DIDATICA CRITICA. Unidade II - Educação e Relacionamentos Intra e Extra Escolares

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Transcrição:

DIDATICA CRITICA Unidade II - Educação e Relacionamentos Intra e Extra Escolares 0

Relações sociais e interpessoais dentro da escola, numa perspectiva didática Formar crianças e adolescentes sociáveis, felizes e empreendedores é um belo desafio nos dias de hoje. A solidão nunca foi tão intensa: os pais escondem seus sentimentos dos filhos, os filhos escondem suas lágrimas dos pais, os professores se ocultam atrás do giz. O sofrimento nos constrói ou nos destrói. Devemos usar os sofrimentos para construir sabedoria. AUGUSTO CURY O ser humano tem uma necessidade íntima de estabelecer relações, de socializarse com as outras pessoas. Percebemos isto no trabalho, na família, nos clubes, instituições religiosas e especialmente no ambiente escolar. Estas relações não se eximem de regras ou normas, que fazem com que cada pessoa entenda exatamente o que esperar dos outros e o que se espera dela, determinando as funções de cada um neste meio social. Se analisarmos o ambiente escolar, que é o local específico para aquisição do saber, todas as ações desenvolvidas por professores, alunos e demais integrantes desta comunidade, são orientadas por um conjunto de normas e regras bem definidas, que tornam explícitos os papéis desempenhados por professores, alunos, pais, mães, diretores, coordenadores, funcionários e a comunidade interna e externa. Vimos que educar para a cidadania implica na formação de pessoas que possam participar da vida pública e política da sociedade. Esta formação deve levar em conta também que o exercício da cidadania envolve relacionamentos com diferentes pessoas. Isto pede [...] desenvolvimento de competências para lidar com a diversidade e o conflito de idéias, com as influências da cultura e com os sentimentos e emoções presentes nas relações do sujeito consigo mesmo e com o mundo à sua volta. (Araújo, 2004) 1

Existem diferentes níveis a partir dos quais se podem analisar as relações sociais em um contexto escolar. Esses níveis dependem dos tipos de relações sociais mantidas pelos membros do grupo consigo mesmos e com o entorno no qual se inserem. É preciso que as relações interpessoais na escola sejam democratizadas, fazendo com que haja um espaço real de participação de alunos e professores na construção das regras sociais da escola. Este espaço coletivo deve propiciar reflexão e transformação, baseados naquilo que a comunidade escolar julgar importante para melhorar o trabalho coletivo e a convivência na escola. As relações que ocorrem dentro da escola são facilitadas ou não, em virtude da maneira como a escola é gerida. Uma gestão participativa consegue promover o envolvimento das pessoas nas decisões, além de democratizar a convivência coletiva e as relações interpessoais. Se for possível que a comunidade esteja presente nos processos decisórios, teremos uma escola que promoverá mudanças nas relações de poder, construindo a cidadania. Observe o mapa abaixo. Ele nos mostra as intrincadas relações intra e extra escolares, na busca pelo desenvolvimento didático e aprendizagem dos alunos. 2

Fonte: NASCIMENTO, Julia. 2009 A relação de maior destaque e mais discutida dentro de uma escola é a relação professor-aluno. O trabalho pedagógico desempenhado pelo professor sofre influência de vários agentes sociais que, de uma forma ou de outra estão ligados à sua prática: os alunos, pais, gestores, comunidade, sistema escolar e políticas públicas educacionais. Portanto, a relação professor-aluno vai muito além da sala de aula, pois sofre pressões externas vindas de diferentes situações ou pessoas que influenciam a atividade docente. Vocês já conhecem a atividade docente e o papel da didática nesta atividade e na aprendizagem dos alunos, assim como a importância do diálogo e da afetividade 3

neste processo. Esquema do texto: A relação Professor/Aluno no processo de ensino e aprendizagem. EDUCAÇÃO RELAÇÃO PROFESSOR/ ALUNO OUVIR REFLETIR APRENDIZAGEM AUTONOMA DIÁLOGO CRIAR PONTES CURIOSIDADE EDUCAR PARA MUDANÇAS ALUNO EMPATIA AUTONOMIA FORMAR CIDADÃO SENTIMENTOS LIBERDADE DEVERES RESPONSABILIDADE SOCIAL AFETIVIDADE Fonte: NASCIMENTO, Julia. 2009 Aprofundem suas reflexões sobre a relação professor-aluno, acessando o texto na íntegra em http://www.espacoacademico.com.br/052/52pc_silva.htm 4

