AUDITORIAS AMBIENTAIS COMPULSÓRIAS EM UNIDADES MARÍTIMAS DE PRODUÇÃO DE PETRÓLEO



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Transcrição:

1 AUDITORIAS AMBIENTAIS COMPULSÓRIAS EM UNIDADES MARÍTIMAS DE PRODUÇÃO DE PETRÓLEO Lidinei Arueira Júnior (UFF-LATEC) lidinei@petrobras.com.br Stella Regina Reis da Costa (UFRRJ-UFF) stella@ufrrj.br Este artigo tem por objetivo avaliar os resultados da análise comparativa dos resultados das auditorias ambientais compulsórias, realizadas em unidades marítimas de produção de petróleo, localizadas no litoral do estado do Rio de Janeiro, qque apresentam elevado potencial poluidor. Dessa forma, realizou-se uma pesquisa geral da evolução da legislação brasileira referente a proteção do meio ambiente, com ênfase especial nas legislações relacionadas as auditorias ambientais compulsórias. Utilizou-se para esta pesquisa, os resultados relacionados às auditorias ambientais realizadas nos ciclos de 2003, 2005 e 2007, realizadas em atendimento a resolução CONAMA 306/02. Os resultados da pesquisa demonstram que a auditoria ambiental compulsória é uma importante ferramenta para a redução de riscos de acidentes ambientais, principalmente em empresas que não apresentam um sistema de gestão ambiental implantadas. Palavras-chaves: Auditoria Ambiental, Auditoria Compulsória, Conformidade Legal, Gestão Ambiental.

1. INTRODUÇÃO As auditorias de Sistemas de Gestão Ambiental são um assunto já bastante discutido e sobre o qual já se reúne considerável literatura e produção científica porém, as auditorias legais são ainda tema pouco explorado pela comunidade acadêmica. Este fato se deve ao amadurecimento da sociedade nas questões ambientais, que fez com que as pressões sobre as indústrias tenham aumentado bastante, passando a gerar demandas de várias partes interessadas. A sociedade, como uma destas partes interessadas, representada pelo poder civil, começou a legislar e surgem as legislações federais estabelecendo as auditorias ambientais compulsórias, que podem assumir um papel de instrumento preventivo, no combate a recorrência dos acidentes ambientais e para a prevenção da poluição. Atualmente, na maioria dos estados que têm dispositivos legais que tratam do assunto, as auditorias compulsórias ainda não estão totalmente implantadas por falta de regulamentação. Nas legislações federais, as mesmas foram imediatamente implantadas e atualmente está sendo exigida a verificação nos elementos de gestão ambiental das empresas, conforme regulamentada pela resolução CONAMA 306 de 2002, indo além da simples verificação do cumprimento dos itens das legislações aplicáveis. As auditorias ambientais compulsórias, obrigatórias para o atendimento legal, estão sendo exigidas pelo Órgão Ambiental-IBAMA, por ocasião do processo de licenciamento ambiental, durante o processo de emissão de novas licenças ambientais ou na renovação das licenças atuais, conferindo assim uma grande importância a estas auditorias ambientais, devido a serem um instrumento integrante do SLAP Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras. As atividades da Exploração e Produção de petróleo estão entre as maiores em potencial poluidor, pois na ocorrência de acidentes ambientais nestas atividades, a degradação do meio ambiente ao redor é contundente, produzindo contaminação de praias, solos, lençóis freáticos, grande mortandade de animais e destruição de eco-sistemas, com danos de difícil remediação, que podem perdurar por 10 ou 20 anos, como no caso do acidentes do Exxon Valdez ou da Baía de Guanabara. 2. METODOLOGIA CIENTÍFICA DA PESQUISA O objetivo geral deste trabalho é de avaliar se as auditorias ambientais compulsórias, com base na resolução CONAMA 306/02, tem agregado valor a gestão ambiental das unidades marítimas de produção de petróleo, através da análise dos resultados destas auditorias, tendo por base, a redução no número de não conformidades ao longo dos ciclos de 2003, 2005 e 2007. Este estudo segundo Vergara (2007), classifica-se quanto aos fins, como exploratório, porque não se verificou a existência de estudos que abordem o tema com o ponto de vista pelo qual se busca abordá-lo. A pesquisa será também descritiva porque se buscará estabelecer correlações entre algumas variáveis, como o número de não conformidades nas auditorias ambientais compulsórias. 2

