DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR AULA 05 DOS FATOS JURÍDICOS. Segunda Parte

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Transcrição:

AULA 05 DOS FATOS JURÍDICOS Segunda Parte Itens específicos do último edital que serão abordados nesta aula Fatos Jurídicos (2ª Parte): Negócio Jurídico: conceito, classificação, elementos essenciais gerais e particulares, elementos acidentais, defeitos, nulidade absoluta e relativa, invalidade. Subitens Fatos e Atos Jurídicos. Negócio Jurídico. Conceito. Classificação. Elementos Constitutivos: Essenciais (gerais e especiais ou particulares) e Acidentais. Validade e Defeitos do Negócio Jurídico. Invalidade: Nulidade Absoluta e Relativa. Confirmação. Conversão do Negócio Nulo. Interpretação, Forma e Prova dos Negócios Jurídicos. Legislação a ser consultada Código Civil: arts. 104 a 184 (Negócio Jurídico); art. 185 (Atos Jurídicos Lícitos); arts. 212 a 232 (Prova). Meus Amigos e Alunos. Antes de começar, um aviso... Esta aula acabou ficando grande... Não tanto pela aula em si (parte teórica). Mas principalmente pela quantidade de exercícios. Coloquei uma grande quantidade de exercícios e tentei separá-los por temas... Além disso, seguindo orientação da Coordenação do curso, após colocar os testes com o gabarito comentado logo a seguir, ao final há uma cópia de todos estes testes, sem gabarito comentado, mas com o chamado gabarito seco. Bem... vamos começar... Como vimos na aula anterior, fato jurídico é todo acontecimento natural ou humano que a lei atribui efeitos jurídicos. Já analisamos o fato jurídico natural (também chamado de fato jurídico em sentido estrito), sua classificação, a prescrição e a decadência, etc. Na aula de hoje vamos nos ater ao Fato Jurídico Humano, que é o acontecimento que depende da vontade humana (há quem diga que o termo vontade humana seria uma redundância, pois somente o homem teria vontade; no entanto o termo tem sido aceito normalmente pela doutrina), abrangendo tanto os atos lícitos como os ilícitos. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1

Apesar de grande, a aula de hoje é mais light do que a anterior, pois é menos teórica, mais dinâmica e estaremos diante de muitos casos que vivenciamos em nosso dia a dia. Portanto, antes de começar a aula propriamente dita, nunca é demais relembrar este é um curso preparatório para concursos. Assim, não devemos nos perder em detalhes, em episódios que podem ocorrer em nossas vidas e em casos particulares, mas que não trazem nenhuma repercussão para a nossa prova. O importante agora é conhecer cada um dos institutos e suas peculiaridades. Inicialmente vamos ao nosso índice facilitando o estudo e possibilitando ao aluno localizar melhor os temas abordados, indo DIRETO AO PONTO. ÍNDICE Ato Jurídico em Sentido Estrito... 03 NEGÓCIO JURÍDICO... 05 Classificação dos Negócios Jurídicos... 06 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS... 09 Elementos Essenciais Gerais... 10 Capacidade do Agente... 10 Objeto... 13 Consentimento... 14 Defeitos relativos ao Consentimento... 15 Erro ou Ignorância... 17 Dolo... 22 Coação... 25 Estado de Perigo... 27 Lesão... 29 Fraude contra Credores... 31 Simulação... 35 Elementos Essenciais Especiais... 39 Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei... 40 Elementos Naturais... 42 Elementos Acidentais... 42 Condição... 43 Termo... 47 Modo ou Encargo... 50 Invalidade do Negócio Jurídico... 51 Ato Inexistente, Nulo e Ato Anulável... 52 Conversão do Negócio Nulo... 58 Prova do Negócio Jurídico... 60 RESUMO DA AULA... 65 Bibliografia básica... 71 EXERCÍCIOS COMENTADOS... 72 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2

Como vimos, o fato jurídico humano (que depende da vontade) pode ser subdividido em ato jurídico (em sentido amplo) e ato ilícito. O ato jurídico lícito é o praticado em conformidade com a ordem jurídica. Sua consequência é a obtenção de um direito. Já a prática do ato ilícito gera o dever de reparar os danos. Vamos analisar as particularidades de cada item desta subdivisão: 1. ATO LÍCITO (também chamado de ato jurídico em sentido amplo ou ato jurídico voluntário). Praticado em conformidade com a ordem jurídica. Subdivide-se em: a) Ato Jurídico em Sentido Estrito (ou meramente lícito): há a participação humana, mas os efeitos são os impostos pela lei e não pelas partes interessadas. Tem por objetivo a mera realização da vontade do agente. Esta é importante para a realização do ato, mas não quanto à produção dos efeitos desde ato, pois eles decorrem da lei. Não há regulamentação da autonomia privada. Ex.: o reconhecimento de um filho, a fixação de domicílio, o perdão, a confissão, etc. b) Negócio Jurídico: há a participação humana e os efeitos desta participação são ditados pela própria manifestação de vontade; os efeitos são os desejados pelas partes (ex.: contrato, testamento, etc.). Há, portanto, autonomia privada; autorregulação de interesses particulares, harmonizando vontades que aparentam ser antagônicas e que se subordinam às disposições comuns. Ex.: um contrato (de locação, de compra e venda, etc.), um testamento, a adoção, etc. 2. ATO ILÍCITO (também chamado de fato jurídico involuntário). praticado em desacordo com a ordem jurídica. Quando a conduta (consciente e voluntária) do ser humano transgride um dever jurídico, acarretando consequências jurídicas alheias à vontade do agente (efeitos jurídicos involuntários, impostos pela lei), como a reparação do dano (que veremos na próxima aula, oportunidade em que também analisaremos a responsabilidade civil). O ato ilícito, embora seja um fato jurídico (pois causa repercussão no direito) não é ato jurídico, pois a característica essencial do ato jurídico é que este tem de ser lícito. O ato ilícito, ao invés de direitos, cria deveres (indenização, reparação do dano). Vamos, então, analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico lícito (ou ato jurídico em sentido amplo). ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO Como vimos acima, no ato jurídico em sentido estrito há uma realização de vontade do agente, mas as suas consequências são as previstas em lei e não as que porventura queiram as partes. Por isso ele é pobre em conteúdo. Quem pratica um ato jurídico em sentido estrito obtém apenas o efeito já preestabelecido na lei e não os desejados pelas partes interessadas. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3

