TRIBUNAL MARÍTIMO FC/FAL PROCESSO Nº 25.742/11 ACÓRDÃO



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I miii mil mu mu mu um um mu mi nu *D?7fi3RR9*

Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO FC/FAL PROCESSO Nº 25.742/11 ACÓRDÃO B/P ALIANÇA e moto aquática ÁGUA AZUL. Abalroação. Danos materiais e lesões corporais graves nos ocupantes da moto aquática. Erro de navegação do condutor do barco de pesca. Descumprimento das Regras do RIPEAM, em especial as Regras 5, 6 e 13, por falha na vigilância, velocidade incompatível com sua navegação e para o local e ultrapassagem em desacordo com a boa prática marinheira. Negligência. Infração ao RLESTA cometida pelo proprietário da moto aquática. Cópia do Acórdão para o D. Ministério Público do Estado de São Paulo. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Consta que cerca de 13h, do dia 13 de janeiro de 2010, ocorreu um abalroamento envolvendo o B/P ALIANÇA, casco de alumínio, de 5,8m de comprimento, 1,55m de boca, motor de 40 HP, área de navegação interior, lotação para 5 pessoas, embarcação miúda sem cabine habitável, em processo de inscrição, conduzida por seu proprietário, Almerindo de Almeida Oliveira, e a moto aquática ÁGUA AZUL, nº de inscrição 404M2007004381, casco de fibra de vidro, de 3,31m de comprimento, ano de construção 2006, motor de 130 HP, com capacidade para 1 tripulante e 3 passageiros, classificada para esporte e recreio, navegação interior, área 1, de propriedade de Pierre Isidoro Loeb, conduzida por Jefferson Williams Pereira da Silva, Arrais Amador, com danos materiais e lesões corporais aos ocupantes da moto aquática, no rio Una, São Sebastião, SP, sem registro de poluição ao meio ambiente. No Inquérito Instaurado pela Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião foram ouvidas quatro testemunhas e um informante (Thomaz de 10 anos de idade) e anexados os documentos de praxe. Nas fls. 8 a 10 consta o Boletim Nº 16/2010, na 4ª D.P. S. Sebastião, referente à Lesão Corporal Culposa (art. 129, 6º). Vítimas: Jefferson Williams Ferreira da Silva, Gustavo Loeb e Thomas Hanz; autor: Almerindo de tal. Reportando, em síntese, que a moto aquática foi atingida, por trás, pela embarcação de alumínio que trafegava em velocidade acima da permitida, chegando a subir na moto aquática; uma das vítimas, Tomas, foi removido ao pronto socorro de Boiçucanga e, depois, para o Hospital Central e, em seguida, para o hospital Albert Einsten, na Capital, para cirurgia emergencial e reconstrução do crâneo. O piloto da embarcação que deu causa ao acidente evadiu-se do local. 1/9

Na fl. 15 consta o seguro obrigatório DPEM da moto aquática, com data posterior ao acidente em pauta; na fl. 29 consta o Auto de Infração, em 9 de dezembro de 2009 (antes do acidente em pauta), da embarcação ALIANÇA, por seu proprietário, Almerindo Almeida Oliveira, não ter providenciado a inscrição da embarcação no prazo previsto, ultrapassando em 6 anos e 3 meses o prazo previsto. No Laudo de Exame Pericial, fls. 41 a 46, com fotografias da área e da moto aquática, realizado no dia 3 de fevereiro de 2010, consta que as embarcações estavam em bom estado de conservação e a moto aquática estava com pequenos arranhões; segundo relato dos depoentes, o dia estava bom, sem vento e com boa visibilidade; ocorreu traumatismo craniano e perda de massa cefálica em Thomas (10 anos de idade); lesão em uma vértebra da coluna e escoriações no corpo de Gustavo (10 anos de idade); e luxações no braço esquerdo e no tórax de Jefferson; além de arranhões na popa e costado da moto aquática ÁGUA AZUL, mas sem registro de poluição ao meio ambiente. A embarcação ALIANÇA não apresentava sinais do abalroamento. Os