Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981-0377 Curso de Direito - N. 20, JAN/JUN 2016 AS BOAS LEMBRANÇAS ESCOLARES: As relações entre alunos, professores e escola influem na construção de memórias felizes. Ana Luísa Croce Guilhermino 1 Grasiele Pauline Ferreira de Faria 2 RESUMO O objetivo deste artigo é analisar a influência que ações positivas praticadas por professores e colaboradores escolares exercem na construção das boas memórias dos alunos. Através de pesquisa bibliográfica, destacando principalmente os autores Paulo Freire (1996), José Carlos Libâneo (1994) e Celso Vasconcellos (1992), e de nossa própria vivência, observamos que essa construção é pautada no diálogo, bom senso, afeto e respeito mútuos entre alunos e escola. Palavras-chave: Relacionamento aluno x professor. Lembranças. Bom senso. Diálogo. Afeto. ABSTRACT This article aims to analyze the influence that positive actions by teachers and school staff produces in the student s good memories. Through bibliographic research and our own experience, we were able to observe that this influence is based on dialogue, common sense, affection and mutual respect between students and the school. Key words: students x teachers relationship. Memories. Common sense. Dialogue. Affection. 1 Graduanda do curso de Pedagogia Instituto Metodista Granbery. Advogada Instituto Vianna Júnior. anaguilhermino@gmail.com 2 Graduanda do curso de Pedagogia Instituto Metodista Granbery. Coordenadora pedagógica Wizard. grasipauline@gmail.com
1 Introdução Quando questionadas sobre a qualidade do tempo que passaram na escola, a tendência das pessoas é relembrar os bons momentos vividos na infância. Essas memórias felizes, porém, vão além dos amigos, das brincadeiras e do tempo livre e despreocupado. O esforço dos colaboradores e educadores em manter a harmonia do ambiente escolar, dentro e fora de sala de aula, também constitui fator importante para a construção de boas lembranças. A recíproca desse relacionamento se aplica na medida em que, quanto mais o aluno se sente bem-vindo na escola que frequenta, mais prazer ele tem em frequentá-la, ou seja, quanto melhor for sua relação com a escola, melhor será sua relação com os sujeitos que a utilizam e melhores serão as lembranças que levará consigo a partir daí. A maneira com que o aluno trata a escola, seus professores e seus colegas, está, na maioria das vezes, diretamente ligada ao modo como o aluno é tratado por eles. 2 O relacionamento aluno / professor e o uso do bom senso A obra de Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia (1996), explora a importância da relação entre alunos e professores. O autor demonstra que toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina [...] (FREIRE, 1996, p.77) fazendo inevitável comparação aos bons resultados obtidos na escola. A manutenção da boa relação entre alunos e professores é, então, o ponto chave para uma experiência escolar saudável. O professor Celso Vasconcellos defende que, para uma educação dialética, é necessário que os professores conheçam seus alunos, que os escutem e compreendam. O primeiro passo, portanto, do educador, enquanto articulador do processo de ensino-aprendizagem, deverá ser no sentido de conhecer sua realidade, ou seja, conhecer a realidade com a qual vai trabalhar. Para isto, inicialmente o professor tem que aprender com seus alunos. (VASCONCELLOS, 1992, p. 05 e 06) Quando os professores percebem a realidade de seus alunos, conseguem, de maneira mais eficaz, entender e solucionar os conflitos ou problemas que surgirem,
contribuindo para o bem estar e harmonia dos estudantes na escola. Paulo Freire argumenta que, para isso, é necessário o uso do bom senso por parte dos educadores. É usando o bom senso que os educadores devem perceber o comportamento dos alunos e tentar compreendê-los antes de recriminá-los, levando em conta a realidade em que o educando vive (FREIRE, 1996, p. 70). É o meu bom senso, em primeiro lugar, o que me deixa suspeitoso, no mínimo, de que não é possível à escola, se, na verdade, engajada na formação de educandos educadores, alhear-se das condições sociais culturais, econômicas de seus alunos, de suas famílias, de seus vizinhos. (FREIRE, 1996, p. 63) O aluno tende a sentir-se mais seguro quando percebe a escola como parte integrante da sociedade em que está inserido e não como algo distante da sua realidade, o que contribui para aumentar sua vontade em participar desse ambiente. 3 A relação com base no diálogo O educador deve procurar respeitar a dignidade dos alunos, suas identidades culturais e suas experiências de vida (FREIRE, 1996), para assim construir uma relação sólida e baseada no diálogo. Vasconcellos argumenta que o papel do educador é muito mais abrangente que apenas transmitir informações, sendo fundamental que ele esteja sensibilizado pelos alunos que ensina, pela sua própria posição e pelos objetivos que possui (VASCONCELLOS, 1992). O professor, então, deverá agir como "facilitador das relações" e "problematizador das situações". (VASCONCELLOS, 1992) O professor deve ouvir os alunos, compreendê-los, permitir que se expressem. É fundamental para um bom relacionamento entre professores e alunos e até mesmo entre os próprios alunos, que se saiba fazer uso do diálogo e estejam sempre dispostos a ouvir. Assim, nas palavras do professor José Carlos Libâneo: O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram
na assimilação dos conhecimentos. Servem também para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades. (LIBÂNEO, 1994, p. 250) Quando o professor relaciona a visão de mundo do próprio aluno com os conteúdos que precisam ser ensinados, os alunos se sentem mais motivados a participar e a se envolver com o tema. A curiosidade é desperta e as aulas se tornam mais interessantes. [...] o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (FREIRE, 1996, p. 96) Para que isso aconteça, é necessário que o professor saiba ouvir seus alunos, de maneira que consiga, também, se comunicar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele [...] (FREIRE, 1996, p. 127). Ao abrir a possibilidade do diálogo, há uma aproximação entre educadores e educandos, ensina-se o afeto, que surge de maneira natural e espontânea, indo muito além da relação aluno e professor apenas, já que se perde o medo de expressá-lo (FREIRE, 1996, p. 159). Quando os alunos aprendem a se querer bem, conquistam, então, o respeito e a harmonia, uma das principais causas de tantas lembranças felizes. Com essas ações, a escola contribui, de forma eficaz e definitiva, na construção de alunos em pessoas felizes. A minha abertura ao querer bem significa a minha disponibilidade à alegria de viver. Justa alegria de viver, que, assumida plenamente, não permite que me transforme num ser adocicado nem tampouco num ser arestoso e amargo. (FREIRE, 1996, p. 160). 4 Considerações Finais As escolas e professores que adotam esses princípios, são capazes de ajudar seus alunos a participar e a manter o respeito em sala de aula e fora dela. As práticas vivenciadas na escola durante a infância evidenciam o fato de que, todas as boas
lembranças do ambiente escolar, dos amigos feitos, dos bons momentos, se devem ao cultivo do bom senso, de um relacionamento saudável, da autonomia e confiança que são cultivadas, ensinando que harmonia e paz são conquistadas pelo diálogo. Dessa forma, inicia-se um ciclo de afeto, conhecimento e diálogo, o qual esses alunos manterão vivo, passando adiante esses mesmos ideais. REFERÊNCIAS FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. LIBÂNEO, J. C.. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Metodologia Dialética em Sala de Aula. In: Revista de Educação AEC. Brasília: abril de 1992 (n. 83). Disponível em: <http://www.celsovasconcellos.com.br/textos/mdsa-aec.pdf>