O exemplo clássico é o reconhecimento de um filho. Digamos que uma pessoa ( A ) teve um relacionamento amoroso fora do casamento. Desse relacionamento nasceu um filho ( B ). A quer apenas reconhecer B como seu filho. Mas ao fazê-lo, independentemente da sua vontade (e também da vontade do filho), surgem diversos efeitos legais, obrigatórios, como o direito ao nome, poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos sucessórios, etc. Assim, reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem da vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas sim da lei. Por tal motivo, não se pode reconhecer um filho sob condições, a termo ou com encargos. Vamos supor que no exemplo dado, o pai reconhece o filho, mas faz algumas ressalvas: eu quero reconhecê-lo como meu filho, mas... eu sou casado... tenho outros filhos com minha esposa... não gostaria que esta pessoa reconhecida fosse meu herdeiro... (Pergunto: isso pode?) Mais... também não gostaria que esta pessoa tivesse o meu nome... afinal de contas é um filho havido fora do casamento... (Pergunto: isso pode?) E mais... além disso... não gostaria de ter que pagar a pensão alimentícia... Mas o resto eu aceito... (Pergunto novamente: isso pode? Aliás... o que seria este resto?). Resposta a todas as indagações: NÃO!!! Lógico que o pai não pode fazer isso. Uma vez reconhecido um filho, o pai não pode dizer que não deseja que ele seja seu herdeiro, ou que não tenha o seu nome, ou se escuse de pagar a pensão alimentícia. Como vimos, a situação reconhecer um filho, traz como consequências legais e obrigatórias todos aqueles efeitos acima citados. O pai pode desejar ou não aqueles efeitos. Tanto faz... Os efeitos ocorrerão independentemente da vontade do agente, pois eles são impostos pela lei. Outro exemplo: quando uma pessoa notifica outra, obtém o efeito previsto na lei de constituir o devedor em mora. Querendo ou não este efeito. Isto é, mesmo que o notificante não queira este efeito, ele ocorre independentemente de sua vontade. Resumindo Ato jurídico em sentido estrito é o que gera consequências jurídicas previstas em lei, independentemente da vontade das partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. A doutrina acrescenta que estes atos são unilaterais, ou seja, basta uma única manifestação de vontade para que se tornem perfeitos. É interessante acrescentar que a doutrina ainda dá uma complicada na classificação, subdividindo o ato jurídico em sentido estrito em duas espécies: a) Atos materiais (ou reais): simples atuação humana que lhe dá existência imediata; não se destinam ao conhecimento de determinada pessoa, não há um destinatário. Ex.: fixação e transferência de domicílio, ocupação, abandono de coisas, descoberta de tesouro, acessão, etc. b) Participações: atos de mera comunicação, sem conteúdo negocial; o agente pratica o ato para dar conhecimento a outrem (destinatário determinado) de que tem certo propósito ou que ocorreu determinado fato. Ex.: notificações, intimações, interpelações, oposições, etc. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4

NEGÓCIO JURÍDICO Negócio jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo. É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo agente e tutelados pela lei. É toda manifestação de vontade com o propósito de atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos, ou seja, os sujeitos de direito podem autorregular seus interesses, nos limites estabelecidos pela lei. É necessário acrescentar que esta manifestação de vontade seja sem vícios (que veremos mais adiante). O exemplo clássico de negócio jurídico é o contrato. Vamos tomar como exemplo o contrato de locação. Nele, uma das partes se compromete a fornecer a outra, durante certo lapso tempo, o uso e gozo de uma coisa infungível. Por outro lado a outra parte se obriga a remunerar este uso. Tratase do aluguel. Os efeitos deste negócio devem ser totalmente previstos e desejados pelas partes. Qual o valor da locação? Qual o prazo da locação? Qual o dia que deve ser efetuado o pagamento? Qual o local em que o pagamento vai ser efetuado? O locatário deve pagar o IPTU? E o condomínio do prédio? Quais as obrigações de cada parte durante o contrato? Todos estes itens (entre outros) são os efeitos do contrato. Todos eles podem ser negociados entre os contratantes (ao menos em tese). E, como regra, eles devem estar previstos e desejados pelas partes interessadas. A mesma situação pode ocorrer em todas as espécies de contratos. Por isso que o negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar seus interesses. Lembrando O contrato é apenas uma das várias espécies de negócio jurídico. Aliás, o contrato é exemplo típico de um negócio jurídico bilateral. No entanto, o negócio jurídico também pode ser unilateral. Neste caso o exemplo clássico é o testamento. Quais os efeitos de um testamento? Resposta: Tudo aquilo que o testador desejar (desde que não contrarie a lei, a moral e os bons costumes)! Embora no testamento se produza os mais diversos e variados efeitos, temos apenas a vontade do testador, daí ele ser unilateral (diferentemente de um contrato, em que se leva em consideração a vontade de ambos os contratantes). DISTINÇÃO Negócio Jurídico X Ato Jurídico em Sentido Estrito Vamos reforçar a idéia: não devemos confundir negócio jurídico com o ato jurídico em sentido estrito. Ambos decorrem de uma manifestação de vontade. No entanto no ato jurídico em sentido estrito o efeito da manifestação da vontade está previsto na lei e não pode ser alterado. Este não é exercício de autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no negócio jurídico, o efeito da manifestação da vontade é o desejado pelas partes; o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade privada. O negócio leva em consideração o fim procurado pela parte (ou partes) e a esse fim a ordem jurídica adapta os efeitos. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5