Peritos concluíram que o fator operacional contribuiu e que a causa determinante do acidente foi o ato negligente do condutor da embarcação ALIANÇA, ao trafegar com excesso de velocidade, no rio Una, que é de 4 nós, aliado ao mal acondicionamento das caixas de peixe na embarcação. Os Peritos consideraram que, com base nas declarações colhidas no local do abalroamento e na perícia realizada nas embarcações, verificou-se que a embarcação ALIANÇA entrou no rio Una com velocidade acima da permitida para o local (que é de 4 nós) e, devido à falta de visibilidade, em decorrência de vinte e cinco caixas de peixe mal acondicionadas do meio da embarcação para vante, dificultando a visão do condutor desta embarcação de alumínio, ALIANÇA, o mesmo não conseguiu manobrar a tempo de evitar o acidente. Jefferson Williams Pereira da Silva, Arrais Amador, fls. 17 e 18, em síntese, declarou que conduzia a moto aquática ÁGUA AZUL e levava as duas crianças, ambas de 10 anos de idade, Thomas e Gustavo; era funcionário do proprietário e cuidava da embarcação; vinha do mar e, ao adentrar o rio Una, na altura do Iate Clube Barra do Una, navegando em linha reta, com cerca de 4 nós de velocidade, foi abalroado por trás pela embarcação ALIANÇA, que subiu com seu bico de proa na popa da moto aquática, atingindo a cabeça do Thomaz, que sofreu um corte na cabeça e perdeu massa cefálica e muito sangue; Gustavo teve escoriações e lesão em uma das vértebras da coluna e o depoente sofreu luxação no braço esquerdo e no tórax; não viu a embarcação ALIANÇA antes do abalroamento, pois os retrovisores são muito próximos e não possuem distância suficiente para dar visão de trás; após o acidente, os dois meninos 2/9

estavam caídos na água e o condutor da embarcação ALIANÇA começou a falar palavrões, manobrou a embarcação simplesmente foi embora. Rodrigo Nolasco Ferreira da Silva, fls. 61 e 62, em síntese, declarou que se encontrava no deck do iate clube Barra do Una, viu o abalroamento; que a moto aquática ÁGUA AZUL passou e em questão de uns vinte segundos surgiu a embarcação ALIANÇA e abalroou a moto aquática; que esta estava quase parada e a embarcação ALIANÇA com cerca de doze a treze nós; que o depoente e outra pessoa que estava no deck foram para a água e ajudaram o marinheiro Jefferson a resgatar as duas crianças que caíram na água com o impacto do abalroamento. Puseram-nas em um bote e prestaram os primeiros socorros no deck do iate clube e aguardaram a chegada dos Bombeiros; que o abalroamento não foi na curva, mas em linha reta; e que o condutor da embarcação ALIANÇA não prestou socorro às vítimas, disse um monte de palavrões e foi em direção a boca da barra do rio; que, da metade para frente, a embarcação estava cheia de caixas empilhadas; que, com certeza, tampavam a visão do condutor. Almerindo de Almeida Oliveira, Pescador Profissional fls. 66 a 68, em síntese, declarou que a documentação de sua embarcação estava sendo regularizada; estava sozinho conduzindo a embarcação ALIANÇA, na moto aquática estavam o condutor e duas crianças; seguia navegando subindo o rio Una e observou que uma moto aquática com 3 pessoas trafegava à sua frente, pelo través de bombordo. Por um instante não viu mais a referida moto aquática. Neste momento reduziu a velocidade de sua embarcação para sua proa abaixar e ter melhor visão, porque estava sendo atrapalhada pelas caixas de peixe que transportava, não percebendo que a moto aquática havia parado no meio do canal, nas proximidades do iate Clube Barra do Una e não deu tempo de evitar o abalroamento; que uma das crianças se machucou; calcula que estava navegando com 4 a 6 nós de velocidade e a moto aquática trafegava a sua frente