Quanto aos meios, a pesquisa será bibliográfica e documental. Bibliográfica, porque para a fundamentação teórica do trabalho será utilizado material acessível ao público em geral, como livros, artigos e legislações federais e estaduais. A pesquisa será também documental, onde foram utilizados os relatórios das auditorias ambientais referentes ao atendimento a resolução CONAMA 306/02, encaminhados pela Petrobras ao IBAMA. Este trabalho ficou restrito ao processo de auditoria ambiental compulsória, realizados em atendimento à resolução CONAMA 306/02, devido a maioria das legislações estaduais não estarem ainda totalmente implementadas. Outro fato que contribuiu para esta delimitação, foi a disponibilidade de dados, referentes as auditorias ambientais compulsórias, ocorridas nas diversas áreas da exploração e produção da Petrobras, contemplando mais de 30 unidades marítimas operando na costa do estado do Rio de Janeiro. O trabalho foi desenvolvido através do caso específico das auditorias ocorridas nestas unidades marítimas, nos anos de 2003, 2005 e 2007. 3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AUDITORIA AMBIENTAL A auditoria ambiental, hoje considerada como uma das ferramentas da gestão ambiental, foi adotada na década de 70, principalmente por empresas americanas pressionadas pelo crescente rigor da legislação daquele país e pela ocorrência de acidentes ambientais de grandes proporções (SALES, 2001). Após seu desenvolvimento inicial, o conceito da auditoria ambiental tem-se difundido pelo mundo gradativamente. A sua prática tem sido estabelecida de forma voluntária e estimulada, em países como o EUA, Canadá, Austrália e Europa. Já alguns países, como o México e o Brasil, têm-se experimentado incorporar a auditoria ambiental no processo de licenciamento ambiental, passando a ter um caracter legal. A EPA em 1986, agente regulador americano, optou pela implementação de uma política de incentivos as empresas, para que implementassem um processo voluntário de auditorias de conformidade legal (Compliance Auditing), de modo que estas empresas comunicassem a EPA, as violações identificadas, as correções feitas, as mitigações realizadas nas áreas envolvidas e as ações corretivas aplicadas para evitar a sua reincidência. Esta política da EPA (200) prevê a atenuação ou até mesmo cessão das penalidades aplicáveis, além de evitar processos na área penal. Estes incentivos não são aplicáveis nos casos de violações que foram decorrentes de atos conscientes, de violações descobertas durante inspeções pelo órgão ambiental local, bem como nos casos de violações que tenham ocorrência repetitiva e nos casos de graves danos ao meio ambiente e a população circunvizinha. Um fator importante para o desenvolvimento da auditoria ambiental internacionalmente foi a aprovação, em 1993, da versão final do "Eco-management and audit sche-me" EMAS, pelo Conselho das Comunidades Europeias. O EMAS foi originalmente concebido como um programa compulsório para 58 tipos de indústrias, mas acabou por ser implementado como norma de adesão voluntária. Na prática, o não-cumprimento dos requisitos estabelecidos pelo EMAS poderá significar uma barreira não tarifária para a comercialização de produtos na Comunidade Europeia. 3

Na segunda metade dos anos 90, é lançada pela ISO, a série de normas ISO 14000, com atuação em várias áreas da gestão ambiental, e incluindo a norma ISO 14001, de caráter certificador. Em 2002, a ISO disponibilizou a norma ISO 19011, com o objetivo de consolidar os critérios utilizados para a realização de auditorias de gestão, possibilitando que a visão do auditor fosse uniformizada para avaliação de requisitos comuns das normas ISO 9001, ISO 14001 e outras normas aplicáveis a sistemas de gestão. 4. DIFERENÇAS ENTRE AUDITORIAS DE GESTÃO VOLUNTÁRIAS E COMPULSÓRIAS A auditoria não deve ser confundida com uma simples avaliação. Segundo a ISO 19011(2002), o conceito de auditoria se traduz como: Processo sistemático, documentado e independente para obter evidências de auditoria e avaliá-las objetivamente para determinar a extensão na qual os critérios da auditoria são atendidos. Uma distinção básica deve ser feita entre auditoria de conformidade legal (Compliance Auditing) e a auditoria de sistema de gestão (Management systems auditing). A primeira avalia o status de adequação da entidade auditada aos requisitos ambientais legais, verificando o cumprimento das leis, normas e regulamentos aplicáveis e notificando os eventuais descumprimentos ao organismo responsável pela aplicação da sanção pertinente. A segunda avalia o status do sistema de gestão ambiental da entidade auditada, utilizando-se como critérios de auditoria, os principais elementos do sistema de gestão e informa a seu cliente os resultados da auditoria, sendo que o mercado é que dita as regras, muitas vezes fechando as portas para o comércio com regiões de grande interesse econômico. COUTO busca ilustrar as diferenças entre estas auditorias, da seguinte maneira: Fazendo uma comparação extremista, para melhor visualização, vamos nos desprender um pouco da precisão técnica para afirmar que na auditoria ambiental de conformidade legal compulsória é indiferente se a empresa tem ou não uma sistemática para identificar, atender, monitorar e tratar não conformidades referentes ao atendimento à legislação. O que interessa não é o como, mas sim se de fato a empresa está cumprindo a legislação ambiental aplicável. (COUTO, 2004). 5. CONTEXTUALIZAÇÃO DA AUDITORIA AMBIENTAL COMPULSÓRIA NO BRASIL A primeira citação de uma auditoria, em algum tipo de requisito ambiental, que se tem registro na legislação brasileira, foi em uma resolução do CEPRAM- Conselho Estadual de Proteção Ambiental, de Nº 270, emitida em 24/04/1990, por ocasião da emissão da Licença de Operação da Klabin Fabricadora de Papel e Celulose S.A., no Município de Camaçari-Ba, onde no seu artigo 1º., item I, estabelece a realização de auditoria para verificação do cumprimento das condicionantes da licença. Em 1990, a Lei Nº 118 do Distrito federal, de 02/08/1990, Dispõe sobre a realização de Auditoria Ambiental no Distrito Federal, onde ficou estabelecida a possibilidade de auditoria ambiental, mas o foco não foi nas atividades potencialmente poluidoras de uma empresa, e sim na identificação de espaços e ecossistemas desgastados na Área geográfica do Distrito Federal. 4