Resumindo: no ato jurídico em sentido estrito a pessoa pratica uma conduta e os efeitos desta conduta são automáticos, independente da vontade de quem o pratica; já no negócio jurídico a pessoa pratica uma conduta e os efeitos da conduta são os desejados pelas partes. No contrato de adesão existe autonomia privada? Alguns autores afirmam que o contrato de adesão é mais fruto da autoridade privada do que a autonomia privada. Ainda que limitada, existe autonomia, mesmo que apenas para assinar ou não o contrato (autonomia mínima). CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS A classificação dos negócios jurídicos é muito grande. Levando-se em consideração o que tem caído nos concursos públicos e segundo a melhor doutrina sobre o tema (embora não haja uma uniformidade), classificamos os negócios jurídicos em: A) Quanto ao número de manifestações de vontade 1. Unilaterais: quando a declaração de vontade emana de uma ou mais pessoas, mas sempre na mesma direção visando um único objetivo. Ou seja, o ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade (uma parte); havendo apenas um polo na relação jurídica. Ex.: testamento, renúncia, desistência, promessa de recompensa, confissão de dívida, instituição de uma fundação, etc. Eles podem ser subdivididos em: a) Receptícios: quando a declaração é dirigida a determinada pessoa, com a finalidade de se levar ao seu conhecimento a intenção do declarante para que possa produzir os efeitos desejados. Ex.: a revogação de mandato (ou seja, de uma procuração). Se eu revogo uma procuração, devo comunicar isso à pessoa a quem eu outorguei os poderes. Percebam que o ato é unilateral (pois a revogação só depende da minha vontade), mas eu devo comunicar a minha decisão à outra parte para gerar efeitos jurídicos (por isso o ato é chamado de receptício). Outros exemplos: a proposta de um contrato, a escolha nas obrigações alternativas. Alguns contratos possuem um duplo objeto alternativo: eu posso escolher uma coisa ou outra. Feita a escolha devo comunicar à outra parte para surtir efeitos. b) Não-receptícios: quando a declaração de vontade não é dirigida a uma pessoa determinada, sendo que o conhecimento do fato por parte da outra pessoa é irrelevante. Ex.: testamento. Quando eu faço o meu testamento, nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar ninguém desse fato, nem mesmo os beneficiados. Outros exemplos: revogação de testamento e renúncia de herança. Basta que eu renuncie à herança de forma expressa; não é necessário que os demais interessados na herança sejam comunicados deste fato para que o ato seja válido e operante. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6

Obs.: ficou claro que pessoa não se confunde com parte? Assim, podemos ter mais de uma pessoa praticando o ato, sendo que todas estão no mesmo polo, integram a mesma parte. 2. Bilaterais: quando a declaração de vontade emana de duas manifestações de vontade, em sentido oposto, mas coincidentes sobre o objeto (consentimento mútuo ou acordo de vontades). Neste caso há dois polos na relação jurídica. Ex.: perdão ( A pode perdoar B ; mas este perdão somente surtirá efeitos se B aceitar o perdão); contratos como a compra e venda (comprador e vendedor), ou a locação (locador e locatário), etc. Podem ser subdivididos em: a) simples: quando somente uma das partes aufere vantagens, enquanto a outra arca com os ônus (ex.: doação). b) sinalagmáticos: quando há uma reciprocidade de direitos e obrigações para as partes (gera obrigações para ambas), estando elas em situação de igualdade (ex.: compra e venda, locação, etc.). Obs.: mais uma vez percebam que pode haver várias pessoas no polo ativo e outras várias no polo passivo e ainda assim teremos apenas duas partes. 3. Plurilaterais: contratos que envolvem mais de duas partes, onde se conjugam vontades paralelas. Ex.: contrato de sociedade com mais de dois sócios, consórcios de bens móveis e imóveis, etc. B) Quanto às vantagens patrimoniais 1. Gratuito: só uma das partes aufere vantagem. A pessoa assume determinada obrigação sem aguardar qualquer espécie de contraprestação. São atos de liberalidade. Ex.: doação simples. 2. Oneroso: ambos os contratantes possuem ônus e vantagens recíprocas; há uma prestação e uma contraprestação. A pessoa somente assume a obrigação por esperar em contrapartida a outra obrigação. Ex.: locação (paga-se o aluguel e usa-se a coisa alheia), compra e venda (paga-se o preço para se obter a coisa), etc. Os contratos onerosos se dividem em: a) comutativos: as prestações de cada um dependem de um acontecimento certo e determinado (ex.: locação). b) aleatórios: há uma incerteza em relação às vantagens e sacrifícios das prestações; depende de um acontecimento incerto, havendo, portanto, uma álea ou risco. Ex.: o contrato de seguro, para a seguradora é aleatório, pois o pagamento ou não da indenização depende de um fato específico previsto no contrato: o sinistro. Observações 01) Alguns autores referem-se aos negócios bifrontes: são os que podem ser gratuitos ou onerosos de acordo com a vontade das partes. O contrato de depósito pode ser gratuito ou oneroso, dependendo do que for estipulado. 02) Todo negócio oneroso é bilateral, pois a prestação de uma das partes envolve uma contraprestação. Mas nem todo negócio bilateral é oneroso. Ex.: Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7