com velocidade superior; que não socorreu as vítimas, porque entrou em estado de choque e porque percebeu que elas estavam sendo devidamente socorridas pelos funcionários do iate Clube; a bordo havia vinte cinco caixas, mas somente cinco com peixes, todas acondicionadas na proa da embarcação; que estavam atrapalhando sua visão, mas não havia pensado nesta possibilidade; quando viu a moto aquática atravessada na frente de sua embarcação, manobrou para bombordo, adotando neste caso, todo o procedimento para evitar o abalroamento, mas não obteve êxito. Nas fls. 92 e 93 constam fotografias da cabeça da criança Thomas, após a cirurgia; na fl. 95 consta o Relatório Médico do Dr. João Luiz Nóbrega, referente ao paciente Gustavo, vítima, que bateu com a cabeça e como consequência teve lesão na cervical, sem lesão medular; nas fls. 97 a 114 constam as peças do Processo 3/9

587.01.2010.000978-6/000000-000, no 10.Juizado Especial Criminal, ação 1021- Crime de Lesão Corporal Culposa. O Encarregado do IAFN, fls. 118 a 126, depois de resumir o Laudo de Exame Pericial e os depoimentos, considerou que o fator operacional contribuiu, devido ao não cumprimento de Regras do RIPEAM; não foi observada a velocidade de segurança estipulada para as embarcações trafegarem no rio Una, pelo condutor da embarcação ALIANÇA, aliado ao fato de as caixas de peixes reduzirem consideravelmente sua visibilidade; que o condutor da embarcação ALIANÇA descumpriu o estabelecido nas regras 5 Vigilância, 6 Velocidade de segurança, 7 Risco de abalroamento, e 8 Manobras para evitar abalroamento; e apontou Almerindo de Almeida Oliveira como o possível responsável pelo abalroamento em pauta. O indiciado apresentou defesa prévia, fl. 131 a 133, em síntese, responsabilizando o condutor da moto aquática, por falta de vigilância (Regra 5 do RIPEAM); que não havia como informar a velocidade da embarcação ALIANÇA, por não haver instrumento a indicar sua velocidade impugnando a velocidade declarada pelo indiciado, de 4 a 6 nós. Finalizou requerendo seja aceita a Defesa Prévia, com a improcedência das conclusões do Inquérito e o arquivamento dos autos, mas, caso seja divergente o entendimento, requer que seja também responsabilizado o condutor da moto aquática ÁGUAS AZUIS, Jefferson Williams Pereira da Silva, por também ter contribuído com culpa no acidente em pauta, por não conduzir sua embarcação com a devida cautela de segurança defensiva de navegação. A Douta Procuradoria, fls. 139 a 142, depois de resumir os principais fatos apurados nos autos, em uniformidade de entendimento com os Peritos e o Encarregado do Inquérito, representou em face de Almerindo de Almeida Oliveira, Pescador Profissional, proprietário e condutor do B/P ALIANÇA, com fulcro no art. 14, letra a (abalroamento), e 15, letra e, ambos da Lei nº 2.180/54, fundamentando no IAFN. Por oportuno, apontou a infração à Lei nº 8.374/91, cometida pelo proprietário da moto aquática ÁGUA AZUL, Pierre Isidoro Loeb, por ter apresentado seguro obrigatório DPEM com data posterior ao acidente. Ressaltou que o Representado deixou de prestar o devido socorro às vítimas, por alegar estar em estado de choque, logo após o acidente. Citado o representado que não consta do rol de antecedentes neste E. Tribunal apresentou defesa por advogado regularmente constituído. Almerindo de Almeida Oliveira, fls. 155 a 157, em síntese, alegou que o condutor da moto aquática tinha apenas 50 dias de habilitação e ainda levava consigo dois menores e o responsabilizou, assim como o proprietário desta moto aquática pelos 4/9

