Relato de Caso: Tromboembolismo Pulmonar Maciço em paciente portadora de Trombofilia por deficiência de Proteínas C e S.

Documentos relacionados
Caso clínico. S.A.G, 35 anos

Tromboembolismo Pulmonar

TROMBOPROFILAXIA DURANTE A GRAVIDEZ, PARTO E PUERPÉRIO

Autores: TR. Alexandra Santos TR. Cláudia Marra TR. Joana Coimbra TR. Luís Pinto TR. Manuel Valentim TR. Pedro Coelho TR. Rui Esteves TR.

FATORES DE RISCO PARA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA EM PUÉRPERAS: PROJETO CEPP

Tromboembolismo Pulmonar Embolia pulmonar

Tromboembolismo Pulmonar. Fernanda Queiroz

Trombose Venosa Profunda. Embolia Pulmonar. Prof. Dr. Cristiano J. M. Pinto

IMPORTÂNCIA DA CONSULTA DE ENFERMAFGEM PARA PREVENÇÃO DA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA EM PUÉRPERAS

OS FATORES DE RISCO PARA O TROMBOEMBOLISMO VENOSO ENTRE PACIENTES SUBMETIDOS A CIRURGIAS ORTOPÉDICAS E A PROFILAXIA UTILIZADA.

Mylene Martins Lavado. Declaração de conflito de interesse

CASO CLÍNICO. Medicina-UFC. Everton Rodrigues

Trombo. A inovação da genética para o estudo da trombofilia

Epidemiologia e História Natural da TEP

Introdução: Relato de Caso de Trombose Venosa Cerebral secundária a doença Inflamatória Intestinal em Hospital Universitário

Simpósio Coração da Mulher: Antigo Desafio, Novos Conhecimentos. Anticoncepção. Nilson Roberto de Melo

Insuficiência Vascular. Profª Priscilla Rocha

Profa. Dra. Larissa Gorayb F Mota

Distúrbios da Coagulação

CASO CLÍNICO Tromboembolismo pulmonar como primeira manifestação de neoplasia pulmonar

TROMBOFILIAS Testes Moleculares GENÉTICA MOLECULAR GENÉTICA MOLECULAR

Processo Seletivo para Residência Médica 2010

Conheça fatores que causam trombose além da pílula anticoncepcional

PRODUÇÃO TÉCNICA DESENVOLVIMENTO DE MATERIAL DIDÁTICO OU INSTRUCIONAL FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU- UNESP. Programa de PG em Medicina

22ª JORNADA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MATERNIDADE SINHÁ JUNQUEIRA UNIFESP

TROMBOEMBOLISMO PULMONAR. Autor: Zandira Fernandes Data:

RESIDÊNCIA MÉDICA SUPLEMENTAR 2015 PRÉ-REQUISITO (R1) / CLÍNICA MÉDICA PROVA DISCURSIVA

CASO CLÍNICO. Clara Mota Randal Pompeu PET Medicina UFC

Avaliação do Internato 14/3/2016 Nome:

Imagem da Semana: Radiografia

COLABORADOR(ES): ALESSANDRO PRUDÊNCIO, DEBORAH CRISTINA GOULART FERREIRA, MARCELO RIÊRA

Impacto clínico da tripla positividade dos anticorpos antifosfolípides na síndrome antifosfolípide trombótica

Luís Amaral Ferreira Internato de Radiologia 3º ano Outubro de 2016

TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EMERGÊNCIAS AÓRTICAS. Leonardo Oliveira Moura

Idade e mutação da protrombina G20120A são fatores de risco independentes para a recorrência de trombose venosa cerebral

Tromboembolia Pulmonar DR. RAFAEL PANOSSO CADORE

Paralisia periódica hipocalêmica: Relato de caso em. paciente de ascendência africana.

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

ORGANIZADOR. Página 1 de 8

1. INTRODUÇÃO. 2. OBJETIVO Os objetivos desse protocolo são:

Caso 18, adaptado de Relato de Caso Clínico com finalidade didática:

HEMOFILIAS E TROMBOSE. Profa Alessandra Barone Prof. Archangelo Fernandes

Anticoagulação no ciclo. Adolfo Liao

Trombocitopenia induzida pela heparina

Avaliação Pré-Operatória: Visão do Pneumologista. Luciana Tamiê Kato Morinaga Pneumologista

CURSO DE HEMATOLOGIA E ONCOLOGIA ACADEMIA PARANAENSE DE MEDICINA TROMBOFILIA 02/03/2013. Dra. Vanda Sakae Assahide Ogasawara.