Somente em 1991, no estado do Rio de Janeiro, através da lei 1898/91, é estabelecida uma sistemática de auditorias ambientais periódicas, de modo a avaliar as fontes de poluição das empresas, seus níveis de prevenção e a sua conformidade legal com a legislação ambiental. A partir do momento em que se começou a identificar o elevado grau de potencialidade que a indústria de petróleo tinha para impactos ambientais indesejáveis, foi estabelecida pelo CONAMA, a Resolução n 23/94, específica para o processo de licenciamento das atividades de produção de petróleo, onde foram instituídos procedimentos específicos para licenciamentos das atividades relacionadas à exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural. Devido ao acidente ocorrido na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, em janeiro de 2000, foi estabelecido pala CONAMA, a Resolução n 265 de 27/01/2000, que obrigava a realização de auditoria ambiental independente em todas as unidades da Petrobras, sendo que esta prática foi ampliada para uma periodicidade bienal, através da aprovação da Lei n 9.966 de 28/04/2000. Esta prática, de auditorias ambientais compulsórias, já era praticada no estado do Rio de Janeiro, através da elaboração da Lei 1898/91, onde estabelecia a necessidade de auditorias ambientais independentes, e pela atuação da FEEMA, através da emissão de diretrizes específicas em novembro de 1995 (DZ-56), para a realização destas auditorias ambientais. Em 2002, o CONAMA estabeleceu a Resolução n 306 de 05/07/2002, definindo as exigências para a realização das auditorias ambientais independentes, incluindo detalhes referentes ao plano de auditoria, a preparação e realização da auditoria, o conteúdo do relatório, incluindo a exigência do respectivo plano de ação. Em 2003, passa a vigorar, a Portaria n 319 de 15/08/2003, do Ministério do Meio Ambiente, que estabeleceu os requisitos mínimos para a qualificação dos auditores ambientais. Mais recentemente, saiu a nova resolução da CONAMA 381/06, em dezembro de 2006, trazendo um maior detalhamento para o anexo II da CONAMA 306/02, ampliando os critérios de auditoria e detalhando a confecção do respectivo plano de auditoria. A partir destes regulamentos, a legislação brasileira vem adotando a auditoria ambiental como instrumento da política nacional do meio ambiente. Assim, o caráter obrigatório caracteriza o instrumento na forma como este está sendo adotado no Brasil, apesar de não ser esta a posição na maioria dos países que adotam este instrumento. A Petrobras como a maior empresa da América Latina, atuando em uma atividade com alto potencial poluidor, tem toda a sua atividade diretamente impactada pelas legislações referente às auditorias ambientais compulsórias, já tendo sido objeto destas auditorias nos anos de 2000, 2003, 2005 e 2007. 6. LEVANTAMENTO DE DADOS Os dados analisados para a composição deste trabalho, foram referentes aos três ciclos de auditorias ambientais compulsórias, realizadas entre os anos de 2003 a 2007, visto que no ano 2000, a auditoria realizada foi em atendimento a resolução CONAMA 265/00, que não definia os critérios para a realização destas auditorias, que só veio a ser estabelecido na resolução CONAMA 306, aprovada no ano de 2002. Unidade 2003 5