doação pura e simples é negócio bilateral (possui duas vontades: doador e donatário), porém gratuito. C) Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos 1. Inter vivos: destinados a produzir efeitos durante a vida dos interessados. Ex.: locação, compra e venda, mandato, casamento, etc. 2. Causa mortis: somente produz efeitos (criando o direito) após a morte do declarante; o evento morte é pressuposto de sua eficácia. Ex.: testamento, codicilo (que é uma disposição de última vontade de pequenas coisas, como um anel, roupas, livros), etc. Observações 01) O contrato de seguro de vida (ao contrário do que parece) é negócio jurídico inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um termo. 02) Os negócios jurídicos causa mortis são sempre típicos e nominados (definidos em lei); ou seja as partes não podem realizar negócios atíticos ou inominados desta natureza. D) Quanto a seus efeitos 1. Constitutivos: sua eficácia opera-se ex nunc (ou seja, o negócio se torna eficaz a partir de sua conclusão ou celebração). Ex.: contrato de compra e venda. 2. Declarativos (ou declaratórios): sua eficácia é ex tunc (ou seja, se efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade, retroagindo no tempo). Ex.: divisão de condomínio, partilha, reconhecimento de filho, etc. Obs.: ainda na aula de hoje falarei mais sobre os efeitos ex tunc e ex nunc. Estas expressões em latim merecem uma atenção toda especial da nossa parte (não só no Direito Civil, mas no Direito como um todo). E) Quanto à subordinação 1. Principais: são aqueles que têm existência própria e não dependem de qualquer outro. Ex.: compra e venda, locação, doação, etc. 2. Acessórios: são aqueles que têm a sua existência subordinada à de um contrato principal. Exemplo clássico: fiança. A fiança só existe por causa de um contrato principal; ela não tem existência jurídica autônoma (lembrem-se da regra: o acessório segue o principal ). Se eu sou o locador de um imóvel, quero que o locatário (inquilino) apresente um fiador, que ficará responsável pelo pagamento da dívida, caso o locatário não cumpra com a obrigação. Logo o contrato de locação é o principal e a fiança é o contrato acessório, que somente existe por causa do principal. Outro exemplo: cláusula penal (que é a multa que pode ser pactuado no contrato, caso este não seja cumprido). F) Quanto às formalidades 1. Solenes (formais): a lei exige uma forma especial para se aperfeiçoarem; devem obedecer a uma solenidade específica, prevista em lei. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8

A doutrina faz uma pequena distinção: a) atos ad solemnitatem: quando a forma é exigida como condição de validade do ato; a formalidade é a própria essência do ato (ex.: escritura pública de compra e venda de imóvel acima de 30 vezes o maior salário mínimo vigente - art. 108, CC; testamento público ou cerrado que devem ser escritos ou provado, respectivamente, pelo tabelião, etc.; b) atos probationem tantum: a solenidade é tida apenas como prova do ato (ex.: assento de casamento em livro de registro civil). 2. Não solenes (forma livre): a lei não exige formalidades para seu aperfeiçoamento, podendo ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. Ex.: locação, compra e venda de bens móveis, etc. Em regra os contratos têm forma livre, salvo exceções expressas na lei. G) Quanto às pessoas 1. Impessoais: independe de quem sejam as partes e de eventual qualidade especial destas para a prática do ato. Ex.: contrato uma pessoa para pintar um muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; não há uma habilidade especial para isso). 2. Intuitu personae: o ato se realiza em função das qualidades especiais de uma pessoa. Ex.: desejo ser operado por cirurgião de minha confiança; desejo ser defendido no Tribunal do Júri pelo advogado X ; quero que o famoso pintor Z pinte um quadro para mim, etc. H) Quanto à causa 1. Causais: estão vinculados a uma causa. Ex.: o registro da escritura de um imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda deste imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será. 2. Abstratos: estão desvinculados de qualquer outro negócio. Ex.: compro uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; se a compra e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, principalmente se estiver nas mãos de terceiros. Obs.: Como dá para perceber, a mesma espécie de negócio jurídico pode se enquadrar em mais de uma categoria de classificação, sem que haja incompatibilidade nisso. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais porque constituem elementos de existência e validade. Se o negócio possui tais elementos ele será válido e produzirá efeitos. Se faltar alguns desses elementos o negócio será inválido e não produzirá efeitos. Já outros elementos são chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. Inicialmente vamos apresentar apenas um gráfico geral dos elementos constitutivos. Depois vamos analisar cada um destes elementos detidamente. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS I. Elementos Essenciais: são os dizem respeito à existência e validade do negócio jurídico, dando-lhe a estrutura e a substância. A) Gerais (comuns a todos os negócios): 1. Capacidade das partes. 2. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável. 3. Consentimento (vontade). B) Especiais (dizem respeito à forma prescrita ou não defesa em lei). São aplicáveis apenas a alguns negócios. II. Elementos Naturais: são os efeitos ou as consequências decorrentes do próprio negócio jurídico. III. Elementos Acidentais: são elementos facultativos; podem ou não ser estipulados e dizem respeito, não à existência ou validade propriamente dita do negócio jurídico, mas sim a sua eficácia. 1. Condição. 2. Termo. 3. Modo ou Encargo. I. ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS Segundo a doutrina, antes da análise dos elementos de validade (art. 104, CC) é necessária a presença dos pressupostos de existência do negócio jurídico. Estes não estão previstos na lei, sendo uma construção doutrinária: a) Objeto Idôneo: o objeto deve ser apto a celebrar o negócio jurídico desejado; se ele for fisicamente impossível (ex.: vender um terreno na Lua), conduzirá à inexistência do negócio. b) Vontade Humana: para que haja o negócio jurídico é imprescindível a manifestação de vontade humana espontânea e livre de quaisquer vícios. Como veremos adiante, se houver uma coação física irresistível, a vítima não está realizando a sua vontade, mas a vontade do coator. Já os elementos de validade do negócio jurídico estão previstos na lei (art. 104, CC). São eles: agente capaz (elemento subjetivo), objeto lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo) e forma prescrita ou não defesa em lei. A doutrina ainda acrescenta o consentimento (vontade). A capacidade, o objeto e a vontade são chamados de elementos gerais, porque são elementos comuns a todos os negócios jurídicos. Já a forma é elemento especial, pois diz respeito apenas alguns negócios. Nem todos os negócios jurídicos exigem uma forma especial. A) CAPACIDADE DO AGENTE Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10

negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer todos os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3 e 4 do Código Civil apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Já analisamos quem são essas pessoas. Se alguém ficou com dúvida, retorne a aula sobre pessoas naturais. É imprescindível o conhecimento dessa matéria para a compreensão do que falaremos a seguir. No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo absolutamente incapaz sem representação é nulo. Já o ato realizado pelo relativamente incapaz sem assistência é anulável. Ainda hoje veremos a distinção entre o ato nulo e o anulável. Lembrando que o vício da incapacidade é um instrumento que age a favor do incapaz, para protegê-lo. Incapacidade Absolutamente incapazes (art. 3, CC) devem ser representados falta de representação Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC). Relativamente incapazes (art. 4, CC) devem ser assistidos falta de assistência Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC). É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto porque a intenção da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e má-fé de terceiros que desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode uma pessoa capaz realizar um negócio com um incapaz e ele próprio (o capaz) requerer a invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte era incapaz. A incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso somente pode ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal. Mas, como quase tudo, aqui também há uma exceção. Se a obrigação for indivisível (ex.: entregar um cavalo), mesmo que as demais partes forem capazes, não será possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a incapacidade de um deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que o vício tenha sido alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o vício se estenderá para toda a obrigação, sendo o negócio anulado. Resumindo Pessoa sabia da incapacidade relativa da outra parte o vício não pode ser alegado em benefício próprio. Pessoa não sabia da incapacidade relativa o vício pode ser alegado: Regra: a anulação não aproveita aos demais cointeressados. Exceção: aproveita aos demais se a obrigação for indivisível. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11

Há outro ponto interessante que iremos aprofundar mais a frente. Se o menor entre 16 e 18 anos praticar um ato sem assistência, escondendo dolosamente a sua condição de relativamente incapaz, não poderá alegar este vício para anular o negócio e escapar da obrigação contraída (art. 180, CC). Recordando A pessoa jurídica deve ser representada por uma pessoa física (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessário que haja uma pessoa natural para assumir os compromissos e assinar os contratos da pessoa jurídica, exprimindo sua vontade e executando os seus objetivos. Em regra essa pessoa é a indicada no estatuto ou no contrato social da pessoa jurídica. Na sua omissão, a representação será exercida por seus diretores. Trata-se, assim, de uma representação imprópria. Representação Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, através de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo próprio interessado (mandato). Assim, são espécies de representantes: a) Legais: a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores e curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados. b) Judiciais: são as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo cargo em um determinado processo. Ex.: administrador judicial de uma falência, inventariante, etc. c) Convencionais: são aqueles que têm um mandato, expresso ou tácito, verbal ou escrito do representado. Ex.: procuração outorgada (fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente nesta espécie de representação é possível o substabelecimento. Substabelecer significa transferir a outra pessoa os poderes que o mandatário recebeu do mandante. Ex.: A (representado ou mandante) outorgou poderes para B (representante ou mandatário) defender seus interesses em um processo trabalhista conta a empresa X. Como no dia designado para a audiência B não irá comparecer, pode substabelecer (transferir) os poderes que recebeu para D, que é outro Advogado. O representante deve provar às pessoas com quem tratar (em nome do representado) a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de não o fazendo, responder pelos atos que excederem à representação. Prevê o art. 116, CC que a manifestação de vontade pelo representante, ao efetivar um negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe foram conferidos, produz efeitos jurídicos em relação ao representado. Ou seja, o representante pratica o ato; mas é o representado que irá adquirir os direitos ou assumir as obrigações decorrentes da representação. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12