fatos do dia 19 de janeiro de 2010, como abaixo transcrevo: 1. O Representando estava guiando em linha reta embarcação com comprimento total de 5,80 metros, portanto, não impossível de se ver, como alega o condutor inexperiente do jet-ski; 2. A falta de visibilidade alegada pelo condutor do jetski deu-se pela falha estrutural de seu equipamento, ou melhor, com as palavras do próprio em seu depoimento de fls. 17/18: (...) que, o jet-ski AGUA AZUL possui dois retrovisores; que não visualizou a embarcação vindo a ré, pois os retrovisores são muito juntos e não possuem largura suficiente para que tivesse a visão atrás. Grifo nosso. 3. Deixar que um condutor inexperiente transporte dois menores, pior ainda, que não tem noção de como regular os retrovisores da embarcação. 4. O Art. 15, alínea e, da Lei 2.180/54 consideram-se fatos da navegação todos os fatos que prejudiquem ou ponham em risco a incolumidade e segurança da embarcação, as vidas e fazendas de bordo. Grifo nosso. 4.1. O proprietário e o condutor da moto aquática ÁGUA AZUL, ao não deixarem a embarcação em condições reais de utilização concorrem diretamente para os fatos de 13 de janeiro de 2010, pois conforme informação do próprio condutor a embarcação estava com seus retrovisores desregulados, impossibilitando a visibilidade de qualquer embarcação que viesse em sua popa. 4.2. Além de recolher o seguro obrigatório da embarcação somente em 22 de abril de 2010, deixando que sua embarcação navegasse sem toda a documentação organizado e em dia. Excelência, todos os fatos demonstram a falta de interesse do proprietário da moto aquática em manter tanto a documentação, como principalmente a segurança dos usuários, desta forma concorre diretamente para todos os fatos que acabaram acontecendo em 13 de janeiro de 2010. Alegou, também, que o representado não prestou socorro, no momento da abalroação, mas que testemunhas comprovariam que este não o fez somente por ter entrado em estado de choque, pois nada parecido lhe havia acontecido em toda a sua carreira; que é pescador profissional, com CIR desde 31/10/2002 sem que houvesse incorrido em qualquer abalroação anterior. Requereu a declaração de sua inocência, pois o proprietário e o condutor da moto aquática ÁGUA AZUL teriam concorrido diretamente para o acidente, por não manterem a embarcação em perfeito estado de manutenção, julgando inteiramente improcedentes os pedidos formulados na Representação e para que lhe fosse deferida a Gratuidade Processual, nos moldes da Lei nº 1.060/50 e Declaração de Insolvência anexada à Defesa (fl. 159), além da produção das provas em direito admitidas. Na fl. 158 relacionou quatro testemunhas. Foi deferida a gratuidade de justiça requerida, com a ressalva prevista no art. 12, da Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950. 5/9

Aberta a Instrução, a D. Procuradoria não requereu novas provas e o Representado repetiu o rol de testemunhas que pretendia ouvir, fl. 165, mas não apresentou a relação de quesitos iniciais, já que as testemunhas seriam ouvidas por delegação de competência, art. 110 do RIPTM. Foi dado novo prazo ao Representado, publicado no DOU nº 115, de 15 de junho de 2012; em 21 de junho de 2012 a I. Patrona do Representado apresentou petição requerendo nova devolução de prazo, alegando estar em viagem ao exterior e substabelecendo, com reserva de poderes a Procuração que lhe foi outorgada, juntando cópia de página do site com os itinerários de sua viagem, o que foi, excepcionalmente, deferido, fl. 173, publicado no DOU nº 131, de 9 de julho de 2012, mas o Representado deixou decorrer este novo prazo sem a apresentação da relação dos quesitos para as testemunhas. Instrução foi encerrada. Considerando o não cumprimento do determinado, reiterado duas vezes, a Em Alegações Finais a D. procuradoria reiterou os