serem traçados nessa pesquisa, objetivando descobrir as possíveis relações existentes entre os documentos oficiais e o material didático aqui exposto e a posição dos professores de História em relação a tais objetos. Ao analisar o posicionamento dos professores em relação ao material didático e Currículo do Estado de São Paulo, utilizaremos de uma análise da interação entre as variadas respostas coletadas com os mesmos, em contraposição ao material investigado para assim chegarmos a possíveis respostas ao nosso problema. CONSIDERAÇÕES FINAIS Até o momento, realizamos a leitura e classificação das fontes documentais, e aplicação de questionários preliminares aos professores da rede estadual de São Paulo, os questionários foram aplicados entre os dias 07 e 12 de maio do ano de 2015, em sua maioria no espaço escolar onde os professores 139

lecionam. Foram entrevistados oito professores de seis colégios estaduais da cidade de Santa Cruz do Rio Pardo SP. Embora não fosse de interesse neste momento da pesquisa realizar entrevistas orais com os professores, durante a aplicação dos questionários, os professores faziam diversos comentários sobre a sua prática pedagógica, em alguns momentos contradizendo suas respostas postas no papel. De acordo com as análises preliminares feitas até o momento é possível chegar a algumas conclusões: Podemos estabelecer relações diretas ao tempo de atuação do professor com a apropriação dos documentos que serão analisados, uma vez que a maior parte dos professores passou a exercer o cargo após a implantação do Currículo do Estado em 2008. É possível ainda concluir que o material didático é predominantemente utilizado pelos professores tanto para preparação das aulas como no cotidiano da sala de aula durante o processo de ensino e aprendizagem, dessa forma, a seleção de conteúdos está intimamente ligado ao currículo e, assim, de acordo com os interesses intrínsecos do estado. Se entendermos o livro didático como elemento icônico da tradição escolar, vê-se uma substituição de uma tradição para outra. Nos questionários percebe-se menos a utilização do livro didático nas aulas e mais das apostilas criadas pela Secretaria de Educação o que não representa uma ruptura, mas uma troca. É importante salientar, no entanto, que será necessária a realização de entrevistas com os mesmo professores a fim de identificar questões que foram levantadas durante a aplicação dos questionários, porém não documentadas. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. LOPES1, Nataly Carvalho et al. UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS: IDEOLOGIA, CULTURA E PODER. In: ENPEC, 7., 2009, Florianópolis. Anais.... Florianópolis: Udesc, 2009. p. 01-12. Disponível em: <http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/312.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2014. 140

MOTA, Bruna Maria Cristina da Silva. ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO- BRASILEIRA UMA ANÁLISE DO CADERNO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA DO ENSINO MÉDIO PÚBLICO PAULISTA: UMA ANÁLISE DO CADERNO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA DO ENSINO MÉDIO PÚBLICO PAULISTA. 2014. 106 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Unesp, Marília, 2014. Cap. 01. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/home/pos- Graduacao/Educacao/Dissertacoes/mota_bmcs_me_mar.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2014. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação nº 1, de 2010. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências humanas e suas tecnologias. São Paulo, SP: See, 2010. 141