O art. 117, CC autoriza o chamado contrato consigo mesmo (ou autocontrato), isto é, uma só pessoa está revestida das duas qualidades jurídicas diferentes, de forma simultânea: ora por si, ora representando um terceiro. Mas isso somente é possível se houver permissão da lei ou do representado, sob pena de anulação. O exemplo clássico ocorre no cumprimento do chamado mandato em causa própria, onde o mandatário é também o beneficiário. Ex.: A confere mandato para B para vender seu apartamento, com autorização para que B venda o imóvel para ele mesmo = B. Neste caso, quando for feita a escritura, B intervirá, ora representando A (como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). Notem, que mesmo nesta hipótese, B manifesta sua vontade sob dois ângulos diferentes (como vendedor, representando A e como comprador, em nome próprio). Observem que são duas vontades jurídicas diferentes. Já o art. 119, CC prevê que se o representante concluir um negócio e houver um conflito de interesses com o representado, sendo que tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negócio também será anulável. B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL O direito somente atribui efeitos à vontade humana quando se procura alcançar objetivos lícitos. Assim, além da capacidade das partes, para que um negócio jurídico se repute válido e perfeito, deverá versar sobre um objeto lícito, ou seja, não atenta contra a lei, a moral e os bons costumes. Ex.: na locação de um imóvel para fins residenciais, este é o objeto do contrato. Assim, eu não posso desvirtuar o que foi pactuado e explorar naquele imóvel (que era para fins residenciais) uma atividade ilícita, como por exemplo, a exploração da prostituição. Desta forma, se o objeto do contrato foi ilícito, nulo será o negócio jurídico. Outro exemplo: compra e venda de objeto roubado. Também neste caso haverá a nulidade absoluta do ato. Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar prestações impossíveis, também será considerado nulo. Esta impossibilidade pode ser jurídica (proibida pelo ordenamento jurídico: venda de herança de pessoa viva art. 426, CC) ou física (desrespeito às leis naturais ou físicas: ir à lua e voltar em duas horas, etc.). Segundo a doutrina para tornar nulo o negócio a impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticável por quem quer que seja (atinge a todos sem distinção). Se a impossibilidade for apenas relativa, isto é, puder ser realizada por alguém (mesmo que não seja o devedor), não haverá obstáculo para o negócio, que continua válido. Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, determinável, ou seja, possível de determinação no futuro. Em outras palavras: o objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem existir critérios que permitam sua futura individualização. Assim, admite-se a venda de coisa incerta (mas não indeterminada). No entanto ela deve ser indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade, ainda que não seja mencionada a qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela escolha. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13

Impossibilidade inicial do objeto Um aspecto interessante do atual Código Civil é o seu art. 106: A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinada. Ou seja, quando da celebração do contrato havia um vício relativo em relação ao objeto, mas, durante a execução do contrato, este defeito deixou de existir. Assim, nosso Código, consagrando o princípio da máxima utilidade afirma que tal vício estará superado. Lembrando que o defeito deve ser relativo, pois se for absoluto o negócio será considerado nulo. ATENÇÃO Objeto ilícito, impossível, ou indeterminado Negócio Jurídico Nulo (art. 166, II CC). C) CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretação do Negócio Jurídico. A manifestação de vontade exerce papel imprescindível no negócio jurídico, sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade seja espontânea, livre de qualquer vício. Inicialmente perguntamos: o que interessa mais ao Direito: a intenção ou a ação? Resposta: para o Direito o mais importante é a vontade declarada, a ação, pois a intenção, isoladamente, não tem valor algum. Somente após a manifestação de vontade declarada (por escrito, palavras, gestos ou sinais) é que a intenção será levada em consideração. Portanto, a declaração de vontade é constituída de dois elementos: a) interno: real intenção do agente; b) externo: vontade declarada. O ideal é que a pessoa declare exatamente aquilo o que desejava. Deve haver uma perfeita harmonia entre o que ela queria e o que ela fez. Mas nem sempre um contrato traduz a exata vontade das partes. Por isso, algumas vezes ele deve ser interpretado, para se chegar a real intenção das partes. Interpretar o negócio jurídico é delimitar o alcance da declaração de vontade. No entanto as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas de forma isolada, mas sim no contexto do contrato, em conjunto com as demais cláusulas. O consentimento pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando for declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita. Será considerado tácito se resultar de um comportamento do agente que demonstre, implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação, desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111, CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico, como um fato gerador de um negócio, se a lei assim o permitir. Caso contrário o silêncio não tem força de declaração de vontade. Portanto, no Direito, não é totalmente aceito o brocardo: quem cala consente. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como na hipótese da doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14