Outra relação estabelecida na escola e digna de reflexão é aquela mantida entre pais e professores. Tanto a Constituição Federal de 1988(Cap. VII art. 226, 227 e 228), quanto a Lei nº 8.069/ 90, o ECA Estatuto da Criança e do Adolescente (Cap. III), reforçam a questão da participação da família e sua relação com as práticas sociais, inclusive do ponto de vista educacional. A relevância conferida à família nos mostra que as escolas precisam programar formas de integração e participação familiar, não somente para atender à legislação, mas principalmente para que os processos educacionais tenham mais sucesso. A seguir analisem o mapa conceitual elaborado sobre as relações escola-família, referentes ao texto A importância da Integração Escola-Família no Processo Pedagógico. Para aprofundar suas reflexões sobre a importância da relação escola-família, acesse o texto na íntegra, disponível em http://www.humanaeditorial.com.br/php/vermateria.php?cod=951 5

Esquema do texto: A Importância da Integração Escola-Família no Processo Pedagógico 6

Fonte: NASCIMENTO, Julia. 2009 Além das relações estabelecidas entre professor-aluno e escola-família, podemos refletir também sobre outras relações presentes no cotidiano escolar e que influenciam o processo didático do professor e em última instância na aprendizagem dos alunos. Isto porque a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), aprovada em 1996 (Lei n 9.394/96) trouxe flexibilidade e autonomia para as escolas se organizarem tanto administrativa quanto pedagogicamente, o que permite atender às diferenças e às necessidades intrínsecas do processo de aprendizagem. Se o novo modelo de educação baseia-se em princípios democráticos, como a descentralização, há ênfase na participação da comunidade nos trabalhos da escola, e em sua vivência. Esta participação mostra que as pessoas têm grande importância na construção da escola, contribuindo para que mudanças ocorram não só na escola, mas na comunidade e sociedade na qual ela está inserida. Nesse sentido, a base para a construção de uma escola participativa e de uma aprendizagem significativa, formando os alunos de forma integral, é o Projeto Político Pedagógico. Sua elaboração, com a participação de todos, deverá articular conteúdo e vida, para que a realidade escolar seja o reflexo da realidade externa, sem separar interno/externo; dentro/fora; sala/comunidade. A partir dessa realidade, a escola poderá trabalhar problemas vividos pela sociedade, que acabam adentrando a escola, afetando comportamentos e o convívio social dentro e fora da escola. 7

Relações da escola com a comunidade, sociedade e mundo Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz (Jacques Delors) Vamos aqui considerar comunidade como sendo a comunidade escolar. Dela fazem parte as pessoas envolvidas de forma direta e constante na relação educacional, ou seja, os alunos, professores, equipe gestora (diretor, coordenador, orientador), funcionários da escola e pais dos alunos. Além da comunidade escolar existe a comunidade do bairro, da rua, do comércio local, enfim uma comunidade que vive, trabalha e constrói sua vida no entorno da escola, da qual todos nós também fazemos parte. Esta comunidade forma a sociedade na qual a escola e seus membros se inserem e mantêm uma relação de influência e determinação de comportamentos, atitudes, valores, trabalho e conhecimento. A escola não pode isolar-se em seus muros e esquecer-se de sua função social, tal seja contribuir para a formação de seus alunos para o exercício da cidadania e para assumir seus papéis nesta sociedade, atendendo às exigências que a mesma impõe. Podemos perceber que, embora seja a principal instituição encarregada da educação, a escola divide esta tarefa com outros núcleos sociais, como a família, a sociedade e os meios de comunicação. A escola é fruto do meio, assim, como o meio é conseqüência dela, pois ela é a principal fonte de organização, sistematização e transmissão do conhecimento, sendo educadores e alunos, os principais agentes nesse processo. Da relação estabelecida entre educação, escola e sociedade originam-se transformações contínuas, que influenciam modelos, afetam o desenvolvimento da sociedade e vice-versa. Com o conhecimento, o domínio da ciência e o desenvolvimento tecnológico, o homem pode entender e transformar a realidade e 8