termos de sua exordial e que os sustentaria em plenário e o Representado, fls. 186 a 188, repetiu os termos de sua peça de Defesa, exceto quanto ao rol das testemunhas. Decide-se: De tudo o que consta dos presentes autos temos que a D. Procuradoria representou em face de Almerindo de Almeida Oliveira, Pescador Profissional, proprietário e condutor do B/P ALIANÇA, com fulcro no art. 14, letra a (abalroamento) e art. 15, letra e, ambos da Lei nº 2.180/54, fundamentando no IAFN. Considerou, em síntese, que o Representado foi imprudente, ao navegar em alta velocidade (fato corroborado pela proa levantada, mesmo com cerca de 25 caixas de peixes fazendo peso), navegando com visão reduzida, como afirmado, não tendo tempo suficiente para efetuar qualquer manobra a fim de evitar o acidente, expondo a risco as vidas, a própria embarcação e à segurança da navegação, risco que acabou se materializando na abalroação em pauta e sérios ferimentos causados nos passageiros da moto aquática. O Representado também infringiu as Regras 5 a 8 do RIPEAM, requerendo a sua condenação. Por oportuno, apontou a infração à Lei nº 8.374/91, cometida pelo proprietário da moto aquática ÁGUA AZUL, Pierre Isidoro Loeb, por ter apresentado seguro obrigatório DPEM com data posterior ao acidente. A Defesa do Representado tentou transferir para o condutor e para o proprietário da moto aquática abalroada a responsabilidade pelo acidente, mas não apresentou Representação de Parte para se estabelecer o contraditório e a ampla defesa, não estando estes dois em julgamento, entretanto, apenas para que não pairem dúvidas, as 6/9

acusações a eles apresentadas não guardam relação causal com o acidente da navegação em pauta, razão pela qual não foram colocados no polo passivo da Representação. As provas dos autos são contundentes em demonstrar a responsabilidade do Representado que trafegava em velocidade acima da permitida para área (excesso de velocidade) e, principalmente, em desrespeito à Regra 6, do RIPEAM, Velocidade de Segurança, que, associado a sua grave falha na vigilância, Regra 5, do RIPEAM, não viu a embarcação que estava a sua frente, provocando o abalroamento ora em análise, descumprindo a Regra 13, do RIPEAM, Ultrapassagem, que, expressamente estabelece, em seu item (a) Quaisquer que sejam as disposições contidas nas Regras da parte B, Seções I e II, toda embarcação que esteja ultrapassando outra deverá manter-se fora do caminho dessa outra. Pouco importa se a moto aquática estava parada ou trafegando em baixa velocidade (a máxima permitida na área era de 4 nós, cerca de 7,4 Km/h), pois o condutor do B/P ALIANÇA não estava atento à sua navegação e trafegava com excesso de velocidade (Regras 5 e 6, do RIPEAM), pois, das provas dos autos, consta que trafegava sozinho, com a proa da sua embarcação levantada e com carga obstruindo sua visão, como consta dos depoimentos, inclusive do próprio Representado, que declarou que estava sozinho na embarcação, subindo o rio Una; Neste momento reduziu a velocidade de sua embarcação para a sua proa abaixar e ter melhor visão, porque estava sendo atrapalhada pelas caixas de peixe que transportava, não percebeu que a moto aquática havia parado no meio do canal, nas proximidades do iate Clube Barra do Una e não deu tempo de evitar o abalroamento. Em seu depoimento tentou justificar a falta de prestação de socorro às vítimas, pois, como declarou, estaria em estado de choque e porque teria percebido que eles já estavam sendo devidamente socorridos pelos funcionários do iate clube, além de, em sua Defesa, ter se defendido disto, inclusive requerendo a oitiva de quatro testemunhas que não foram ouvidas, porque o Representado não atendeu às