DISFUNÇÕES HEMODINÂMICAS

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Desafios clínicos cardiológicos: Um doente com hipoxémia

Aprendizado baseado na prática clínica... Caso Clínico

TEMA INTEGRADO (TI) / TEMA TRANSVERSAL (TT) 4ª. SÉRIE MÉDICA

Hospital São Paulo SPDM Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina Hospital Universitário da UNIFESP Sistema de Gestão da Qualidade

14 de setembro de 2012 sexta-feira

TROMBOEMBOLISMO VENOSO

SOPROS CARDÍACOS NA INFÂNCIA

- termo utilizado para designar uma Dilatação Permanente de um. - Considerado aneurisma dilatação de mais de 50% num segmento vascular

Programação Científica do Congresso 10 de setembro, quarta-feira

TÍTULO: OS MARCADORES BIOQUÍMICOS NO DIAGNÓSTICO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

urgência do mesmo? Pneumotórax.

Como reconhecer uma criança criticamente enferma? Ney Boa Sorte

O USO DOS NOVOS ANTICOAGULANTES NO TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR

INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

PROVA OBJETIVA. b) Liste os outros exames que devem ser solicitado para o esclarecimento do quadro e descreva qual seria a abordagem terapêutica.

XI CURSO BÁSICO de DOENÇAS HEREDITÁRIAS do METABOLISMO

HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO. Instituto de Hematologia e Oncologia Curitiba

GABARITO RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 PROVA ESCRITA ACESSO DIRETO CIRURGIA GERAL

SCORE DE RISCO TROMBÓTICO NA GRAVIDEZ E PUERPÉRIO

ANTICOAGULAÇÃO NA GESTAÇÃO E O MOMENTO DO PARTO: COMO PROCEDER

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (ISQUÊMICO) Antônio Germano Viana Medicina S8

INSTRUÇÕES DA PROVA ESCRITA. Um CADERNO DE QUESTÕES constituído de quatro questões, todas de igual valor.

TROMBOSE Prof. Rafael Fighera

IPATIMUP. Private non-profit Institution of Public Utility Associated Laboratory of the Ministry of Science and Technology since 2000

Anamnese. Qual sua hipótese diagnóstica? O que você perguntaria na HPP?


22ª JORNADA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MATERNIDADE SINHÁ JUNQUEIRA UNIFESP

Aterosclerose. Aterosclerose

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

AVC EM IDADE PEDIÁTRICA. Fernando Alves Silva

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU ORIENTAÇÃO TÉCNICA N.º 019/ CESAU

18 a 25 de Setembro de 2017 São Paulo - SP

CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA GERAL DO CBC-SP ABDOME AGUDO VASCULAR

Hipertensão pulmonar. tromboembólica crônica: do diagnóstico ao tratamento. Roberta Pulcheri Ramos. Pneumologista - Unifesp

Marcos Sekine Enoch Meira João Pimenta

ABORTAMENTO HABITUAL CASO I5

Aprimoramento em Cardiologia Pediátrica e Cardiopatias Congênitas do Adulto

SANGUE PLAQUETAS HEMOSTASIA

HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA

CASO CLINICO Realizado por: Margarida Costa e Silva Local: Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho

Embolia Pulmonar. Profº. Enf.º Diógenes Trevizan Especialização em urgência e Emergência

CRONOGRAMA TEÓRICO DATA HORÁRIO PROFESSORES TITULAÇÃO C/H RECEPÇÃO 25/04/ :00h Assistente adm. ABERTURA 25/04/ :30h Diretoria e coord.

GRUPO DE ORTOGERIATRIA

PROTOCOLO MÉDICO ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO (AEH) E OUTROS ANGIOEDEMAS BRADICINÉRGICOS. Área: Médica Versão: 1ª

Síndromes Coronarianas Agudas. Mariana Pereira Ribeiro

10 a 16 de setembro de 2018 São Paulo - SP

PROGRAMAÇÃO DE ESTÁGIO CARDIOLOGIA

Equipe Multidisciplinar de Atenção Integral ao Idoso com Fratura Avaliação e Cuidados Pré e Pós Operatórios

Reconhecendo os agravos clínicos em urgência e emergência. Prof.º Enfº. Diógenes Trevizan

Transcrição:

Relato de Caso: Tromboembolismo Pulmonar Maciço em paciente portadora de Trombofilia por deficiência de Proteínas C e S. Ana Paula Lazaretti 1 ; Fernando Covezzi da Silva Filho 1 ; Ludmila de Abreu Castro 1 ; Priscila Marques de Assis 1 ; Emanoel Baticini Montanari 2 ; Fábio José Fabrício de Barros Souza 3. 1.Graduandos em Medicina da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma SC. 2. Graduando em Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 3. Médico. Especialista em Pneumologia Santa Casa de Porto Alegre. Mestre em Ciências Pneumológicas pela UFRGS, especialização em Medicina do Sono pela USP e fellowship em Pneumologia e Medicina do Sono na Harvard University. Professor do curso de Medicina UNESC. Resumo Introdução: Tromboembolismo pulmonar é uma doença em que há obstrução da artéria pulmonar ou um dos seus ramos com diminuição do aporte sanguíneo pulmonar para a área irrigada. Um dos fatores de risco são as trombofilias hereditárias. Caso Clínico: G. C. P., 32 anos, sexo femino, do lar. Procurou a emergência por dor torácica em hemitórax esquerdo, de moderada intensidade, ventilatório dependente, súbita. Ao exame físico bom estado geral, lúcida, orientada e consciente, ventilando em ar ambiente e SO2 96%, eupneica, acianótica, com boa perfusão periférica, afebril. A ausculta cardíaca era normal e na ausculta pulmonar apresentava murmúrios vesiculares diminuídos em base esquerda. Pressão arterial de 95x70mmHg e frequência cardíaca de 85. Como antecedentes pessoais apresenta cesariana realizada há 45 dias, sem intercorrências, um episódio de trombose venosa profunda em membro inferior direito há 5 anos e tromboembolismo pulmonar há 1 ano, além de 2 episódios prévios de abortos espontâneos. Nega tabagismo. Não há história familiar de 199

episódios tromboembólicos. Exames complementares: ECG é sinusal; provas de coagulação normais; gasometria apresentando leve hipoxemia; CPK, CK-MB e Troponina normais; Angiotomografia de Tórax: achados compatíveis com tromboembolismo pulmonar maciço bilateral com hipertensão pulmonar associada a pequenos infartos pulmonares no LID. Exames ambulatoriais anteriores trazidos pela paciente: anticorpos anticardiolipina e anticoagulante lúpico negativos, proteína C e S deficientes. Paciente recebeu anticoagulação plena, foi encaminhada a UTI, permaneceu estável hemodinamicamente, devido a isso não necessitou infusão de fibrinolíticos, recebeu alta da UTI após 24 horas, estável clinicamente. Foi iniciado warfarina com alvo de INR entre 2 e 3. Recebeu alta estável e foi encaminhada ao acompanhamento ambulatorial. Discussão: A trombofilia tem por definição uma tendência à trombose decorrente de alterações hereditárias ou adquiridas da coagulação ou da fibrinólise, que levam o individuo a um estado pró-trombótico. Deficiências de Proteína C e Proteína S, são as que mais cursam com eventos trombóticos e se manifestam como tromboembolismos venosos em indivíduos jovens (< 45 anos), caráter recorrente e história familiar de eventos trombóticos. Seu acompanhamento e tratamento adequados devem ser estimulados, visto a gravidade dos quadros que podem acometer os pacientes portadores. Palavras Chave: tromboembolismo pulmonar; trombofilia; proteínas C e S 200