Marítima 2005 2007 NC OBS NC OBS NC OBS U-01 05 01 0 03 0 0 U-02 01 0 0 01 0 0 U-03 01 06 0 01 0 0 U-04 01 05 0 0 0 02 U-05 01 02 0 0 0 02 U-06 01 01 0 0 0 02 U-07 01 05 0 0 0 01 U-08 03 03 0 02 0 0 U-09 02 04 0 01 0 0 U-10 0 02 0 0 0 01 U-11 04 06 0 04 0 02 U-12 02 08 0 01 0 02 U-13 0 02 0 03 0 02 U-14 02 01 0 03 0 02 U-15 02 05 0 02 0 05 U-16 01 0 0 0 0 0 U-17 02 08 0 02 0 01 U-18 02 02 0 0 0 0 U-19 03 07 01 0 0 0 U-20 02 05 0 0 01 01 U-21 01 02 01 0 0 0 U-22 02 02 0 01 0 0 U-23 04 03 0 02 0 0 U-24 06 04 0 0 01 0 U-25 01 07 0 01 01 01 U-26 0 01 01 05 01 02 U-27 01 05 0 02 01 0 U-28 02 07 0 03 0 0 U-29 0 12 0 01 0 01 U-30 N.A. N.A. N.A. N.A. 0 02 U-31 06 02 0 02 0 0 U-32 N.A. N.A. N.A. N.A. 0 0 U-33 04 09 0 03 0 0 Fonte: Relatórios de Auditorias Ambientais Entregues ao IBAMA Tabela 1 Resultados das Auditorias CONAMA 306/02 O critério a ser avaliado neste estudo, será o número de não conformidades (NC) nestas auditorias compulsórias, sendo que o critério adotado pela equipe de auditores para classificar as constatações como não conformidades, foram aquelas situações que tenham gerado ou tenham potencial para gerar contaminações ao meio ambiente, através de acidentes ambientais ou descarte de água de produção fora da especificação. As constatações podem ser classificadas como Não Conformidades ou Observações, sendo que as equipes auditoras que realizaram as auditorias nos ciclos de 2003, 2005 e 2007, nesta unidade de negócios, adotou em 2003 e 2005 a nomenclatura de Observações e no ciclo de 2007 a nomenclatura de Ponto de Melhoria, para aquelas situações em que houve descumprimento da parte do Anexo II da resolução CONAMA 306/02. 7. ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS 6

7.1. ANÁLISE DAS NC s Neste tópico iremos analisar os dados referentes as NC s identificadas nas auditorias ambientais compulsórias, realizadas em atendimento a resolução CONAMA 306/02, nos ciclos de 2003, 2005 e 2007. 70 60 50 Nº NC's 40 30 20 10 0 2003 2005 2007 Ano do Ciclo de Auditoria Gráfico 1 - Total de Não Conformidades Comentário: São valores absolutos, sendo utilizados apenas os dados das unidades que foram auditadas nos três ciclos propostos, representando 31 unidades marítimas. 2,5 2 1,5 Nº NC's / Unidade 1 0,5 0 2003 2005 2007 Ano do Ciclo de Auditoria 7

Gráfico 2 NC s por Unidade Comentário: São valores relativos, referente a quantidade diferentes de unidades marítimas, sendo 31 unidades nos ciclos de 2003 e 2005, e 33 unidades marítimas no ciclo 2007. Nos gráficos acima, é possível avaliar uma redução bastante significativa de NC s entre os ciclos de 2003 e 2005, e observa-se uma pequena elevação no número de NC s durante as auditorias de 2005 e 2007, em parte, devido a baixa representatividade representada pelo pequeno número de NC s identificadas nestas auditorias, fazendo-se necessário para uma melhor avaliação, a análise do número total de constatações observadas nas auditorias realizadas nestes períodos. 7.2 ANÁLISE DAS CONSTATAÇÕES Neste tópico iremos analisar os dados referentes ao total de Constatações identificadas nas auditorias ambientais compulsórias, realizadas em atendimento a resolução CONAMA 306/02, nos ciclos de 2003, 2005 e 2007. Nº Constatações 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 2003 2005 2007 Ano do Ciclo de Auditorias Gráfico 3 - Total de Constatações Comentário: São valores absolutos, sendo utilizados apenas os dados das unidades que foram auditadas nos três ciclos propostos, representando 31 unidades marítimas. 8