reiteradas oportunidades de produzir esta prova, o que não afasta a sua responsabilidade e é contrariado pelos depoimentos do condutor da moto aquática e do Sr. Rodrigo Nolasco Ferreira da Silva, fls. 61 e 62, que declararam que o Representado, depois do acidente, ainda ficou gritando palavrões e simplesmente manobrou sua embarcação e foi embora, mas disso, falta de prestação de socorro, art. 15, letra d, da Lei nº 2.180/54, embora conste nos fatos, ele não foi acusado, expressamente, na Representação da D. Procuradoria, mas cabe, na aplicação da penalidade, considerar o previsto no art. 124, inciso VI. 7/9

Por todo o exposto e por tudo mais que dos Autos consta, com base no forte conjunto probatório, devem ser acolhidos os termos da representação da D. Procuradoria, para responsabilizar o Representado, por sua conduta negligente, quase de dolo eventual, pelo acidente da navegação tipificado no art. 14, letra a (abalroação) e o fato da navegação tipificado no art. 15, letra e (exposição a risco), ambos da Lei nº 2.180/54. Por oportuno, deve ser oficiado à Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião, agente da Autoridade Marítima, para as sanções cabíveis, com fulcro no parágrafo único do art. 33, da LESTA, Lei nº 9.537/97, a infração ao art. 19, do RLESTA, Decreto nº 2.596/98, c/c a Lei nº 8.374/91, pela falta do seguro obrigatório DPEM, válido para a época do acidente, da moto aquática ÁGUA AZUL, da responsabilidade do seu proprietário, Pierre Isidoro Loeb, que não tem relação causal com o acidente em pauta. Assim, ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente e do fato da navegação: abalroamento envolvendo duas embarcações nacionais, com lesões corporais graves nos três ocupantes da moto aquática, vítimas não fatais e danos materiais, mas sem registro de poluição ao meio ambiente; b) quanto à causa determinante: erro de navegação, pelo descumprimento das Regras de Navegação, por parte do condutor do B/P ALIANÇA, em especial as Regras 5, 6 e 13, do RIPEAM, por falha na vigilância, velocidade incompatível com a navegação que empreendia e ultrapassagem; e c) decisão: julgar o acidente da navegação, tipificado no art. 14, letra a (abalroamento) e o fato da navegação, tipificado no at. 15, letra e (exposição a risco), ambos da Lei nº 2.180/54, como decorrentes de negligência do Representado, Almerindo de Almeida Oliveira, condutor e proprietário do B/P ALIANÇA, acolhendo os termos da Representação da D. Procuradoria Especial da Marinha e, considerando as circunstâncias e consequências do acidente, por não ter antecedentes neste E. Tribunal, com fulcro nos artigos 121, incisos II e VII, 124, incisos I, III, VI e IX, e 127, todos da Lei nº 2.180/54, aplicar-lhe a pena de multa de R$ 500,00 (quinhentos reais), cumulativamente com a pena de suspensão por três meses, dispensando-o do pagamento das custas processuais, por ter sido deferida a gratuidade de justiça, ressalvando o previsto no art. 12, da Lei nº 1.060/50. Oficiar à Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião, agente da Autoridade Marítima, para as sanções cabíveis, a infração ao art. 19, do RLESTA, c/c a Lei nº 8.374/91, falta do seguro obrigatório DPEM, da moto aquática ÁGUA AZUL, da responsabilidade de Pierre Isidoro Loeb, por não ter relação causal com o acidente em pauta. Enviar cópia do Acórdão ao D. Ministério Público do Estado de São Paulo. 8/9

Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 14 de fevereiro de 2013. FERNANDO ALVES LADEIRAS Juiz-Relator Cumpra-se o Acórdão: Aos 05 de abril de 2013. LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente DINÉIA DA SILVA Diretora da Divisão Judiciária AUTENTICADO DIGITALMENTE 9/9