como aceitação, concluindo o contrato. Na prática é o Juiz, diante de um caso concreto, que deverá verificar se o silêncio representou ou não a vontade. No dizer de Machado de Assis: O silêncio... é um tumulto. Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negócios, de uma forma geral, podem conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo necessária uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequências e os efeitos desejados por eles, indagando sua real intenção, do que no sentido literal do negócio (que seria o exame gramatical de forma fria de um texto do contrato). Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, CC). Trata-se de referência à boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de acordo com a lealdade, honestidade, confiança, etc. (a expressão boa-fé deriva do latim bona fide, que significa boa confiança, ou seja, é a convicção de alguém que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prática ou na omissão de determinado ato). A boa-fé se presume. De forma contrária, a máfé precisa ser provada. O art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negócios jurídicos benéficos (também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, onde uma das partes se obriga e a outra aufere vantagens, como na doação pura e simples) e a renúncia (ato unilateral em que a parte abre mão de um direito, faculdade ou vantagem) interpretam-se estritamente. Ou seja, segundo a lei tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, sem incluir outras questões. Isto é, nem o Juiz poderá dar a estes negócios uma interpretação mais ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado pelas partes. Um exemplo clássico disso é a fiança nos contratos de locação: sua natureza é gratuita, portanto é considerado um negócio jurídico benéfico; por tal motivo, se houver alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve ser resolvida fazendo-se uma interpretação restritiva, ou seja, em favor daquele que prestou a fiança (no caso o fiador), não se ampliando as obrigações do mesmo (confiram o art. 819, CC). Finalmente, acrescente-se, que há outros dispositivos estabelecendo regras sobre a interpretação da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevê que quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, acolhe-se a interpretação mais favorável ao aderente. Merece destaque especial também o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) que dispõe que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. DEFEITOS Defeitos do negócio jurídico são os vícios relativos à formação da vontade ou à sua declaração, tornando-o passível de anulação. Pode ser grave Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 15

(quando vicia o ato de forma definitiva) ou leve (quando o ato pode ser remediado pelo interessado). Podemos dizer que um ato é válido (quanto ao consentimento) quando eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem que esta conduta prejudique terceiros. Ou seja, às vezes eu posso ter feito algo que não era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco...); quero comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras vezes quero fazer algo e faço aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta direitos de terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio principal, mas que foram lesados com a minha conduta. É importante notar que em qualquer uma destas duas situações (fiz algo que não queria ou fiz algo que eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os chamados defeitos relativos à vontade. Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, tornando-se anulável (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 anos for movida ação de anulação (art. 178, II, CC). São os chamados vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada, sendo que o prejudicado é um dos contratantes. Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo a correspondência entre a vontade interna e a manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que foi colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis de anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. São os chamados vícios sociais (fraude contra credores). A simulação também é considerada por parte da doutrina como um vício social, uma vez que objetiva iludir terceiros. Porém o atual Código resolveu discipliná-la em outro capítulo, referente à invalidade do negócio jurídico (e não no capítulo referente aos defeitos do negócio). Vamos, mais uma vez, apresentar um gráfico para melhor classificar os defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. E vamos ver qual a consequência deste ato viciado. Dependendo do vício o ato pode ser nulo, anulável ou até mesmo válido. Mais adiante, ainda na aula de hoje, veremos as diferenças entre o ato nulo e o anulável, as hipóteses que caracterizam uma e outra situação, bem como os efeitos decorrentes destas situações. Esses tópicos têm vital importância para efeito de concursos. DEFEITOS 1) Ausência de Vontade Negócio inexistente (ou nulo para outra corrente doutrinária). 2) Vícios de Consentimento A vontade não é expressada de maneira absolutamente livre; a vontade declarada não representa a real intenção do agente Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, Lesão e Estado de Perigo. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16

3) Vícios Sociais há uma correspondência entre a vontade interna do agente e a sua manifestação, no entanto, a vontade manifestada não tem a intenção pura e de boa-fé que enuncia; o negócio é realizado em desconformidade com a lei, pois a intenção é de prejudicar terceiros Fraude contra Credores. Quanto à Simulação, devemos tomar cuidado. Embora muitos doutrinadores ainda afirmem ser um vício social, o atual Código Civil a coloca em outro capítulo (da invalidade do negócio jurídico: art. 167, CC), conforme veremos adiante. Observação: em regra, o defeito deve ser alegado no prazo decadencial de quatro anos; se o prazo não for respeitado, o defeito não poderá ser mais alegado, sendo o ato convalidado por decurso de prazo. ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144, CC) Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. O aluno que conseguir entender o seu alcance não sentirá dificuldade de entender todos os demais defeitos. Por isso muita atenção! Primeiramente: erro e ignorância são sinônimos? Não!! O Código Civil equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; ou seja, o Código não distingue um instituto do outro, mas afirma que as suas consequências são idênticas no campo do Direito. Assim, embora o Código não faça, a doutrina estabelece distinções entre eles (esta diferença já caiu em concursos). Erro é a falsa noção que se tem sobre um elemento que influencia a formação de vontade do declarante. Pode recair sobre as qualidades de uma coisa ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se em falso juízo ou engano. Pensei que era uma coisa... mas na realidade é outra. Já ignorância é o completo desconhecimento do declarante acerca do objeto ou da pessoa. Assim, às vezes usamos a expressão erro, mas queremos nos referir não só ao erro propriamente dito, como também à ignorância. Na verdade o erro é um registro falso da realidade. Observem que no erro a pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Mas não é qualquer erro (ou ignorância) que torna o negócio anulável. Ele há de ser a causa determinante ou principal. Vejamos inicialmente um resumo sobre o tema. A seguir aprofundaremos o assunto. O erro (ou a ignorância) pode ser: Essencial ou Substancial razão determinante para a realização do negócio se a verdade fosse conhecida o negócio não seria realizado Ato Anulável. Acidental ou Secundário se a verdade fosse conhecida o negócio seria realizado, porém de forma menos onerosa Ato válido. A) ERRO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL. Refere-se à natureza do próprio ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do negócio de forma que se eu soubesse do defeito jamais teria praticado o ato. O art. Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17