7 6 Nº Constatações p/ Unidade 5 4 3 2 1 0 2003 2005 2007 Ano do Ciclo de Auditoria Gráfico 4 Constatações por Unidade Comentário: São valores relativos, referente a quantidade diferentes de unidades marítimas, sendo 31 unidades nos ciclos de 2003 e 2005, e 33 unidades marítimas no ciclo 2007. Nos gráficos acima, é possível avaliar uma redução sucessiva no número de constatações observadas nos ciclos de 2003, 2005 e 2007, sendo uma redução bastante significativa no período de 2003 a 2005. Ao utilizar os dados das constatações, em substituição ao número de NC`s, obtivemos uma amostra de tamanho mais representativo, que demonstra que mesmo no período de 2005 a 2007, também houve uma contribuição destas auditorias ambientais compulsórias na gestão dos riscos ambientais destas unidades marítimas. 8.CONCLUSÃO Com a análise dos resultados obtidos nos ciclos de auditoria ambiental compulsória, realizadas em atendimento a resolução CONAMA 306/02, nos períodos de 2003, 2005 e 2007, através da avaliação do número de NC`s e de constatações observadas, foi possível verificar uma contribuição significativa destas auditorias na gestão dos riscos de acidentes ambientais nestas unidades marítimas de produção, especialmente através da análise do número de constatações. Essa pesquisa demonstra a importância da realização de auditorias de gestão nas empresas com elevado potencial poluidor e propicia um incentivo a realização das mesmas, em caráter pró-ativo, mesmo nas empresas que não estão sujeitas a sua realização compulsória, de modo a ampliar à prevenção de riscos de acidentes nestas unidades. 9. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 19011. Diretrizes para auditorias de sistema de gestão da qualidade e/ou ambiental, Rio de Janeiro, ABNT, 2002. 9

BRASIL. Lei n 9.966, de 28 de abril de 2000. Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências, Brasília: D.O., 2000. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria nº 319, de 15 de agosto de 2003. Estabelece os requisitos mínimos quanto ao credenciamento, registro, certificação qualificação, habilitação, experiência e treinamento profissional de auditores ambientais para execução de auditorias ambientais., Brasília, D.O., 2003 BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 23, de 07 de dezembro de 1994, Institui procedimentos específicos para o licenciamento das atividades relacionadas à exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural. Brasília: D.O., 1994. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução nº 265, de 27 de janeiro de 2000, Derramamento de Óleo na Baía de Guanabara e Indústria do Petróleo, Brasília: D.O., 2000. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução nº 306, de 05 de julho de 2002, disciplina o atendimento ao art. 9º, da Lei nº 9.966, de 28 de abril de 2000, que trata da obrigatoriedade da realização de auditorias ambientais independentes, Brasília: D.O., 2002. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução nº 381, de 14 de dezembro de 2006, Altera dispositivos da Resolução nº 306, de 05 de julho de 2002 e o Anexo II, que dispõe sobre os requisitos mínimos para a realização de auditoria ambiental, Brasília, D.O., 2006. COUTO, Marcelo Guimarães. Auditorias Ambientais de Conformidade Legal. 2004. 96f. Dissertação (Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão) Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004. DISTRITO FEDERAL. Lei n 118, de 02 de agosto de 1990. Dispõe sobre a realização de Auditoria Ambiental no Distrito Federal, nas condições que disciplina., Brasília, D.O., 1990. EPA - United States Environmental Protection Agency. Incentives for Self-Policing: Discovery, Disclosure, Correction and Prevention of Violations, de11 de abril de 2000, http://www.epa.gov/compliance/incentives/ auditing/2007-faqs.pdf. Acessado em 21/11/2007. ESTADO DA BAHIA. Resolução CEPRAM n 270, de 24 de abril de 1990. Autoriza a Emissão da Licença de Operação da Klabin Fabricadora de Papel e Celulose S.A., no Município de Camaçari-Ba, pelo prazo de 01(hum) ano, com processo modificado., Salvador, D.O., 1990. ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Lei n 1898, de 26 de novembro de 1991. Dispõe sobre a Realização de Auditorias Ambientais, Rio de Janeiro, D.O., 1991. ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Diretriz FEEMA DZ 056-R2 Diretriz para Realização de Auditoria Ambiental, aprovada pela Deliberação CECA/CN n 3427, de 14 de novembro de 1995, Rio de Janeiro, D.O., 1995. SALES, Rodrigo. Auditoria ambiental e seus aspectos jurídicos. 1ª. Ed, São Paulo: LTr, 2001. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 8ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. 10