1. Introdução: Tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma doença cardiopulmonar que ocorre devido a uma obstrução por um trombo formado no sistema venoso profundo, que ao atravessar as câmaras direitas do coração impacta e obstrui a artéria pulmonar ou um dos seus ramos com consequente redução ou cessação do aporte sanguíneo pulmonar para a área irrigada. Nos EUA cursa com uma incidência de 1:1000 indivíduos, sendo que 15% dos indivíduos morrem nos primeiros 3 meses e cerca de 10% dos casos o quadro abre com morte súbita. Sua fisiopatologia está relacionada a fatores trombogênicos descritos na Tríade de Virchow (estase do fluxo venoso, lesão ou inflamação endotelial e estados de hipercoagulabilidade), sendo assim qualquer ocasião de imobilização prolongada, cirurgias, traumas, tromboembolismo venoso prévio, doença maligna, obesidade, uso de estrogênio e parto, aumentam possibilidade de um trombo se formar. Ainda como fatores de risco existem as trombofilias, que são desordens de coagulação que criam um estado de hipercoagulabilidade, favorecendo a ocorrência de trombos, dentre elas a deficiência de antitrombina; deficiência de proteínas C e S; resistência à proteína C (fator V Leiden); desfibrinogenemia; anticorpo antifosfolipídio/antiocardiolipina; mutação da protrombina; desordens do plasminogênio. A proteína C é uma glicoproteína produzida pelo fígado, células de Leydig e no epidídimo que quando na forma ativa, é capaz de exercer efeito tanto na via intrínseca como extrínseca da coagulação por inativar os fatores Va e VIIIa. Sua deficiência é fator de risco para trombose em cerca de 2 a 5% dos pacientes e sua herança é do tipo autossômica dominante. Já a proteína S ativa a proteína C e inativa os fatores Va e Xa, muito parecida com a antitrombina III e a proteína C, quando afetado pela deficiência da proteína S o indivíduo tem até 70% de risco de vir a ter um episódio de trombose antes dos 60 anos. Ambas proteínas são responsáveis por manter a fluidez sanguínea apesar de fatores coagulantes, porém quando esses fatores se sobrepõem aos mecanismos de controle e regulação acabam favorecendo o aparecimento de eventos trombóticos. Sendo assim, indica-se realizar os testes para trombofilia nos pacientes com menos de 50 anos que apresentam episódios recorrentes de TEP, sem outro fator de risco e em pacientes com história familiar de tromboembolismo venoso, com acometimento de mais de uma geração ou que ocorra em sítios não comuns. 2. Objetivo: Descrever caso de paciente que desenvolveu tromboembolismo pulmonar maciço e foi diagnosticado trombofilia por deficiência de proteínas C e S. 3. Metodologia: 201

As informações foram obtidas por meio de entrevista com o paciente, revisão do prontuário, registro fotográfico dos exames e revisão da literatura. 4. Caso Clínico G. C. P., 32 anos, sexo femino, casada, natural e procedente de Criciúma-SC, do lar. Procurou o pronto socorro por dor torácica súbita em hemitórax esquerdo, de moderada intensidade, ventilatório dependente, que a acordou durante a madrugada. Refere que há aproximadamente uma semana apresentou inicio de dor leve no mesmo hemitórax, associada a febre de 39ºC, fazendo então uso de assintomáticos e apresentou melhora do quadro no momento. Ao exame físico apresentava bom estado geral, lúcida, orientada e consciente, ventilando em ar ambiente e saturando 96%, eupneica, acianótica, com boa perfusão periférica. A ausculta cardíaca era normal e na ausculta pulmonar apresentava murmúrios vesiculares diminuídos em base esquerda, sem ruídos adventícios. Estava estável hemodinamicamente com pressão arterial de 95x70mmHg, frequência respiratória de 18 incursões respiratórias por minuto e frequência cardíaca de 85 batimentos por minuto. Paciente apresenta-se em período pós-puerperal, cesariana realizada há 45 dias, sem intercorrências. Não faz uso de nenhuma medicação. Como antecedentes pessoais apresenta um episódio de trombose venosa profunda em membro inferior direito há 5 anos e tromboembolismo pulmonar há pouco mais de 1 ano, além de 2 episódios prévios de abortos espontâneos. Refere fazer acompanhamento irregular com reumatologista por doença trombofílica, porém não sabe referir qual. Nega tabagismo ou etilismo. Não há história familiar de episódios tromboembólicos. 4.1. Exames complementares: ECG de entrada é sinusal, regular, com FC=80bpm. Plaquetas: 173.000, INR: 1.17, TAP: 15.2 seg, Atividade de Protrombina: 77%, KPTT: 159,90. Gasometria de entrada: ph: 7.426, po2: 68.2, pco2: 39.7, HCO3: 25.5, BE:-2.5, SO2: 93.9%. CPK, CK-MB e Troponina: normais. Angiotomografia de Tórax: Múltiplas falhas de enchimento na artéria pulmonar esquerda e em ramos segmentares para os LLII e LSE, compatíveis com tromboembolismo pulmonar. Tronco da artéria pulmonar medindo 3,2cm associado a proeminência das câmaras cardíacas, indicativo de hipertensão pulmonar (figura 1). Pequenas consolidações medindo 1,4cm e 1,1 cm localizados no segmento basal posterior do LID (figura 2), sugestivos de infartos pulmonares. Conclusão: achados compatíveis com tromboembolismo pulmonar maciço bilateral com hipertensão pulmonar associada a pequenos infartos pulmonares no LID. Ecocardiograma transtorácico: Hipertensão arterial pulmonar (estimada pressão pulmonar sistólica máxima em 52mmHg), regurgitação mitral leve e sobrecarga de câmaras direitas. 202