a sociedade nas quais vive, podendo enfim exercer sua cidadania. A escola, portanto, tem papel de destaque na sociedade, nas relações pessoais nela verificadas, uma vez que como produtora de conhecimento pode influenciar e promover o desenvolvimento pessoal e social, assumindo um caráter democratizador à medida que proporciona, não apenas o acesso, mas a apropriação do conhecimento e da tecnologia. O caráter transformador da escola é determinado pelo grau de consciência e instrumentalização científica, técnica, crítica e criativa que seus alunos venham a alcançar. A escola colabora para a transformação social na medida em que fomenta as capacidades intelectuais, as atitudes e o comportamento crítico em relação à sociedade em que está inserida. A sociedade exige cada vez mais que a escola exerça um papel de mediação através do domínio do código científico e de suas linguagens que permitem ao cidadão não apenas interpretar a realidade, mas interagir com ela de forma consciente, crítica e produtiva. Esta sociedade espera que a escola instrua e forme as pessoas para atuarem em seus diferentes setores, assumindo postos de trabalho com instrução específica, mas principalmente com consciência da cidadania que devem exercer nesta sociedade. Já a relação estabelecida pela escola com o mundo está diretamente condicionada à globalização. Em um mundo com fronteiras cada vez menos definidas, passamos a conviver com novos conceitos histórico-geográficos, culturais, econômicos e comerciais. Diante disso, os horizontes da escola devem expandir-se na mesma proporção, trabalhando com realidades mais amplas, estando cada vez mais presente na comunidade em que está inserida. É imperativo que a escola esteja atenta às inovações que ocorrem no mundo, às descobertas tecnológicas e à velocidade com que as mudanças ocorrem e são socializadas entre todos, por conta da globalização. É importante ressaltar que sempre que falamos em escola, devemos imaginar o todo que a mesma representa. Cada elemento que dela faz parte tem sua parcela de responsabilidade no desenvolvimento e manutenção das relações necessárias para que sua função seja desenvolvida de forma eficiente e seus alunos possam realmente aprender e crescer, pessoal e profissionalmente. 9

Desta forma, a prática pedagógica dos docentes deve estar sempre em sintonia com as diferentes formas de relações estabelecidas pela escola e com a importância das mesmas na aprendizagem dos alunos. O trabalho desenvolvido em sala de aula, independente da disciplina ou conteúdo abordado, não pode prescindir de uma reflexão crítica sobre nossos alunos, suas famílias, a comunidade na qual estamos inseridos, o entorno da escola, que influencia a vida dos alunos, a gestão realizada na escola, a sociedade que acolherá os cidadãos que estão se formando em nossas escolas, assim como o mundo globalizado, com suas transformações e tecnologias inovadoras. É preciso, portanto, que analisemos o que influencia estes relacionamentos, focando no trabalho didático, no processo ensino-aprendizagem e no desenvolvimento integral de nossos alunos. Análise crítica dos condicionantes destes relacionamentos, dentro dos parâmetros didáticos "A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou lamentavelmente, da permanência do hoje." (Paulo Freire) Concebendo a escola como o lugar onde ocorrem a apropriação e a sistematização do conhecimento e onde a aprendizagem deve estar sempre presente, estamos considerando aqui as interações em um contexto específico o processo ensinoaprendizagem. A sala de aula é na verdade um local de experiências, onde o processo educacional é desenvolvido pautado em currículos e conteúdos, mas especialmente nas negociações e conflitos que aparecem constantemente perante o novo, perante aquilo que não se conhece ou não se domina totalmente e que apresentamos aos alunos de maneira problematizadora. Quando motivados, nossos alunos envolvem-se nas discussões, sentem-se estimulados e querem participar, pois internamente estão mobilizados por estratégias externas - ferramentas que o professor deve usar para mobilizar sua classe. Quando falamos em ferramentas externas, estamos nos referindo aos instrumentos ou recursos físicos que não precisam ser algo extremamente sofisticado, mas sim fazer parte da criatividade do professor. Temos profissionais 10