138, CC estabelece que o erro, para dar ensejo à anulação do negócio jurídico, há de ser substancial, ou seja, essencial. Divisão doutrinária. Parte da doutrina entende que além da essencialidade do erro, deve haver a sua cognoscibilidade (qualidade do que é cognoscível; que pode ser conhecido ou percebido pela outra parte), baseado na chamada teoria da confiança, que tem tem por base a verificação da discrepância entre a vontade real do agente e a sua equivocada manifestação. Por isso, torna-se fundamental apreciar se o engano de um negociante poderia ter sido percebido pelo outro. A outra corrente doutrinária entende que na realidade o erro essencial deve ser escusável e real. Escusável porque ele é aceitável, desculpável dentro do que se espera de um homem médio, que atue com grau normal de diligência; tem por fundamento uma razão plausível, ou seja, qualquer pessoa com atenção ou diligência normal seria capaz de cometê-lo em face das circunstâncias. Ex.: é aceitável uma pessoa leiga confundir o diamante com zircônio. Mas não se admite esta confusão para um joalheiro, que tem conhecimento técnico para fazer a distinção (para ele seria um erro inescusável e, portanto, sem possibilidade de anular o ato). Real porque deve acarretar um prejuízo efetivo para o interessado. O Código Civil especificou as modalidades de erro substancial (hipóteses de anulação do negócio jurídico) no art. 139, CC. Vejamos: 1. Erro sobre a natureza do negócio jurídico (error in ipso negotio) o erro recai sobre a modalidade de contrato que foi celebrado. Pensei fazer um determinado contrato... mas fiz outro. Ex.: empresto um determinado bem para uma pessoa, mas ela entende que houve uma doação. Observem que não houve um acordo de vontades: uma das partes pensa que está realizando um contrato (empréstimo) e o consentimento do outro se dirige a outro contrato (doação). Outros exemplos: quero vender uma coisa, mas acabo doando; quero alugar um apartamento (o aluguel é oneroso), mas acabo fazendo um comodato (que é um empréstimo gratuito), etc. Esta situação é muito difícil de ocorrer na prática. No entanto pode muito bem cair em concursos... como já caiu. 2. Erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso corpore) a manifestação de vontade recai sobre objeto diferente do que se tinha em mente. Ex.: comprei um lote em um condomínio que pensava ser muito valorizado, no entanto trata-se de outro condomínio, que tem o mesmo nome, mas está situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. Notem, mais uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei sozinho (quando alguém me engana trata-se de outro defeito, o dolo, que veremos adiante). O erro, neste caso, atingiu a substância do ato; portanto o ato é anulável. No entanto, o art. 144, CC dispõe que o erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. Aproveitando o exemplo acima: comprei o lote no condomínio errado (erro substancial); no entanto o vendedor, entendendo a situação, acaba entregando o lote no condomínio onde eu queria inicialmente. Ora, o negócio acabou sendo Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18

executado conforme minha vontade inicial. Assim, não havendo qualquer prejuízo, não se anula o negócio. 3. Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error in substantia ou in qualitate) a pessoa adquire o objeto que imaginava; porém engana-se quanto as suas qualidades; o motivo determinante do contrato é a qualidade essencial de um objeto que depois se constata que não existe. Ex.: compro um relógio pensando que ele é de ouro, mas o mesmo é apenas folheado ; compro uma blusa pensando que e de lã animal, mas na verdade é sintética (e a pessoa é alérgica e este tipo de tecido); compro um cavalo de carga pensando ele era um legítimo puro-sangue de corridas, etc. Observem que nestes exemplos eu também errei sozinho. 4. Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se refere a declaração de vontade (error in persona) incide sobre a identidade (física ou moral) ou características da pessoa. Geralmente recaem nos contratos personalíssimos (intuitu personae). O negócio pode ser anulado, desde que a consideração pessoal seja condição essencial para a realização do negócio. Exemplo clássico: estou sendo processado por homicídio e contratei um Advogado certo de que ele é um famoso criminalista, excelente orador e especializado em fazer júri. No entanto constato que ele é um Advogado trabalhista. Notem que no caso de um contrato em que a prestação pode ser cumprida por qualquer pessoa (ex.: pintar um muro), mesmo que o contratante tenha se enganado na designação da pessoa, tal fato não será suficiente para a anulação do negócio. O erro quanto à pessoa também pode ser relativo ao: a) Casamento (pode ser anulado por vício essencial sobre pessoa ): erro quanto identidade do outro cônjuge, sobre a sua honra, boa fama, etc. (ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso procurado, viciado em tóxicos, etc.). ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, transmissível. b) Testamento deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descubro, posteriormente, que foi Z e não X quem salvou minha vida. Se eu soubesse que foi Z quem me salvou, eu não teria doado aquela joia a X. Eu queria doar a joia a quem realmente salvou minha vida, ou seja, Z. Neste exemplo o defeito é chamado de erro quanto ao fim colimado ou por falsa causa. O art. 140, CC determina que o falso motivo (ou falsa causa) somente vicia a declaração de vontade, quando for expressamente declarado como razão determinante da realização do negócio. Ou seja, o motivo somente tem relevância jurídica se for instituído expressamente no contrato, como razão para celebração deste. Outro exemplo: um homem já idoso recebe a notícia de que teve um filho quando era mais moço, mas na ocasião a mãe não lhe informou do fato. O idoso, tentando ajudar esta pessoa lhe doa uma casa, mas estabelece o motivo: somente assim está procedendo porque esta pessoa seria seu filho. Desta forma, caso comprovado Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19