Traz consigo exames realizados há alguns meses ambulatorialmente: Anticorpos anticardiolipina e anticoagulante lúpico negativos. Proteína C e S deficientes. 4.2. Evolução Após o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar maciço confirmado por Angiotomografia de tórax foi instituída anticoagulação plena imediatamente ao diagnóstico com Enoxaparina 1mg/kg de 12/12 horas, paciente foi encaminhada para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Devido à estabilidade hemodinâmica, não foi necessária infusão de fibrinolíticos. Na UTI, evoluiu bem, sem instabilidade hemodinâmica permanecendo 24 horas com posterior alta para leito comum. No segundo dia de internação foi iniciado Warfarina, tendo como alvo o RNI entre 2 e 3. Recebeu alta estável hemodinamicamente, sem repercussões sistêmicas e realizará acompanhamento ambulatorial, matendo-a anticoagulada por tempo indeterminado. 5. Discussão A trombofilia tem por definição uma tendência à trombose decorrente de alterações hereditárias ou adquiridas da coagulação ou da fibrinólise, que levam o individuo a um estado pró-trombótico. São classificadas como hereditárias ou adquiridas. A trombofilia hereditária decorre de mutações em fatores envolvidos na coagulação sanguínea, sendo os principais a deficiência das proteínas C, S e antitrombina, fator V de Leiden, mutação G20210A no gene da protrombina (fator II da coagulação). A trombofilia é adquirida quando esta associada a outras condições clínicas, como uso de medicações, neoplasias, síndrome antifosfolípide, imobilização, anticoncepcionais orais, dentre outros fatores. Deficiências de Proteína C e Proteína S apesar de serem menos comuns, são as que mais cursam com eventos trombóticos. Do ponto de vista clínico as trombofilias hereditárias manifestam-se como tromboembolismos venosos características peculiares como: ocorrência em indivíduos jovens (< 45 anos), caráter recorrente e história familiar de eventos trombóticos. Os defeitos trombofílicos podem também causar várias complicações obstétricas, como dificuldade para engravidar, gestações complicadas, abortos de repetição. A análise laboratorial desses distúrbios sempre deve ser investigada. Alterações no organismo materno durante a gravidez e o puerpério contribuem para o estado de hipercoagubilidade. Associado a isso, a presença de outros fatores de risco para o tromboembolismo requer atenção especial, visto que diagnóstico tardio, tratamento inadequado ou tardio e profilaxia imprópria podem levar à morte materna. A profilaxia não farmacológica recomendada durante a gravidez e no puerpério compreende uso de meias de compressão, hidratação adequada, evitar viagens terrestres e aéreas de longas distâncias e imobilização prolongada. Recomenda-se deambulação 203

precoce após o parto e profilaxia mecânica, induzida por exercícios ativos e passivos, incluindo flexão e extensão dos tornozelos, joelhos e quadris, pode evitar a estase venosa; além da possibilidade de anticoagulação farmacológica. Por fim, deve-se ainda considerar que, por serem defeitos hereditários, a demonstração de um defeito trombofílico congênito determina qual será a investigação dos familiares e aqueles que forem portadores assintomáticos deverão receber orientação adequada em situações de risco, visando evitar a ocorrência de eventos trombóticos. 3. Tabela e figuras Figura1: Tronco da artéria pulmonar medindo 3,2cm associado a proeminência das câmaras cardíacas, indicativo de hipertensão pulmonar Fonte: arquivo pessoal 204

Figura2: consolidações medindo 1,4cm e 1,1 cm localizados no segmento basal posterior do LID Fonte: arquivo pessoal 205

Referências Deficiencia de proteínas C y S: marcadores de riesgo trombótico-revista Cubana Hematología, Inmunología y Hemoterapia. 2013;29 (1):40-47 Lic. Yaneth Zamora-González, Dra. Olga M. Agramonte-Llanes, Lic. Loreta Rodríguez-Pérez TESE DE MESTRADO. Caracterização molecular da deficiencia de proteína. Luciana Pugliese da Silva. Área de concentração: Farmacologia Titulação: Mestre em Ciencias Médicas. Trombose venosa profunda: prevalência da deficiência da proteína S e a interferência da coagulação oral. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.25 no.4 São José do Rio Preto 2003.José Maria Pereira de Godoy; Miriam Aparecida Linares; Tais Elizabete Rodrigues; Ronaldo Nardão Mendes; Domingo Marcolino Braile. Diretriz de Embolia Pulmonar. Arq. Bras. Cardiol. vol.83 suppl.1 São Paulo Aug. 2004. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. Flávia Alvares; Adriana Ignácio de Pádua; João Terra Filho. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 214-240, abr./dez. 2003 206

. 207