que com algumas sucatas ou materiais disponíveis em sua realidade conseguem envolver e transformar os seus alunos. Embora estejamos na era da informação e tecnologia sabemos que muitas escolas não dispõem destes recursos para uso de seus professores e alunos. Cabe analisar nossa prática pedagógica e entender que o mundo do conhecimento está muito além do computador ou de ferramentas tecnologicamente sofisticadas; elas nos ajudam sem dúvida, mas não conseguem criar, sozinhas, as relações necessárias para a interação e aprendizagem. O professor pode transformar tecnologia em aula socialmente construtiva, sucata em "material de ponta", conhecimento espontâneo em conhecimento científico, mundo encoberto em mundo revelado, e tudo o mais que proporcione o reconhecimento e o encantamento com a vida pessoal e a vida social dos grupos refletidos na sala de aula por meio da presença dos alunos e mesmo do professor que, de repente, descobre sua própria vida em meio à vida de seus alunos. É basicamente a questão da aplicação didática, do comprometimento e envolvimento com o processo ensino-aprendizagem. Um dos grandes desafios do mundo moderno, enfrentado também nas escolas, é propiciar o desenvolvimento, a qualificação para o trabalho e a efetiva cidadania, para que todos possam aprimorar-se, seja pessoalmente, seja institucionalmente. Para que a escola trabalhe as relações interpessoais de forma que a colaborar no crescimento de todos é preciso que seja desenvolvido o convívio, a comunicação e o diálogo, para que as pessoas envolvidas possam conhecer-se a si mesmas, entre si e perceberem a importância da convivência harmoniosa e enriquecedora a todos. Vimos também que um dos fatores facilitadores das relações mantidas na escola é a gestão democrática, que pede inclusive competência para enfrentar desafios, para resolver conflitos e favorecer o desenvolvimento de todos os envolvidos no processo educacional. A gestão democrática pede relacionamentos horizontais e não mais relações verticalizadas, piramidais, com a presença do gestor ou diretor acima de todos, tomando decisões por todos. Como professores, precisamos analisar a didática desenvolvida em sala de aula, pois como já vimos, as relações que ocorrem dentro da sala de aula são as mais importantes, comentadas e por vezes conflituosas dentro da escola. A maneira como o professor desenvolve sua disciplina, a forma como ensina e especialmente a 11

maneira como se relaciona com os alunos, afeta diretamente a aprendizagem e crescimento dos mesmos. As pessoas convivem entre si, interagem umas com as outras, despertam simpatia e antipatia, se aproximam ou se afastam, entram em conflito, competem, cooperam, estreitam amizade, são sinceras ou dissimuladas nas suas relações. Esses fatores fazem parte do cotidiano escolar e atuam tanto como facilitadores quanto bloqueadores dos relacionamentos e da própria prática pedagógica do professor. As reflexões feitas nesta unidade nos mostram que a escola é um sistema social, no qual ocorrem interações entre vários agentes, de grupos culturais diferentes. Cada pessoa possui uma identidade diferenciada e esta multiplicidade cultural faz com que a escola tenha que determinar um trabalho de articulação e integração de ações, coletivas e individuais, para que seus objetivos pedagógicos possam ser alcançados. Trabalhar para a escola, a comunidade, a sociedade e o mundo é enxergar a educação como uma rede de relações, que se entrelaçam dentro e fora do ambiente escolar, entendendo a importância destas relações, na esperança de uma formação para a transformação, que coloque todos os envolvidos neste trabalho num mesmo patamar de participação, aprendizes e aprendentes. 12

13 www.cruzeirodosul.edu.br Campus Liberdade R. Galvão Bueno, 868 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000